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Capítulo 1

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Remirez Alexander Montegova, príncipe herdeiro de Montegova, parou à frente da imponente porta e levantou o punho, tão gelado quanto o resto do seu corpo.

Quem o conhecesse ficaria surpreendido com tão estranha hesitação. Desde a infância que era celebrado pela sua temeridade, pela sua valentia. Todos o viam como um líder que um dia conseguiria para o seu país muito mais do que qualquer um dos seus antepassados.

Mas ali estava ele, acobardado à frente de uma porta.

Obviamente, não era uma porta qualquer. Era o portal para o seu destino. Por mais pretensiosas que parecessem estas palavras, isso não as tornava menos verdadeiras.

Tinha temido aquele dia.

A verdade era que não queria entrar. Não queria enfrentar a mãe, a rainha, porque o instinto dizia-lhe que quando saísse de ali não seria a mesma pessoa.

Claro que nunca tinha sido dono de si mesmo. Ele pertencia à história de Montegova, ao destino forjado pelos guerreiros que tinham lutado em sangrentas batalhas para criarem aquele reino do Mediterrâneo Ocidental.

«Dever» e «destino». As duas palavras estavam gravadas a fogo na sua alma.

– Sua Alteza? – murmurou o empregado. – Sua Majestade está à sua espera.

Remi sabia-o. E o telefonema daquela manhã fora imperioso.

A sua mãe exigira a sua presença às nove em ponto e o antigo relógio de ouro num dos muitos corredores do palácio real de Montegova anunciou solenemente que estava quase atrasado.

Deixando escapar um suspiro de resignação, Remi bateu à imponente porta e esperou a ordem de entrar.

Esta chegou logo de seguida, enérgica e firme, mas envolta numa capa de inegável afeto.

A voz refletia fielmente a mulher que estava sentada na cadeira que parecia um trono, sob o escudo das armas da casa real de Montegova.

A rainha fez um gesto de aprovação quando ele inclinou respeitosamente a cabeça antes de se sentar à frente dela.

– Perguntava-me quanto tempo irias ficar à porta. Tens realmente assim tanto medo de mim? – perguntou-lhe, com um brilho de pesar nos olhos.

Remi observou a mãe para ver se, por uma vez, o seu instinto estava enganado. Mas o perfeito penteado, a impecável maquilhagem, o clássico fato Chanel e o broche de esmeraldas e diamantes com as cores da bandeira de Montegova deixavam claro que aquela reunião era exatamente o que tinha suspeitado que era.

O machado estava prestes a cair.

– Não tenho medo de ti, mas suspeito que esta reunião não me vai fazer saltar de alegria.

A mãe franziu os lábios antes de erguer-se. Era uma mulher alta, impressionante, que chamaria as atenções mesmo que não fosse a rainha de Montegova. Antes de tornar-se rainha tinha ganhado vários concursos de beleza e, quando se dignava a sorrir, o seu sorriso podia deixar qualquer homem sem fôlego. Remi sabia-o por experiência própria.

O seu cabelo, que se tinha tornado grisalho quase da noite para o dia dez anos antes, depois da morte do seu pai, fora outrora tão escuro quanto o dele, mas ela carregava esse sinal visível de dor com a mesma força com que tinha evitado que o reino caísse no caos após a repentina morte do rei e o escândalo que se seguiu. Aos vinte e três anos, Remi era demasiado jovem para subir ao trono, por isso a sua mãe tinha ocupado o cargo como regente. Ele devia ser coroado um dia depois de fazer trinta anos, mas tinham sofrido uma nova tragédia que obrigara a mudar o plano.

A mãe apoiou as mãos sobre a polida superfície da secretária e olhou-o nos olhos.

– Chegou a hora, Remirez.

Remi fez um esgar. A sua mãe não costumava tratá-lo pelo seu nome próprio completo. Em pequeno, isso nunca era bom sinal e continuava a não o ser.

Incapaz de permanecer sentado, levantou-se e andou de um lado para o outro frente à secretária.

– Quanto tempo tenho? Semanas, meses?

Não podiam ser anos. Já lhe tinha dado dois anos e, ultimamente, passara a ideia de que era altura de esquecer e seguir em frente.

