Читать книгу Desejo e chantagem - Lynne Graham - Страница 6

Capítulo 2

Оглавление

Os dois dias seguintes foram uma tortura para Elvi. Esperava que Xan Ziakis ou algum dos seus empregados lhe ligasse a qualquer momento, portanto, não se afastava do telefone. Mas só recebeu a chamada no terceiro dia, quando já começava a perder a esperança.

Depois de marcar uma reunião ao fim da tarde, falou com o chefe e inventou uma suposta consulta no dentista para poder sair mais cedo do trabalho. O chefe deu-lhe permissão, embora só em troca de que trabalhasse durante a hora de almoço e Elvi cumpriu as suas obrigações em piloto automático enquanto ensaiava discursos que rejeitava várias vezes. Tinha de ser breve e concisa, porque achava que Xan Ziakis não lhe daria mais de dez minutos.

Quando chegou à sede da Ziakis Finance e se sentou na sala de espera, estava muito nervosa. Como ia fazer com que retirasse as acusações? Não tinha nada para oferecer, nada com que negociar. Só levaria a sua avante se fosse um homem bom, capaz de ter piedade da mãe. Porém, tinha fama de ser exatamente o contrário. Era um empresário sem escrúpulos, obcecado com a sua margem de lucros.

Ao fim de um instante, começou a ter calor e abriu o casaco do fato que vestira, revelando a camisa azul que tinha por baixo. Estava convencida de que aquela reunião era uma perda de tempo. Xan era um homem rico, um privilegiado que se sentia acima do resto dos mortais. Não entenderia o alcoolismo de Sally Cartwright. Não apreciaria o seu esforço para deixar a bebida. Não saberia pôr-se no lugar dos seus familiares.

Então, a rececionista esbelta disse o seu nome no tom baixo que todos os empregados da empresa, situada no último andar do edifício, pareciam usar. Elvi levantou-se imediatamente, tentando manter o aprumo. Não podia dar-se ao luxo de o perder. Não com um homem tão disciplinado como ele.

Quando abriu a porta do escritório, pareceu-lhe tão grande como um estádio de futebol. Elvi pensou que até o tamanho da sala pretendia intimidar, mas ergueu o queixo e endireitou-se, decidida a não se mostrar fraca.

– Sou a Elvi, a filha da Sally Cartwright – anunciou, calmamente.

Xan, que estava apoiado na mesa, olhou para ela nos olhos. Finalmente, teria o que queria. Ao despedir Sally, eliminara o único obstáculo que o impedia de seduzir Elvi. Já não tinha de se preocupar com o chato assunto de ter relações com a filha de uma empregada. E, quanto ao seu estatuto social, muito inferior ao das suas amantes habituais, também não o preocupava. Quem dissera que não podia ir para a cama com uma mulher trabalhadora?

– Xander Ziakis – replicou ele, oferecendo-lhe uma mão elegante e morena.

Elvi hesitou antes de a apertar. Era a primeira vez que estava tão perto dele e os seus olhos cor de âmbar pareceram-lhe tão atraentes como as suas pestanas pecaminosamente compridas e o seu corpo impressionante, que o fato enfatizava. Quase não conseguia respirar.

– Senta-te, Elvi – continuou Xan.

Elvi pensou que não era estranho que se tivesse apaixonado por ele quando era mais jovem. Estava à frente do homem mais atraente que alguma vez vira.

– Não estarei confortável se me sentar e tu ficares de pé – alegou.

Xan olhou para ela com humor e, seguidamente, aproximou-se da poltrona, esperou que Elvi se sentasse e, depois, imitou-a.

– Apetece-te beber alguma coisa? Café? Chá? Água?

Elvi fechou as mãos por cima da mala, tentando disfarçar o seu tremor.

– Água, se não for um incómodo – respondeu.

Ele carregou num botão e deu a ordem pertinente a um dos seus empregados, que apareceu trinta segundos depois com o que lhe pedira. Ela agarrou no copo, levou-o aos lábios e bebeu.

Xan observou-a com fascínio, porque Elvi tinha mais aprumo do que imaginara e era dez vezes mais bonita do que recordava. De facto, estava pronto para uma desilusão, mas a mulher que se sentou do outro lado da mesa tinha uns olhos tão azuis como um céu grego, uma pele tão lustrosa como as pérolas e um cabelo loiro e comprido que lhe caía até à cintura.

