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Capítulo 1

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Matt King tinha passado um dia maravilhoso, a navegar nas águas límpidas do rio Trully com os seus amigos. Era bom ser solteiro e descomprometido, livre para se aproveitar de diversões e jogos à hora que quisesse. Aos trinta anos, Matt calculou que ainda tinha mais alguns anos, antes que o casamento se tornasse um item sério na sua agenda, e não estava disposto a ser vítima de nenhum plano da sua avó para o levar ao altar.

A actividade do dia fora uma desculpa perfeita para não aparecer no almoço de domingo que ela organizara, com a proposta de apresentar a sua mais recente protegida à família. Matt sabia que estava apenas a prorrogar o inevitável. Mais cedo ou mais tarde, teria de conhecer aquela tal Nicole Redman.

Seria difícil evitá-la por seis meses inteiros, uma vez que fora contratada para escrever a história da família e ficaria hospedada no Castelo King enquanto durasse o projecto. Entretanto, ele estava determinado a não cair na armadilha da sua avó.

O telefone tocou quando Matt estava prestes a acomodar-se para ver um pouco de televisão antes de ir para a cama. Sentindo-se em paz consigo mesmo e satisfeito pela pequena fuga do dia, sorriu quando ouviu a voz da avó do outro lado da linha.

– Ah! Estás a salvo em casa, Matteo – disse ela, mostrando a sua desaprovação sobre desportos perigosos que punham a vida em risco sem uma boa razão.

– Sim, avó. Tive cuidado para não partir nenhum osso – brincou.

– Mais por sorte do que por cuidado – resmungou ela antes de ir directamente ao assunto da chamada. – Vais estar no escritório da tua empresa de autocarros de turismo amanhã cedo?

Tem alguma coisa planeada, pensou Matt. A avó conhecia muito bem a rotina do seu trabalho. Metade da semana, ele supervisionava as plantações de frutas exóticas, mas as segundas e as sextas-feiras eram gastas com a companhia de transportes que, tinha orgulho de dizer, era fruto apenas do seu trabalho.

– Sim – replicou ele, esperando pela verdadeira intenção da pergunta da avó.

– Óptimo! Enviarei Nicole. Quero que lhe dês uma autorização para que possa viajar em qualquer um dos seus autocarros de turismo sem pagar o bilhete.

– Ela não tem carro? – perguntou Matt secamente, sabendo que estava prestes a ser apanhado na armadilha, mesmo que protestasse.

– Sim. Mas os autocarros de turismo dar-lhe-ão uma visão mais ampla da área que terá de pesquisar, e os seus motoristas podem dar-lhe resumos de histórias enquanto dirigem.

– São mais coscuvilhices do que factos, avó. O objectivo é entreter, não fornecer informações.

– Isso acrescenta um certo sabor, que é especial no extremo norte de Queensland, Matteo. Uma vez que Nicole não está familiarizada com o Porto Douglas e os seus arredores, não vejo isso como um desperdício de tempo.

– Que pena não teres contratado alguém local, assim não terias de começar do zero – advertiu ele.

– Nicole Redman tinha as qualificações que eu queria para este projecto.

– Nada supera o conhecimento local – argumentou, suspeitando que as qualificações tinham muito pouco a ver com escrever uma história de família.

Ele estava bem atento aos «joguinhos» de encontros arranjados pela sua avó. Os seus dois irmãos mais velhos não tinham conseguido escapar e lá estavam eles, lindamente casados com as noivas, que pensavam ter sido escolhidas por eles.

Não que Matt tivesse algo contra elas. Gina e Hannah eram óptimas pessoas. Porém, agora sabia que tinham sido escolhas da sua avó para Alex e Tony, antes mesmo deles as terem conhecido.

Felizmente ele tinha ouvido por acaso a conversa triunfante com Elizabeth King no casamento de Tony, além da proclamada esperança de que ela seria capaz de encontrar uma esposa adequada para o seu terceiro neto. Matt desconfiava que Nicole Redman era a candidata seleccionada.

