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Capítulo 2

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– Ah… – murmurou Maisie, olhando para aquele homem tão atraente e tão triste que o seu coração se partia por ele. – Lamento muito.

– Obrigado.

– Eu também tenho um irmão mais novo e nem quero imaginar…

Não poderia perder Max. Era a sua única família, mas, agora que acabara o curso, vivia a sua própria vida, exigindo uma independência que a fazia sentir-se ao mesmo tempo orgulhosa e triste. Finalmente, chegara a hora de perseguir os seus próprios sonhos, mas, às vezes, era uma ocupação muito solitária.

– Mas perdeu os seus pais – disse ele, pondo as mãos nos bolsos das calças enquanto se dirigia para a janela para olhar para o céu. – Como aconteceu?

– Um acidente de viação.

Maisie reparou que Antonio ficava com os ombros tensos.

– Um condutor bêbado?

– Não, alguém que conduzia a demasiada velocidade. Passou um sinal vermelho e bateu de frente no carro dos meus pais. – Maisie respirou fundo. Cinco anos depois, continuava a partir-lhe o coração. Já não era uma ferida aberta, mas uma chaga antiga e profunda que seria sempre parte dela. – O único consolo é que morreram no ato.

– Que rico consolo…

– Pelo menos, é qualquer coisa – replicou ela. Às vezes, era a única coisa que tinha. – Como é que o seu irmão morreu?

Antonio demorou um instante a responder, como se estivesse a ponderar o que ia dizer, a debater o que podia contar-lhe.

– Do mesmo modo – replicou, finalmente. – Um acidente de viação, como os seus pais.

– Lamento muito. É horrível que a irresponsabilidade de alguém possa causar a morte de uma pessoa que amamos, não é?

– Sim – assentiu Antonio. – Horrível.

– Era alguém que conduzia a toda a velocidade ou…?

– Sim – interrompeu ele, num tom seco. – Alguém que ia a demasiada velocidade.

Maisie percebeu que não queria falar disso.

– Lamento – repetiu, pondo impulsivamente uma mão no seu braço. Tinha a manga da camisa arregaçada até ao cotovelo e tocou no braço nu, na pele quente e suave. Sentiu um arrepio e quase afastou a mão o mais depressa que podia, mas, por alguma razão, não o fez. Não conseguia fazê-lo.

Continuaram assim, imóveis, durante uns segundos tensos, até Antonio se virar. Maisie viu um brilho nos seus olhos azuis penetrantes e sentiu uma corrente de calor e de desejo que arrasou todo o pensamento racional. Devia disfarçar, pensou. Só quisera consolá-lo, mas, agora, sentia algo completamente diferente. E avassalador.

Olhava para ele, sustendo a respiração, sentindo-se presa, mas de um modo maravilhoso e excitante.

– Quantos anos tem o seu irmão? – perguntou Antonio.

Maisie conseguiu respirar fundo enquanto afastava a mão do seu braço.

– Vinte e dois.

– Então, tinha dezassete quando os vossos pais morreram.

– Sim.

– E o que fizeram sem pais?

– Trabalhar – respondeu ela. Não queria contar-lhe o desgosto e a surpresa que sentira ao descobrir que não tinham economias e que a casa estava hipotecada. O dinheiro sempre fora uma preocupação durante a sua infância, mas, depois da morte dos pais, transformara-se num medo avassalador. Claro que um homem como Antonio Rossi, com o seu iate e as suas casas por todo o mundo, não quereria saber nada disso.

– Trabalhar – repetiu ele, olhando para ela nos olhos. – Cuidou do seu irmão?

– Sim, claro.

Max fora tudo para ela depois da morte dos pais e continuava a custar-lhe não o ver todos os dias. Sentia a falta de precisar dela, mas há muito tempo que não precisava. Emocionalmente, pelo menos.

– Como se chama? – perguntou ele.

– Max – respondeu Maisie. – Acabou o curso agora e está a estagiar em Wall Street.

– Wall Street. – Antonio assobiou. – Parece que as coisas estão a correr bem.

– Sim, parece que sim. Mas estávamos a falar de ti. Como se chamava o seu irmão?

Antonio hesitou e Maisie percebeu que não queria falar disso.

– Paolo – disse Antonio, finalmente, deixando escapar um suspiro. – Tinha menos cinco anos do que eu. Faz hoje dez anos que morreu.

– Hoje…

– Daí o uísque – esclareceu ele, deixando escapar uma gargalhada amarga. – O dia dezasseis de janeiro é o dia mais terrível do ano.

– Lamento muito.

Antonio encolheu os ombros.

– Não é culpa tua.

– Não, mas sei como dói e não o desejo a ninguém.

Adoraria tocar nele novamente, oferecer-lhe algum consolo, mas receava a sua resposta e a dela própria.

– Não, claro. – Antonio voltou a olhar para ela em silêncio. – É uma pessoa muito amável, Maisie. Tem um coração generoso, dá muito aos outros e, certamente, recebe muito menos.

– Fala de mim como se fosse um capacho.

– Não, claro que não. É assim que se sente?