Mas isso não era a única coisa. Também havia as curvas fabulosas e a cintura estreita que tentava esconder por baixo do casaco. Não era gorda. Era perfeita, simplesmente gloriosa. E Xan interrogou-se se se sentiria consciente de que ele não se sentara por educação, mas porque lhe causara uma ereção e era a única forma de a disfarçar.

Depois de pensar por um segundo, chegou à conclusão de que não se apercebera. Era bastante óbvio, porque não havia a menor sedução na sua atitude, o que avivou o seu interesse. A maioria das mulheres seduzia-o desde o começo, mas aquela nem sequer se incomodara em maquilhar-se.

– Porque achas que te concedi uma reunião?

Xan perguntou-o com brusquidão, porque não confiava nas mulheres. Quando era criança, tivera o azar de se cruzar com várias madrastas desagradáveis e, para o caso de isso ser pouco, o seu primeiro amor abandonara-o quando descobrira que a fortuna da sua família desaparecera.

– Não sei. É por isso que estou aqui – respondeu ela. – Suponho que tenhas lido a minha carta.

Ele recostou-se na poltrona.

– Porque haveria de querer ajudar uma mulher que me roubou?

Elvi empalideceu.

– Bom, é possível que não queiras…

– Com efeito – interrompeu ele. – Não quero ajudá-la. Acho que as pessoas devem pagar pelos crimes que cometem.

– Sim, mas…

– Não há mas nem meio mas. E não vou abrir uma exceção com a tua mãe – sentenciou Xan. – De facto, sinto mais pena de ti do que dela. Crescer com uma alcoólica deve ser realmente difícil.

Elvi cerrou os punhos, indignada.

– Não precisamos da tua compaixão! – bramou.

– Talvez a tua família não precise, mas tu precisas. É o que pedes na tua carta, compaixão. E não sei o que ganharia com isso.

– Oh, vá lá, já te devolveram o vaso.

– Receio que não. É a prova de um crime e continua nas mãos da polícia.

Elvi respirou fundo, tentando pensar com clareza. Até então, Xan parecera-lhe tão gélido e distante como um bloco de gelo, mas mudou de opinião quando levantou a cabeça e viu que estava a olhar para os seus seios com desejo. Pelos vistos, pareciam-lhe mais interessantes do que ela própria.

– A minha mãe já recebeu o seu castigo. Prenderam-na, perdeu o seu emprego, perdeu a sua reputação e…

– Elvi – interrompeu Xan, novamente.

– Deixa-me falar! – protestou ela. – Porque não queres retirar as acusações?

– Já te disse porquê.

Ela fixou os seus olhos azuis grandes nele.

– Eu sei, mas não te sentirias melhor se te mostrasses benevolente?

Xan achou que era uma pergunta tão ingénua que quase se riu.

– Eu não tenho nem uma grama de benevolência em todo o meu corpo. Sou um homem duro. É o que sou.

Elvi assentiu e começou a levantar-se.

– Está bem, como queiras. Não vou repetir a história triste que te contei na minha carta. Se essa é a tua última palavra…

– Não é. Terias percebido se prestasses atenção, mas é evidente que não estás habituada a ouvir – disse Xan. – Perguntei o que ganharia se me mostrasse compassivo e perguntei-o porque tenho uma oferta para ti.

– Uma oferta? – repetiu ela, surpreendida. – Que tipo de oferta?

– Uma tão simples como direta – respondeu Xan. – Desejo-te, Elvi. Entrega-te a mim e retirarei as acusações.

Elvi ficou boquiaberta, sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir. Dissera-lhe que a desejava. Queria que fosse dele.

Em que tipo de mundo vivia esse homem? A que tipo de mulheres estava habituado? Elvi não sabia, mas pareceu-lhe uma proposta completamente inaceitável. Como se atrevia a pedir sexo em troca de um favor?

– Vejo que ficaste sem fala – observou ele, com ironia.

Ela levantou-se da cadeira como que impulsionada por uma mola e, a seguir, atirou-lhe a água do copo.

