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Capítulo 2

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– Do seu irmão? – exclamou Maddie.

– Na verdade, meu meio-irmão. Temos o mesmo pai – respondeu ele num tom gélido.

– Mas ele chama-se Jules Montagne e é francês.

Já a pronúncia daquele homem era uma estranha mistura de italiano, francês e espanhol.

O príncipe Remirez encolheu os ombros.

– O Jules nasceu em França e suspeito que o nome que utiliza é uma artimanha para despistar.

– Para despistar quem? – perguntou ela, pensando que tudo começava a fazer sentido.

Parecia maior no interior da limusina; o cabelo mais negro e brilhante, os ombros sob o casaco mais largos e imponentes.

– Os golpistas, os aproveitadores – respondeu por fim, com tom acusador.

Sem dúvida, a acusação ia dirigida contra ela, e Maddie chateou-se consigo mesma porque nem sequer isso parecer acalmar o calor que sentia entre as coxas.

– Ah, estou a perceber.

– Aposto que sim – replicou ele, irónico.

Maddie apoiou-se na porta da limusina, mas afastou-se logo, fazendo uma expressão de dor.

– Para onde me leva? – perguntou, esfregando o antebraço sem se dar conta.

– Para onde disse que ia levá-la, para a sua casa – respondeu ele. – Que tem no braço?

– Nada, estou bem. Sabe onde vivo?

– Sim, sei. E também sei onde trabalha, onde estudou e quem é o seu dentista.

Ela olhou para ele, apreensiva.

– É uma ameaça?

– Não, só digo o que sei. Afinal, a informação é poder, não? Não entrou neste carro em busca de informação?

– Entrei no carro porque você enviou o seu guarda-costas para procurar-me.

– Não lhe tocou – disse ele num tom seco, como dando a entender que não lhe tinha tocado porque ele não tinha ordenado que o fizesse.

– Ah, ena, então devo considerar-me uma afortunada.

Sabia tudo sobre ela, pensou. Saberia também sobre o seu pai, a sua mãe, Greg? Conheceria os vergonhosos segredos que a perseguiam a cada dia?

– Não respondeu à minha pergunta.

– E não penso fazê-lo porque é insultante – disse Maddie. – Acha que pode dar-me dinheiro para que faça o que você quiser? Mas se não o conheço de lado nenhum…

– Não lhe ofereci nada porque você não me disse o seu preço. Desde quando conhece o Jules?

– Não sei por que se importa com isso…

– Conhece-o há uma semana – interrompeu-a ele. – Tem saído com ele quase todas as noites e, no entanto, nunca foi a sua casa.

– Isso não significa nada.

– Pelo contrário, isso leva-me a pensar que me esconde algo. O que é, menina Myers?

– Sexo, drogas e rock and roll, claro – respondeu ela, irónica.

– Eu sei que o Jules não toma drogas.

– Como sabe?

– É uma condição para que o tesoureiro de palácio lhe dê dinheiro. Em troca de uma generosa soma, o Jules faz testes todos os meses.

Embora essa informação tivesse dissipado os seus medos, também era uma revelação perturbadora.

– Faz testes? Está a dizer que lhe pagam para que não se drogue?

O príncipe franziu a testa.

– Entre outras coisas – murmurou.

– Que coisas? – perguntou-lhe ela, pensando que estava na altura de saber algo mais sobre o homem que prometera pagar-lhe para fingir ser sua noiva.

– Coisas que não são assunto seu – respondeu o príncipe. – Mas aviso-a de que se algo disto sai nos jornais vou processá-la por tudo o que tem.

– Sim, pois boa sorte – replicou ela.

– Não acredita em mim?

Maddie suspirou, aliviada, quando a limusina parou à frente da porta da sua casa.

– Não, quero dizer que pode processar-me à vontade, que não irá receber nada.

Assim que pronunciou estas palavras quis retirá-las, mas era demasiado tarde.

– Está na miséria – disse ele.

Maddie sentiu uma onda de vergonha e raiva.

– A minha vida não é assunto seu. E, se não der por garantido que sou uma golpista desejosa de ligar a um jornalista, eu também não pensarei que você é um rico e pomposo imbecil que olha por cima do ombro para os restantes mortais.