Torceu o nariz, surpreendida, porque, no fundo do seu coração, sempre sentira que era assim. O irmão e ela só tinham dois anos de diferença, mas transformara-se em mãe e pai para ele. Tivera de o fazer. E fizera-o com prazer, mas… às vezes, a vida parecia-lhe tão cinzenta, tão ingrata. E questionava-se se havia mais qualquer coisa.

– Talvez um pouco – admitiu, finalmente. E, depois, sentiu-se mal. Como podia estar ressentida com o irmão? – Não, bom, não queria dizer isso…

– Cale-se. – Antonio pôs um dedo nos seus lábios. – Não tem de se desculpar pelos seus sentimentos. É evidente que se importa com o seu irmão e que sacrificou muito por ele.

– Como pode sabê-lo? – sussurrou Maisie.

Ele apertou os seus lábios. Foi um toque suave como uma pena e, no entanto, o toque mais íntimo que alguma vez experimentara.

– Porque exsuda amor. Amor e generosidade.

O tom de Antonio era sincero, com um toque de melancolia. Ninguém lhe dissera isso antes. Ninguém reparara no que fizera por Max e em tudo aquilo a que renunciara. Mas, por alguma razão, aquele desconhecido sabia.

– Obrigada – sussurrou.

Antonio empurrou o dedo contra os seus lábios, uma carícia que Maisie sentiu até ao centro do seu ser. E ele percebeu.

– Tão carinhosa… – murmurou, enquanto traçava a comissura dos seus lábios com a ponta do dedo. – E tão encantadora…

Maisie estava transfigurada com essa carícia. O toque do seu dedo parecia estar a deixar uma marca na sua alma. Tivera alguns namorados, mas nada sério porque tinha sempre de pensar em Max e estava muito ocupada, a trabalhar e a tentar não se atrasar com os seus estudos de Música. Os beijos e abraços desses namorados não a tinham afetado como um toque simples de Antonio Rossi.

Sabia que tinha de pôr fim àquela tolice e voltar a trabalhar. Acabar o seu turno, voltar para casa e esquecer a magia perigosa daquele encontro inesperado.

Antonio deslizou o dedo pelo seu queixo e pelo seu pescoço, onde a pulsação batia de modo frenético. Deixou-o lá por um instante, olhando para ela com o sobrolho franzido. Depois, desabotoou o primeiro botão da bata e passou o dedo pela t-shirt simples de algodão que tinha por baixo, com a insígnia da empresa no bolso.

A surpresa de Maisie foi tal que o copo de uísque escorregou dos seus dedos e caiu ao chão, sujando a carpete.

– Oh, não…

– Não importa – disse Antonio.

– Claro que importa. Não posso deixar o escritório assim, tenho de o limpar.

– Então, não o deixaremos assim.

Antonio sorriu, irónico, como que dizendo que isso não ia distraí-lo do seu propósito. Mas o que é que o multimilionário de olhos magnéticos queria dela?

Embora a resposta fosse evidente. Maisie pestanejou, colada ao chão, enquanto Antonio tirava um pano do carrinho para limpar a mancha da carpete.

Queria sexo. Era o que os homens ricos e poderosos queriam de mulheres como ela. A única coisa que queriam. Mas ali estava, a limpar a carpete e Maisie não entendia porquê. E também não entendia como podia sentir-se tentada com uma proposta tão sórdida.

Sexo com um desconhecido. Era nisso que estava a pensar. Claro que talvez só estivesse a ser amável, a seduzir um pouco uma empregada para se divertir.

Antonio voltou a deixar o pano no carrinho e virou-se para ela com um sorriso travesso nos lábios.

– Bom, já acabei. Onde estávamos?

Maisie corara até à raiz do cabelo e Antonio reparou na mudança de cor com grande interesse. Tal como reparara em como respondia ao toque do seu dedo. E ele também respondia, sentindo um desejo virulento… e algo mais profundo. Falava a sério quando dissera que era boa e generosa. Nesse momento, parecia a pessoa mais honesta e amável que alguma vez conhecera e desejava tanto aquilo como o seu corpo. Bom, quase tanto.

– Onde estávamos exatamente? – perguntou ela, num tom desafiante.

Antonio esboçou um sorriso.

– Eu acho… – murmurou, enquanto passava o dedo pela sua face acetinada –, que estávamos aqui.

Maisie fechou os olhos e cerrou os dentes, como se o toque fosse desagradável. Mas Antonio sabia que não era assim porque tremia.

– Porque me fazes isto? – perguntou, num sussurro, tratando-o por tu.

– Ainda não te beijei.

Abriu os olhos, atónita, apesar de tudo o que acontecera.

– Ainda?

– Ainda, mas sabes que é apenas uma questão de tempo. E desejas tanto isto como eu, Maisie. Quero esquecer a dor e a tristeza e só quero recordar… isto. – Suavemente, para que pudesse afastar-se se desejasse, Antonio puxou-a para ele. As suas ancas chocaram e os seus seios esmagaram-se contra o peito dele. Sentiu-a a tremer e viu que tinha os olhos esbugalhados.

