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ОглавлениеUma semana depois
Eagle Creek, no Colorado, tinha dois motéis sujos e um restaurante onde Mel se sentia segura para comer. Não era com a clientela que estava preocupada – era a comida. E a ladra era conhecida por comer suas matanças quando corria como um gato. Mas uma mulher em pele humana deveria ter alguns padrões. Krista e Bob já estavam na mesa. Era a que ficava no canto mais distante, do lado oposto do bar e do banheiro.
O Eagle Creek Bar and Grille – o E no fim do Grille tornava o lugar elegante, é claro – era pequeno. Tinha umas vinte mesas e um bar robusto, com uma dúzia de banquetas. Poderia acomodar bem os residentes da cidade, mas os campistas que aparecessem aqui, a caminho para as montanhas, provavelmente não veriam o encanto. Mel também não via, mas era melhor do que miojo cozido no micro-ondas do posto de gasolina.
Às sete da noite de terça-feira, o lugar estava lotado. Todas as mesas, exceto uma, estavam ocupadas e as garçonetes se agitavam, servindo bebidas e comidas. Todas trabalhavam ali há algum tempo e muitos dos clientes eram regulares. Em uma cidade desse tamanho, só podiam ser.
O homem rude atrás do bar era um metamorfo, provavelmente um gato. E se Mel tivesse que adivinhar, a família de quatro pessoas que estava na mesa mais próxima da janela também era. Mas as duas crianças estavam em pré-transformação. Quase nenhum metamorfo era atingido pela mudança até a adolescência. Mas os pais não eram companheiros. Não se os olhos do pai colados nos seus seios fossem alguma indicação.
Todo mundo era humano. Mel podia dizer só de olhar. Com o perfume que usava, era impossível distinguir pelo cheiro. Uma desvantagem, mas valia a pena já que tornaria difícil para o bando aqui dizer que ela também era uma metamorfa.
A caixa registradora ficava na frente, o cofre provavelmente nos fundos, preso ao chão, se fossem espertos. Poderia tirar dali uns mil dólares em minutos, mas não valia a pena. Não quando ficariam na cidade por semanas e tinham muito dinheiro para gastar.
Viu Krista bufar impaciente, cruzando os braços. A mulher personificava a palavra duende. Com pouco mais de um metro e meio de altura, cabelo castanho curto e espetado e a pele que praticamente brilhava como bronze, parecia uma espécie de ninfa punk da floresta. E sabendo exatamente a força do seu soco, Mel jamais diria isso a ela.
Bob, por outro lado, era... Bob. Os dois trabalharam juntos algumas vezes antes de ela decidir trabalhar por conta própria, e ele foi o primeiro em quem pensou quando precisou de uma equipe. Mas se alguém lhe pedisse para descrevê-lo, mesmo enquanto estava olhando diretamente para ele, não poderia. Ele era um homem, com cabelos castanhos ou pretos, talvez loiros, e olhos... os olhos estavam onde deviam estar, junto com o nariz e a boca. Achava que a pele dele era escura, mas não conseguia descrever o tom. Só podia ser um feitiço de percepção, mas nunca sentiu aquela pontada de magia que qualquer bruxa normal emitia. Mas no fim das contas, sempre soube que ele era Bob e que estava lá para apoiá-la, o que, em sua opinião, era o suficiente.
Se sentou na cabine em frente a seus parceiros. Com um aceno de cabeça, Krista ativou uma proteção de desvio de som. Isso distorceria tudo o que dissessem para que ninguém ao seu redor pudesse entender o conteúdo da conversa, mas as pessoas ainda ouviriam o murmúrio de suas vozes. Ninguém jamais questionou isso e a magia era tão sutil que nem mesmo Mel, com seus sentidos altamente sintonizados, conseguia desativá-la.
— Por que nos chamou? —Krista perguntou. — Achei que não quisesse mais fazer trabalhos em equipe. — Havia um tom rude em sua voz, e Mel sabia que era justificado.
— A Tina me ofereceu o trabalho. — Krista ergueu as sobrancelhas ao mesmo tempo em que seus lábios se curvaram, então Mel continuou. — E não tenho como fazer isso sozinha de jeito nenhum. Não confio em mais ninguém, além de vocês dois, para me ajudar a fazer isso.
