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Capítulo 1

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Kayla Jones saiu da sala de informática e correu para o escritório de Andreas. Estava atrasada para uma reunião prioritária com o presidente da KJ Software. Embora fosse o seu sócio. Tecnicamente.

Ultimamente, Andreas comportava-se de uma forma muito estranha, estava mal-humorado e era mais exigente do que o habitual.

Bradley, o seu assistente competente, parou-a com um gesto e, com uma linguagem gestual complicada, finalmente, indicou-lhe que a sua camisola cor de coral estava do avesso.

Depressa e com um sorriso de agradecimento, Kayla virou-a e entrou no escritório do chefe.

– Lamento chegar atrasada, estava a fiscalizar os testes do programa Golfinho – desculpou-se. Gostava de dar nomes de espécies marinhas aos projetos e Andreas permitia-lhe esse capricho.

Kayla parou abruptamente ao ver que não estava sozinho. Ao seu lado, à frente da mesa da direção, havia uma mulher loira, de cabelo liso, preso num coque rígido, e com um fato branco e elegante que olhou para ela de cima a baixo.

– Esta é a tua sócia? – perguntou a Andreas, num tom de incredulidade.

– Sim – confirmou ele, franzindo o sobrolho. – Disse-te que esta reunião era prioritária, Kayla.

– Tecnicamente, foi o meu smartphone que mo disse. Não o fizeste pessoalmente.

Quem era aquela mulher e que tipo de reunião estavam a ter?

– Bom, mas já está aqui e imagino que possamos começar – interveio a loira.

O seu tom era autoritário, mas a sua expressão quando olhou para Andreas era de deferência.

– Começar o quê? – perguntou Kayla, enquanto se deixava cair numa das cadeiras, à esquerda de Andreas e à frente da desconhecida.

– Estamos aqui para discutir como a busca de uma esposa para o Andreas afetará a KJ Software.

Todos os sentidos de Kayla ficaram alerta. Ouvia o som das respirações no escritório silencioso, inalava o perfume floral da loira, que parecia estar deslocado ali, e via as impressões dos seus dedos na mesa de vidro. Adoraria limpar aquelas impressões e apagar a prova da sua presença, embora a tivesse à sua frente.

Aquilo não podia ser e Andreas não a ajudava nada. Continuava ali sentado, imóvel, a olhar para ela com um brilho de desaprovação nos olhos verdes.

– Busca de esposa? – repetiu, incrédula.

Finalmente, Andreas dignou-se a assentir com a cabeça.

– Chegou o momento.

– Ah, sim?

Kayla não percebera que estava mais aberto para uma relação sentimental. E devia ter percebido porque passara seis anos à espera dessa mudança. De facto, ultimamente, trabalhavam mais horas do que o habitual para lançar o Golfinho a tempo e sem o menor problema.

– Superei o património líquido do meu pai, portanto, uma esposa e uma família são o próximo passo na minha lista – explicou Andreas, calmamente.

Como se essa decisão não fosse monumental, a que ela esperara desde que tinham acabado para se tornarem sócios.

Então, olhou para a mulher. Quem era? E porque conhecia os planos de Andreas quando ela, uma amiga, não sabia de nada?

Então, teve uma ideia aterradora. Seria uma casamenteira? Seria próprio de Andreas contratar alguém para que lhe procurasse uma esposa. Mesmo que não precisasse dela.

Enquanto ela fora praticamente casta durante os últimos anos, Andreas saltara de cama em cama e cada uma das suas namoradas fora um risco para as suas esperanças de futuro.

– É para isso que estou aqui – disse a loira, claramente contente por ter um cliente como Andreas.

– É uma… intermediária? – perguntou Kayla.

– Sou a proprietária do Grupo Patterson.

Parecia o nome de um escritório de advogados, não de uma empresa dedicada a procurar a felicidade conjugal.

– É uma empresa especializada em milionários – interveio Andreas, como se isso fosse importante.

– Tu és multimilionário.

Pelo menos, no papel. A KJ Software fora um sucesso, como Andreas augurara. A empresa, de que ele possuía noventa e cinco por cento, estava valorizada em mais de um bilhão de dólares. Não estava mal depois de seis anos de sangue, suor, lágrimas e noites em branco.

A loira assentiu com uma expressão satisfeita, mostrando como apreciava essa distinção. Kayla sabia que ser multimilionário e não um simples milionário também era importante para Andreas. Muito. Afinal de contas, fora por isso que tomara a decisão de assentar. Finalmente, valia mais do que o pai, mas ainda tinha alguma coisa para demonstrar.

– Não sejas tão literal – queixou-se ele. – A questão é que a menina Patterson…

– Genevieve, por favor. – O sorriso da loira era pura fachada, sem substância.

– A Genevieve especializa-se em encontrar a esposa ideal para homens ricos.

Kayla estava horrorizada e não se incomodou em disfarçar.

– Não acho que funcione assim.

– O meu historial fala por si só – indicou Genevieve, num tom de superioridade.

– Se não fosse assim, não lhe teria pagado vinte e cinco mil dólares de entrada – replicou Andreas.