Uma parte dele, uma parte importante, queria afundar os dedos no cabelo ruivo e saquear a sua boca. Perder-se no esquecimento da luxúria.

Mas não podia fazer isso. Maisie era demasiado encantadora para ser tratada com tanta brusquidão, de modo que levou o seu tempo, observando-a enquanto ela se habituava ao seu toque e sentindo a mudança nos seus corpos e no ar. A sedução transformou-se em antecipação, em expectativa.

– És encantadora – murmurou, enquanto enredava um caracol entre os dedos, puxando-o suavemente. – Muito, muito encantadora.

– Tu também – murmurou ela, com uma gargalhada trémula. – Mas deves saber como és bonito.

Ele riu-se. Havia algo deliciosamente refrescante na sinceridade dela.

– Talvez possas demonstrar-mo.

– Não saberia como fazê-lo.

Antonio voltou a puxar o caracol.

– Poderias beijar-me.

Um rubor encantador espalhou-se pela sua cara.

– Não… não posso.

– Claro que podes.

– Não saberia como – repetiu Maisie, sentindo que a cara lhe ardia.

– Então, tenho de fazer o trabalho todo?

– Não tens de o fazer. Eu não te pedi nada.

Antonio sorriu. Estava a desfrutar tanto da conversa como da antecipação deliciosa do beijo.

– Estou a pedir-to – declarou. – De facto, exijo-o.

– O quê?

– Beija-me, Maisie.

Observou-o com os olhos esbugalhados. Poderia ter pensado que se sentia ofendida, mas o brilho desses olhos cor de esmeralda dizia outra coisa.

– Olha para a minha boca como se fosse uma montanha que tivesses de escalar – observou, brincalhão. Mal se tinham tocado, mas era difícil continuar com esse jogo. O desejo transformara-se numa corrente, numa tortura, e depressa seria avassalador.

– É que eu… Enfim, não sou assim tão aventureira.

– Mas queres beijar-me.

Era uma afirmação, não uma pergunta. Porque sabia que era assim. Viu-o no tremor do seu corpo, na dilatação das suas pupilas, em como deitava a ponta da língua de fora para a passar pelos seus lábios rosados.

– Sim…

– Não pareces muito certa.

– Não estou habituada a estas situações – disse Maisie, deixando escapar um risinho incrédulo. – Sinto-me como se estivesse num romance.

– Então, desfruta da viagem – sugeriu Antonio, pensando por um instante que talvez devesse avisá-la de que era apenas uma noite, um momento breve de prazer. Mas não queria arrefecer o ambiente e, além disso, ela devia sabê-lo. As relações não começavam com dois desconhecidos num andar de escritórios às duas da madrugada. Maisie parecia inocente, mas não era tola.

– Desfrutar da viagem – repetiu ela, saboreando cada palavra como se fosse um bom vinho. – É algo que nunca fiz.

Antonio arqueou as sobrancelhas.

– Não?

– Não, nunca.

– Então, chegou o momento.

Maisie levantou o olhar, decidida.

– Talvez devesse – murmurou, pondo-se em bicos dos pés para tocar nos seus lábios, um toque leve como uma pena. Antonio ficou imóvel e ela afastou-se, olhando para ele com o sobrolho franzido. – Não… não gostaste?

– Claro que gostei – apressou-se a dizer ele. – Mas como posso sentir-me satisfeito com um lanchinho quando o que quero é o jantar, o banquete todo? – replicou, depois, enquanto inclinava a cabeça para procurar os seus lábios. Aquele jogo prévio era delicioso, algo que nunca fizera com outra mulher. – Beija-me outra vez, Maisie.

E ela fê-lo, pondo uma mão no seu ombro. Era um beijo trôpego e hesitante e, por alguma razão, perfeito. Antonio segurou-a pela cintura com as duas mãos e sentiu-a a tremer e excitada. Contudo, parou, esperando que Maisie desse o passo seguinte.

E fê-lo. Voltou a beijá-lo, tocando nos seus lábios como uma borboleta tímida. Antonio capturou a sua boca então, saqueando o interior sedoso com a língua.

O sangue acelerava nas suas veias. Quisera ir devagar, ser civilizado e ter o controlo, mas todos os seus planos ficaram estragados quando Maisie se entregou tão generosamente. Devagar, empurrou-a para o sofá e deitou-a nele com cuidado enquanto ela o observava com os olhos brilhantes.

– Antonio…

– Desejas isto, Maisie? – perguntou-lhe, receando que tivesse pensado melhor.

– Sim… – confirmou ela, num tom inseguro.

E Antonio amaldiçoou-se por ter precipitado a situação.

– Desejas isto? – voltou a perguntar e o brilho dos seus olhos deixava claro a que se referia.

Maisie observava-o com as pupilas dilatadas, os lábios entreabertos e uma expressão carregada de desejo enquanto ele esperava com os punhos cerrados, tenso e expectante.

– Sim – confirmou Maisie, finalmente, apoiando a cabeça nas costas do sofá. – Desejo-o, sim.

Mais do que um filho secreto

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