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III—PHASE SYNTHETICA

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De Morel a Magnan; de Westphal a Cramer; de Buccola a Tanzi e Riva—A loucura hypocondriaca; o delirio chronico; a loucura parcial; a Verrücktheit aguda e chronica; a Paranoia; a delusional insanity—Determinação pathogenica.

Vimos precedentemente que Morel, quando ainda a psychiatria franceza se esforçava por elevar á cathegoria de fórmas nosographicas autonomas os delirios de perseguições e de grandezas, esboçara a doutrina segundo a qual taes delirios não seriam senão manifestações de uma doença ou, mais precisamente, transformações progressivas da loucura hypocondriaca.

Da idéa inicial de um compromisso da saude, caracteristica da hypocondria, passaria o doente, generalisando, á idéa de um compromisso da vida, da honra, dos interesses intellectuaes e moraes, caracteristica do delirio de perseguições. Este seria uma simples manifestação da hypocondria anomala ou, como elle proprio escreve, sublinhando, uma hipocondria de uma natureza mais intellectual. Em 1860 exprimia-se assim no seu Tratado o illustre psychiatra: «Fallando da hysteria, disse eu que esta nevrose póde percorrer as suas phases mais extraordinarias sem que a alteração das faculdades intellectuaes e afectivas se torne uma consequencia forçada. A hysteria larvada, se assim posso exprimir-me, offerece perigos muito maiores para o livre exercicio das faculdades, como provei com numerosos exemplos. A mesma reflexão póde applicar-se á hypocondria. Para d'isto nos convencermos, basta examinar até que ponto o temperamento dos individuos com delirio predominante de perseguições está sob a influencia d'este estado nevropathico»[1]. E mais adiante: «Quando elles (os hypocondriacos) chegam á supposição de que os seus alimentos teem venenos ou, pelo menos, substancias que lhes produzem as sensações de que se queixam; quando elles se imaginam expostos aos maleficios do que chamam potencias occultas, como a electricidade e o magnetismo, e pensam que a propria policia procura perdel-os, podemos estar certos de que vão entrar na phase d'este delirio especial que a designação de delirio de perseguições melhor do que todas exprime»[2].

[1] Morel, Traité des maladies mentales, pag. 706.

[2] Morel, Obr. cit., pag. 707.

Quanto ao delirio ambicioso elle seria, segundo Morel, uma terminação frequente do delirio de perseguições. Fallando dos megalomanos, escrevia: «E quando mesmo os doentes chegaram a este estado de contentamento e de vaidosa satisfação que é proprio das idéas systematicas de grandeza, elles não lograram collocar-se de um modo fixo e irremediavel sobre o pedestal da sua loucura senão com a condição de passarem por todas as peripecias do delirio de perseguições, e de terem, as mais das vezes, experimentado todos os soffrimentos dos hypocondriacos»[3].

[3] Morel, Obr. cit., pag. 716.

Para explicar a passagem do delirio de perseguições ao de grandezas, Morel não invocava, á maneira de Foville, o raciocinio e a logica, mas a physiologia morbida: era, com effeito, ao echo psychico de uma alteração no funccionalismo visceral dos hypocondriacos que elle ia procurar a chave d'este phenomeno tão frequente quanto assombroso para os homens alheios á medicina e desconhecedores das leis dos organismos doentes.

Esta doutrina, integrando os delirios de perseguições e de grandezas na hypocondria, representava uma tentativa de synthese clinica, naturalmente destinada a não encontrar seguidores entre os contemporaneos de Morel, porque o tempo era de analyse, e a tendencia geral a da multiplicação das fórmas nosographicas. O estudo minucioso dos symptomas absorvia as attenções, relegando a um plano subalterno o das causas e da evolução das doenças. Embora combatidas quasi desde a sua introducção na sciencia, as monomanias de Esquirol triumphavam ainda então: o delirio de perseguições era uma monomania, o delirio de grandezas, outra. O Tratado de Marcé, o mais cotado dos livros classicos da psychiatria franceza, consagrava esta doutrina em 1862; e a memoria de Foville, que atraz citámos, tem a data de 1869, como tem a de 1871 a monographia de Legrand du Saulle, de que tambem démos idéa no capitulo anterior.

Isto é dizer que não foi comprehendida a maneira de vêr de Morel sobre os delirios systematisados, como o não foram outros pontos de vista d'este homem de genio, que Morselli justamente denomina o Darwin da psychiatria. Fallava para o futuro o auctor das Degenerescencias Humanas, cuja alta originalidade rompe na historia da medicina mental franceza o parallelismo entre a ordem chronologica e a ordem logica das idéas.

É só em 1883, mais de vinte annos depois de publicado o Tratado de Morel, que as idéas d'este psychiatra a proposito dos delirios systematisados são retornadas e postas em relevo n'um trabalho de Gérente.

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