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Capítulo 1

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– Não te vires, mas acabou de entrar o protagonista dos teus sonhos mais tórridos e dos meus pesadelos.

Como era de esperar, Suki Langston não pôde evitar virar a cabeça para a entrada do pub, apesar daquele aviso. Da mesa do canto em que Luis Acosta, o seu melhor amigo, e ela estavam sentados, observou como o recém-chegado, Ramón, o irmão dele, passeava o seu olhar incisivo pelo local. Quando finalmente os encontrou, semicerrou os olhos, e Suki sentiu que uma onda de calor se apoderava dela.

– Disse-te para não te virares. Não sei nem porque me incomodo em avisar-te – comentou Luis.

Suki virou-se para ele, irritada.

– Sim, porque o fizeste?

Luis, que estava sentado à frente dela, segurou-lhe as mãos e, com um brilho divertido nos olhos, disse:

– Só queria poupar o espetáculo triste de te ver a dar um salto e a tremer como um rato encurralado quando aparecesse atrás de ti. Da última vez que se encontrarem, quase desmaiaste.

Suki corou.

– Não sei porque te aguento. És o pior.

Luis riu-se e, embora ela tentasse afastar as mãos, ele não permitiu.

– Aguentas-me porque, por algum capricho do destino, nascemos no mesmo dia, porque te evitei uma reprimenda do professor Winston no primeiro dia da faculdade. E isso sem nos esquecermos do sem-fim de vezes que te salvei o rabo – indicou ele. – E é por isso que acho que devias agradecer-me, aceitando o emprego que te ofereci na empresa da minha família.

– E ter-te todo o dia em cima de mim? Não, obrigada. Estou contente a trabalhar para a Interiores Chapman porque gosto de decorar casas, não hotéis de cinco estrelas.

Ele encolheu os ombros.

– Como queiras… Um dia, vais mudar de ideias.

– Já estás a ver coisas outra vez na tua bola de cristal?

– Não preciso de uma bola de cristal para isso. Nem para saber que te darias melhor com o Ramón se enfrentasses de uma vez o facto de estares louca por ele.

Suki tentou pensar numa resposta engenhosa para o pôr no seu lugar, mas sabia que era uma batalha perdida. Ao dom duvidoso que tinha de pensar sempre na resposta perfeita depois de horas ou dias, acrescentava-se a sua timidez espantosa, que escolhia momentos como aquele para aflorar e a impedia de pensar com clareza.

E a razão por que não conseguia pensar com clareza era o homem que acabara de entrar no pub. Conseguia senti-lo a aproximar-se, conseguia… Por amor de Deus, naquele dia, fazia vinte e cinco anos! Já não era uma adolescente ingénua. Tinha de se comportar como uma adulta. Tinha de levantar a cabeça e olhar para a cara de Ramón.

Ergueu o queixo e levantou o olhar para aquele gigante de um metro e noventa e cinco, cheio de elegância e poder contido, que acabara de chegar à mesa. Tinha de parar de observar, embevecida, aquele queixo quadrado e os traços perfeitos da sua cara. Tinha de olhar para ele nos olhos…

– Feliz aniversário, maninho – disse Ramón a Luis, em espanhol.

Suki sentiu que um formigueiro lhe percorria as costas ao ouvir aquela voz aveludada. Meu Deus… Era tão bonito… Voltou a baixar a cabeça e engoliu em seco.

– Obrigado – agradeceu Luis. E depois, em inglês, acrescentou, com um sorriso irónico: – Embora já estivesse a começar a pensar que não virias.

Ramón pôs as mãos nos bolsos.

– São apenas onze – replicou, num tom leve.

Suki levantou o olhar timidamente e apanhou Ramón a olhar para a mão do irmão por cima da dela com os olhos semicerrados. Depois, olhou para ele, que fez uma careta e afastou a mão, antes de encolher os ombros.

– Enfim, senta-te – convidou Luis. – Vou buscar a garrafa de champanhe que pedi que pusessem no gelo.

