Читать книгу Resgatada pelo xeque - Кейт Хьюит - Страница 6
Capítulo 2
ОглавлениеA governanta competente, pensou Aziz, perturbado, parecia estar prestes a desmaiar. Cambaleava ligeiramente enquanto o observava com os olhos azuis esbugalhados e os lábios carnudos a formar um «O».
Era uma mulher bonita, Aziz pensara nisso muitas vezes, mas de uma beleza serena e contida. Tinha sempre o cabelo castanho apanhado. Tinha os olhos azuis-escuros, os lábios rosados e a pele suave. Não usava maquilhagem, pelo menos, ele nunca a vira maquilhada. Também não precisava, sobretudo, naquele momento, em que corara desde o pescoço até à testa. Ela abanou a cabeça e cerrou os dentes.
– Não sei se entendi, Majestade, mas, seja o que for, é impossível.
– Para começar, lembra-te de que deves chamar-me Aziz.
Um brilho de cólera apareceu nos olhos de Olivia. Aziz alegrou-se por conseguir zangar-se, já que, com frequência, se questionara quanta paixão escondia por trás da sua fachada contida.
Há seis anos que a conhecia, embora só a visse algumas vezes por ano. No entanto, só algumas vezes é que mostrara que tinha sentimentos profundos: Um lenço vermelho e arroxeado que usava um dia; uma gargalhada que ouvira procedente da cozinha; vê-la a tocar piano na sala e a sua expressão ao fazê-lo, como se estivesse a verter a sua alma na peça. Aziz pensara que era uma alma que conhecia a angústia e até a tortura.
Fora-se embora silenciosamente antes de o descobrir, já que sabia que ela se horrorizaria se soubesse que estivera a ouvi-la. Contudo, interrogou-se que segredos escondia por trás da sua fachada.
E, no entanto, fora essa impassibilidade que o induzira a escolher Olivia Ellis para o trabalho. Era inteligente, discreta e muito competente. Era o que precisava.
– Vou dizer-to de outro modo – indicou Aziz, enquanto observava como a indignação fazia com que o peito dela subisse e descesse com força. Usava uma blusa branca, com o cabelo apanhado, como sempre, e umas calças pretas e sapatos rasos. Sabia que tinha vinte e nove anos, mas vestia-se como uma mulher de meia-idade, embora com estilo. A roupa era de boa qualidade e bom corte.
– Diz-me, então. – Olivia dominara a cólera. Aziz voltou a ver a Olivia de sempre, serena e controlada.
– Quero que sejas a minha noiva de forma temporária. A substituta da rainha Elena até a encontrar.
– E para que precisas de uma substituta?
– Porque quero dissipar os rumores que possam correr sobre o seu desaparecimento. Dentro de uma hora vou dar uma conferência de imprensa e devemos aparecer juntos na varanda do palácio.
– E depois?
Aziz hesitou levemente.
– Será só isso.
– Só isso? – Observou-o com os olhos semicerrados. – Se só precisas de uma mulher para que apareça contigo na varanda, com certeza que poderias ter encontrado uma daqui.
– Queria alguém que conhecesse e em quem pudesse confiar. Já te disse que há muitos anos que não vinha a Kadar. Há poucas pessoas em quem possa confiar.
– Nem sequer me pareço com a rainha. Ela tem o cabelo escuro e não temos a mesma altura. Eu sou um pouco mais alta.
– Sabes quanto mede a rainha Elena? – perguntou ele, arqueando as sobrancelhas.
– Sei o que meço. Vi fotografias dela.
– Ninguém vai preocupar-se com uns centímetros a mais ou a menos.
– E o cabelo?
– Podemos pintá-lo.
– Numa hora?
– Se for necessário.
Olhou para ele durante uns segundos e ele percebeu que a tensão crescia no seu interior. Sabia que estava a pedir-lhe algo fora do comum. Também que tinha de a convencer a aceder. Não queria ameaçá-la, mas precisava dela. Não conhecia outra mulher tão competente e discreta. E, nesse momento, a única coisa que o preocupava era obter o seu objetivo: Garantir a coroa do reino que lhe correspondia governar por herança, embora muitos não acreditassem.
– E se me recusar? – perguntou Olivia.
– Porque haverias de o fazer?
– Porque é uma loucura? – replicou, sem humor. – Porque qualquer paparazzi com uma teleobjetiva conseguiria perceber que não sou a Elena e publicá-lo? Acho que nem sequer usando todo o teu encanto conseguirias livrar-te de semelhante desastre.
– Se isso acontecer, eu serei o único responsável. Toda a culpa recairá sobre mim.