Kayla deixou escapar um gemido.

– Com esse dinheiro, poderias comprar uma supermodelo.

Ou podia casar-se com a mulher que o amara durante os últimos oito anos e que passara seis à espera em vão. E de graça.

– O seu chefe não está à procura de uma esposa troféu. Quer encontrar alguém com quem partilhar a sua vida – disse a casamenteira. Claro que essa retórica seria mais convincente se tivesse protestado com a mesma veemência quando Andreas se referira a encontrar uma esposa como o próximo assunto na sua lista de coisas para fazer.

Além disso, se realmente estivesse à procura da sua alma gémea, não procuraria outra senão a mulher a que chamara amiga durante quase uma década, pois não?

Não tinham acabado porque não se davam bem. Tinham acabado a relação sexual porque Andreas tinha opiniões muito rígidas sobre as relações pessoais e profissionais. Nunca tinham tido uma relação romântica, mas uma relação de amigos coloridos.

Kayla pensara que isso estava a mudar, que a sua relação estava a transformar-se em algo mais importante.

Enganara-se.

Andreas quisera mudar a sua relação, mas não para algo mais profundo. Queria uma designer de software como pedra angular para a sua nova empresa de segurança digital e deixara bem claro que valorizava a sua capacidade profissional acima da sua disposição de partilhar a cama.

Achava que superara essa rejeição, mas continuava a ter o poder de deixar o seu coração reduzido a cinzas.

Tinha de sair dali.

Fazendo um esforço para disfarçar a emoção por trás da fachada de indiferença que aperfeiçoara durante toda a sua infância, enquanto ia de uma casa de acolhimento para outra, perguntou:

– E o que faço aqui? Porque precisas de mim?

– És a minha sócia – disse Andreas, como se isso explicasse tudo.

– Cinco por cento não me torna uma sócia com voz e voto.

Era uma velha discussão sobre a qual Andreas nunca cedera, mas a expressão da loira dizia que estava de acordo.

Andreas franziu o sobrolho. Não gostava que o corrigissem, mas Kayla nunca deixara que isso a detivesse. Pelo menos, quando se tratava do negócio.

– És a minha sócia e esta mudança vai afetar o negócio. E, portanto, vai afetar-te – explicou Andreas, num tom que não admitia resposta.

– Porquê?

Evidentemente, ela não estava incluída no pacote de possíveis candidatas e isso magoava-a, mas esperava que ele não se apercebesse. Então, porque estava tão convencido de que teria algum impacto na sua vida?

Andreas olhava para ela com o sobrolho franzido, como se dissesse que ignorara alguma coisa. Como ele ignorara que estava apaixonada por ele desde o primeiro dia, embora não tencionasse dizer-lhe.

– O casamento causa muitas mudanças na vida de uma pessoa e, como o Andreas é o coração e o sangue desta empresa, é evidente que o seu casamento terá um impacto importante na empresa e em empregados como a menina.

Andreas torceu o nariz. Talvez porque se referia a ela como «empregada» em vez de sócia. Em qualquer caso, não corrigiu Genevieve.

– Então, vamos entrar na Bolsa? – perguntou Kayla.

Andreas pensara nisso durante o último ano. Fazer isso transformá-lo-ia num multimilionário a sério, não só em património líquido. E também não seria nada mau. Poderia fundar uma cadeia de refúgios para crianças abandonadas em vez de se conformar com o refúgio local que criara há anos.

– Não. – Andreas franziu o sobrolho. – Eu não respondo a ninguém.

Isso também não a surpreendia. Andreas não quereria dar explicações a um grupo de acionistas ou a um conselho de administração. O pai, o armador grego Barnabas Georgas, ditara as ordens até fazer os dezoito anos e não toleraria que ninguém lhe dissesse o que podia ou não fazer.

– Talvez pudesses vender a empresa, como falámos na nossa primeira reunião. Isso podia libertar-te para procurares a tua noiva – sugeriu Genevieve. – Ter liquidez não danificaria as tuas possibilidades com as mulheres. Tenho a certeza de que conseguiríamos encontrar-te uma aristocrata europeia.

Uma aristocrata europeia. Mas não dizia que não queria uma esposa troféu?

Kayla não conseguia respirar.

– Quer que o Andreas venda a empresa?

«Para comprar uma princesa?»

– É uma solução.

– Uma solução para quê?

Kayla não entendia o problema. Andreas tinha dinheiro suficiente para fazer o que quisesse sem lhe arrebatar tudo o que passara seis anos a construir.

– Não pode continuar a trabalhar dezasseis horas por dia – indicou Genevieve. – É parte do acordo que assinou comigo.

– Assinaste um acordo que limita as tuas horas de trabalho? – perguntou Kayla, atónita.

– Sim.

– Isso não significa que tenha de vender a empresa.

Andreas não cederia nesse aspeto em particular, pois não? Podia não a amar e talvez nunca se tivesse preocupado com ela senão como designer de software, mas importava-se com a empresa. Não era apenas ela que encontrava segurança económica e um propósito na KJ Software. A ideia de a vender era absurda, mas o brilho calculista dos olhos verdes fez com que Kayla cravasse as unhas nas palmas suadas das mãos.

