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Pedindo-se ao author uma poesia

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Não me admira a mim que o sol, monarcha

De indisputavel throno, e throno eterno

Em céo e terra e mar;

Que em seu imperio o mundo inteiro abarca

Abaixe á pobre flôr seu dôce e terno,

Mavioso olhar.

Não me admira a mim que a crystallina,

Tão pura, onda do mar, que espelha a face

Do astro creador,

Que essas asperas rochas cava e mina,

Á praia toda languida se abrace

E toda amor!

Mas sendo vós um sêr mais precioso

Do que onda e sol—um anjo de poesia

Inspirada e que inspira;

Que ás minhas mãos, das vossas, tão mimoso,

Delicado penhor descesse um dia

É que me admira.

Quizera nos meus cofres de poeta

Ter as riquezas todas do Oriente,

E com mãos liberaes

Expulsar esta duvida que inquieta

Um grato coração que apenas sente

E... nada mais!

De limpido diamante e fio de oiro,

Quizera-vos tecer collar que á aurora

Vencesse em brilho e côr;

Mas o poeta, o unico thesoiro

Que tem, ah! são as lagrimas que chora

E o seu amor.

Eu vol-o dou. E lá do espaço immenso

Se amada estrella olhar piedoso envia

A quem da terra a adora;

Se o sol aceita á flôr humilde incenso;

Ha no amor tambem muita poesia...

Minha senhora!

Evora.

Beijo na face

Pede-se e dá-se:

Dá?

Que custa um beijo?

Não tenha pejo:

Vá!

Um beijo é culpa

Que se desculpa:

Dá?

A borboleta

Beija a violeta:

Vá!

Um beijo é graça

Que a mais não passa:

Dá?

Teme que a tente?

É innocente...

Vá!

Guardo segredo,

Não tenha medo...

Vê?

Dê-me um beijinho,

Dê de mansinho,

Dê!

Como elle é dôce!

Como elle trouxe,

Flôr!

Paz a meu seio;

Saciar-me veio,

Amor!

Saciar-me? louco...

Um é tão pouco,

Flôr!

Deixa, concede

Que eu mate a sêde,

Amor!

Talvez te leve

O vento em breve,

Flôr!

A vida foge.

A vida é hoje,

Amor!

Guardo segredo;

Não tenhas medo

Pois!

Um mais na face

E a mais não passe!

Dois...

Oh! dois? piedade!

Coisas tão boas...

Vês?

Quantas pessoas

Tem a Trindade?

Tres!

Tres é a conta

Certinha e justa...

Vês?

E o que te custa?

Não sejas tonta!

Tres!

Tres, sim. Não cuides

Que te desgraças:

Vês?

Tres são as Graças,

Tres as Virtudes,

Tres.

As folhas santas

Que o lirio fecham,

Vês?

E que o não deixam

Manchar, são... quantas?

Tres!...

Thuribulo suspenso inda fluctuo,

Em quanto a alma em incenso restituo;

Mas, quando como fumo que se esvai,

Minha alma! vás teu rumo... sobe e vai.

Vai d'estas densas trevas, d'esta cruz,

Levar-lhe... quanto levas, pobre luz!

Amor, que em mim não cabe, vai depôr

Em Deus, e Deus bem sabe se era amor;

Se d'outra flôr o calix mais libei

Por esses quantos valles divaguei;

Se um nome em igneo traço li no céo,

Nas ondas e no espaço, mais que o seu...

Deus sabe se eu dos montes vi tambem

Nos vastos horisontes mais alguem;

Nos tristes e risonhos dias meus,

Se alguem vi mais em sonhos, que ella e Deus.

Porém quem é que apanha o aereo véo

Da nuvem da montanha, se é do céo?

Se á terra a nuvem desce, quando vai

Tocar-se-lhe, desfez-se como um ai.

Coimbra.

Luz d'intima influencia,

Oh fugitiva luz!

Luz cuja eterna ausencia

É minha eterna cruz.

Podessem-te, ainda antes

Do meu extremo adeus,

Meus olhos fluctuantes

Vêr lampejar nos céos.

Se ainda n'esse espaço,

Tão longe onde tu vás,

Visse um reflexo baço

Da pura luz que dás;

Tornaram-se-me estrellas

As lagrimas de dôr;

E lagrimas são ellas...

Sim, lagrimas d'amor!

Vê n'esse espaço immenso

Os astros como estão

Bem como eu estou, suspenso

Por intima attracção.

Porque ha quem os attráia;

É essa eterna paz

Que a mim de praia em praia

A suspirar me traz.

Converte-me este inferno

Em azulado céo,

Ou quebra o laço eterno

Que a tua luz me deu;

Ou antes muda em espuma

De nunca estavel mar

Esta alma que alma alguma

Póde exceder em amar.

Em cinza, em terra, em nada,

Meu sêr converte, ó luz,

Mas sempre, sempre amada,

Deliciosa cruz!

Portimão.

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