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Capítulo 1

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– Lamento muito, majestade, mas não há mais informação sobre o paradeiro da sua irmã.

Jaeger al-Hadrid, rei de Santara, assentiu e virou as costas ao assistente, um homem idoso com o cabelo grisalho. Aproximou-se da janela do escritório do palácio e observou a cidade de Aran que se encontrava mais abaixo. Era cedo, amanhecia sobre o Golfo de Ma’an e o sol banhava a capital de Santara com um brilho dourado. O palácio cor-de-rosa pálido era no topo de uma colina com vista para o porto que, apesar de ter sido um porto industrial, fora convertido num centro de turismo: Hotéis, restaurantes, lojas de roupas… Tudo isso desenhado com gosto para combinar o antigo com o novo. Era mais uma das medidas bem-sucedidas de Jaeger para reativar a economia local e mostrar a mudança do seu reinado.

Naquele momento, não era capaz de pensar nisso, visto que a preocupação com o facto de a irmã ter desaparecido ocupava a sua mente.

Onde estaria? E o mais importante, estaria bem?

Há uma semana, quando regressara de Londres depois de uma viagem de negócios, encontrara um bilhete na secretária.

«Querido Jag,

Sei que não vais gostar disto, mas vou ausentar-me durante algumas semanas. Não vou dizer-te onde vou estar porque isto é importante para mim. Por isso, não vou levar o meu telemóvel.

Sei que, se o levasse, descobririas o meu paradeiro mesmo antes de chegar! Não te preocupes, vou ficar bem.

Adoro-te,

Milena xxx»

«Não te preocupes? Não te preocupes?» Depois do que acontecera há três anos, como podia não se preocupar?

Pegou no bilhete que tinham posto num saco de provas e teve de se esforçar para não o amarrotar. Até àquele momento, a única coisa que a equipa de segurança conseguira descobrir fora que a irmã apanhara um voo para Atenas e que desaparecera com um homem. Um homem que tinham identificado como Chad James. Nada mais nada menos do que um empregado com quem Jaeger permitira que a irmã trabalhasse durante os últimos seis meses.

Jag cerrou os dentes e respirou fundo. Chad James era um licenciado brilhante que, no ano anterior, fora selecionado para trabalhar na GeoTech Industries, a sua empresa preferida. A empresa só contratava homens e mulheres inteligentes que conseguiam criar tecnologias de ponta capazes de competir com qualquer coisa que saísse de Silicon Valley. Há uma semana, o jovem licenciado pedira um mês de férias sem salário.

Teria pressionado Milena para que se fosse embora com ele e tivessem uma aventura amorosa? Ou pior ainda, tê-la-ia raptado e deixado um bilhete, tencionando pedir um resgate mais adiante?

Jag blasfemou em silêncio. Desde que, há uma década, se tornara rei, fizera o possível para manter a segurança dos irmãos. Como pudera fracassar? Como pudera enganar-se tanto? Era culpa dele! Sem saber, pusera a irmã em perigo e era o responsável.

E não podia tê-lo feito em pior momento.

Durante a última década, trabalhara sem parar para tirar Santara da confusão política e económica que o pai criara sem querer e, exatamente quando Santara estava prestes a ser reconhecida a nível mundial como um centro nevrálgico de poder, a irmã desaparecera.

A preocupação estava a devorá-lo por dentro.

– Como é possível que, hoje em dia, ninguém consiga descobrir onde está? – perguntou, olhando para Tarik.

O homem idoso, que Jag conhecia desde que era uma criança, abanou a cabeça.

– Não há forma de a seguir, visto que não levou o telemóvel ou o computador – explicou Tarik. – Já vimos as gravações das câmaras de segurança dos portos de Piraeus, Rafina e Lavrio e também das estações de comboio locais, mas até ao momento, não encontrámos nada.

Bateram à porta quando Jag ia começar a falar. Era o assistente pessoal. Aproximou-se de Tarik para lhe murmurar alguma coisa, antes de olhar para Jag com empatia.

O coração de Jaeger acelerou. Oxalá não tivesse acontecido nada à sua irmã.