– Por quem tomas? Não sou uma prostituta!

Xan abanou a cabeça enquanto as gotas de água escorregavam pelo seu rosto. Era a primeira vez que o atacavam dessa forma, mas não mexeu um único músculo. De facto, questionou-se se seria tão apaixonada na cama como fora dela.

– Não insinuei que és – defendeu-se ele. – Estou a oferecer-te o lugar de amante, aproveitando que está temporariamente livre. Se aceitares, adorarei ter-te na minha cama durante alguns meses.

– O lugar está livre? O lugar? – repetiu ela, com incredulidade. – Que relação tens com o sexo?

– Uma relação bastante saudável. É uma necessidade física que deve cobrir-se e limito-me a cobri-la – respondeu ele, olhando para ela nos olhos. – Contudo, para o caso de te sentires melhor, acrescentarei que te desejo desde que te vi à porta da minha casa. Gostei tanto de ti que te investiguei e, quando soube que eras a filha da minha empregada, esqueci o assunto. Pareceu-me que teria sido inapropriado.

Elvi, espantada, exclamou:

– Não consigo acreditar! Nem sequer me conheces…

– Não preciso de te conhecer a fundo para te ter como amante. A minha relação com as mulheres é mais física do que intelectual.

– Mas estás a tentar comprar-me!

– Claro que sim. E, se achares bem, retirarei as acusações imediatamente – disse ele. – As negociações são assim, Elvi. Tu dás, eu dou. É um conceito básico no mundo das empresas.

– É extorsão!

– Não, não é. Não te obrigo a nada. A decisão é tua – observou Xan. – Mas não é necessário responderes agora. Pensa com cuidado.

– Não tenho nada para pensar! É uma proposta indecente! Eu não sou esse tipo de mulher!

– Mas gostas de sexo, não é? – replicou ele. – Além disso, não espero algo diferente. Não sou viciado no sadomasoquismo. Os meus gostos sexuais são comuns.

– Pouco importa para mim! Não quero saber o que fazes na cama! – bramou Elvi, vermelha como um tomate. – Não vou transformar-me numa espécie de escrava sexual.

Xan deu uma gargalhada e, depois, levantou-se da poltrona e deu-lhe um cartão com o seu número de telefone.

– Não serias a minha escrava sexual, mas a minha amante. Não te ofendas, mas és exageradamente melodramática.

– É claro que me ofendo! Ofendo-me com tudo o que disseste! Se soubesse que tentarias comprar-me, não teria vindo ver-te. Devo ser uma estúpida, mas não tinha pensado nessa possibilidade.

Xan desejou-a mais do que alguma vez desejara outra mulher. Os seus seios impressionantes subiam e desciam, a sua boca aberta era uma tentação e os seus olhos estavam tão grandes por causa da ansiedade que se imaginou com ela na cama.

Aquilo era luxúria em estado puro, mas de um tipo que não sentira até então: Um que não conseguia controlar. Quanto mais o enfrentava, mais ansiava fazê-la dele. Definitivamente, Elvi Cartwright não era aborrecida ou insípida. Até era possível que a sua referência à escravidão sexual não fosse uma queixa, mas uma confissão inconsciente sobre as suas fantasias mais tórridas.

Em qualquer caso, estava decidido a descobrir, porque também não recordava ter sentido tanta curiosidade por outra mulher.

Contudo, por enquanto, Elvi rejeitara-o várias vezes. E Xan pensou que talvez fosse o melhor. O que raios se passava com ele? O intercâmbio de favores que lhe oferecera era completamente novo para ele. Estava tão aborrecido que tinha de inventar coisas novas? Ele não fazia essas coisas. Ia para a cama com mulheres que o queriam pelo seu dinheiro e deixava-as quando se cansava delas, com toda a naturalidade.

– Se mudares de opinião, liga-me.

Elvi abanou a cabeça e o seu cabelo loiro acariciou-lhe os ombros, aumentando o desejo de Xan. Mas começava a estar incomodado com a situação, portanto, aproximou-se da porta e abriu-a, ansioso por pôr fim ao encontro.

– Boa sorte – continuou, sentindo-se orgulhoso da sua contenção emocional.

