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Capítulo 3

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Numa questão de segundos, Malik voltou à sala e Aziz começou a falar com ele em árabe. Olivia teve a sensação de ter entrado num universo paralelo. Como ia fazer-se passar pela rainha Elena?

Apesar da sua relutância a aceder ao plano de Aziz, percebeu que lhe dava jeito fazê-lo, já que o seu emprego estava nas mãos dele. E, apesar de Aziz não a ter subornado ou chantageado de forma direta, Olivia entendera a mensagem subjacente: «Faz isto e terás trabalho durante o tempo que quiseres.»

E o seu trabalho e a sua vida em Paris eram tudo o que desejava e esperava ter.

Não agira unicamente de forma interesseira, pensou, enquanto seguia Malik pelos corredores do palácio. Entendia o dilema de Aziz e não desejava aumentar a instabilidade do país. Não sabia se fingir ser outra pessoa seria de ajuda, mas, pelo menos, proporcionaria mais tempo a Aziz.

E era de esperar que ninguém se apercebesse e que, no dia seguinte, estivesse de volta a Paris.

– Por aqui, menina Ellis.

Malik abriu a porta de um quarto. Olivia observou o quarto, onde tudo era sumptuoso: Desde a cama com dossel, aos sofás de brocado e ao toucador de madeira de teca.

– A Mada e a Abra vão ajudá-la a preparar-se – informou Malik, sorrindo. As duas mulheres cumprimentaram-na timidamente. – Receio que o inglês delas não seja muito bom, mas garanto-lhe que está em boas mãos. – Com um assentimento leve de cabeça, deixou Olivia a sós com as duas mulheres.

Levaram-na para a casa de banho, que era ainda mais luxuosa do que o quarto, com uma banheira de mármore, um duche para duas pessoas e dois lavatórios com torneiras que pareciam de ouro.

Uma das mulheres disse alguma coisa em árabe e Olivia abanou a cabeça.

– Lamento, mas não entendo.

Sorrindo, a mulher indicou a sua roupa e os botões da sua blusa. A outra mulher mostrou-lhe uma embalagem para pintar o cabelo e Olivia entendeu que devia despir-se.

Ficou em cuecas e sutiã, tremendo de frio. Sentiu vergonha. Tinha uma vida solitária e não recordava a última vez que alguém, exceto o médico, a vira em roupa interior.

Uma das mulheres pôs-lhe uma toalha aos ombros e a outra preparou a tinta.

– Como se chama? – perguntou à mulher que lhe pusera a toalha.

– Mada – respondeu ela, sorrindo.

– Obrigada, Mada – agradeceu, antes de a conduzir ao lavatório. Fechou os olhos enquanto Mada lhe pintava o cabelo e percebeu que não perguntara se seria temporário. Abra, a outra mulher, cobriu-lhe o cabelo com um gorro de plástico.

Olivia nem sequer tivera tempo para perguntar a Aziz se aquilo era legal. Fazer-se passar por alguém, sobretudo alguém da realeza, era um crime? E se a detivessem? E se alguém percebesse que não era Elena e vendesse a história à imprensa estrangeira?

Talvez descobrissem outros segredos. Não suportava a ideia de saberem do seu passado, de as pessoas a julgarem. Já o faziam com muita dureza.

E o pai, pensou, ver-se-ia desonrado. Depois de ela ter vendido a sua alma, há dez anos, para lhe evitar a vergonha, a ideia de, de todos os modos, acabar humilhado causou-lhe uma satisfação surpreendente e desmedida, seguida do conhecido sentimento de culpa.

Um aparecimento. Dois minutos. E tudo teria acabado.

Segundos depois, Mada indicou-lhe que voltasse ao lavatório e inclinasse a cabeça para passar o cabelo por água. Quando acabou, Olivia olhou-se ao espelho e ficou surpreendida. Parecia outra. A pele parecia mais pálida e os olhos, mais afundados, escuros e grandes. O seu cabelo castanho-claro tornara-se preto. Não se parecia com a rainha Elena, mas também não se parecia com ela própria. Talvez, de certa distância, conseguisse passar por ela.

Mada deu-lhe a mão e levou-a de volta ao quarto, onde lhe tinham deixado a roupa em cima da cama: Um fato cinzento e uma blusa de seda cor de marfim. Olivia vestiu-se depressa. Uns sapatos de salto pretos completavam o traje. Olivia hesitou, já que usava sempre sapatos rasos. Mas olhou para eles e pareceram-lhe um calçado muito sensual, que era uma palavra que não queria ver associada a ela e a Aziz.

Depois, pentearam-na com um coque e maquilharam-na muito mais do que ela costumava fazer. Sentia-se uma impostora.

Que era precisamente o que Aziz queria que fosse: Uma impostora convincente.

Bateram à porta e Malik entrou.

– Está pronta, menina Ellis?

– Sim.

Olhou para ela de cima a baixo e assentiu, dando a sua aprovação.

– Venha comigo, por favor.

Enquanto o seguia, com os sapatos a ecoar no chão de mármore, disse, num tom levemente mordaz:

– É evidente que a Mada e a Abra estão ao corrente do plano e que ambas se parecem mais com a rainha Elena do que eu. Pelo menos, ambas têm o cabelo da mesma cor do que ela. Porque não pediram a uma delas?

