Читать книгу O Gato Sortudo - L.M. Somerton - Страница 10
ОглавлениеCapítulo Dois
Gage ainda tinha um sorriso no rosto quando voltou para o carro. Landry Carran prometia ser um desafio do tipo que Gage apreciava. Ele mal podia esperar para amarrá-lo e provocá-lo até que ele gritasse por misericórdia. “Dias felizes.” Ele tinha tempo para fazer alguns arranjos para o encontro antes de ter que se encontrar com sua parceira paciente e ele sabia o lugar perfeito para levar seu pirralho.
Meu pirralho. Soa bem. Ele colocou o carro em movimento e em seguida entrou no fluxo constante de tráfego. Seu destino ficava a apenas alguns quarteirões de distância, mas ele não queria perder tempo ao caminhar até lá e voltar. The Bowline aceitava reservas pessoalmente, sem exceções, mesmo para ele. Sua sorte estava em ação, porque ele conseguiu uma vaga de estacionamento extremamente rara quando alguém arrancou bem na frente dele. O restaurante ficava em um beco estreito ao largo da rua principal. Como sempre, a passarela estava imaculada e cheirava vagamente ao produto de limpeza Simple Green. Sem dúvida, algum infeliz submisso estava esfregando o concreto caso um grão de sujeira tivesse ousado pousar ali. Sorrindo com o pensamento, Gage empurrou a campainha ao lado da porta com uma faixa de aço, que abriu segundos depois.
“Estamos fechados.”
“Sou um detetive. Descobri isso sozinho.” Gage sorriu com malícia.
“Gage! Já se passaram meses desde que você nos agraciou com sua presença. Traga sua bunda bonita aqui. Diego está passando café.”
“Ei, Mitch, não posso ficar muito tempo. Estou trabalhando. Apenas passei por aqui para fazer uma reserva.”
“Diego tornará minha vida um maldito tormento se você não entrar, cara. Um café não vai te matar, embora eu ache que Sancha possa. Aquela diabinha do tamanho de uma pirralha ainda é sua parceira?”
“Sim, e ainda estou respirando com todas as minhas partes intactas. Ela me ama.”
“Ela te tolera porque você é bonito e escreve bons relatórios. Ela me disse isso.”
“Você quer dormir no sofá? Porque posso dar meia volta e deixar você explicar minha partida para Diego.”
“Eu retiro tudo. Você é feio como o pecado e mal consegue juntar duas palavras. Melhor?”
“Querido, o que você está fazendo aqui?” Um rosto espiou ao redor do corpo de Mitch. “Gage, querido! Este meu gorila está mantendo você na porta?” Diego lançou um olhar furioso para Mitch. “Entre!”
“Ei, Diego.” Depois de um olhar rápido para Mitch pedindo permissão, Gage deu um abraço em Diego. “Ainda mantendo seu Dom na linha, eu vejo.”
“Sempre.” Diego agarrou sua mão e em seguida puxou-o pelo corredor até uma porta de vidro que dava acesso ao restaurante. “Sente-se. Vou pegar o café.”
“É sempre melhor apenas fazer o que ele diz.” Mitch deu de ombros.
Havia vários sofás dispostos ao redor de mesas baixas onde os clientes podiam esperar e examinar o cardápio até que suas mesas estivessem prontas. Gage estacionou sua bunda em um deles e Mitch se juntou a ele.
“Então, você quer reservar uma mesa?”
“Sim, para dois no sábado à noite, se você tiver uma. Sei que estou abusando da minha sorte tão em cima da hora, então não se preocupe se você não tiver nada em aberto.”
“Acontece que tivemos um cancelamento, então você está com sorte. Você conhece Ben Frost, certo?”
Gage assentiu.
“Bem, hoje de manhã, seu submisso Carl fez uma cirurgia na vesícula biliar.”
“Ah, bem, isso atrapalharia os planos do fim de semana. Mesmo assim, Ben vai adorar brincar de enfermeiro por algumas semanas. Ele gosta muito de fetiches médicos, se bem me lembro.”
