Читать книгу O Marquez de Pombal - Garcia Manuel Emídio - Страница 9
VIII
ОглавлениеGenio perspicaz, philosopho profundo e habil politico, o Marquez de Pombal já previa, como o antigo ministro de Luiz XV, que uma revolução, uma crise tempestuosa se avisinhava, para tudo transformar e regenerar tudo, ou tudo perder.
A Europa agitava-se em seus fundamentos: havia uma especie de detonação, que impressionava os espiritos: estranhas convulsões abalavam o grande corpo social, como symptomas percursores d'um proximo terremoto moral e politico.
A anarchia popular avisinhava-se do seu momento fatal; o governo monarchico-absoluto, desacreditado em quasi todos os estados da Europa, quasi desconhecido no Novo Mundo e declarado por muitos espiritos rectos o peior dos governos, esperava todos os dias a sua sentença de morte; a acção philosophica, apoderando-se das intelligencias elevadas do seculo, ia-lhe preparando o supplicio no patibulo da opinião publica.
Os philosophos de Inglaterra e França trabalhavam fervorosos na propaganda liberal: as theorias de Baccon e Mentesquieu tinham sido profundamente desenvolvidas e levadas até ás suas ultimas consequencias praticas.
A interferencia da Inglaterra, a sua acção politica, disfarçada debaixo da apparencia de um grosso trato commercial, influenciava, de um modo energico e profundo, a situação moral e economica dos povos; como as cruzadas, em nome de Deus e pela fé, produziram, em seu tempo, notavel transformação social.
Um vento philosophico soprava da Allemanha, da Inglaterra, da França e da America, e murmurava aos ouvidos de muitos as palavras —liberdade, emancipação, democracia, republicanismo e outras, que bem significavam não estar longe o momento, em que o povo, senhor da sua vontade, conscio da sua força, reivindicasse os seus direitos, usurpados pela realeza, ultrajados pelos nobres e em parte absorvidos pelo clero.
Uma nova fórma de governo existia já traçada na mente de muitos homens illustres.
As materias combustiveis, que se haviam de inflammar para accender a revolução, acervavam-se por toda a parte.
Alguma cousa de extraordinario e assombroso se preparava no laboratorio immenso da Europa!
Algum monumento, de sumptuosa fachada e maravilhosa architectura, mas já gasto pelo roçar dos tempos, ia desabar até aos alicerces.
Era – a bastilha monarchica do absolutismo; era – o capitolio jesuitico da theocracia, minados nos fundamentos, abalados na solidez!..
Finalmente as instituições, os poderes, as opiniões… tudo annunciava que a transformação estava imminente, e inevitavel e fatal devia operar-se por uma revolução geral e profunda!