– Nenhuma das duas possui a segurança em si própria nem a capacidade suficientes para levar a substituição a cabo. Nem sequer se sentiriam confortáveis a vestir roupa ocidental.

– Mas o Aziz e o senhor confiam nelas?

– Claro. Muito poucas pessoas estão a par deste engano, menina Ellis. A menina, o xeque Aziz, a Mada, a Abra e eu.

– E a tripulação do avião real, para além do empregado que me escoltou até aqui.

– É verdade – confirmou Malik, com uma inclinação leve da cabeça. – Mas trata-se de um grupo reduzido cujos membros são leais ao xeque.

– O Aziz não está em Kadar há tempo suficiente para ganhar a lealdade do povo.

– É o que ele parece achar. Mas há mais gente que lhe é leal do que pensa.

Antes de Olivia conseguir responder, Malik abriu a porta de uma sala decorada que tinha uma varanda ampla. Do outro lado da divisão, Olivia avistou o pátio cheio de gente. Algumas pessoas esticavam o pescoço para tentar ver o novo xeque e a futura esposa.

Olivia sentiu um nó no estômago e levou a mão à boca.

– Por favor, não vomites – pediu Aziz, num tom seco, ao entrar na sala. – Ias estragar a roupa bonita que usas. – Parou à frente dela e estudou-a de cima a baixo com os seus olhos cinzentos, em que ela viu um brilho de aprovação masculina que lhe contraiu o estômago. Nunca olhara para ela assim. – O cabelo escuro favorece-te. Os saltos também. Muito. Quase lamento que essa cor seja temporária. – Aziz sorriu.

Ela ergueu o queixo e reprimiu os sentimentos que Aziz despertava tão facilmente no seu interior. Porque reagia assim quando não o fazia antes?

– Desde que pareça a rainha Elena…

– Creio que o farás muito bem. Sei que te peço muito, Olivia, mas estou profundamente agradecido pela tua ajuda.

– Só quero voltar para Paris.

– E vais fazê-lo. Mas, primeiro, a varanda. – Indicou as portas. Apesar de estarem fechadas, Olivia ouvia o clamor da multidão. Engoliu em seco.

– Já deste a conferência de imprensa?

– Há uns segundos.

– Perguntaram-te porque a rainha Elena não estava nela?

– Alguns jornalistas fizeram-no e disse-lhes que estavas cansada da viagem e a preparar-te para conhecer o teu novo povo. De todos os modos, neste país, não é habitual que uma mulher apareça à frente dos meios de comunicação social e faça declarações.

– Mas a Elena fê-lo muitas vezes. É a soberana do seu país.

– É verdade, mas, em Kadar, vai limitar-se a ser a esposa do xeque. Essa é a diferença.

Olivia percebeu um pouco de amargura na voz de Aziz e questionou-se a que se devia.

– Porque é que a rainha Elena acedeu a casar-se contigo se vai ter menos direitos aqui? Suponho que não tenha sido por amor.

– Claro que não. – Aziz esboçou um sorriso. – A aliança era boa para ambos por diferentes motivos.

– Falas no passado. Já não é boa?

– Será quando a encontrar. Mas, por enquanto… – Apontou para a varanda. – O nosso povo, que nos adora, espera por nós.

Olivia sentiu-se nervosa, mas assentiu.

– Muito bem.

– É importante que saibas – disse Aziz, em voz baixa, enquanto se dirigiam para a varanda – que, embora o meu casamento com a Elena fosse por conveniência, as pessoas pensam que é por amor. Querem que seja.

– Embora tenham ficado noivos há apenas algumas semanas?

– As pessoas acreditam no que querem acreditar – comentou Aziz, encolhendo os ombros.

– E o que é que isso tem a ver com o meu aparecimento?

Aziz sorriu, brincalhão, e acariciou-lhe a face. Para Olivia, foi como receber uma descarga elétrica. Recuou instintivamente.

– Devemos comportar-nos como se estivéssemos loucamente apaixonados. No entanto, tenta reprimir-te nas tuas demonstrações de afeto. Ao fim e ao cabo, este é um país conservador.

Ela abriu a boca, indignada, apesar de saber que Aziz brincava. Riu-se, deu-lhe o braço e saíram para a varanda.

A multidão aclamou-os assim que os viu. O ar quente atingiu o rosto de Olivia. Pestanejou, atónita com o clamor de aprovação que subia do pátio e que parecia não ter fim.

Aziz passou-lhe o braço pela cintura enquanto cumprimentava com a outra mão.

– Cumprimenta – murmurou. Olivia, obediente, levantou a mão. – Sorri. – Ela fê-lo.

– Tinhas-me dito – sussurrou ela –, que o povo de Kadar não te era leal.

– É um povo romântico, para além de tradicional. Gosta da ideia do meu casamento, a de um casamento de contos de fadas, mais do que eu gosto.

Ao fim de dois minutos intermináveis, Aziz baixou a mão e Olivia achou que tinham acabado. Mas ele continuou a agarrá-la pela cintura enquanto lhe punha a outra mão no queixo.