“Mencionei estribos para Diego uma vez e, depois que ele fez uma piada sobre montar um caubói para salvar um cavalo, ele me presenteou com uma história gráfica sobre sua irmã dando à luz, que ele testemunhou graças à outra metade dela estar em uma plataforma de petróleo na época.” Mitch estremeceu. “Nunca irei lá.”
Gage foi poupado de pensar mais sobre isso quando Diego chegou com uma bandeja de café, que ele colocou na mesa antes de se ajoelhar ao lado de Mitch. Mitch bagunçou seu cabelo. “Obrigado, amor. Adivinha? Gage reservou uma mesa.”
“Oh! Oh, uau. Quem é o sortudo?” Diego distribuiu as bebidas.
“Isso estragaria a surpresa, não é?” Gage tomou um gole de sua bebida e deu um suspiro satisfeito.
“Você é mau!” Diego fez beicinho. Ele tinha lábios para isso, exuberantes e rosados. Ele bateu os cílios sobre os olhos castanhos afetuosos.
“Isso pode funcionar com Mitch, mas não comigo.” Gage sorriu. “Boa tentativa, no entanto.”
“Também não funciona comigo,” Mitch choramingou.
“Sim, funciona.” Diego e Gage falaram em uníssono, seguido de um bate aqui.
“Você sabe que vai pagar por isso, certo?” Mitch deu um puxão no cabelo de Diego, inclinando sua cabeça para trás para lhe dar acesso para um beijo. Se Diego tinha uma réplica inteligente preparada, ela foi efetivamente silenciada.
Gage os observava com um pouco de ciúmes. Ele queria o que eles tinham. Bem, foda-se. Esse era um pensamento novo. Ele nunca havia considerado nada a longo prazo antes, sempre esteve muito satisfeito em participar da cena. Algo havia mudado. Landry. “Aquele merdinha está na minha cabeça.” Ele gemeu. Ele acabara de falar com o homem e já queria saber muito mais sobre ele. As coisas que havia lido sobre Landry, seus hábitos e muito mais, somente serviram para aumentar o desejo de conhecer o pirralho. E ao fazê-lo, Gage descobriu que o que havia lido no papel nem arranhava a superfície. Landry era engraçado e era óbvio que, embora fosse submisso, não seria uma tarefa fácil. Não que Gage quisesse isso. Ele gostou da veia atrevida que Landry exibia. “Eu disse isso em voz alta, não foi?”
Seus amigos pararam de se beijar por tempo suficiente para acenar com a cabeça e olhar para ele com simpatia.
“Você está no precipício, meu amigo.” Mitch deu um tapinha no ombro de Gage. “Isso aconteceu comigo também. Um dia você está livre e fácil, deixando sua excentricidade vagar descontrolada, no seguinte, algum pirralho com poderes de controle da mente está te domesticando. Transformando você em um Dom domesticado.”
“Domesticado!” Diego quase caiu de tanto rir.
Gage gemeu. “Preciso de ar. Vejo vocês no sábado à noite.” Ele apertou a mão de Mitch. “Se houver justiça neste mundo, espero que Diego esteja carregando um travesseiro com ele.”
“Essa é uma aposta certa.” Mitch puxou Diego sobre seu colo, abaixando a calça para expor o traseiro atrevido. “Você pode assistir se quiser.”
“Tentador, mas tenho que correr ou Sancha vai me dar uma surra verbal, no mínimo. Não precisa me acompanhar.”
Enquanto caminhava em direção à saída, Gage olhou ao redor do restaurante para ver se algo havia mudado desde a sua última visita. Pelo que ele sabia, era o único restaurante do estado, fora do cenário dos clubes, que atendia especificamente à comunidade BDSM. Cada mesa tinha suas peculiaridades e todas foram colocadas em cabines individuais. Algumas estavam em plataformas que tinham que ser alcançadas por degraus. Havia também duas em um mezzanino e uma em uma cova. Três poderiam ser colocadas para um pequeno grupo, mas a maioria eram mesas para dois. Plantas e treliças ajudavam a fornecer privacidade, protegendo as ambientações umas das outras.