– Gostaria de anunciar a minha renúncia ao trono durante o próximo festival do solstício – disse a mãe. Na terceira semana de junho.

– Dentro de três meses – murmurou Remi.

A realidade foi como um balde de água fria.

– E isso significa que temos pouco tempo. Temos de ter tudo em ordem antes de fazer os anúncios reais.

– Anúncios, no plural?

– Não vou renunciar apenas ao trono, Remi. Também me vou demitir dos meus deveres oficiais durante algum tempo.

Isadora Montegova não era só a rainha, também era membro do Parlamento.

– Vais renunciar? Porquê?

– Os últimos anos têm sido muito difíceis para mim e preciso… de afastar-me um pouco de tudo.

Se alguém tinha direito a retirar-se por algum tempo era a sua mãe, que não só tinha suportado estoicamente a repentina morte do esposo, como o escândalo que se seguiu ao descobrir-se o segredo que ele tinha guardado durante décadas.

Mas, na intimidade, Remi tinha visto quanto isso a magoava. E ele mal tinha conseguira controlar a fúria ao descobrir que o pai que adorava fora infiel. Com o passar dos anos a ira transformara-se num surdo ressentimento, mas nunca desaparecera. Porque, além do mal que causara à mãe, a descoberta provocara o caos e a confusão no reino durante anos. Uns anos muito difíceis para a sua mãe, para ele e para Zak, o seu irmão mais novo.

Segredos e mentiras. Aí estava um cliché que só se percebe quando nos acontece a nós e toda a gente fica a saber.

– E isso leva-me ao problema seguinte – disse a rainha então, agarrando numa pasta que deslizou pela secretária.

E ali, real e palpável, estava o mais recente motivo da angústia da sua mãe.

Jules Montegova.

O rude meio-irmão que lhes tinha sido apresentado momentos após o enterro do seu pai. Um adolescente, na altura, um jovem de vinte e oito anos agora, resultado de uma aventura ilícita do seu pai enquanto estava em Paris em funções diplomáticas. A paternidade fora provada graças a um discreto teste de ADN.

Jules era o escândalo que quase levara à queda da monarquia de Montegova. Os paparazzi tinham andado como loucos, tentando descobrir mais segredos.

O escândalo teria sido mais suportável se Jules não tivesse sido uma constante aflição desde que chegara a Montegova dez anos antes.

Remi olhou para fotografia e apertou os dentes ao ver os olhos vidrados e o aspeto desalinhado de bêbado.

– Que fez ele agora?

A rainha Isadora torceu os lábios.

– Deverias perguntar o que não tem feito. Há três semanas gastou uma fortuna em Monte Carlo, depois foi para Paris e continuou a jogar durante quatro dias. O tesoureiro de palácio ficou perplexo quando recebeu as faturas. Há dez dias apareceu em Barcelona e foi de penetra a uma festa que o duque Armando organizara para a sobrinha. Desde então está em Londres, e nos últimos dias em companhia desta mulher – disse a mãe, apontando para umas fotografias.

Em todas elas aparecia a mesma mulher, de cabelo loiro, pernas longas, brilhantes olhos verdes, lábios carnudos e um corpo de fazer parar o trânsito. Era impressionante. Com aquele sorriso poderia acender uma lâmpada de dez mil volts.

Mas havia muitas mulheres como ela no mundo de Remi, só aparência e nenhuma substância. Numa das fotografias exibia literalmente a roupa interior, como se não se importasse que o mundo inteiro pudesse ver a tanga de renda enquanto lançava os braços ao pescoço do seu meio-irmão.

Remi analisou-as, em silêncio. Olhou para o nariz respingão, os sensuais lábios, as maçãs do rosto elevadas, o delicado queixo, os ombros bronzeados e a atraente curva dos seus seios. Umas pernas intermináveis completavam o pacote.

Era fabulosa, pelo menos fisicamente, mas Remi tinha a certeza de que teria muitas falhas noutros aspetos. Exceto talvez em…

– Quem é? – perguntou, irritado com os seus próprios pensamentos. Que importava como fosse a fulana na cama?

A sua mãe voltou a sentar-se.