Tarik abanou a cabeça ao ver o seu ar de preocupação.

Jag respirou fundo. Só o seu círculo mais próximo sabia que Milena desaparecera, portanto, tinham mobilizado um grupo de soldados de elite para que encontrassem Chad James e a princesa, exigindo-lhe que mantivesse a máxima discrição. Jag nem sequer avisara o irmão do desaparecimento de Milena e não tencionava fazê-lo até poder contar-lhe dados concretos. Também não avisara o príncipe de Toran, com quem Milena devia casar-se dentro de um mês.

A última coisa de que precisava era de um escândalo dessa magnitude a uma semana de celebrar um dos acontecimentos internacionais mais importantes da história de Santara. Durante quatro dias, líderes de todo o mundo reunir-se-iam em Santara para tratar de diversos assuntos relacionados com o meio ambiente, com a saúde mundial e com o défice bancário e comercial. Seria o acontecimento mais importante desde o renascimento de Santara e a sua equipa trabalhara sem parar para se certificar de que se celebrava sem nenhum problema.

– Conta-me! – ordenou Jag, ao ver que o assistente empalidecera e se mostrava hesitante.

– Acabaram de me informar que a irmã mais velha do Chad James aterrou em Santara há uma hora.

Jag franziu o sobrolho.

– A irmã a quem enviou uma mensagem de correio eletrónico no dia anterior a ter desaparecido?

– Acho que sim. Enviaram-lhe um relatório sobre ela para o correio eletrónico.

Jag sentou-se à frente do computador e tocou no rato para ativar o ecrã. Rapidamente, encontrou a mensagem e abriu o arquivo anexo.

«Nome: Regan James

Idade: Vinte e cinco anos»

A altura, o peso, o número da segurança social… Estava tudo ali.

Tinha os olhos e o cabelo castanhos e trabalhava como professora numa escola de renome. Segundo o relatório, vivia sozinha em Brooklyn e era voluntária numa instituição para crianças órfãs. Não tinha animais de estimação nem antecedentes penais. Os pais tinham falecido.

Um dado que Jag já sabia pelo relatório que tinham feito sobre o irmão. Ela também tinha uma página de Internet de fotografia. Jaeger leu a página seguinte. Nela, aparecia a fotografia de Regan James. Era uma fotografia de meio corpo e fora tirada numa praia. Tinha o cabelo apanhado num rabo de cavalo e tinha a mão levantada para ajeitar as madeixas que ficavam à frente do seu rosto ovalado, por causa da brisa. Mostrava um sorriso amplo e tinha uma máquina fotográfica pendurada ao pescoço. Era a fotografia de uma mulher bela que parecia incapaz de matar uma mosca. E o seu cabelo não era castanho. Pelo menos, não na fotografia. Era avermelhado. Os seus olhos também não eram castanhos, eram… Eram… Jag franziu o sobrolho e decidiu não pensar nisso. Eram castanhos, tal como o relatório dizia.

– Onde está agora?

– Reservou um quarto no Santara International. É tudo o que sabemos.

Jag olhou para a fotografia do ecrã. O irmão daquela mulher levara a irmã dele para algum lugar e ele tencionava mexer Céu e Terra para encontrá-los e fazer com que Milena regressasse a casa.

Só esperava que Chad James tivesse um bom exército para se defender quando lhe pusesse as mãos em cima.

– Continuem! – ordenou Jag. – Quero saber onde vai, com quem fala, o que come e quando vai à casa de banho. Se comprar um pacote de pastilha elásticas, quero sabê-lo. Está claro?

– Como a água, majestade.

Assim que entrou no shisha bar, Regan soube que devia virar-se e ir-se embora. Passara todo o dia a percorrer a cidade de Aran à procura de informação sobre Chad, mas a única coisa que descobrira fora que o calor existia, o calor do deserto.

Apesar disso, sabia que se teria apaixonado pela cidade antiga e murada se tivesse ido lá por outro motivo senão para descobrir o que acontecera ao irmão. Infelizmente, quanto mais o procurava na cidade, mais aumentava a sua preocupação com ele. E era por isso que não podia seguir o seu instinto e sair do bar pequeno que Chad costumava frequentar.