– Não tenho provas de que seja uma golpista, mas sei que é uma exibicionista – respondeu ele, com a sua carismática pronúncia.

– Desculpe? Que direito tem…? – Maddie não terminou a frase, sentindo a cara a arder.

«Ai, meu Deus».

O vestido tinha-lhe subido quase até entre as pernas e o top decotado não conseguia esconder tudo o que deveria. O vestuário que Jules tinha decretado para as suas saídas noturnas era uma das muitas coisas que lhe desagradavam naquele acordo, mas uma das coisas que ele tinha exigido.

– Sugiro-lhe que se acalme – aconselhou-lhe ele.

A sua voz profunda e o seu ardente olhar aqueciam lugares que não deveriam aquecer e Maddie puxou o vestido, sabendo que estava a ser julgada e condenada.

– Já terminámos?

– Isso depende.

– Depende do quê?

Ele limitou-se a sorrir, mas o sorriso provocou um fogo no seu ventre.

Maddie estava quase exigir uma resposta quando alguém abriu a porta do carro.

– Vai descobri-lo no momento certo. Boa noite, menina Myers.

Desde que se vira obrigada a abandonar os seus estudos de psicologia infantil e voltar para casa para cuidar do pai, as noites de Maddie estavam repletas de preocupações. Não dormir era algo habitual e o rangido do estrado de quinta categoria sob o colchão era o acompanhamento das suas ansiedades.

No entanto, nessa noite outros pensamentos, outras imagens davam voltas à sua cabeça e o que o impedia de dormir era uma estranha mistura de emoções. Incredulidade por ter conhecido um príncipe a sério, um príncipe lindo que parecia saído do grande ecrã. Fúria porque estava a ameaçá-la. Desejo? Não, não ia pensar nisso.

E ansiedade.

Era evidente que o príncipe tinha um grande poder sobre o seu meio-irmão, apesar da atitude desafiante de Jules. Atrever-se-ia a negar-lhe o que Jules lhe tinha prometido?

Este último pensamento manteve-a acordada até que por fim saltou da cama antes que o despertador tocasse às seis.

O seu pai já se tinha levantado, embora não estivesse vestido, quando chegou à cozinha. Maddie parou à porta, contendo o fôlego enquanto o examinava. Estava raquítico, resultado de uma falha renal causada pelos fortes analgésicos em que se viciara quando a sua próspera imobiliária falira dez anos antes.

Tinha escondido os seus vícios durante anos para manter as aparências e agarrar-se a uma esposa que esperava um verdadeiro estilo de vida e exigia que o seu marido lho proporcionasse.

Uma sobredose tinha posto tudo em claro três anos antes, mostrando o surpreendente dano que Henry Myers fizera ao seu corpo. E também tinha sido o princípio de muitas promessas de deixar as drogas, de muitas recaídas, e da ruína em que se metera.

Por fim, passar de uma vida acomodada a cuidar de um viciado num apartamento diminuto num dos bairros mais pobres de Londres fora demasiado para a sua mãe.

Anos atrás, o seu pai tinha sido um homem rico e admirado pelos seus colegas. Maddie tinha sido uma menina mimada e alegre, com uma mãe mais interessada em comprar-lhe vestidos do que em dar-lhe afeto e um pai carinhoso, embora sempre ocupado.

Mas a sua vida tinha dado uma volta após um telefonema de Priscilla Myers, quando Maddie estava na universidade. Estava farta, tinha-lhe dito. Tinha de voltar para casa para cuidar do seu pai porque ela já não podia mais e não estava disposta a continuar a viver na pobreza. No seu tom não havia vergonha nem sentimento de culpa por abandonar o marido e filha. Partira sem olhar para trás e sem deixar morada.

Maddie tentou conter a angústia enquanto entrava na cozinha.

– Levantaste-te muito cedo – disse-lhe.

O pai encolheu os ombros.

– Não conseguia dormir.

– Queres tomar o pequeno-almoço? Torradas e chá? – perguntou-lhe ela, tentando animar-se.