Diego e Mitch abriam apenas três noites por semana. The Bowline era seu hobby, sua paixão. Diego adorava cozinhar, mas também administrava seu próprio negócio de agrimensura. Mitch podia queimar água, mas viajava o mundo comprando vinho para os melhores hotéis e restaurantes do país. Eles tornaram seu sonho realidade e criaram um lugar onde os amigos e a comunidade poderiam ser eles mesmos durante uma refeição de alta qualidade. Gage não estava ciente de qualquer outro lugar onde pudesse levar um namorado, acorrentá-lo a seu assento e torturar seu pênis enquanto um garçom lhe pedia para provar o vinho com uma cara completamente séria. Ele sorriu. Ele mal podia esperar para apresentar a Landry as delícias da culinária de Diego e tudo mais que The Bowline tinha a oferecer.
Quando fechou a porta atrás de si, Gage consultou o relógio. “Merda.” Ele saiu correndo pelo beco, entrou em seu carro e arrancou como se tivesse sido chamado para um homicídio múltiplo. Se ele se atrasasse para encontrar sua parceira, sua morte estava garantida. Sancha Hernandez era a mulher mais assustadora do planeta. Ele a amava muito e ela salvou sua pele em mais ocasiões do que ele podia contar, mas não queria passar o resto do dia em um carro com ela de mau humor. A última vez que ele a irritou, ela lhe negou café durante uma noite inteira de vigilância. A mulher era cruel. Ela daria uma ótima Dominatrix, mas pelo que Gage sabia, sua vida amorosa era tão baunilha quanto seu sabor favorito de sorvete. Seu marido era paramédico e os dois faziam malabarismos trabalhando em plantões e com duas crianças impetuosas com a ajuda de uma família grande que possuía um enorme complexo de férias em Cancún. Gage foi o beneficiário de várias férias gratuitas, graças ao quanto a mãe de Sancha o amava. Ele era definitivamente seu favorito, acima de sua filha mais velha, provavelmente porque ela tinha cinco meninas e nenhum filho. Gage era o substituto, algo com o qual ele não tinha problemas.
Ele chegou à lanchonete Copper Kettle com três minutos de antecedência. Como sempre, ele estacionou o carro em uma das vagas para funcionários na parte de trás e entrou pela entrada de funcionários. Pops, o proprietário, trocou o estacionamento por anúncios espalhafatosos de que havia policiais entre sua clientela. Mitch atribuía mais a falta de crimes na área aos cento e treze quilos tatuados e muito musculosos de Pops e sua participação nos Raiders, uma gangue de motoqueiros local, do que a presença dele ou de Sancha. Pops, no entanto, estava convencido de que ter dois detetives como seus melhores clientes era um bom carma. Sua gangue podia ter uma má reputação, mas eles estavam mais voltados para boas ações para o hospital infantil local do que para destruir a vizinhança. O próprio Pops chorava muito durante as reprises de Lassie e tinha sua própria matilha de cães abandonados adotados que iam de um cruzamento de terrier em miniatura a algo que parecia um lobo.
Sancha estava sentada na mesma mesa de sempre, de frente para a porta. Seu milk-shake de chocolate habitual estava diante dela, intocado. Isso significava que ela não havia chegado há muito tempo porque ela tinha uma tendência a inalar qualquer coisa que tivesse estado nas proximidades de um grão de cacau. Gage deslizou para o assento oposto e deu a ela seu sorriso mais cativante. “Ei, parceira, como foi sua manhã?”
