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Capítulo 2
ОглавлениеEle não sabia o seu nome nem onde vivia. Nem sequer sabia por que tinha estado naquele iate com… amigos. Também não sabia se alguém tinha querido fazer-lhe algo ou se tinha sido um acidente. No entanto, sabia uma coisa: desejava-a. Acordava a pensar em Josephine e adormecia a pensar nela. Já não era uma criança e deveria ser-lhe fácil dominar o apetite, mas desejava-a tanto que teve de perguntar-se se já teria sentido o mesmo antes, se aquela avidez e impaciência eram típicas dele. Talvez a intensidade se devesse a tudo o que não sabia.
Leu os livros que encontrou na casa para pensar noutra coisa. Quando se cansava de ler, dava um mergulho ou deitava-se na areia, mas acabava sempre a pensar em Josephine. Queria vê-la e estar perto dela. Por isso, vestia uma das camisas do pai dela e ajudava-a no seu trabalho. Ajudava-a a tomar notas ou a regar a horta, o que quer que fosse desde que estivesse ao seu lado. Desejava as suas formas, o seu cheiro e o seu sorriso.
Era esperta, bonita, inocente e séria. Era singular, uma joia que resplandeceria entre as mulheres mais belas do mundo. Disse-lho um dia após um mergulho no mar e ela sorriu com timidez e um brilho trocista nos olhos.
– Obrigada pelo piropo, mas se levarmos em conta que não te lembras de nada, não sei se é válido.
– Não preciso comparar-te para saber que és inteligente e amável. Também és alegre e otimista e alegras-me a mim. E tenho a sensação de que não sou uma pessoa que fique contente facilmente.
– Isso é verdade, não estavas nada contente na praia com os teus amigos. Estavas sozinho e olhavas para o mar. Observei-te e desenhei-te…
– Desenhaste-me?
– Sim – Josephine corou. – É o que gosto de fazer quando tenho tempo livre.
– Ainda não te vi desenhar desde que estou aqui.
– Desenho quando tu não estás ou estás a dormir.
– E o que desenhas?
– Um pouco de tudo – ela corou ainda mais, – mas, sobretudo, a ti.
Ele ficava encantando porque os olhos dela pareciam mais verdes quando corava. Era tão natural e bela que lhe recordava uma sereia.
– Por que me desenhaste?
– Porque tu me fascinas.
– Porquê?
– Deves saber porquê – ela apertou os carnudos lábios. – Não me obrigues a dizê-lo.
Estava maravilhado com aqueles lábios, os dedos desejavam acariciar-lhe a face e percorrer-lhe os lábios… e reparou que estava a ficar… duro.
– Parece que o golpe na cabeça me deixou um pouco tonto. Por favor, explica-me o que tenho para fascinar-te.
– Vou dizer-te só uma vez.
– Estou a ouvir.
– És insuportavelmente atraente…
– Insuportavelmente?
– És muito inteligente.
– Voltemos ao atraente. Pode ser-se insuportavelmente atraente?
– Sim, tu já o demonstraste. Deixa-me continuar. Tens sentido do humor… quando queres.
– Isso parece-me um inconveniente… ser imprevisível.
– Tens amigos ricos. O iate era imenso, mas isso é negativo.
– Porquê?
– É desastroso do ponto de vista ambiental.
– Estou de acordo.
– Estás de acordo? – perguntou ela, arqueando as sobrancelhas.
– Sim. Sempre me preocupei com o ambiente.
– A sério?
Ele assentiu com a cabeça e ela franziu levemente as sobrancelhas.
– Interessante… – murmurou ela.
– Porquê?
– Começas a saber algo de ti mesmo. Acho que estás a recuperar a memória e isso é bom.
Ele sentiu uma pontada de inquietação e não soube porquê. Recuperar a memória deveria ser fantástico, mas tinha medo.
– Vamos falar de ti.
– Porquê? Sou uma estudiosa chata…
– Não és chata e as mulheres estudiosas são apaixonantes.
– A sério? – perguntou ela entre risos.
– Fui à escola com mulheres inteligentes e não há nada mais sensual do que uma mulher inteligente…
Ele parou ao dar-se conta do que tinha dito.
Não se tinha referido à escola preparatória ou secundária, referia-se à universidade e sabia que chamar-lhe «escola» era muito típico dos Estados Unidos. Teria frequentado a universidade nos Estados Unidos? Notou que Josephine também se tinha apercebido.
– Estás a recuperar a memória – comentou ela baixinho e com emoção.
– Estás a curar-me. O sol, os banhos…
– Não há muito para fazer – ela sorriu. – Não há televisão ou videojogos.