– És o homem mais odioso que alguma vez conheci!

Elvi virou-se e saiu do escritório a correr, sem se aperceber de que deixara lá o casaco.

– Elvi!

– O que queres? – bramou.

Xan deu-lhe o casaco.

– Oh… obrigada – conseguiu dizer ela.

Então, Xan percebeu que os seus olhos se tinham enchido de lágrimas e sentiu-se o ser mais desprezível da Terra.

No entanto, foi uma sensação efémera. Ele era como era e nunca fora um homem suave. Se Elvi queria sobreviver, teria de endurecer um pouco. O mundo não era um lugar bonito, mas terrível.

Elvi continuava indignada com Xan quando chegou a casa e encontrou a mãe na cozinha, sentada à mesa.

– O que vou fazer? – perguntou, entre lágrimas. – Não conseguirei outro emprego se o senhor Ziakis me der más referências. Ninguém quer contratar uma ladra! E também não posso dizer a verdade.

Elvi empalideceu.

– Pensaremos em alguma coisa – replicou, tentando tranquilizá-la. – O Daniel está no restaurante?

– Sim. Ainda bem que tem esse emprego… Caso contrário, não sairia do seu quarto – afirmou a mãe. – Está terrivelmente deprimido. Sente-se culpado.

Elvi assentiu e interrogou-se se fizera o correto ao rejeitar a oferta de Xan Ziakis. Transformar-se na sua amante em troca de retirar as acusações? Era uma ideia indecente. Mas também era a única forma de pôr fim àquele pesadelo.

Quando se deitou, começou a pensar no assunto. A sua situação não podia ser mais irónica, tendo em conta que fantasiara muitas vezes com ir para a cama com ele. Gostava tanto dele que enchera os seus sonhos e a sua imaginação durante anos, embora esse detalhe não fosse tão revelador como parecia. Como podia não os encher, se Xan Ziakis era um dos poucos homens com quem se relacionara?

Durante a sua adolescência, cuidara do irmão mais novo e da mãe comatosa, portanto, não tivera tempo para sair com rapazes. Enquanto as amigas desfrutavam da vida, ela agia como um adulto responsável. E, para o caso de ser pouco, começara a trabalhar numa loja de costura, o que limitava mais o seu contacto com o sexo oposto, porque os homens não costumavam comprar novelos de lã e agulhas de tecer.

Não era de estranhar que continuasse a ser virgem.

Ao pensar nisso, Elvi quase deu uma gargalhada. A sua experiência sexual era inexistente, mas Xan não sabia e pensara que era uma mulher versada nas artes do amor. Se não, porque lhe oferecera o lugar de amante?

Então, apercebeu-se de algo que lhe passara despercebido por estar tão indignada com a oferta: Xan queria-a na sua cama porque a achava atraente.

Elvi ficou atónita. Atraente? Ela? Talvez fosse uma obviedade, mas sentiu-se lisonjeada até a insegurança se impor. Não, isso era impossível. Devia ser por causa dos seus seios, cujo tamanho lhe causara tantos problemas no liceu que acabara por se odiar. Os rapazes não a deixavam em paz e, quando o seu melhor amigo tentara convencê-la de que era linda, pensara que lhe mentira para que se sentisse melhor.

Foi precisamente esse amigo que lhe enviou uma mensagem de texto no dia seguinte para a convidar para almoçar. Ao ver a sua mensagem, alegrou-se. Confiava em Joel e sabia que podia falar-lhe da mãe e do irmão, embora não tivesse intenção de mencionar a proposta de Xan.

Encontraram-se num restaurante que era perto do trabalho de Elvi e, quando já estavam a beber os cafés, Joel levou o cigarro à boca e perguntou:

– Como é possível que um rapaz tão inteligente como o Daniel seja tão estúpido?

– Ser inteligente não significa que tenha sensatez – particularizou ela, chegando-se para a frente. – A propósito, há uma loira que não desviou o olhar de ti desde que chegámos. E é linda.

– Não mudes de assunto! – protestou ele.

– Não estava a mudar de assunto – mentiu Elvi. – Mas será melhor ir-me embora ou vou chegar atrasada ao trabalho.

Ela levantou-se da mesa e Joel agarrou-lhe a mão para impedir que se fosse embora.