“Você chegou em cima da hora e minha manhã foi... frustrante. Eu não fazia ideia de quantos móveis antigos havia à venda nesta cidade, ou quantos geeks antigos. Aprendi coisas hoje que nunca precisarei saber. Você sabia, por exemplo, que só deveria limpar esculturas de bronze com um pano macio, escova de dente ou a escova de bico do seu aspirador de pó? As ceras e polimentos usuais contêm agentes de limpeza que podem afetar a pátina do bronze. Tenho que comprar um pouco de cera em pasta Mohawk Blue Label, aplicar uma camada fina, sentar e olhar para ela por seis a doze horas antes de polir.” Ela fez uma careta.
“Fascinante.” Gage tentou não rir. “Você já fez o pedido?”
“Que tal um pouco de simpatia? Suponho que você passou a manhã batendo os cílios para loiros idiotas e sendo servido com leite e malditos biscoitos.
“Não exatamente,” Gage admitiu, pensando no loiro que ele conheceu e pegando o cardápio laminado. “Passei pelos meus três locais, mas não consegui nada.”
“Alguém tentou esconder alguma coisa das fotos?”
“Não. Parece que os antiquários desta bela cidade são honestos. Pelo menos aqueles que visitamos até agora, ou são muito mais espertos do que acreditamos. Para ser justo, acho que consegui reações genuínas esta manhã.”
“Eu também. O cara bronzeado e esnobe me acusou de tentar incriminá-lo, mas relaxou após um pouco de lisonja gratuita.”
“Isso deve ter doído.” Gage deu uma risadinha.
“Oh, doeu.” Sancha revirou os olhos e tomou um gole longo do milk-shake através do canudinho listrado de verde e branco. “Não sou paga o suficiente para esse tipo de sofrimento.”
“Aprecio seu sacrifício. Onde diabos está Pops?”
Como num passe de mágica, Pops se aproximou da mesa. Ele empurrou uma caneca de café na direção de Gage. “Por que você se dá ao trabalho de olhar esse cardápio, Gage?” Pops perguntou. “Você sempre pede a mesma coisa.”
“Talvez eu queira misturar um pouco hoje.”
“Você quer?” Pops bateu uma caneta bem mastigada contra seu bloco de notas.
“Vou pedir o de costume.” Gage suspirou e baixou o cardápio.
Sancha soprou seu canudinho, criando bolhas em sua agitação. “Salada verde para mim, por favor, Pops. Batatas fritas extragrandes e um cheeseburger à parte.”
“Sim, senhora, já está saindo.”
Sancha soprou um beijo para ele e ele foi embora com um sorriso bobo no rosto.
“Vagabunda.” Gage tomou um gole de café. “Já tomei muita cafeína hoje.”
“Isso existe? E sim, não há muito que eu não faça por um dos hambúrgueres do Pops, então me processe.”
Gage balançou a cabeça e empurrou sua caneca para longe. “Então, qual é o plano para esta tarde? Continuar com as lojas de antiguidades? Ainda tenho algumas na minha lista.”
“Acho que precisamos fazer isso. Precisamos tratar todos da mesma maneira e você nunca sabe o que pode aparecer. Mas tenho a sensação de que esses caras estão vários passos à nossa frente. Não significa que podemos pular o trabalho braçal. Vamos nos reunir novamente na delegacia hoje à noite e decidir sobre as próximas etapas.”
“Sabe, eu simplesmente não entendo. Por que comprar algo tão quente que você nunca poderá mostrar a ninguém? Qual é o sentido de uma pintura que fica em um cofre ou uma peça de joalheria que ninguém nunca usa?”
“Colecionadores particulares como esses são obsessivos. Eles farão de tudo para possuir o que desejam. Somente ter é o suficiente. Há sérios danos psicológicos acontecendo com essas pessoas. Elas querem o que mais ninguém pode ter.”
“Dois seguranças foram mortos a tiros durante aquele assalto à exposição em Tóquio. Os compradores são tão culpados quanto os ladrões.”
“E os compradores estão aqui no bom e velho Estados Unidos da América, o que os torna nosso problema. Os revendedores estão importando o tempo todo. Mais cedo ou mais tarde, encontraremos um que seja menos do que irrepreensível. O que estamos fazendo no momento é apenas o processo de sondagem. Confio no meu instinto. Há uma pista ao virar a esquina, eu sei disso. Agora, chega de falar sobre o trabalho. Vamos comer.”