– Os detalhes estão na outra página. O resto continua a ser um pouco impreciso, mas já vi o suficiente para saber que é um problema. Para começar, Jules não costuma ficar num lugar mais do que alguns dias e está há duas semanas em Londres. E, desgraçadamente, estas são as fotografias menos ofensivas. O que há entre eles tem de terminar agora mesmo, mas Jules recusa-se a voltar para Montegova – a rainha deixou escapar um suspiro. – Não sei como, mas tenho de encontrar uma maneira de o meter na ordem.

Remi olhou para a última página do relatório, a descrição da mulher que acompanhava ultimamente o seu meio-irmão resumida em quatro linhas.

Madeleine Myers

Empregada de café

Vinte e quatro anos

Deixou a universidade sem terminar os estudos

– Queres que eu me encarregue disso? – perguntou-lhe.

Pelo bem do país, as palhaçadas do seu meio-irmão tinham de terminar.

– O Jules não tem interesse em ser membro da família real a não ser para ter entrada facilitada em casinos e festas, mas isto não pode continuar. Ele finge, mas eu sei que te respeita. Até diria que te receia. A ti, Remi, ele dará ouvidos. E tu és o único que pode resolver a situação discretamente – a rainha aclarou a garganta. – Não podemos permitir-nos outro escândalo quando estás prestes a anunciar o teu casamento.

Remi ficou sem fala durante uns segundos.

– O quê? – exclamou quando recuperou a voz.

– Não me olhes com essa cara de surpresa. Tu sabes que tens de casar, Remi. Ias fazê-lo há dois anos.

Remi experimentou uma mistura de dor, raiva, amargura e sentimento de culpa. A dor de perder um ser querido nunca desaparecia, como a raiva por uma vida terminada demasiado cedo, por todos os planos que nunca chegaram a bom termo. E a amargura pela crueldade do destino…

Tinha sido tudo culpa dele e agora tinha de carregar aquela pesada cruz.

– Serias rei e estarias casado se Celeste não tivesse morrido – disse a mãe.

Um lembrete desnecessário que levou Remi a cerrar os dentes.

– Sei isso muito bem, mãe – murmurou, num tom gelado. – Mas diz-me uma coisa, onde vou arranjar uma noiva em três meses?

A mãe abriu uma gaveta e tirou um papel.

– Ainda tenho a lista de candidatas que fizemos há cinco anos.

– Há cinco anos não me rebaixei a escolher uma esposa dessa lista feita por conselheiros e não penso fazê-lo agora.

– Mas desta vez não há tempo e talvez seja a melhor solução. Eu casei-me por amor, tu estiveste quase a casar-te com a escolhida do teu coração… e olha onde isso nos levou!

Remi observou a palidez da mãe sob a maquilhagem, as rugas de stress em redor dos olhos. Ele tinha-se encarregado de mais deveres oficiais no último ano, mas podia ver que o cargo de rainha também tinha sido cansativo para a sua mãe.

A coroa, temporária ou não, era realmente muito pesada. Uma coroa que em breve estaria na sua própria cabeça.

Mas antes que pudesse dizer algo, a sua mãe recuperou a compostura.

– Não vou ficar de braços cruzados a ver tudo o que ergui nos últimos dez anos a afundar-se só porque a tua sensibilidade não te permite cumprir o teu dever. Irás a Londres, separarás o teu meio-irmão dessa mulher e irás trazê-lo para casa. Depois escolherás uma noiva e anunciarás o teu casamento uma semana antes do festival do solstício. Durante o festival, fixaremos a data do casamento, que acontecerá três meses após o noivado. Assim terás seis meses para habituar-te à ideia.

– Mãe…

– Chegou a altura de ocupares o teu lugar no trono, Remirez. Sei que não me falharás.

Um minuto depois, Remi saía do escritório. E, como previra antes de entrar, tudo tinha mudado.

Mais cinco semanas.

Maddie Myers conteve o desejo de tirar o telemóvel para ver as horas e saber quanto tempo faltava para que aquele pesadelo terminasse.

Não deveria ter aceitado uma proposta tão absurda, mas as suas opções eram muito limitadas e, quando um luxuoso Lamborghini lhe bateu de lado e agravou as suas desgraças, fazendo-a deixar cair as compras que tinha pago com o último dinheiro que lhe restava, teve de aceitar que a situação era desesperada.