– E achas que não serei objeto de falatórios, que todos os aspetos da minha vida não serão dissecados na imprensa sensacionalista? – O rosto de Olivia irritou-se como se semelhante possibilidade lhe causasse dor.
– Se te descobrirem, coisa que não acontecerá, ninguém saberá quem és.
– Achas que não descobrirão?
– Possivelmente, mas estamos a falar por falar. Não há nenhum jornalista de fora daqui. O país está fechado para a imprensa estrangeira há anos. Tenho de mudar esse decreto.
– A imprensa de Kadar.
– Sempre esteve ao serviço da Coroa. Pedi que, desta vez, não se tirem fotografias e acederam. Não aprovo como as coisas estão aqui, mas era a forma de governar do meu pai, que continua.
– Vais fazer as coisas de outro modo agora que és xeque? – perguntou ela, num tom levemente incrédulo, o que Aziz entendeu, embora não achasse graça.
Só demonstrara que era um prodígio com os números e que gostava de ir a festas por toda a Europa. Olivia vira o seu estilo de vida hedonista e limpara os seus excessos. Não podia reprová-la por se sentir cética quanto à sua capacidade de governar bem.
– Vou tentar.
– E vais começar com esta farsa ridícula.
– Receio que seja necessário. – Voltou a sorrir, mas ela não se alterou. – É por uma boa causa, Olivia: A estabilidade do país e a segurança do povo.
– Porque é que o Khalil raptou a rainha Elena? Como o fez? Não tinha proteção?
Aziz sentiu que a raiva crescia no seu interior, mas não sabia para quem dirigi-la: Para Khalil ou para os seus próprios empregados por não se terem apercebido da ameaça até já ser demasiado tarde. No entanto, percebeu que estava zangado consigo próprio, embora soubesse que não teria conseguido evitar o sequestro. Enfurecia-o não o ter impedido, não conhecer o país ou o seu povo para poder exigir lealdade e obediência ou para que procurassem Elena no seu deserto interminável.
– O Khalil é o filho ilegítimo da primeira esposa do meu pai. Criou-o como seu filho durante sete anos, até se descobrir a verdade. Então, foi desterrado, juntamente com a mãe, mas Khalil insiste que tem direito ao trono.
– Que horror! – exclamou Olivia. – Banido.
– Acabou por viver rodeado de luxos com a tia, nos Estados Unidos. Não deves compadecer-te.
– É evidente que não o fazes.
Aziz limitou-se a encolher os ombros. O que sentia por Khalil era difícil de explicar, até a si próprio: Raiva e inveja; tristeza e amargura. Uma mistura de sentimentos potente e insana.
– Reconheço-o. Não o acho muito simpático, tendo em conta que tenta desestabilizar o país e que raptou a minha noiva.
– Porque achas que pensa que tem direito ao trono?
«Porque todos pensam que sim. Porque o meu pai o adorava, mesmo quando soube que não era o seu filho; mesmo contra a sua própria vontade», pensou Aziz.
– Não sei se acha que tem direito. Talvez se trate apenas de uma vingança contra o meu pai, que considerou o pai dele durante boa parte da sua infância. – «E uma vingança contra mim por ocupar o seu lugar», pensou. – O meu pai não era um homem justo. O seu testamento extraordinário prova-o de forma incontestável.
– Então, o Khalil raptou a Elena para evitar que se casem – concluiu Olivia, enquanto ele assentia.
Aziz odiava pensar que Elena estaria sozinha e assustada no deserto. Não a conhecia muito bem, mas imaginava que seria uma experiência terrível para qualquer pessoa e, sobretudo, para alguém cujos pais tinham morrido num atentado e que estivera muito sozinha.
– Se não te casares no prazo de seis semanas, o que acontecerá?
– Perderei o trono e o título.
– E a quem os dariam?
– O testamento não o especifica. Terei de convocar um referendo.
– Será o povo a decidir quem será o xeque?
– Sim.
– Parece-me muito democrático – afirmou ela, sorrindo.
– Kadar é uma monarquia constitucional. A sucessão sempre foi dinástica. O referendo é, simplesmente, a forma do meu pai de me tornar as coisas muito difíceis.
– E não queres obedecer.
– Não especialmente, mas reconheço que é necessário. – Passara mais de três semanas a tentar encontrar uma forma de fugir do testamento do pai. Não queria casar-se nem ser forçado a fazê-lo. O pai controlara as suas ações, pensamentos e desejos durante demasiado tempo.
Mas, mesmo morto, continuava a controlá-lo e a magoá-lo.
– Porque é que, então, não convocas o referendo? – perguntou Olivia.