O pai evitava o seu olhar, sinal de que os demónios do vício estavam novamente a apertá-lo. Sentiu o coração encolhido. Se pudesse, tiraria o dia e ficaria em casa para oferecer-lhe o apoio de que precisava.

– A senhora Jennings virá dentro de um momento – disse-lhe, tentando sorrir. – Ela far-te-á o almoço se tiveres fome.

O seu pai não disse nada e Maddie tentou não se sentir culpada. O desespero tinha-a levado a pagar à vizinha um pequeno salário para cuidar dele umas horas por dia e o seu pai sabia-o.

Depois de o terem tirado da lista de transplantes duas vezes, por culpa das recaídas, recorrera a todo o tipo de tretas para o vigiar, mas os últimos exames revelavam que em poucas semanas poderia ter uma falha renal grave.

Os médicos tinham-lhe dito que não aprovariam a operação a não ser que estivesse limpo durante pelo menos seis meses e, por agora, não tinha recaído, mas precisava de dinheiro para pagar a operação; um dinheiro que dependia de que cumprisse o acordo com Jules Montagne. Correção, Jules Montegova, meio-irmão do príncipe Remirez Alexander Montegova.

A imagem do imponente homem de olhos cinzentos fez com que sentisse um calafrio na espinha.

Horas depois, quando acabou de atender os clientes do pequeno-almoço no café em que trabalhava, Maddie começava a estar realmente preocupada.

Normalmente, Jules enviava-lhe uma mensagem à noite, antes de ir para a cama, dizendo-lhe onde e quando voltariam a ver-se. E, quando a meio do dia continuava sem saber nada dele, a sua preocupação converteu-se em autêntica ansiedade.

Não queria desbaratar preciosos minutos do telemóvel com ele, mas tinha a impressão de que algo se passava. Tanto dependia desse acordo com Jules que não poderia deixar passá-lo, por isso decidiu ligar durante a hora de descanso.

– Santo Deus, é o príncipe Remirez! – exclamou Di, uma colega que estava a limpar as mesas.

Maddie quase soltou a dúzia de garfos que tinha nas mãos.

– O quê?

Di, boquiaberta, apontou para a rua, à porta do café. E ali estava o homem em que tinha pensado durante demasiadas horas à noite, examinando o menu do café com o mesmo desdém que tinha mostrado pelo seu bairro na noite anterior.

O sol de março abriu caminho por entre as nuvens nesse momento, sublinhando o seu altivo rosto. Estava convencida de ter exagerado ao considerá-lo perfeito na noite anterior. Agora, com o sol a acariciar-lhe as espetaculares feições, Maddie não tinha a menor dúvida de que o herdeiro do trono de Montegova era um magnífico exemplar masculino da cabeça aos pés.

– Conhece-lo, Di? – perguntou, afastando o olhar daqueles traços cativantes.

A sua colega arregalou os olhos.

– Por favor! Todas as mulheres do mundo sabem quem ele é. O seu irmão Zak também é lindo. Mas nem imagino o que andará por aqui a fazer. Ai, meu Deus, que ele vai entrar!

Maddie voltou-se, rezando para que Di estivesse enganada. Não estava ali por ela, não podia ser. Na discoteca, sendo a acompanhante do irmão dele, era fácil explicar o interesse fugaz de um príncipe por ela… mas ali, entre talheres de plástico e comida barata, era difícil entender por que o homem mais atraente do mundo a vinha procurar.

Mas por que outra razão iria ali?

Di continuou a dar à língua enquanto Maddie, de costas para a porta, fingia ocupar-se da arrumação dos talheres.

Um momento depois fez-se silêncio no café e ouviu os firmes passos do homem que parecia pensar ser o dono do universo.

– A menina Myers…

«Ai, Deus». Não tinha imaginado o impacto da sua voz. E também não tinha imaginado o efeito no seu pulso.

Tentou dissimular enquanto se virava, mas sem dar-se conta largou os talheres que tinha na mão e o estrondo foi chamativo.

Com o rosto a arder, Maddie inclinou-se para recolhê-los apressadamente. Recusava-se a levantar os olhos, negava-se a reconhecer a existência do homem vestido com um fato que seguramente custava mais do que ela ganhava num ano.