Por sorte, conseguira escapar do horrível incidente apenas com um par de hematomas, uma pontada de dor nas costelas e um braço dolorido.

Na verdade, tinha a certeza de que fora o susto de quase ter sido atropelada a levá-la a aceitar a proposta de Jules Montagne. Estava desesperada e quando o proprietário do Lamborghini lhe ofereceu uma solução para os seus problemas…

Nesse momento estava a pensar vender um dos seus rins, portanto aparecer-lhe um tipo cheio de dinheiro parecera-lhe uma resposta às suas preces. Embora ainda tivesse demorado quarenta e oito horas a aceitar a proposta. Provavelmente porque ele não tinha deixado claro o motivo por que precisava dela. Se aprendera algo na vida era a olhar antes de saltar; a confiança cega já não era um dos seus defeitos.

Tinha pensado que a sua mãe estaria presente para ajudar a família que ela mesma dilacerara. Tinha confiado no seu pai de cada vez que ele lhe dizia que tinha controlado os seus vícios. E Greg… esse fora o pior de todos.

Quando Jules Montagne lhe fizera um ultimato: «Sem fazer perguntas», o instinto dissera-lhe para sair a correr. Mas por muitas vezes que revisse a sua conta bancária ou procurasse entre os seus pertences com a esperança de encontrar algo que pudesse penhorar, o resultado era o mesmo.

Restava muito pouco tempo ao seu pai e não tinha outro remédio senão retribuir o telefonema de Jules. Naturalmente, a sua ajuda não era gratuita, por isso estava vestida como uma cara acompanhante, a ouvi-lo falar com o seu círculo de aristocratas enquanto bebiam litros de champanhe caríssimo na sala VIP de uma discoteca.

Maddie tinha deixado para trás a eterna questão de «porque é que a vida é tão injusta comigo» e, depois do abandono da mãe, também tinha deixado de pensar que tinha alguma esperança.

– Sorri! – incentivou-a Jules. – Olhas para o teu copo como se alguém tivesse morrido.

Ela esboçou um sorriso falso, contendo o desejo de começar a gritar. Não, ninguém tinha morrido, mas o homem que uma vez tinha sido o seu forte e orgulhoso pai, um homem agora tristemente abatido, morreria a não ser que ela interpretasse o seu papel e arrecadasse o pagamento prometido.

Setenta e cinco mil libras.

O custo exato da operação aos rins em França.

A quantia que Jules aceitara pagar-lhe se fingisse ser a sua noiva durante seis semanas.

Maddie levantou o olhar e deparou-se com os olhos metálicos do seu falso noivo, o homem que mal lhe dirigia a palavra quando se afastavam dos paparazzi que os perseguiam a cada momento.

– Sorri, chérie – insistiu Jules, com um brilho vítreo nos olhos, antes de continuar a conversar e a rir com os seus amigos.

Maddie exalou um suspiro de alívio, fazendo uma expressão de dor ao sentir uma pontada nas costelas, e perguntou-se se conseguiria sobreviver àquilo.

Na primeira vez em que que tinham saído juntos, um jornalista fizera perguntas sobre a família de Jules, especificamente o que pensava «a rainha» do seu comportamento. Maddie quisera saber a que se referia, mas Jules limitara-se a recordar-lhe a regra de não fazer perguntas.

Embora precisasse de dinheiro desesperadamente, a possibilidade de tornar-se membro de uma família real enervava-a e não tinha a intenção de responder às perguntas dos repórteres. Jules sugerira que levasse auriculares com a música no máximo e foi isso que decidiu fazer. Afinal, não poderia responder a perguntas que não tinha ouvido.

A sua aparente antipatia devia ter suscitado muitas críticas nas redes sociais, mas o lado positivo de ter vendido o seu computador portátil para comprar comida ou só usar telemóvel para chamadas de emergência permitia-lhe uma abençoada ignorância. Era melhor não saber o que diziam dela.

E, assim, ali estava, firmemente instalada no país das maravilhas, sem saber por que se fazia passar pela noiva de um homem bonito, caprichoso e talvez membro de uma família real que viajava com dois guarda-costas.