Levantou-se, abraçaram-se e Ramón disse-lhe alguma coisa que Suki não ouviu bem. Vendo-os assim, um junto do outro, a semelhança entre ambos era inegável. Só se diferenciavam na cor dos olhos, Luis tinha-os castanhos e Ramón, verdes; na estatura, Ramón era mais alto do que Luis; e no cabelo, que Luis tinha castanho-escuro, enquanto o de Ramón era preto azeviche. No entanto, enquanto Luis, com a sua cara e a sua estatura, fazia com que as mulheres se virassem para olhar para ele, Ramón cativava por completo quem cometia o erro de pousar os olhos nele.

Por isso, pouco depois de Luis se afastar, e apesar de não parar de se repetir que devia olhar para a cara dele, Suki percebeu que não conseguia levantar o olhar. Para tentar disfarçar o tremor dos seus dedos, apertou as mãos contra o copo de vinho branco com sumo e ficou com falta de ar ao ver que Ramón se sentava ao seu lado em vez de ocupar o lugar de Luis, como pensara que faria.

Os segundos passaram lenta e dolorosamente enquanto os olhos de Ramón, fixos nela, estudavam o seu perfil.

– Feliz aniversário, Suki – replicou, em espanhol.

A sua voz tinha um matiz misterioso, sombrio, perigoso… Ou talvez fosse apenas por causa da sua imaginação febril. Tremeu por dentro e pôs uma madeixa atrás da orelha, antes de voltar a apertar o copo com força.

– Obrigada – murmurou, ainda com a cabeça encurvada.

– O normal é olhar para uma pessoa nos olhos quando fala contigo – repreendeu-a Ramón. – Ou a tua bebida é mais interessante do que eu?

– É. Quer dizer… Quero dizer que é o normal, não que a minha bebida é…

– Suki, olha para mim – interrompeu ele, num tom imperioso.

Não teria podido negar-se, mesmo que quisesse. Quando virou a cabeça, encontrou os seus olhos verdes intensos fixos nela.

Mal conhecia Ramón, só o vira algumas vezes. A primeira fora há três anos, quando Luis lho apresentara na cerimónia de licenciatura na universidade e, cada vez que voltava a encontrar-se com ele, era mais difícil falar. Era absurdo. Além disso, não se tratava só de que Ramón estivesse completamente fora do seu alcance, mas também estava noivo. A sortuda era Svetlana Roskova, uma modelo russa muito bonita.

No entanto, quando levantou o olhar, já não conseguiu desviar os olhos dele, nem pensar noutra coisa senão em como era incrivelmente irresistível: A pele azeitonada, o pescoço robusto, cuja base conseguia ver através dos dois botões desabotoados da sua camisa azul-marinho, os dedos compridos…

– Está melhor assim – murmurou, com satisfação. – Alegra-me não ter de passar o resto da noite a falar com o teu perfil, embora não seja verdade que possa saber-se se estão a ser sinceros se nos olharem nos olhos enquanto falam.

Suki detetou um matiz evidente de ressentimento na sua voz, envolto numa raiva mal disfarçada.

– Aconteceu alguma coisa? – aventurou. – Pareces incomodado.

Riu-se, brincalhão.

– Achas? – perguntou.

O seu tom transformou a perplexidade de Suki em irritação.

– Diverte-te que me preocupe contigo?

Os olhos verdes de Ramón estudaram o seu rosto, parando nos seus lábios.

– O meu irmão e tu estão juntos? – perguntou, sem responder à pergunta.

– Juntos? – repetiu ela, como um papagaio. – Não sei a que te…

– Queres que seja mais explícito? Foste para a cama com o meu irmão? – exigiu saber.

Suki soprou, espantada.

– Desculpa?

– Não tens de te fingir de ofendida com a minha pergunta. Basta responder.

– Olha, não sei o que se passa, mas é evidente que, esta manhã, te levantaste da cama com o pé esquerdo, portanto…

Ramón praguejou em espanhol.

– Faz o favor de não me falar de camas.

Suki franziu o sobrolho.

– Vês? Estás a dar-me razão. O que me leva a perguntar-te porque vieste ao aniversário do teu irmão se estás de tão mau humor.