– A menina Myers?

Maddie teve de levantar a cabeça e os seus olhos encontraram-se com os olhos prateados em que cintilava um brilho de troça.

– Sim? – conseguiu dizer, com voz apertada. Era a vergonha que a tornava rouca, não o calor que sentiu na pélvis ao aperceber-se de que os seus olhos estavam à altura de entre as pernas dele.

Ficou imóvel quando o príncipe Remirez lhe ofereceu a mão. Não podia recusar sem o ofender, por isso aceitou. Uma vez tinha lido uma novela em que a heroína descrevia uma sensação semelhante a uma descarga elétrica ao tocar a mão do homem dos seus sonhos. Então, tinha arregalado os olhos, incrédula. Agora enviou uma silenciosa desculpa à criticada personagem. O príncipe Remirez nunca seria o homem dos seus sonhos, mas nunca poderia tocar a mão de um homem sem recordar esse momento.

Ele não parecia nada afetado com aquele toque, mas pareceu dar-se conta da expressão de dor que se lhe escapou quando lhe puxou o braço.

Quando conseguiu voltar a respirar, Maddie olhou furtivamente à sua volta. Como suspeitava, toda a gente estava a observá-los. Incluindo o seu chefe, embora a sua curiosidade começasse a transformar-se em irritação.

– Quer uma mesa… Alteza? – perguntou-lhe, sem saber se aquela era a forma correta de se dirigir a um príncipe. – Pode escolher a que quiser. Eu vou atendê-lo assim que acabe de…

– Não vim cá para comer, menina Myers – interrompeu-a ele, sem se dar ao trabalho de baixar a voz ou dissimular o seu desdém.

– Nesse caso, não sei em que posso ajudá-lo. Estou a trabalhar.

– É no seu próprio interesse arranjar tempo para mim. Agora mesmo.

Quase recusou logo, porque o seu coração enlouquecera e porque aquele homem era demasiado… tudo. Mas Maddie pensou um momento. Algo no seu tom de voz lhe dizia que não devia recusar.

Recordou então que ele ordenara a Jules que fosse à sua suite naquela manhã. Teria Jules lhe contado a verdade sobre a relação deles? Era por isso que estava ali?

Era uma da tarde. Dentro de meia hora o café estaria cheio de clientes.

– Jim, posso fazer a minha pausa agora? Se for preciso, compenso-te mais tarde.

O chef, que também era o dono do café, olhou para o príncipe Remirez tentando dissimular a sua irritação.

– Está bem, pode ser.

Maddie entrou no armazém para trocar de roupa e saiu uns minutos depois com a mala ao ombro. Havia gente à porta, todos dispostos a captar com os telemóveis a imagem do homem mais cativante do mundo.

– Estaremos melhor no carro – disse o príncipe, pondo uma mão na sua cintura para empurrá-la em direção à porta aberta da limusina.

A porta fechou-se e Maddie engoliu em seco, tentando controlar a louca urgência de afundar a cara no seu pescoço e afogar-se no seu aroma, letal e viciante para qualquer mulher.

«Viciante».

A palavra fê-la voltar à realidade.

– Muito bem, Alteza. Tem quinze minutos.

Ele puxou os punhos da camisa e apoiou as elegantes mãos sobre as coxas antes de cravar os olhos nela.

– A sua relação com o Jules terminou – anunciou.

Tentando não se assustar, Maddie tirou o telemóvel do bolso.

– Se não se importa, prefiro que seja ele a dizer-mo pessoalmente.

– Neste exato momento já está num avião para Montegova. Não voltará a vê-lo nem a falar com ele. O seu número foi bloqueado, portanto pode poupar-se a esse trabalho.

Maddie sentiu um calafrio.

– Por que está a fazer isto?

Ele meteu uma mão no bolso do casaco e tirou um cartão cor de vinho com letras douradas.

– Vim para dizer-lhe que estou disposto a ouvir a sua versão da história – disse-lhe, apontando para o cartão. – A minha morada e a o meu número privado estão atrás. Tem vinte e quatro horas para usá-lo. Depois disso, também não poderá pôr-se em contacto comigo.

Uma esposa para o príncipe

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