Jules pediu outra meia dúzia de garrafas de Dom Perignon e depois fez um gesto a um dos seus guarda-costas, com o qual desapareceu nas traseiras da discoteca.

A suspeita de ter-se aliado a um homem que tinha tomado o mesmo caminho que o seu pai foi suficiente para que se levantasse da cadeira. Não sabia o que faria se encontrasse Jules a tomar drogas, mas não conseguiria conter a raiva.

Estava no meio da sala quando um alvoroço à porta lhe chamou a atenção. Dois guarda-costas, mais altos e encorpados que os que seguiam Jules, afastaram as pessoas e Maddie ficou sem fôlego ao ver o homem que apareceu atrás deles.

Gelada, imóvel, estava certa de que o fumo artificial e as luzes da discoteca eram responsáveis pela sua imaginação ao fazê-la ver uma criatura tão magnífica assim à sua frente.

Mas não, era de carne e osso. E, a julgar pela autoridade com que se movia, e os guarda-costas que formaram uma barreira semicircular ao seu redor, tinha sangue real.

Havia algo de vagamente familiar nele, embora estivesse certa de nunca ter visto aquela mandíbula quadrada, aquelas maçãs do rosto altas e lábios tão sensuais. Uns olhos como prata derretida brilhavam sob umas sobrancelhas arqueadas enquanto abria caminho entre as pessoas.

Quando se aproximou, Maddie pensou que deveria afastar o olhar, não por vergonha ou incómodo, mas por instinto de sobrevivência. O desconhecido irradiava um estranho poder que a levava a afastar-se da sua órbita antes que ele a engolisse inteira. E, no entanto, não conseguia mover-se. Não conseguia deixar de olhar para o homem que se movia como um felino à caça. Totalmente magnético, hipnótico.

Quando se aproximou dela, o seu aroma, tão poderoso quanto o próprio homem, invadiu-lhe os sentidos. Cheirava a gelo e a terra, algo tão especial, tão único que poderia ter ficado ali a respirar durante uma eternidade.

– Onde está? – perguntou-lhe.

O seu tom altivo provocou-lhe um calafrio. Tinham baixado o volume da música e ouviu a sua voz profunda, com um toque de pronúncia. E soube que quando aquele homem falava não era em vão.

– A quem se refere?

– Ao homem com quem veio.

Jules apareceu então.

– Que fazes aqui? – perguntou-lhe, num tom de raiva, pânico e desafio.

E Maddie deu-se conta então de que o recém-chegado a conhecia, sabia que estava com Jules.

– Que achavas que ia acontecer quando te recusasses a responder aos nossos telefonemas? – atirou-lhe o desconhecido num tom gélido. – Pensavas que não iríamos intervir?

– Tu não…

– Não vou ter esta conversa aqui, enquanto tu estás nesse estado. Vai ao meu hotel amanhã de manhã, e então falaremos.

Cada frase era uma ordem que não admitia desacordo ou desobediência.

Jules endireitou as costas, olhando-o com ar de desafio.

– Pas possible. Tenho planos para amanhã.

O homem fulminou-o com o olhar.

– Segundo o teu assistente, a única coisa que tens para fazer é dormir para curares a ressaca. Espero-te na minha suíte às nove em ponto. Está claro?

Olharam-se durante uns segundos, em silêncio, e por fim Jules assentiu sob o olhar implacável daquele homem. O desconhecido virou a cabeça para ela e olhou-a de alto a baixo, desde o laço solto às sandálias de salto. O seu olhar parecia queimá-la e Maddie queria retroceder, afastar-se, mas havia algo de estranhamente hipnótico nos seus olhos que a mantinha imóvel.

– Viens, mon amour, vamos para casa – disse Jules então, dando-lhe o braço.

Maddie fez uma careta. Nunca a tinha chamado assim, nem nunca a tinha convidado para a sua casa. Em geral, quando saíam de algum clube ou restaurante, e os paparazzi perdiam interesse por eles, um dos seus guarda-costas metia-a num táxi.

– São duas da manhã e já bebeste o suficiente – disse o desconhecido. – Vai dormir. Eu encarregar-me-ei de que a menina Myers chegue a casa sã e salva.