– Porque perderia – afirmou ele, num tom leve que passara tanto tempo a usar que se transformara numa segunda pele: A personagem do playboy. Mas falar do pai e da possibilidade de Khalil ser xeque porque o povo não o queria começava a destruir a personagem e receava o que Olivia pudesse ver. – São os riscos de não ter passado muito tempo em Kadar – acrescentou, num tom brincalhão. – Mas espero remediá-lo em breve.
– Mas não a tempo para o referendo.
– Exatamente. É por isso que preciso de aparecer com a minha noiva e garantir ao meu povo que está tudo bem. O meu pai deixou o país num estado de agitação política, dividido pelas decisões que tomou há vinte e cinco anos. Estou a tentar por todos os meios reparar o mal e fazer com que reine a paz em Kadar.
– E se não encontrares a rainha?
– Vou encontrá-la, mas preciso de um pouco mais de tempo. Os meus homens estão à procura dela no deserto.
Khalil introduzira um homem leal a ele entre os empregados de Aziz, alguém que lhe dera a mensagem de que o avião de Elena se atrasara por causa do mau tempo. Khalil subornara o piloto do jato real para que desviasse o aparelho para uma zona remota do deserto, onde, juntamente com os seus homens, recebera Elena quando saíra do avião.
Era o que sabia, a partir do testemunho de duas testemunhas: O comissário de bordo, que vira, impotente, Elena a desaparecer num todo-o-terreno; e uma empregada que vira um dos homens de Aziz a rondar por sítios onde não deveria estar.
Aziz suspirou. Sim, tivera um plano bem levado a cabo porque Khalil tinha muitos seguidores, apesar de ter abandonado o país com sete anos e de ter regressado há seis meses. O povo recordava o menino que fora o filho amado do xeque Hashem, o seu verdadeiro filho.
Aziz era o intruso, o pretendente.
Sempre fora, desde os quatro anos de idade, quando o tinham levado para o palácio. Recordava que o pessoal fingia não ouvir os pedidos humildes da sua mãe e que os serviam com desprezo. Ele estava perturbado e a mãe, desesperada. No fim, ela fechara-se nos aposentos femininos e raramente era vista em público.
Aziz tentara conquistar o pessoal do palácio, o povo e, sobretudo, o pai, sem nenhum resultado, sobretudo, no que dizia respeito ao seu pai. No fim, acabara por desistir.
Só faltavam quarenta minutos para a conferência de imprensa. Tinha de convencer Olivia a aceder.
– Se não encontrar a Elena, terei de me reunir com o Khalil. Talvez possamos negociar. – Embora não quisesse vê-lo nem negociar com ele. A lembrança da última vez que se tinham visto causava-lhe um nó no estômago. O rapaz que ele, com quatro anos, considerava o seu meio-irmão olhara para ele como se fosse algo peganhento e repugnante colado à sola do seu sapato. Depois, o seu pai levara-o para o quarto de jogos para ficar com o filho que sempre favorecera, o que preferia, mesmo depois de saber que não era sangue do seu sangue.
Apesar de o ter banido, o pai agarrara-se à lembrança de Khalil e desprezara o filho que tornara herdeiro por necessidade, não por vontade própria.
Aziz obrigou-se a parar de recordar e virou-se para Olivia.
– De todos os modos, não deves preocupar-te com nada disto. A única coisa que te peço é que venhas comigo à varanda durante dois minutos. As pessoas vão ver-te de longe e vão ficar satisfeitas.
– Como podes ter a certeza?
– Esperam a Elena e verão a Elena. Anunciei que chegou esta tarde.
– Quando eu cheguei.
– Exatamente. As pessoas esperam vê-la e já estarão no pátio. Dois minutos, Olivia, é a única coisa que te peço. Depois, poderás voltar para Paris.
– Durante quanto tempo?
– A que te referes?
– Vais mesmo precisar de uma casa em Paris e de uma governanta quando te casares e reinares em Kadar, no caso de encontrares a rainha Elena?
Observou-a durante uns segundos, perturbado ao perceber que se preocupava com o seu emprego.
– A minha intenção é manter a casa de Paris – disse, apesar de nem sequer ter pensado nisso. – Enquanto tiver a casa, terás trabalho nela.
Viu a expressão de alívio do rosto de Olivia.
– Então, estamos de acordo?
Ela abanou a cabeça.
– Não…
– Faltam quarenta minutos para enfrentar as câmaras e os jornalistas. – Aziz deu um passo para ela com as mãos estendidas em atitude de rogo e o sorriso que tantos corações conquistara, embora não o dela. – És a minha única esperança, Olivia, a minha salvação. Por favor.
– Não exagere, Majestade.
– Aziz.
Observou-o durante uns segundos e ele percebeu, nos seus olhos, o dilema com que se debatia. Depois, ela assentiu levemente.
– Muito bem – acedeu, em voz baixa. – Vou fazê-lo.