— A Esmeralda Escarlate? — Bob perguntou, sua voz mais uniforme do que nunca. — Você acha que quero morrer, Kitty?
Mel apertou a mão com o apelido. Ele devia estar bem chateado mesmo.
— Sim. E como pagamento, vocês podem escolher qualquer item da minha coleção que desejarem. Um para cada. — Dividiria seu estoque pela metade e daria tudo para tentar acertar Ava. Mas não precisava chegar a esse ponto.
— E você tem que nos trazer ao território transmorfo para fazer a oferta? — Krista não parecia satisfeita. — Nós dois provavelmente quebramos três tratados só por virmos até aqui, mais ainda por estarmos sentados em um bar que fica há 20km do castelo do Rei Gato! — Se não fosse pela necessidade de discrição, a mulher mais jovem teria batido o punho contra a mesa. — Isso é manipulação, Mellie, não venha com essa para cima de mim. Se me quer para um trabalho, é só pedir.
Bob não disse nada, mas acenou com a cabeça em concordância.
Mel parou por um momento e tentou tirar a tensão de seus ombros.
— Vocês vão me ajudar a roubar a Esmeralda Escarlate? Não posso fazer isso sem vocês. — Nem doeu dizer isso, não para Bob, nem para Krista. Foi uma surpresa.
Seus parceiros compartilharam um sorriso malicioso.
— E aquele diamante tão grande quanto o punho do Bob?
Mel sabia exatamente do que ela estava falando. Levou seis meses de planejamento para consegui-lo.
— É seu. — Ela olhou para Bob.
Ele deu de ombros.
— Tenho certeza de que vou pensar em algo. — Ele iria, sempre pensava.
Ela se inclinou para frente, com os cotovelos sobre a mesa. Quase podia ouvir a voz de sua mãe gritando para retirá-los.
— Vai ser complicado. Não há registro de plantas, nem detalhes do sistema de segurança. E eles são metamorfos, o que significa que são cerca de vinte vezes mais difíceis de roubar do que qualquer outra pessoa, exceto talvez por um complexo protegido pela irmandade.
Krista se irritou com a avaliação.
— Tente roubar de uma irmandade sem alguém para quebrar as proteções.
— Não há nada registrado no condado? — Bob perguntou.
Mel sorriu.
— De acordo com os registros, o sr. Torres mora em um sobrado de 130 metros quadrados, com três quartos e dois banheiros. — Ela puxou uma pasta de sua bolsa e colocou as fotos na mesa na frente deles.
Castelo não era o termo correto para o complexo de Torres. Era moderno demais. Tudo era construído em linhas retas e cimento, e as janelas eram pequenas no nível do solo e um pouco maiores a partir do quarto andar. A coisa toda subia até a altura das árvores ao redor e, felizmente, elas chegavam quase até a construção real. Pela perspectiva defensiva, era uma decisão estúpida, mas um gato não conseguia resistir ao chamado da floresta.
— Claramente, o condado falsificou registros. — Ela olhou para Krista. — Como você pode me colocar dentro?
Embora Krista costumasse socar qualquer um que a olhasse do jeito errado, seu verdadeiro talento era o reconhecimento e a magia tática.
— Tenho uma ideia. Vou precisar de duas horas, mas devo conseguir.
Perfeito.
— Quando pode começar?
Krista sorriu.
— Esta noite. Há meses que desejo usar este bebê. — Krista adorava criar dispositivos mágicos que podiam se infiltrar até nos locais mais seguros.
Mel estremeceu e olhou em volta. Um homem de jaqueta de couro tinha acabado de entrar. Era como se um fio elétrico a tocasse bem no peito, entre outros lugares, quando olhou para ele. Sua força era primordial. Ela inclinou a cabeça para trás.
— Parece que o grandalhão está aqui. Pode começar agora? Vou ganhar tempo para você se preparar. — Sem o alfa, o perigo de cercar o lugar seria mínimo. Se alguém podia fazer isso, eram Krista e Bob.