– O que estás a fazer? – sussurrou ela.

– A multidão quer que nos beijemos.

– O que se passou com as demonstrações de afeto? – perguntou ela, cerrando os dentes. – Não era um país conservador?

– Siyad é um pouco mais moderna. E não te preocupes, porque será um beijo casto, sem língua. – Ela abriu a boca por causa do susto e ele aproveitou para a beijar.

Olivia ficou paralisada com o contacto dos seus lábios. Há tanto tempo que não a beijavam que se esquecera de como se sentia. Os lábios de Aziz eram suaves e frescos e segurava-lhe o rosto com firmeza e ternura. Ela fechou os olhos instintivamente enquanto tentava reprimir a onda de desejo que a invadira de forma inesperada.

– Já está. – Aziz afastou-se dela a sorrir. – Conseguiste conter-te.

– Foi fácil – respondeu ela. E ele desatou a rir-se.

– É maravilhosamente fácil zangar-te, Olivia. Cintilam-te os olhos.

– É uma alegria sabê-lo – contra-atacou ela. E ele voltou a rir-se.

Regressaram à sala, mas Olivia mal se apercebeu do que a rodeava. Os lábios formigavam como se o beijo breve a tivesse eletrocutado. Fora um beijo casto, pouco mais do que um toque dos lábios, mas sentia-se trémula e fraca. Porque é que um simples beijo a afetara tanto?

Porque não fora simples para ela. Quando há uma década que não a beijavam, um beijo breve podia ser explosivo e inesquecível.

Assim que as portas da varanda se fecharam, Olivia soltou-se da mão de Aziz. E teve de se conter para não esfregar a boca, como se, com essa ação infantil, pudesse afastar a lembrança do beijo e dos sentimentos que lhe causara.

– Acabámos. Posso voltar para Paris.

– Vais voltar amanhã de manhã.

– Porque não esta noite?

– É uma viagem longa, Olivia. O piloto deve descansar e temos de atestar o avião. Além disso, tenho de jantar com a minha noiva e sei que é algo que não queres perder.

Ela ignorou a brincadeira, embora quase sorrisse. Aziz era incorrigível.

– Não disseste nada sobre um jantar.

– Devo ter-me esquecido.

– Não seja mentiroso.

– Como xeque, é verdade que determino quanta informação devo dar num dado momento.

Ela sorriu enquanto percebia que, como todas as mulheres, estava a cativá-la com o seu encanto.

– E devo ser a rainha Elena ao jantar?

– É um jantar privado, por isso só deves fingir para mim.

– E para o pessoal que nos vir juntos. Aziz, isto é ridículo. É possível que possa passar pela rainha Elena de uma varanda, mas não cara a cara. Bastará um membro do pessoal olhar para mim para que saiba.

– Presumes que suspeitam de alguma coisa. Porque haveriam de o fazer? Sabia-se que a rainha chegaria esta tarde de avião. E fê-lo. Depois, foi à varanda comigo, como estava previsto. Está tudo a correr segundo os planos, Olivia. Ninguém tem razões para suspeitar.

– A não ser o facto de não me parecer com ela.

– Achas que alguém do palácio conhece a rainha Elena pessoalmente?

– Há fotografias nos jornais. Além disso, não veio cá para falar do vosso casamento?

– Sim, mas foi uma reunião privada e muito discreta. Não queríamos que a negociação fosse descoberta.

– De todos os modos.

Ele sorriu e pôs uma mão na sua. Olivia teve de se conter para não a afastar.

– É apenas um jantar, Olivia. E vais-te embora de manhã.

Ela abanou a cabeça. Sentia-se arrastada por uma corrente que a afastava de tudo o que conhecia e desejava, de tudo o que lhe proporcionava segurança. E não conseguia lutar contra ela.

No entanto, era suficientemente sincera consigo própria para reconhecer que a tentava desfrutar desse tempo curto com Aziz, deixar-se cair sob o seu feitiço. Só durante uma noite. Depois, voltaria à sua vida anódina.

– Tens de comer, Olivia – murmurou ele.

– Posso comer uma sandes no meu quarto.

– Muito bem, posso encontrar-me contigo lá. Claro que, assim, o pessoal vai mexericar muito mais.

– És impossível – acusou, afastando a mão.

– Obrigado – troçou, sorrindo.

– Não é um elogio – avisou, com aspereza.

– Eu sei. – O sorriso de Aziz alargou-se.

Tinha algum sentido resistir? Aziz acabaria por a convencer com o seu encanto, que escondia uma determinação de ferro. Não percebera antes como era decidido, mas os desejos de ambos nunca antes tinham sido opostos. E eram nesse momento?

«Tenta-te», pensou Olivia.

Tentava-a passar a noite com um homem tão bonito, aceder a essas zonas esquecidas de si própria e sentir-se bela e desejada, mesmo que fosse fingido.

– Muito bem, jantarei contigo. Mas vou-me embora amanhã bem cedo.

Olhou para ele, desafiante, e ele limitou-se a sorrir.

Resgatada pelo xeque

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