Ela provavelmente não sabia daquilo, assim como ele também não deveria saber. Mas isso não mudava o jogo. A chegada da rapariga à cena familiar, repetia o modelo anterior da sua avó, empregando uma mulher jovem que acabaria por casar-se com um dos seus netos. Uma vez que ele era o único que permanecia solteiro…

– Muitas pessoas podem fazer pesquisas e escrever uma lista de factos, Matteo – declarou ela em tom de desdém. – Mas ter a habilidade de contar uma história de maneira envolvente é outra coisa. Realmente não quero um livro amador. Isto é importante para mim.

Aquilo era puramente Isabella Valeri King… que não gostava de ser contrariada. Mesmo aos oitenta anos de idade, ainda era uma personagem formidável e Matt amava-a e respeitava-a demasiado para não ceder… um pouco.

– Desculpa-me, avó – pediu ele, rapidamente. – Sabes bem o que queres e se uma autorização de livre trânsito a ajudar no projecto, ficarei muito feliz em fornecê-la.

Aquilo só lhe tomaria um minuto. Uma breve reunião durante o horário de trabalho, sem nenhuma obrigação social envolvida, serviria para satisfazer a sua curiosidade sobre o que tornava Nicole Redman tão adequada para ele aos olhos da sua avó.

– Pensei que a pudesses suprir com mapas rodoviários que ela necessitará quando se resolver aventurar por si mesma. Explicar-lhe as várias áreas de interesse familiar, e qual a melhor forma de lá chegar.

Matt pôde ver o minuto esticando-se para meia hora, mas não tinha meios de recusar a solicitação razoável.

– Certo. Deixarei os mapas prontos para ela. – Com todas as plantações marcadas, do Cape Tribulation ao Innisfail. Aquilo economizaria tempo e evitaria uma maior proximidade dos dois, a qual a sua avó estava indubitavelmente a conspirar.

– Obrigada, Matteo. Quando seria mais conveniente que Nicole chegasse aí?

Nunca. Suprimiu o impulso de falar e respondeu:

– Oh, digamos, dez e meia?

A ligação terminou com aquele consentimento e, por um tempo, ele meditou sobre quão esperta era a sua avó, mantendo-se estritamente nos negócios, sem nenhuma pista de estar a tentar favorecer um encontro pessoal, nem mesmo um comentário sobre Nicole Redman como pessoa, simplesmente a pressionar um encontro com razões puramente comerciais.

Poderia ele estar enganado sobre a conspiração?

Não, aquele era o modo de acção de Isabella.

Tinha surgido com Gina Terlizzi, uma cantora de casamentos, justamente quando Alex estava a planear casar-se com uma mulher da qual a sua avó não gostava. Com razão, Matt tinha de concordar. Ele também não gostara de Michelle Banks e estava feliz por Alex a ter trocado por Gina. Apesar de ter sido a mão de Isabella que produziu o resultado desejado.

Então armara uma armadilha bem organizada para Tony, escolhendo Hannah O’Neill para ser a nova chefe de cozinha do seu catamarã, Duquesa. Independentemente da sua qualificação questionável para ser uma cozinheira. Tony cometera o erro de dar à avó a tarefa de entrevistar as candidatas para chefe de cozinha e optar, o que lhe permitiu presenteá-lo com um caso encerrado que selou o seu destino. Era impossível ignorar as outras qualificações de Hannah quando estas estavam inexplicavelmente diante dele. Tony apaixonara-se imediatamente.

Duas protegidas casaram-se com os seus dois irmãos.

A terceira estava a vir.

Nicole Redman só podia ser o alvo da sua avó. A única dúvida era… que armas tinha ela para o arrastar para o altar? Aquilo adicionou um interesse picante à reunião da manhã seguinte.

Riu-se, confiante, enquanto ligava a televisão.

Independentemente do que fosse aquilo, ele estava inume. Não tinha uma lua-de-mel ligada ao contrato de Nicole Redman com a sua avó. Matt não estava pronto para se casar e ponto final!

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