Durante o último ano, mencionara algumas vezes a ideia de vender a KJ Software, mas Kayla não o levara a sério. Andreas era a seiva da companhia, sim, mas ela era o coração da KJ Software e não poderia continuar a sê-lo se o seu próprio coração parasse de bater. Não percebia isso?

– Sentes-te bem? – perguntou Andreas, observando-a com preocupação. Kayla não sabia o que responder. O seu mundo explodira. – Fizemos o que decidimos fazer – acrescentou ele, num tom satisfeito, como se as suas palavras não estivessem a rasgar-lhe o coração. – O Sebastian Hawk ofereceu-me uma fusão com a empresa de segurança dele.

– Uma fusão ou uma aquisição? – perguntou ela.

Andreas fez uma careta ao aperceber-se de que a notícia não era tão bem-vinda como esperara.

– Uma aquisição seria o mais provável.

– Porquê? – perguntou Kayla. Sebastian Hawk, dono de uma das empresas de segurança mais importantes do mundo, era um dos seus melhores clientes desde o começo. – Ele já tem a nossa licença de software para a sua própria empresa e, de modo acessório, para os seus clientes.

– Quer ser o dono – declarou Andreas.

– É um controlador compulsivo, como tu.

Ele encolheu os ombros.

– Tem três filhos e um legado para lhes deixar.

– E os teus filhos? – perguntou Kayla.

Presumivelmente, Andreas estava disposto a casar-se e a ter filhos. Não queria deixar-lhes um legado?

– Estou a pensar em dedicar-me a investimentos de capital de risco.

– Estiveste a ver aquele programa outra vez, não foi? – perguntou Kayla, referindo-se ao seu programa favorito de televisão sobre investidores de capital de risco que investiam em empresas emergentes. Costumavam vê-lo quando estavam juntos e Andreas orgulhava-se de adivinhar que investidores iam conseguir múltiplas oferta e quais não conseguiriam nenhuma.

– Por muito fascinante que seja tudo isso, temos de dar a reunião por acabada – anunciou Genevieve, enquanto olhava para o seu relógio de marca. – Tenho uma reunião com outro cliente.

A sério? Quantos milionários precisavam dos serviços de uma casamenteira?

– Quantos clientes tem? – perguntou Kayla.

– Isso é informação privilegiada – respondeu ela, num tom altivo.

– O dinheiro que o Andreas pagou dá-me o direito de saber.

Genevieve virou-se para ele.

– Tinha a impressão de que tinhas feito uma transferência da tua conta pessoal.

– É claro que sim – confirmou ele.

A casamenteira virou-se para Kayla.

– Então, isto não lhe diz respeito – declarou, num tom condescendente.

Esse tom podia tê-la irritado, mas Kayla tinha preocupações mais importantes.

– Tem razão, não me diz respeito – assentiu, levantando-se. – De facto, continuo sem entender o que raios faço aqui. Se vais vender a empresa, os meus cinco por cento não vão deter-te. E, se queres pagar uma fortuna a esta mulher para que te procure encontros quando sei que não tens o menor problema em encontrar companhia feminina, também não me diz respeito – acrescentou, decidida. – Não acho graça que me afastes do meu trabalho quando podias ter-me dito com uma mensagem de texto: «Vou contratar uma casamenteira.»

– Esperavas que te dissesse que ia vender a empresa através de uma mensagem de texto? – perguntou Andreas, surpreendido.

– Não esperava que vendesses a empresa e muito menos que mo dissesses numa reunião com uma terceira pessoa – indicou ela, olhando para ele nos olhos. – Mas, agora, percebo que estava errada em muitas coisas.

Aquela reunião era sobre a sua decisão de se casar. O assunto de vender a empresa aparecera apenas como parte da conversa, mas, aparentemente, estivera na sua agenda desde o começo.

Kayla virou-se e saiu do escritório, com o coração apertado. Sentira-se assim algumas vezes na sua vida.

No dia em que entendera que a mãe não ia voltar. Recusara-se a falar durante dois anos depois de a abandonar.

No dia em que a mãe de acolhimento morrera, obrigando-a a ir de casa em casa.

No dia em que entendera que Andreas se interessava mais pelas suas habilidades como designer de software do que por ter um espaço na sua cama ou até uma amizade.

O assistente pessoal de Andreas levantou-se quando Kayla saiu do escritório.

– Estás bem?

Ela abanou a cabeça.

– O que se passa?

– O Andreas vai casar-se.

Kayla não mencionou a possibilidade de vender a empresa. Afinal de contas, não fora por isso que marcara a reunião.

– Com ela? – Bradley esbugalhou os olhos.

– Não, com ela, não. É uma intermediária.

O jovem pôs uma mão no seu braço.

– Lamento muito.

Não disse mais nada, mas não era preciso. Para além de Andreas, Bradley conhecia-a melhor do que ninguém. Talvez melhor do que Andreas porque, desde o primeiro ano, percebera que estava apaixonada pelo grego distraído.

Um amor sem palavras

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