O local estava decorado com mesas e cadeiras de madeira que, normalmente, se enchiam com homens a jogar às cartas ou a fumar. E, às vezes, ambas as coisas. Ouvia-se música árabe e o ambiente estava perfumado com um certo cheiro a fruta. Ajeitou o lenço que pusera para cobrir a cabeça e os ombros, em deferência aos clientes locais, e dirigiu-se para o balcão de madeira junto do qual se encontravam vários bancos vermelhos.

A verdade era que aquele lugar era quase o seu último recurso. Durante todo o dia, encontrara diversos obstáculos: Ou a sua própria sensação de incapacidade ao tentar percorrer as ruas arrevesadas de Aran ou a atitude fria e distante das pessoas locais que não tinha nada a ver com a aparência próxima e amigável que se mostrava na publicidade do país. Sobretudo, a julgar pela atitude do senhorio de Chad, que olhara para ela com desdém antes de a informar que não tencionava abrir o apartamento de Chad sem a sua permissão. Regan acabara de sair da GeoTech Industries, onde ninguém conseguira responder às suas perguntas, e não estava de humor para receber outra negativa. Sem hesitar, ameaçou denunciar aquele homem e, quando lhe disse que ia chamar a polícia, indicou-lhe que não se incomodasse e que ela própria iria à esquadra.

Infelizmente, o agente disse-lhe que Chad não estava desaparecido há tempo suficiente para abrir uma investigação e que devia regressar no dia seguinte. Em Santara, tudo funcionava muito mais devagar do que ela estava habituada. Recordava que essa era uma das coisas de que Chad gostava mais no país, mas era difícil apreciá-la quando estava desesperada.

Cansada por causa do jet lag e da preocupação, Regan quase começou a chorar à frente do agente. Então, recordou que Chad mencionara o shisha bar, portanto, tomou um duche rápido e dirigiu-se para lá depois de perguntar a um empregado do hotel como chegar. Normalmente, quando saía em Nova Iorque, ia com Penny. E, naquele momento, desejava que ela a tivesse acompanhado, pois não se sentia muito confortável a entrar sozinha num bar desconhecido. Sentia-se como se todos estivessem a olhar para ela, como passara todo o dia a sentir.

O mais certo era que estivesse a exagerar a causa do receio que sentia por pensar que podia ter acontecido algo terrível ao irmão. Há uma semana, recebera uma mensagem de correio eletrónico a avisá-la de que não devia tentar contactá-lo durante alguns dias porque não estaria localizável.

Para um homem que tinha sempre o telemóvel com ele e que, com frequência, brincava com o facto de ser o seu melhor amigo, aquele dado era suficiente para que ela ficasse alerta. Sem dúvida, uma reação à consequência de quando tivera de se encarregar dele quando tinha apenas catorze anos. Mesmo assim, teria conseguido não se preocupar se Penny, a amiga e colega de trabalho, não lhe tivesse contado histórias terríveis a respeito de viajantes e trabalhadores estrangeiros que desapareciam para sempre em países longínquos.

Durante dois dias, Regan tentara contactar Chad, mas, como não o localizara, Penny convencera-a a ir procurá-lo.

– Vai lá e certifica-te de que está tudo bem – insistira Penny. – Só quando o fizeres é que conseguirás cuidar bem das crianças aqui. Além disso, desde que te conheço, nunca tiveste umas férias decentes. Se correr tudo bem, terás uma boa aventura, se correr tudo mal… – Deixou a frase por acabar. – Tem cuidado – acrescentou depois, deixando Regan um pouco inquieta.

Enquanto olhava em redor do bar como se soubesse muito bem o que estava a fazer, a figura de um homem que estava sentado no canto oposto chamou a sua atenção. Vestia-se de preto com um kufiyya na cabeça. As costas largas pareciam relaxadas e tinha as pernas esticadas por baixo da mesa. Não sabia porque reparara nele, mas também não conseguia evitar a sensação de que era perigoso.

Tremeu e tentou não ser paranoica. Mesmo assim, procurou o frasco de gás pimenta dentro da mala, tocou nele e, com um sorriso amplo, dirigiu-se para o balcão. Atrás do balcão, havia um homem grande a limpar um copo.