Ao sentir o seu contacto, Elvi questionou-se porque se excitava com um simples olhar de Xan e não sentia nada com Joel, um homem alto, moreno e atraente que, de resto, era um pintor de muito sucesso. De facto, as suas vidas eram tão diferentes que, às vezes, estranhava que continuassem a ser amigos.

– Não vais olhar para a loira?

– A única coisa que quero fazer é dar-te um pouco de dinheiro. Tens um salário miserável e, como a Sally ficou sem emprego, vais precisar.

– Obrigada, mas não preciso de nada.

Joel franziu o sobrolho.

– Quando vais aprender a afastar-te dos problemas da Sally e do Daniel? Chegarias muito longe se não tivesses de te preocupar constantemente com eles.

– Estás a falar da minha mãe e do meu irmão – recordou-lhe Elvi, cortante. – Amo-os com toda a minha alma e ninguém vira as costas aos seus entes queridos.

– Eu sei, mas dedicas-lhes todas as tuas energias.

Elvi pensou que Joel não conseguia entender. Era de uma família pouco unida e não tivera a sorte de contar com pessoas que estariam sempre ao seu lado, como ela. Simplesmente, não conhecia essa sensação.

– Ah, perco o tempo contigo – continuou ele. – Por alguma razão, desprezas o que tantas mulheres querem… Roupa cara, festas, diversão, essas coisas. Não queres nada para ti?

– Bom, sempre quis um cão – disse ela, repetindo uma confissão que lhe fizera imensas vezes.

– Um cão seria um fardo e já tens muitos.

Elvi despediu-se do seu amigo e foi trabalhar, mas lembrou-se da sua conversa naquela mesma noite, ao chegar à porta da sua casa. O que importava que um cão fosse um fardo? Queria ter um, um cão que pudesse levar a passear e que pudesse abraçar quando se sentia sozinha. E os gatos não lhe serviam, porque costumavam ser menos carinhosos.

Como de costume, o elevador do edifício estava avariado e teve de subir a pé até ao décimo andar; mas fê-lo com humor e até pensou que o exercício lhe fazia bem e a mantinha em forma. No entanto, isso não impediu que chegasse a ofegar. E, quanto ao seu bom humor, desapareceu quando viu que a mãe e o irmão estavam a discutir na cozinha.

– O que se passa? – perguntou, tensa.

– Olha o que fiz! – exclamou Daniel, taciturno. – A mãe não consegue encontrar emprego por minha causa e tu não ganhas o suficiente. Como vamos viver? Não tenho outro remédio senão deixar os estudos e procurar um emprego fixo.

– Não digas tolices – replicou Elvi. – Se fizeres isso, o sacrifício da mãe terá sido inútil. Inculpou-se porque quer que continues a estudar e sejas médico. Ambas queremos.

– Eu sei, mas a responsabilidade é minha e já está na hora de me comportar como um adulto. Os homens a sério não viram as costas à família. Não a abandonam para ter uma vida de estudante.

Elvi amaldiçoou-se. Daniel era tão teimoso como Sally e, se se empenhasse em deixar os estudos, acabaria por o fazer. Não parecia ter consciência de que essa decisão mataria a mãe, porque a ideia de o filho ser médico era a única coisa que a mantinha de pé.

Derrotada, deixou-os na cozinha e dirigiu-se para a sala, onde deixara a mala. A família estava a dividir-se e só havia uma forma de evitar o desastre: Aceitar a proposta de Xan Ziakis.

Abriu a mala, tirou no cartão que lhe dera e pegou no telemóvel para ligar ao homem que a obrigava a renunciar a todos os seus princípios. No entanto, não se sentia com forças para falar com ele, portanto, enviou uma mensagem de texto:

«Mudei de opinião. Quero estabelecer os termos da minha escravidão.»

Ao receber a mensagem, Xan deu uma gargalhada, algo que não fazia com frequência. Ganhara. Ganhava sempre. Mas aquela vitória pareceu-lhe muito mais doce do que a maioria.

Rapidamente, deu-lhe a morada de um restaurante londrino luxuoso e acrescentou: «Espero-te às oito.»

Desejo e chantagem

Подняться наверх