Ramón cerrou os dentes.

– Porque sou leal – replicou. – Porque, quando dou a minha palavra, cumpro-a.

A fúria gélida com que pronunciou aquelas palavras deixou-a com falta de ar.

– Não estava a questionar a tua lealdade nem…

– Ainda não respondeste à minha pergunta.

Suki, que não entendia a reviravolta que a conversa dera, abanou a cabeça.

– Provavelmente, porque não te diz respeito.

– Achas que não me diz respeito? – perguntou, olhando para ela, carrancudo. – Quando o Luis te trata como se fosses dele e me devoras com os olhos?

Suki observou-o, entre espantada e indignada.

– Eu não…!

Ramón deixou escapar uma gargalhada cruel.

– Quando cheguei, fingias que não te atrevias a olhar para mim, mas, desde que te viraste, não me tiraste os olhos de cima. Vou fazer-te um aviso: Por mais que ame o meu irmão, partilhar uma mulher com outro não é para mim, portanto, bem podes esquecer a ideia de fazer um ménage à trois.

– És… Meu Deus, és desprezível! – exclamou ela.

Não sabia o que a horrorizava mais: Se o facto de perceber que se sentia atraída por ele ou de não ter o menor reparo de lho dizer na cara.

– Não terás tido uma deceção porque estraguei essa fantasia que criaste na tua mente?

– Garanto-te que não sei do que falas. E lamento se alguém te extraviou um punhado de milhões, deu um pontapé ao teu cão ou seja o que for que te deixou que tão mau humor, mas estás a um passo de levar com a minha bebida na cara, portanto, sugiro que feches a boca agora. Além disso, como te atreves a falar de trios? Não estás noivo?

Nesse momento Luis apareceu com a garrafa de champanhe e três copos.

– Meu Deus! Demorei assim tanto tempo? – perguntou. – Juraria que demorei menos de cinco minutos e volto para vos encontrar quase aos murros. Surpreendes-me, pequenina. Não o esperava de ti – disse a Suki.

Ela abanou a cabeça.

– Garanto-te que não…

– Estava a deixar algumas coisas claras à tua namorada – interveio Ramón.

Luis arqueou as sobrancelhas e desatou a rir-se.

– A minha namorada? De onde tiraste essa ideia?

Ramón relaxou levemente o queixo antes de encolher os ombros.

– Queres dizer que não é?

Suki cerrou os dentes.

– Podiam parar de falar de mim como se não estivesse aqui?

Ramón ignorou-a e ficou a olhar para o irmão, à espera de uma resposta. Luis pousou os copos e a garrafa na mesa para se sentar à frente deles.

– É como uma irmã para mim e preocupo-me com ela – respondeu Luis. – É minha amiga e, como amigo dela, considero-me no direito de dar um pontapé no rabo de quem tentar magoá-la. É…

– Está bem, está bem, entendi – interrompeu Ramón.

– Bom. Fico contente por o termos esclarecido – redarguiu Luis.

Suki virou a cabeça para Ramón.

– Ficou claro? – perguntou.

Ramón esboçou um sorriso, como se, agora que o irmão o explicara, o achasse divertido.

– Parece que interpretei mal a situação – concedeu.

– Isso é um pedido de desculpas? – inquiriu ela, com aspereza.

Os olhos dele toldaram-se.

– Se queres que me desculpe, terás de me dar um pouco mais de tempo para encontrar as palavras adequadas.

Suki não conseguia acreditar que alguém tão seguro de si próprio pudesse ficar sem palavras. Transformara o negócio dos pais, que tinham começado com alguns hotéis em Cuba, na cadeia internacional prestigiosa Acosta Hotéis, ao mesmo tempo que se entregava à sua paixão: A arte. De facto, conforme Luis lhe contara, da noite para o dia, os seus quadros e esculturas eram muito solicitados.

– Pareces de pior humor do que de costume, mano – observou Luis, enquanto retirava o alumínio que cobria a rolha da garrafa. – Quase consigo ver o fumo a sair-te pelas orelhas.