– Achas que não vai para a minha casa – protestou Jules, com um brilho de raiva nos olhos. – Achas que não é minha noiva.

– E é? – perguntou o homem, cravando nela os seus olhos cinzentos.

– Essa não é a questão – respondeu Jules antes que Maddie pudesse dizer uma palavra.

– Ou é ou não é, responde à pergunta.

– Não vivemos juntos – disse Maddie por fim.

Jules apertou os dentes, mas ela não ligou. Se queria dar a impressão de que a sua relação era mais séria deveria ter-lhe dito. Sentia-se incomodada com o subterfúgio e aquilo era demasiado.

– Vai para o hotel, Jules – ordenou-lhe o desconhecido, olhando para a mão que tinha posto no seu braço.

Jules murmurou um palavrão em francês e depois, de repente, envolveu-a nos seus braços e apoderou-se dos seus lábios.

O beijo terminou nuns segundos, mas o surpreendente encontro deixou Maddie atónita e furiosa. Viu Jules sair da discoteca sem olhar para trás e teve de conter o desejo de passar o dorso da mão pela boca para apagar a impressão de tão desagradável carícia.

Sabia que a tinha beijado para chatear o homem dominante que estava à frente dela. E sabia também que, apesar do desejo de apagar todos os sinais do beijo, que essa revelação poderia custar-lhe cara.

– Anda – disse ele abruptamente. Depois, como Jules, deu meia volta.

Maddie abanou a cabeça, perplexa. Não tinha a menor intenção de seguir aquele arrogante e atraente desconhecido. Só queria voltar para o apartamento que partilhava com o seu pai, para a segurança e o incómodo da sua diminuta cama.

O cochichar geral e os telemóveis que apontavam na sua direção, fizeram com que se apressasse. Ainda não sabia o que ocorrera uns minutos antes, mas não pensava ficar ali a suportar os olhares de todos.

Falaria com Jules de manhã, pensou. Por agora, o mais importante era comprovar que o pai aguentaria mais um dia sem sucumbir ao vício que destroçara não só a vida dele, mas também a dela.

Tentando não pensar na sua triste vida, Maddie deu meia volta… e deparou-se com uma parede de músculo.

– Menina? Venha comigo, se faz favor.

Era um dos guarda-costas. O desconhecido tinha deixado para trás um segurança de forma a garantir que obedeceria às suas ordens.

Tinha de tomar uma decisão. Ficar ali e lutar com um monte de idiotas ou sair da discoteca e lutar com um desconhecido que, por alguma razão, a assustava e excitava ao mesmo tempo.

– Santo Deus, viste-o bem? – escutou uma voz feminina.

– É como um deus, lindo de morrer.

– Mas quem é ele?

Maddie deu um passo em frente, convencida de que o guarda-costas era capaz de a carregar ao ombro se hesitasse.

Quando saiu à rua e viu a brilhante limusina estacionada à porta sentiu um calafrio. E não tinha nada a ver com o fresco ar de março.

A luz do interior estava apagada e Maddie só viu umas pernas masculinas e uns sapatos de pele.

– Entre, menina Myers – a ordem era seca e impaciente, mas ela olhou em volta. Estava certa de que poderia sair a correr. – Aconselho-a a não tentar – disse ele então.

Maddie queria desobedecer à ordem com todas as fibras do seu ser, mas sabia que não serviria de nada. Aquele homem emanava poder e autoridade. Além disso, os seus guarda-costas estavam em perfeita condição física.

De maneira que, suspirando, entrou na limusina. Quanto mais depressa terminasse aquilo, mais depressa estaria em casa, disse a si mesma. Tinha de ir trabalhar dentro de poucas horas.

Assim que entrou para o carro, a porta fechou-se atrás dela. Durante uns tensos segundos fingiu interesse pelo luxuoso interior da limusina, mas, quando por fim olhou para ele, o brilho dos seus olhos cinzentos deixou-a a tremer.

– Quem é você e como me conhece? – perguntou-lhe.

– O meu nome é Remirez Alexander Montegova, príncipe de Montegova. E sei quem você é porque uma equipa de investigadores me deu essa informação. E agora, diga-me o que quer em troca de afastar-se do meu irmão.

Uma esposa para o príncipe

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