– Acho que nem que os tivesses os usaria. Tu adoras estar ao ar livre e moves-te no mar como um peixe.
– Vivi sempre junto ao mar. Primeiro no Havai e depois aqui. Não consigo viver sem dar um mergulho. Se passar muitos dias sem molhar-me sinto-me abatida. O mar devolve-me à vida.
– És um peixe.
– O meu pai diz o mesmo – ela riu-se. – Diz que tenho escamas e que se secam se não me banhar.
– Bom, é possível que não sejas um peixe, mas uma sereia.
– É possível.
Josephine sorriu com timidez. Tudo estava a mudar por dentro, não podia fingir que ele não a afetava, não podia fingir que não havia tensão entre eles porque olhava para ela com uma intensidade que a fazia ficar sem respiração e com o coração na boca, um olhar que a aterrorizava e, ao mesmo tempo, emocionava. Estar ao seu lado era excitante e desconcertante, ninguém a tinha olhado como se fosse importante, ninguém tinha feito com que se sentisse tão bela. A cada conversa, ele fazia sentir-se mais viva e não percebia porquê, já que não conversavam sobre nada pessoal. Ainda assim, fascinava-a.
Tinha-a fascinado quando era um desconhecido misterioso na praia e esse fascínio tinha aumentado a cada dia porque como era possível que alguém tão impressionante a desejasse?
Além disso, estava a gostar de sentir-se desejada, levando-a a repensar todas as suas crenças. Acreditara sempre que nunca teria relações sexuais com alguém que não fosse o homem com que partilharia o resto da sua vida. Ao olhá-los nos olhos, parecia-lhe que poderia perder algo que só aparecia a uma pessoa uma vez na vida.
Além disso, essa atração era mútua. O seu olhar indicava que a desejava e o facto de ela saber isso era embriagante, era um afrodisíaco. Que sentiria se além disso ele a acariciasse e a beijasse? Não se questionou sobre nada mais porque só se tinha dado um par de beijos na sua vida e não lhe tinham parecido nada de especial, só a tinham levado a concluir que não precisava de repetir a experiência. Até àquele momento. Tinha a sensação de que beijar aquele desconhecido misterioso seria algo completamente diferente que poderia, até, mudar-lhe a vida. Era o que queria?
Olhou para o desconhecido, que já não era um desconhecido e se estava a tornar alguém muito importante para ela. Tinha vivido demasiado tempo sozinha ou com o seu pai, que falava muito pouco e estava sempre absorto no seu trabalho. Percebia que o seu pai estivesse dedicado à investigação, mas ela, de vez em quando, queria algo mais. Queria que a vissem, que a reconhecessem, que… a amassem. Normalmente, sentia-se mais assim à noite e culpava o cansaço, mas, ultimamente, sentia-o a todas as horas. A chegada do homem misterioso tinha-a mudado, recordando-lhe que havia um mundo fora da sua ilha e que ela não o conhecia. Ainda assim, também sabia que era feliz em Khronos… Levantou-se bruscamente e afastou-se para tentar aliviar o peso que sentia no peito. O pai deixara-a responsável por tudo e tinha de focar-se nas suas obrigações.
– Tenho de voltar ao trabalho.
– Posso ajudar-te? – perguntou ele.
– Não. Vou comprovar os painéis solares. Relaxa-te e…
– É o que tenho feito nos últimos dias. Diz-me o que há para fazer e eu posso ajudar-te enquanto estou aqui.
– Está bem, vem comigo – acedeu ela com um sorriso tenso.
A velha casa de campo era feita de pedras e, pela fachada, parecia quase abandonada, mas havia umas escadas muito bem cuidadas nas traseiras que conduziam a uma clareira repleta de painéis solares e de outros instrumentos, além de outra casa de pedra mais pequena.
– Aqui fica todo o material para rastreamento de sismos. Está ligado a sismógrafos portáteis que estão espalhados pela ilha e alguns no mar. Estamos praticamente em cima de um vulcão e por isso temos sismógrafos para captar movimentos na crosta terrestre. Alguns movimentos poderiam significar que o vulcão está a acordar.
– Se isso acontecesse, que farias tu?
– Não se moveu nos últimos dez anos. Segundo todas as probabilidades, estou a salvo.
– Pareces muito despreocupada com algo que poderia ser catastrófico.