“Sim, senhora.” Gage imitou o tom deferente de Pops, sabendo que estava a salvo da ira de Sancha quando a comida deles chegou. Sem dúvida, ela se vingaria mais tarde. Nesse ínterim, um prato de frango frito tinha seu nome nele.
* * * *
“Landry, onde você está se escondendo?” Sr. Lao gritou.
“A paz foi destruída,” Landry murmurou, emergindo de trás de um arranha-céu de móveis, que tinha uma enorme mesa de banquete de carvalho na base, coberta com um aparador de nogueira, que por sua vez sustentava um baú artesanal britânico de mantas e uma penteadeira de mogno com espelho. “Estou aqui, Sr. L. Estava tirando o pó.” Ele brandiu seu espanador telescópico com uma coroa de penugem arco-íris, um presente de Natal do Sr. Lao no ano anterior. Partículas de poeira capturadas em um raio de sol giravam na corrente de ar que ele criou, balançando seu espanador como o bastão de uma líder de torcida.
“Bom menino. O pó é o monstro da luta entre o bem e o mal. Você vendeu alguma coisa enquanto eu estava fora?” Ele lustrou os óculos e depois olhou ao redor da loja.
“Claro, foi um bom dia. Vendi duas fotos, um porta-retratos de prata, aquele par de cadeiras de vapor...”
“Aquelas com caruncho?”
“Sim. O cliente decidiu que os buracos acentuavam a qualidade das peças e eu lhe assegurei que quaisquer vermes reais haviam evacuado daquelas cadeiras em algum lugar por volta de 1952. Também vendi aquela bicicleta tandem para um casal que planejava levá-la para a Califórnia nas férias, algumas joias de fantasia e aquela jardineira verde hedionda que poderia ter sido um adereço na Família Addams.”
“Menino travesso! Você deveria ser mais respeitoso com as antiguidades, embora esteja certo sobre a jardineira. Era uma monstruosidade e eu tinha perdido a esperança de algum dia vendê-la. Quem a comprou?”
“Um professor de teatro do ensino médio queria a jardineira como um adereço em uma produção de A Importância de Ser Prudente. Eu dei a ele um grande desconto.”
“Quer dizer que você doou a jardineira?”
“Eu… uh… talvez?”
Mr. Lao sorriu. “Considero isso uma vitória. Eu estava chegando ao ponto em que teria pago alguém para levá-la.”
“Eu sabia que você gostaria de doá-la. Ele se ofereceu para trazê-la de volta assim que terminassem a produção, mas eu disse para rifá-la ou algo assim. Só ficou quieto na última meia hora. Ah, e em notícias importantes, também recebemos a visita da polícia esta manhã, pouco depois de você ter saído. Um detetive procurando por bens roubados.”
“Espero que você tenha dito a ele que este é um estabelecimento honesto. Levei cinquenta anos para construir uma boa reputação...”
Landry abstraiu-se nos minutos seguintes enquanto o Sr. Lao repassava sua diatribe familiar sobre como ele começou o negócio do zero com algumas quinquilharias e vinte dólares. “E você, você se divertiu com seus amigos do clube?”
“Claro. Boa comida, boa companhia... Mas estamos todos envelhecendo, Landry. Um dia você descobrirá como é ranger toda vez que você se move. Tudo o que todos falam é sobre sua doença mais recente e metade deles repete a mesma coisa várias vezes porque já se esqueceram do que disseram da primeira vez. Pelo menos ainda não estou enlouquecendo.” Ele caminhou até a caixa registradora, pressionando o botão para abrir a gaveta. Ele tirou uma nota de cinquenta e a trouxe para Landry. “Você trabalhou duro hoje, me cobrindo. Compre um daqueles cafés chiques pelos quais você baba.