Ramón cerrou os dentes.

– É assim que queres passar o resto do teu aniversário? A fazer piadas às minhas custas?

– Só tentava relaxar um pouco o ambiente, precisamente porque é o meu aniversário, mas se não quiseres contar-me o que se passa, pelo menos, atende o maldito telemóvel. Deve estar há cinco minutos a vibrar-te no bolso.

Ramón lançou-lhe um olhar irritado, tirou o telemóvel do bolso e mal olhou para ele, antes de o desligar.

Luis ficou boquiaberto.

– Desligaste o telemóvel? Sentes-te mal? Ou estás a ignorar as chamadas de alguma pessoa em concreto?

– Luis… – murmurou Ramón, num tom de aviso.

O irmão, no entanto, não fez caso.

– Meu Deus! Não me digas que há problemas no paraíso? Os saltos de agulha fizeram a grande Svetlana tropeçar na passarela e caiu em desgraça?

As feições de Ramón endureceram.

– Ia esperar para te contar, mas, já que puxas o assunto… Desde esta manhã, já não estou noivo.

Um silêncio ensurdecedor apoderou-se da mesa. As palavras de Ramón ricocheteavam como uma bala na mente de Suki. Já não estava noivo…

O barulho brusco da rolha ao sair disparada fez Suki dar um salto. Luis passou-lhe um copo.

– Bebe, pequena. Agora, temos duas… Não, três razões para celebrar – declarou.

– Ena, alegra-me que o fim da minha relação te faça tão feliz – murmurou Ramón, num tom gélido.

Luis ficou sério.

– Desde o princípio, respeitei a vossa relação, mas sabes que sempre pensei que não era a mulher adequada para ti. Não sei se foste tu que decidiste acabar ou se foi ela, mas…

– Fui eu.

Luis sorriu.

– Então, celebra connosco ou aproveita para afogar as mágoas.

Ramón levantou o copo, desejou-lhes novamente um feliz aniversário e bebeu-o de um gole. Suki só bebeu alguns golinhos, mas Luis começou a servir um copo atrás de outro, enquanto a tensão entre Ramón e ela aumentava.

– Hora de começar muito bem o meu segundo quarto de século – anunciou Luis, de repente, levantando-se, com os olhos fixos numa ruiva espantosa, que não parava de sorrir de outra mesa.

Suki, aliviada, empurrou o copo.

– Acho que vou para casa – murmurou.

– Fica – pediu Ramón. E, antes de conseguir responder, virou-se para o irmão. – Tenho a minha limusina à espera lá fora. Diz ao motorista onde queres que vos leve.

Luis pôs-lhe a mão no ombro.

– Agradeço a oferta, mas vou ter cuidado com aquela florzinha. Não quero incomodá-la com os nossos luxos de milionários e fazer com que fuja.

Ramón encolheu os ombros.

– Tanto me faz se quiseres apanhar o autocarro. Desde que, na segunda-feira de manhã, chegues ao escritório a horas, sóbrio e inteiro…

– Vou fazê-lo, se me prometeres que garantes que a Suki chega a casa sã e salva.

Ela abanou a cabeça, agarrou na mala e levantou-se.

– Não é preciso, a sério. Chegarei bem.

E ela iria de autocarro. Tinha de vigiar os seus gastos. Pelo menos, o telemóvel não tocara desde a última vez que ligara para o hospital, há quatro horas, portanto, a mãe devia estar a passar a noite tranquila. Ou, pelo menos, era o que esperava.

– Senta-te, Suki – disse Ramón, num tom autoritário. – Não acabámos de falar.

Lançou um olhar desesperado a Luis, mas o amigo limitou-se a inclinar-se por cima da mesa para lhe dar um abraço e sussurrou-lhe ao ouvido:

– É o teu aniversário e a vida é demasiado curta. Faz uma pausa e vive um pouco. Vai fazer-te feliz e a mim muito mais.

E, antes de conseguir responder, Luis afastou-se em direção à mesa da ruiva, com aquele sorriso que fazia com que as mulheres se derretessem.

– Disse-te para te sentares – insistiu Ramón.