– Algumas pessoas ficam aterrorizadas com os vulcões, mas nunca ocorreu uma erupção tão catastrófica assim. Além disso, sabes que algumas pessoas optam por viver perto dos vulcões por causa da energia geotérmica, dos minerais e da fertilidade do terreno? Eu sou defensora da energia geotérmica porque é muito limpa e quase inesgotável, mas os painéis solares também nos dão muito bons resultados e permitem-nos viver fora da rede elétrica. Usamo-los para quase tudo: luz, aquecimento, dessalinização, para a rádio, quando funciona…
Ele tinha estado a observar os painéis solares, mas ela percebera que era o sistema de dessalinização que lhe despertava maior curiosidade. Levou-o a outro recinto de painéis, canos e depósitos negros e retangulares. Fez-lhe um gesto para que se agachasse ao lado dela.
– Isto é o que mais gosto, porque nos proporciona toda a água potável. Ao princípio, tínhamos de trazer litros e litros de água. Também recolhíamos água da chuva, mas se não chovia, ficávamos em pânico. Agora, graças a um acordo com a universidade de meu pai, podemos converter a água salgada em água potável com energia solar e tecnologia de última geração.
– Qual é a diferença da dessalinização tradicional?
– Conheces o processo de dessalinização?
– Ferve-se a água salgada e o vapor condensa-se.
– Isso mesmo. É um sistema com um consumo de energia muito pouco eficiente e que precisa de uma infraestrutura cara e complexa. Quase metade do custo de uma fábrica é em energia.
– Então, é um dessalinizador com membranas… Ela estava impressionada por ele saber tanto sobre o assunto. Talvez tivesse estudado ciências ambientais…
– Sim e não. A universidade trabalhou a partir de uma membrana destiladora convencional e acrescentou-lhe uma camada de nanopartículas negras como carvão. As partículas atraem a luz e aquecem toda a superfície da membrana, convertem até oitenta por cento da luz solar em calor e proporcionam-nos mais água com menos energia.
– Fascinante – murmurou ele, analisando o mecanismo. – Ao combinar o aquecimento fototérmico com a dessalinização por membranas criaste uma tecnologia mais produtiva e eficiente.
– Não fui eu. Foi a universidade. Tivemos a sorte de os engenheiros e cientistas nos deixarem experimentar o sistema aqui. Já o temos há ano e meio e mudou-nos a vida – apontou com a cabeça para uma horta ao lado. – Tomates, pepinos, alfaces, cenouras… Agora é possível cultivar graças a um fornecimento constante de água potável.
– Sabia que havia uma universidade norte-americana que estava a fazer algo assim, mas é incrível ver o sistema a funcionar e saber que não é só teoria.
– Pode ser uma mudança crucial para todo mundo.
– Claro – murmurou ele.
No entanto, tinha o olhar fixo nos seus lábios carnudos. Ela corou e olhou para outro lado para tentar dissimular como se sentia alterada. Queria que ele a beijasse, mas também estava com medo. Não tinha experiência e sabia que a maioria das mulheres da sua idade já teriam tido… relações. Desejou ter tido uma vida mais normal, ter tido namorados e saber como reagir. Será que ele sabia?
– Estás aborrecido – comentou ela, levantando-se e limpando o pó das mãos.
– Não – ele também se levantou. – Estou fascinado com tudo. Não só pelo modo como vocês sobrevivem, ao Deus dará, mas também contigo e com o teu pai. Não consigo imaginar nenhum pai que deixe a sua filha única sozinha num lugar tão isolado.
– Tenho o rádio…
Apertou os lábios e não conseguiu dizer mais nada. Tinha o coração aos saltos e estava prestes a começar a chorar, embora nem soubesse porquê. Não tinha acontecido nada e, no entanto, parecia-lhe estar a acontecer tudo e que estava a perder o controlo.
– Costuma funcionar, nunca o tinha partido. Esse acidente foi um mero acaso, tal como o facto de tu estares aqui. Estou há quatro anos em Khronos e nunca tinha parado aqui um iate, nem se aproximado gente.
– Por que tens medo? – perguntou-lhe ele interrompendo o seu palavreado.
– Não tenho medo – respondeu ela com a voz algo descontrolada.
Ele ficou a olhar para ela até que lhe passou um dedo pelas sobrancelhas. Conteve a respiração e sentiu uma descarga elétrica por dentro. Olhou-o nos olhos enquanto ele lhe percorria o nariz, as maçãs do rosto e a linha do queixo.
– És linda – murmurou ele com a voz rouca.
Ela sentiu a erótica voz dele por todo o seu corpo, foi como uma provocação para os sentidos.
– Sem maquilhagem, sem roupas da moda. Só a tua beleza. Não sabia que existiam mulheres como tu.
– Isso é o que dizes agora, mas se me pusesses ao lado das mulheres do iate, já verias.
– Não acho que haja comparação. Tu és extraordinária. A tua cabeça, a tua paixão pelo teu trabalho, a tua beleza… És perfeita.