Foi a coisa mais próxima de elogiar que o Sr. Lao já fez. “Uau, obrigado Sr. L. Isso é fantástico... Espere, qual é a pegadinha?” Landry balançou a nota na direção do Sr. Lao.
“Por que você tem que ser tão desconfiado o tempo todo? Você deve aceitar presentes com graça.” Sr. Lao fez uma cara feia.
“Experiência. Você está tramando algo, chefe. Eu recebo um pagamento justo. Bônus são suspeitos. A última vez que você me deu um extra, você me mandou entregar aquele caldeirão de ferro fundido e eu quase desloquei um ombro carregando-o pela cidade.”
“Tudo bem, você pegou algumas dicas daquele detetive esta manhã?”
O rosto de Landry aqueceu e ele examinou a tapeçaria puída pendurada na parede mais próxima.
“Oh, entendo... Sr. Detetive era algo sexy,” Sr. Lao disse. “Você quer transar com ele?”
“Não vou discutir isso com você. É mais constrangedor do que quando meu pai tentou me dar uma conversa sobre sexo gay seguro e pare de mudar de assunto. O que você está tramando?”
“Tenho um convite para uma viagem com todas as despesas pagas a Hong Kong. Eddie Chang está voltando para lá para resolver os preparativos para o funeral de seu pai e me pediu para ir com ele para ajudar. Chang Sênior tinha cento e um anos e era rico. Terei tempo para algumas expedições de compra enquanto estiver lá.”
“Parece emocionante.” Landry estava com um pouco de inveja. “Quem você vai trazer para administrar este lugar enquanto estiver fora?” Landry não se importava de trabalhar com outras pessoas. Sr. Lao havia convocado vários membros da família para ajudar durante os três anos que Landry havia trabalhado para ele.
“Na verdade, estava pensando que você gostaria de fazer isso.”
“Eu?” Landry ofegou.
“Estou falando com algum outro funcionário neste momento?”
“Você não tem nenhum outro funcionário.”
“Não é o ponto. Você acha que conseguiria se virar sozinho por três semanas? Você tem experiência mais do que suficiente agora. Você poderia fechar por uma hora na hora do almoço, talvez um pouco mais cedo do que o normal à noite.”
“Mas... eu não sei o que dizer.” Que o Sr. Lao confiasse nele com sua preciosa loja significava muito para Landry.
“Sim seria bom. Quero minha viagem.”
“Sim!”
“Nada de comprar.”
“Não, senhor.”
“Sem estocar café na cozinha.”
“Prometo.”
“Nada de amassos com policiais gostosos atrás das estantes.”
“Bem...” Landry deu uma risadinha quando o Sr. Lao lhe deu um tapa rápido na lateral da cabeça. “Não vou decepcioná-lo, Sr. L., eu prometo.”
“Sei que você não irá, Landry. Você é um bom menino. Às vezes. Você pode encerrar seu dia agora. Irei ajudar esses clientes e depois fechar. Vá gastar o dinheiro do seu café.” Um casal idoso se dirigia a eles.
“Espere, quando você vai partir?”
“Domingo.”
“Este domingo? Como depois de amanhã? Acho que preciso de um saco de papel marrom.” Landry sentiu uma necessidade repentina de uma bebida forte.
“Nada de hiperventilar na loja.”
“Essa é a regra trezentos e cinquenta e quatro?” Landry se abaixou quando o Sr. Lao deu outra pancada nele.
“Desculpe.” O Sr. Lao se dirigiu aos clientes que caminhavam em sua direção, que pareciam um pouco assustados. “É difícil encontrar bons funcionários hoje em dia.”
“Ei!” Afrontado, Landry fez uma cara feia. “Te vejo amanhã, Sr. L.” Ele sorriu para mostrar aos clientes que estava tudo bem e em seguida, dirigiu-se para os fundos da loja, onde uma porta dava acesso a um corredor estreito. Havia dois depósitos, uma cozinha minúscula e um banheiro nos fundos, assim como um lance de escadas que levava ao primeiro e ao segundo andares. O Sr. Lao tinha um apartamento no primeiro andar e Landry um muito menor no segundo. Ele adorava que para começar a trabalhar só tinha que rolar para fora da cama, tomar banho e descer as escadas. Um percurso para o trabalho de um minuto lhe convinha.