Seus parceiros trocaram um olhar e tiveram uma conversa silenciosa, as expressões brilhando tão rapidamente que Mel não conseguiu determinar o significado. Não era telepático, eles simplesmente trabalhavam juntos há tanto tempo, que algumas conversas não precisavam acontecer em voz alta. Bob finalmente concordou. Krista disse:
— Dê-nos o máximo de tempo possível, mas o mantenha aqui por pelo menos vinte minutos. Nos encontramos na cabana em três horas. — Mel assentiu. Tinha alugado uma bela cabana de férias por um mês nos arredores da cidade, logo depois da fronteira do condado com o território de Luke Torres. Se ele perguntasse às pessoas certas sobre o roubo, acabaria descobrindo o culpado, mas ela não queria tornar isso tão fácil, bastando verificar os registros dos dois motéis na cidade.
Krista derrubou a barreira e o cheiro dos gatos que haviam acabado de entrar quase a oprimiu, mas manteve a expressão neutra. Ela e Bob escapuliram, mas Mel não os viu partir. Seus olhos se voltaram para o alfa.
Ela tinha trabalho a fazer.
Tinha algo errado. Luke sentiu isso no momento em que entrou. À primeira vista, tudo parecia normal. Quase todos no lugar moravam na cidade, embora tivesse visto a pequena família que estava hospedada no Sid’s Motel em seu caminho pelas montanhas. Mas eles pareciam bem, completamente humanos e inconscientes de que havia pessoas que não eram.
Ele chegou ao bar onde Sinclair estava limpando a superfície brilhante.
— Alguma novidade?
A barba do homem cobria metade de seu rosto e pendia vários centímetros. Escondia uma série de cicatrizes e obscurecia sua mandíbula o suficiente para ocultar o fato de que havia sido atingido no rosto. Também o fazia parecer mais perto dos sessenta anos do que dos trinta, mas isso era problema dele.
— O Vince e os outros estão fumando. Estão em uma mesa. Não começaram nada desde que chegaram aqui.
Exatamente o grupo que ele precisava ver. Vince Hardy e companhia eram exatamente o tipo de merda com que não precisava lidar agora.
— E nossos convidados?
A barba de Sinclair se moveu quando ele sorriu.
— Quais?
Isso fez Luke hesitar. Alguém devia ter entrado na cidade depois que ele recebeu a última atualização. Por mais louco que parecesse, com a cúpula chegando em duas semanas, ele precisava de segurança. Sem estranhos que ele não conhecesse na cidade, sem surpresas.
— Eu sei sobre a família.
Sinclair acenou com a cabeça para a mesa nos fundos do salão.
— Três pessoas. Acho que são humanos, mas não consegui uma leitura clara. Devem estar apenas de passagem. Não alugaram nenhum quarto.
Luke olhou para onde seu homem apontou. Uma mulher pequenina estava sentada ao lado de um homem alto, e os dois estavam de frente para uma ruiva. A única coisa que podia ver eram seus cachos cheios e encaracolados. Mesmo assim, só de vê-los foi como um soco no estômago. Apertou as mãos e respirou fundo. Claro, já fazia algum tempo, mas ver o cabelo dela não deveria deixá-lo nervoso.
Seus amigos se levantaram e foram embora antes que ele pudesse sequer considerar ouvir o que estavam dizendo. Ela ficou. Luke observou os outros dois atravessarem a saída principal, e parecia que a ruiva não planejava segui-los. Ele se voltou para Sinclair.
— Quando eles entraram?
O barman deu de ombros.
— Meia hora, talvez uma. Pediram bebidas, mas nenhuma refeição. Só conversaram. A Lucy está atendendo a mesa, mas disse que eles não estavam falando nada suspeito. Vou ficar de olho.
— Faça isso.
Vince e seus amigos retornaram e Luke quase se engasgou com o cheiro de tabaco. Como qualquer gato podia fumar cigarros o confundia. Bastava o mais ínfimo cheiro e parecia que suas narinas estavam queimando. Mas garotos idiotas sempre seriam garotos idiotas. Vince Hardy era um imbecil a quem tudo foi dado e escolheu não fazer nada com isso. Gastava seu fundo fiduciário em bebidas e merdas extravagantes, e não conseguia fazer nada de útil. Mas Luke não conseguiu expulsá-lo da alcateia por ser um idiota. Embora sentisse um pouco mais de satisfação com sua punição do que deveria.