Dificilmente conseguiria sair da mesa com ele a bloquear a saída. Com as palavras de Luis a ecoar na sua mente, voltou a sentar-se muito devagar.

– Não sei porque queres que fique – disse. – Não tenho nada para te dizer.

Ramón voltou a estudar o seu rosto com esse olhar intenso que a deixava nervosa.

– Pensava que tinhas dito que te devia… alguma coisa.

– Um pedido de desculpas. Custa-te assim tanto dizer a palavra?

Ramón encolheu os ombros e abriu a boca para responder, mas os ocupantes de uma mesa próxima desataram a rir-se, sem dúvida, levados pelo álcool.

Ramón fez um ar de nojo, levantou-se e, desviando-se para que ela pudesse sair, disse:

– Vem comigo, podemos continuar a conversa noutro lugar.

Suki obedeceu, não porque lho ordenara, mas porque, quando estivessem fora do local, poderia inventar alguma desculpa e escapulir-se. A última coisa que queria era ter de continuar a aguentar o seu mau humor.

As experiências que tivera com o sexo oposto, incluindo o próprio pai, tinham-na levado a desconfiar dos homens em geral. Contudo, depois de conhecer Luis, pensara que devia haver mais exceções à regra como ele e, ignorando os conselhos da mãe, começara a sair com o ex-namorado, Stephen, há seis meses. Infelizmente, era um canalha que saía com várias mulheres ao mesmo tempo. E a parte dela, que ainda estava magoada, avisava-a de que devia evitar Ramón.

Por isso, ao sair do pub para o ar frio do mês de outubro, respirou fundo e começou a andar, mas, antes de ter dado três passos, Ramón agarrou-a pelo cotovelo para fazer com que parasse.

– Onde achas que vais? – inquiriu, parando à frente dela.

Embora lhe tremessem as pernas por causa da sua proximidade e da ferocidade da sua expressão, Suki olhou para ele nos olhos e respondeu:

– É tarde.

– Sei perfeitamente que horas são – murmurou ele e, quando deu um passo para ela, as suas coxas encontraram-se.

Suki perdeu a força nas pernas.

– Tenho de… Devia ir.

Ramón deu mais um passo, encostando-a contra a parede do pub, e pôs as mãos ao lado da cabeça dela, impedindo-lhe a fuga.

– Sim, talvez devesses. Mas sei que não queres ir.

Ela abanou a cabeça.

– Quero, sim.

Ramón inclinou-se para ela e sentiu a respiração quente no rosto.

– Não podes ir. Ainda tenho de me desculpar.

– Ou seja, admites que me deves um pedido de desculpas?

Ramón observou-a com olhos famintos, antes de baixar o olhar para os seus lábios.

– Sim, mas não vou oferecer-te as minhas desculpas aqui, no meio da rua.

Embora não o achasse possível nessa situação, Suki deu por si a rir-se.

– Sabes quantos anos faço hoje. Já não chupo o dedo.

Ramón afastou uma mão da parede para lhe acariciar a face.

– Posso dizer-te o que queres ouvir e deixar que te vás embora… Ou podes deixar que te leve a casa, como prometi ao Luis e, a caminho, desculpar-me como é devido. Imagino que queiras que o meu irmão fique tranquilo, não é?

– Já sou crescidinha para voltar sozinha. Tenho a certeza de que o Luis entenderá. E a única coisa que quero é um pedido de desculpas – insistiu.

– Queres mais do que isso. Queres deixar-te levar, arrancar a fruta proibida da árvore e dar-lhe uma dentada. Não é verdade, Suki?

«Não.» Abriu a boca para o dizer, mas a palavra ficou presa na garganta.

Ramón tirou a outra mão da parede e recuou lentamente, como se a tentasse com o que ia perder, e Suki não percebeu que o seguira até à beira da calçada onde uma limusina preta se aproximava e parava atrás dele. Ramón abriu a porta traseira.

– Vais entrar no carro e deixar que te leve a casa, Suki. O que acontecer depois, depende de ti. Só de ti.

Gravidez por contrato

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