Читать книгу Escravo - Luigi Passarelli - Страница 5

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Um dia qualquer, quase para todo mundo. Ivano esperava a sua vez, com os rapazes nascidos no mesmo dia que ele, na elegante sala de espera. Tinha visto apenas outros quatro ou cinco. Ele era o penúltimo. Ninguém falava, ninguém dizia nada, melhor assim. Na verdade era tudo uma formalidade. Todos liam o manualzinho com as instruções que já conheciam de cor, apreendidos nos anos de escola e de vida familiar. Uma grande repetição. Mas sabia que até as coisas mais óbvias podiam ser arquivadas da um cérebro como supérfluas. E que em alguns casos, dificilmente noticiado nos jornais, alguma coisa anda mal. Mas Ivano nunca tinha vivido pessoalmente ou conhecido alguém com alguma história que pudesse fazer ele se preocupar. Como os outros, se mostrava ocupado, responsável e que se interessava ao manualzinho, lendo a parte histórica onde está escrito de quando os jovens como ele eram obrigados a três dias de visitas médicas para a idoneidade ao serviço militar obrigatório. Nada de novo. O mundo era sempre o mesmo. Sempre muito chato. Provavelmente mais chato. Como naquele verão em que terminou a escola. Aquele estranho verão no qual se abre um mundo novo: o da universidade ou o do trabalho. Tarefas de casa não existiam mais. Estudar por estudar, nem pensar. Em férias a sua família nunca tinha ido. Ele, filho único, tinha participado de algumas viagens da escola na sua região mas sempre para estudos. Nunca duravam mais que um dia. Lembrava dos amigos e colegas. Gostaria que alguém se tornasse um seu colega no futuro. Mas precisava ter muita sorte. Invejava quem podia já se mudar para outro lugar. O desejo de viajar o tinha sempre acompanhado. Deveria conseguir ser mandado a fazer a universidade. Existia muitos trabalhos que permitiram que ele viajasse, quem sabe um dia.

“Ivano? Vamos, é a sua vez.” Era a sua hora. Questionar-se sobre o Programa Price não era recomendado. A felicidade significava ir além. Além de todo o peso da vida. Existiam muitas técnicas. O seu pai, nos últimos dias, o tinha obrigado a assistir todos os telecursos de preparação ao grande evento. O dia que o esperava deste a sua nascida. E esse dia finalmente chegou. Ele só tinha que se levantar daquela cadeira confortável, esquecer a sua velha vida e deixar-se guiar pela enfermeira. A sala da operação lembrava aquela da sua dentista. Ivano sabia que duraria menos de dez minutos. E isso bastava. O anestesiologista, já afeito ao trabalho, começou imediatamente. Nenhuma palavra. Alguém mantinha um sorriso cansado por pura educação. Difícil fingir para sempre. Mesmo em frente ao evento mais importante na vida de um jovem adulto. Eram todas pessoas bem treinadas. Ivano se preparou e usou as técnicas de isolamento mental. A anestesia e o cheiro da sala ajudaram. Não perdeu a consciência. Mas o mal estar causado pela cânula que penetrava em uma de suas narinas era óbvio e repugnante. Tinha que chegar à proximidade da glândula pineal, depositar a versão mais recente do microchip e voltar sem fazer graves danos. Só então se perguntou que relação podia haver entre orgânico e técnica. Mas, na verdade, não importava. Certamente, o microchip e os médicos não sofriam. Depois de poucos minutos, tudo tinha acabado. O alívio da extracção da cânula foi acompanhada pelo diminuir dos efeitos da anestesia. Logo ele poderia levantar e dar os primeiros passos no mundo dos adultos. Sentia-se de um lado renascido, do outro pesado e consciente de uma grande mudança. “Pode ficar de pé, Ivano.” Sim, podia se levantar. Uma leve dor de cabeça, um pouco de tontura e uma tendência a perder o equilíbrio o acompanhou até a mesa do consultório. O seu livrinho esperava por ele. Seus arquivos com a senha temporária e as instruções que já conhecia a memória. “Bem-vindo ao Programa Price, Ivano!” Era tudo. Era mais demorada a espera que tudo o resto. Nada de tão especial em si. Talvez só as consequências tinham um real significado. Ele só tinha que refazer seus passos em direção a casa, e tentar não causar danos.

Escravo

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