Ficou no bar e esperou que Vince o visse. O garoto estava ocupando o máximo de espaço que podia. Ele quase se inclinou para a cabine da ruiva para olhar seu decote. A camisa polo verde-limão que ele usava fazia os olhos de Luke arderem e ele devia ter passado meia hora penteando o cabelo loiro para fazê-lo parecer despenteado. Vince parecia exatamente como um idiota com dinheiro deveria parecer, e isso só o tornava mais popular.
Depois de mais de dois minutos brincando, Vince finalmente começou a prestar atenção ao redor e viu seu alfa encostado casualmente no bar. Seu rosto empalideceu e duas manchas vermelhas pontilhavam suas bochechas. Luke teve que conter um sorriso. O garoto soube que tinha fodido tudo, já que Luke tinha ido falar com ele no mesmo dia do incidente.
Manteve contato visual por vários segundos antes de se virar e sair do bar. Vince e os amigos o seguiriam. Eles conheciam as regras.
Não esperou no estacionamento. Havia muitas pessoas normais na cidade que não tinham ideia dos monstros que viviam entre eles. Contornou a lateral do pequeno prédio de tijolos e esperou logo além da alta cerca de madeira que separava os fundos do restaurante da vista da estrada. No verão, colocavam cadeiras e mesas para os turistas aproveitarem o lindo clima do Colorado. Mas agora que o outono estava acabando, as mesas estavam empilhadas de lado e só seriam colocadas mediante solicitação especial. Se tornou o local perfeito para reuniões como esta.
Vince se esgueirou primeiro, com a cabeça baixa e os ombros caídos. Ele se encostou na cerca e não disse nada. Luke apenas esperou. Quase um minuto se passou antes que Henry e Mick se juntassem a eles. Os três garotos esperaram que o alfa falasse. Luke os deixou cozinhar em silêncio por vários minutos. Estavam enchendo seu saco e não se importava em tornar as coisas mais difíceis para eles.
Só depois que viu uma gota de suor se formar na testa de Vince, ele falou.
— Vocês têm uma explicação?
Se possível, os ombros de Vince caíram ainda mais. Mais um pouco e ele ficaria completamente inclinado para a frente.
— Ela não estava usando-o — ele murmurou.
Luke fez um movimento amplo com a mão.
— Está vendo neve no chão? — Não levantou a voz. Não precisava.
Vince engoliu em seco e seus amigos estremeceram.
— Não, senhor.
— Ouviu sons de aflição de dentro da garagem de Rinna? Talvez um cachorrinho assustado? — Ele se aproximou, ficando a apenas alguns centímetros do rosto do garoto.
— Não, senhor.
— Então, se importaria de me explicar por que roubou o moto neve de uma mulher e tentou dirigi-lo pela rua, causando prejuízo de milhares de dólares? — terminou com um rosnado baixo e ficou satisfeito quando Vince choramingou, o som mal escapando da garganta do rapaz.
Henry e Mick mantiveram as cabeças baixas, se recusando a fazer contato visual ou defender o amigo. Vince não disse nada em sua própria defesa.
— Vocês todos devem ir para a escola e voltar para casa. Se tiverem empregos, podem ir ao trabalho. Cada um de vocês deve 500 dólares a Rinna para cobrir os custos e irão trabalhar na propriedade dela todos os fins de semana até o Natal. Se quiserem fazer algo mais, têm que me pedir primeiro. Se me desobedecerem, vão ficar confinados em minha casa a qualquer hora em que não estiverem trabalhando, na escola ou dormindo. Entenderam? — Esses três poderiam estar se aproximando da idade adulta, mas ainda contavam como crianças na alcateia. Eles tiveram sorte – se algum deles fosse um ano mais velho, o castigo poderia ter sido muito pior. E agora, para esclarecer: — Algum de vocês sabe o que vai acontecer em algumas semanas? — deixou a pergunta pairar no ar, observando os garotos.
Henry finalmente ergueu os olhos e assentiu bruscamente.
— A cúpula.
— Exatamente. — Pelo menos não eram completamente ignorantes. — É a primeira vez em um século que os vampiros estarão neste território sem guerra. Não estraguem tudo. — Luke os deixou. Os garotos iam seguir suas ordens, e se não o fizessem, ele lidaria com isso. Mas agora, ele precisava de uma bebida, uma mulher ou uma luta. Aceitaria qualquer um desses, mas sua mente voltou para aquela ruiva e ele percebeu que uma bebida e uma mulher pareciam uma boa combinação.