– Ainda me vais fazer acreditar…
– Ainda bem. Deverias saber que és especial, uma entre um milhão.
Josephine afastou-se um pouco para olhar para ele. Ele deixou que visse o brilho ardente dos seus olhos.
– Então, beijas-me? – sussurrou ela. – A não ser que não sintas isso…
– Quero beijar-te desde que abri os olhos e te vi a olhares para mim como um anjo.
– Não sou um anjo – murmurou ela, engolindo em seco. Tinha a pulsação acelerada e não conseguia deixar de olhar para as suas maçãs do rosto e para a barba incipiente que tinha todas as tardes. Além disso, aquela boca larga e com uns lábios lindos… Adorava desenhar-lhe o rosto e, sobretudo, os seus lábios. Perguntava-se que sabor teriam, se beijá-lo seria diferente de quando beijou o alcoolizado Ethan em Honolulu. Aquele beijo foi tão atroz que perdeu a vontade de voltar a sair com homens…
Ele agarrou-a pelos braços e apertou-a contra si com um brilho nos olhos. O mundo reduziu-se a eles os dois. Ela sentia o bater do seu coração. Estremeceu face ao calor do seu corpo enquanto ele a apertava contra o seu peito, sentindo os mamilos ficarem duros. Isso era tudo o que queria, só queria sentir a boca dele na dela…
Baixou a cabeça e a sua sensual boca beijou-a. Sentiu faíscas pelo corpo, ouviu um gemido, ele rodeou-lhe a nuca com uma mão para a agarrar enquanto derretia por dentro. Queria muito mais, mas uma vozinha sussurrava-lhe que ele estava fora do seu alcance.
– Estás a ponderar? – murmurou ele afastando a cabeça e olhando-a nos olhos.
– Hum… Sim. Não, não.
Nunca se tinha sentido tão viva e esperançosa, mas isso era um disparate. A emoção levava-a a sentir-se desinibida e desenfreada, algo que nunca fora. Ainda assim, gostava do que sentia, gostava que ele a beijasse e lhe tocasse.
– Conta-me o que estás a pensar.
Ele acariciou-lhe o rosto e ela sentiu uma labareda que lhe chegou aos mamilos e entre as coxas.
– Evidentemente, estás a pensar em algo – acrescentou ele.
– Sim, e lamento…
– Não lamentes e conta-me.
– Achas que podes ser casado? – perguntou-lhe ela à queima-roupa.
– Não.
– Achas que não tens uma esposa algures?
– Não tenho.
– Como podes ter tanta certeza?
– Tal como sei que não sou dos Estados Unidos. Não… condiz comigo.
– Estás a recuperar a memória…
– É possível.
– Que condiz contigo? Podes descrever-te?
– Europeu… rico… certamente mediterrâneo. Acho que dirijo uma empresa ou sou o proprietário. Parece-me que tenho bastante empregados e que é uma casa próspera. Também suspeito que sou perfecionista e que não me contento com pouco – ele fez uma expressão de incómodo. – Se tudo isso é verdade, sou um pateta e desprezo-me, embora não me conheça.
– Como não te conheces, acho que estás a ser um pouco duro contigo mesmo – ela riu-se. – Acho que és melhor pessoa do que descreveste. A minha intuição diz-me que és muito boa pessoa e um pouco solitário, estavas um pouco afastado dos teus amigos…
– Seguramente, porque sou um imbecil insuportável…
– Não!
Ela interrompeu-o entre risos e ficou a pensar.
Era ela que se estava a rir como uma rapariga contente da vida? Josephine era séria, regia-se por factos, não por sensações, e a sua vida girava em redor do trabalho e de ser útil.
– Que estás a pensar agora? – perguntou-lhe ele.
– É assim tão evidente que tenho a tendência de pensar em tudo?
– Eu gosto, e gosto de ti. Não te desculpes por seres tu mesma, Josephine.
Aquela voz rouca e autoritária provocou-lhe um nó na garganta e ela sentiu vontade de chorar. Tinha sido tudo tão maravilhoso durante aqueles dias com ele que se sentia plena por dentro.
– Deveríamos voltar para casa para eu tratar do jantar – comentou ela.
Ele agarrou-a pelo pulso para que não se escapasse.
– Não me respondeste. Que estavas a pensar há um momento?
Ela controlou um estremecimento quando ele lhe acariciou a parte de dentro do pulso com o polegar.
– Que sou feliz.
Tentou não olhar para a sua boca e não recordar o beijo porque tinha sido maravilhoso. Ele fazia-a sentir-se bela e perfeita, estar ao seu lado fazia com que quisesse sentir muito mais…
– Além disso, fico contente por estares aqui – acrescentou ela, erguendo o queixo.