Читать книгу Realismo de Machado de Assis (Clássicos da literatura mundial) - Machado de Assis - Страница 66
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O abraço
Cuidei que o pobre diabo estivesse doudo, e ia afastar-me, quando elle me pegou no pulso, e olhou alguns instantes para o brilhante que eu trazia no dedo. Senti-lhe na mão uns estremeções de cobiça, uns pruridos de posse.
— Magnifico! disse elle.
Depois começou a andar á roda de mim e a examinar-me muito.
— O senhor trata-se, disse elle. Joias, roupa fina, elegante e... Compare esses sapatos aos meus; que differença! Podera não! Digo-lhe que se trata. E moças? Como vão ellas? Está casado?
— Não...
— Nem eu.
— Móro na rua...
— Não quero saber onde móra, atalhou o Quincas Borba. Se alguma vez nos virmos, dê-me outra nota de cinco mil réis; mas permitta-me que não a vá buscar a sua casa. É uma especie de orgulho... Agora, adeus; vejo que está impaciente.
— Adeus!
— E obrigado. Deixa-me agradecer-lhe de mais perto?
E dizendo isto abraçou-me com tal impeto, que eu não pude evital-o. Separamo-nos finalmente, eu a passo largo, com a camisa amarrotada do abraço, enfadado e triste. Já não dominava em mim a parte sympathica da sensação, mas a outra. Quizera ver-lhe a miseria digna. Comtudo, não pude deixar de comparar outra vez o homem de agora com o de outr’ora, entristecer-me, e encarar o abysmo que separa as esperanças de um tempo da realidade de outro tempo...
— Ora adeus! Vamos jantar, disse commigo.
Metto a mão no collete e não acho o relogio. Ultima desillusão! o Borba furtára-m’o no abraço.