Ao final de um longo dia, as escadas eram uma chatice. Ele arrastava sua bunda cansada pelas escadas, contando os degraus com as tábuas rangentes. O patamar do lado de fora da porta do Sr. Lao cheirava a incenso e fez Landry espirrar. “Caramba! Toda vez.”
Foi um alívio entrar em seu lar pequeno, mas aconchegante, mobiliado com estoque indesejado da loja. Como resultado, cada cômodo era uma mixórdia de estilos. Landry havia acrescentado alguns toques próprios. Ele estava viciado nas capas de almofada indianas que sua amiga Prisha Midal, do imponente Empório Oriental no outro lado da rua, importava. Elas foram decoradas com espelhos minúsculos e bordadas em ouro e vinham em todas as cores do arco-íris. Prisha lhe dava um bom desconto e até tinha doado algumas capas defeituosas de graça. Em troca, Landry encaminhava clientes a ela sempre que podia. O Empório não tinha antiguidades em estoque, mas tinha uma grande variedade de móveis entalhados à mão e alguns tapetes incríveis que complementavam as peças que Landry vendia. A maioria dos negócios na rua recomendava uns aos outros, todos se beneficiavam e isso contribuía para a sensação agradável de comunidade da área.
Landry não se preocupou em trancar a porta. Ele nunca trancava. A loja tinha um sistema de segurança decente e ele não conseguia imaginar por que alguém se daria ao trabalho de roubar sua casa quando havia uma loja cheia de mercadorias abaixo dele. Ele tomou um banho rápido e em seguida vestiu uma calça de moletom confortável e uma camiseta de Harvard que tinha sido um presente de um dos seus irmãos. Sua minúscula cozinha estilo galé não tinha espaço para uma cafeteira sofisticada, então ele optou por uma prensa francesa, obtendo sua costumeira sensação de prazer quando pressionou o êmbolo para espremer os grãos. Ele ainda tinha um brownie do início do dia, então acomodou-se no sofá com seu laptop, uma caneca de café e sua guloseima e começou a pesquisar um crime antigo. Só para o caso do Sr. Gostosão aparecer amanhã à noite. “A quem estou enganando? Ele queria algo de mim e sabia a melhor maneira de obtê-lo. De maneira nenhuma um cara tão perfeito estaria interessado em mim.” Landry suspirou. Ele devia a Gage o benefício da dúvida. Ele tinha parecido interessado e Landry não acreditava que alguém poderia fingir aquele tipo de domínio. Ele apostaria um bom dinheiro que o homem era dominante da cabeça aos pés. Ele se contorceu ao pensar em Gage dando uma surra com aquelas mãos grandes. Ele se perguntava em que Gage poderia estar interessado, se eles fossem compatíveis.
Afastando sua mente de bondage e CBT — a tortura do pênis e das bolas —, Landry mergulhou em um website que dava detalhes dos maiores assaltos no mundo das artes, questionando o valor de algumas pinturas. Quando ficou entediado com sua pesquisa, Netflix forneceu entretenimento na forma do filme de Hitchcock Ladrão de Casaca, um filme sobre um ladrão estrelado por Cary Grant e Grace Kelly. No momento em que Landry rastejou para a cama naquela noite, ele estava imaginando um Gage mascarado, vestido de preto, roubando os ricos e depois voltando para casa para expressar sua euforia batendo nas nádegas de Landry. Ele olhou para a prateleira ao lado da sua cama, que abrigava sua coleção de gatos da sorte quebrados e surrados. Talvez eles me tragam um pouco de sorte quando se trata de homens, não que eles tenham sido bem-sucedidos até agora. Ele se aconchegou sob as cobertas e fechou os olhos. Nada de contar carneirinhos para mim hoje à noite. Que venham os sonhos.