– O que vai beber? – perguntou.

– Não quero nada – respondeu Regan, com educação. – Estou à procura de um homem.

O empregado arqueou as sobrancelhas e disse:

– Há muitos homens por aqui.

– Oh, não! – Ao perceber o que aquilo parecia, Regan rebuscou no seu bolso e tirou uma fotografia de Chad. – Estou à procura deste homem.

O empregado olhou para a fotografia.

– Nunca o vi.

– Tem a certeza? – Ela franziu o sobrolho. – Sei que vem cá. Ele disse-me.

– Tenho a certeza – confirmou ele. Era evidente que não gostava que o questionassem. Agarrou noutro copo e começou a limpá-lo com um pano que parecia bastante sujo. – Quer um narguilé? Tenho de morango, de amora e de pêssego. – Isso explicava o cheiro a fruta que sentira ao entrar.

– Não, não quero um narguilé – replicou ela. O que precisava era de um pouco de orientação. Alguém que pudesse ajudá-la a percorrer as ruas e a ampliar a busca de Chad.

Tencionara alugar um carro enquanto estava lá, mas, em Santara, conduzia-se do lado contrário ao que estava habituada e, além disso, Regan não tinha muito bom sentido de orientação. Chad costumava dizer-lhe que podia dar uma volta em círculo e que não saberia reconhecer onde era o norte. Pensar nisso fez com que sentisse um nó na garganta. A ideia de não voltar a ver o irmão era insuportável. Fora toda a sua vida desde que os pais tinham morrido.

– Como queira… – disse o empregado, antes de se afastar para atender um cliente vestido com a roupa local. A maior parte dos clientes usava roupa árabe. Todos, exceto o homem do canto. Olhou para ele de esguelha e descobriu que continuava a observá-la. Não se mexera.

Decidida a ignorá-lo, endireitou as costas e tentou não pensar no cansaço. Fora lá para encontrar Chad e não ia desistir por causa de um empregado ou de um homem vestido de preto. Sentindo-se melhor, agarrou na fotografia de Chad com força e começou a ir de mesa em mesa, perguntando se alguém o conhecia ou se o vira recentemente. É claro, ninguém sabia de nada. O que esperava?

Estava cada vez mais desanimada e só quando parou junto de uma mesa grande cheia de homens, que jogavam bacará, é que se apercebeu de que se calaram ao vê-la chegar.

Sorriu com nervosismo e perguntou se algum deles conhecia Chad. Um deles sorriu e olhou para ela de cima a baixo. Regan sentiu vontade de se tapar, mas sabia que a roupa que usava era adequada. Umas calças de algodão, uma blusa branca e um lenço a cobrir o cabelo castanho.

Um dos homens recostou-se na cadeira e fez um comentário na língua de Santara. Os outros homens riram-se e Regan soube que, fosse o que fosse, não era agradável. Talvez estivesse noutra parte do mundo, mas certas coisas eram universais.

– Muito bem, obrigada pela vossa ajuda – agradeceu ela e olhou fixamente para eles, antes de ir para outra mesa.

Infelizmente, era a mesa dele.

Regan olhou para a mesa e para o narguilé que havia por cima dela. Depois, reparou no homem que tinha os braços cruzados por cima da barriga e no seu pescoço bronzeado e no queixo proeminente. Regan humedeceu os lábios com a ponta da língua e reparou no seu nariz aquilino e no olhar penetrante dos seus olhos azuis. E ficou paralisada como se estivesse no ponto de mira de um predador. De repente, apercebeu-se de que nunca encontrara um homem de aspeto tão perigoso. O coração acelerava com força, como se estivesse prestes a afundar-se em areias movediças.

«Foge!», pensou, mas o seu corpo não obedeceu. Não era apenas um homem de aspeto perigoso, como perigosamente atraente. Assim que pensou nisso, uma onda de calor invadiu-a por dentro.

Regan pestanejou e, antes de conseguir reagir, ele levantou-se e bloqueou-lhe a possível escapatória.

– Sente-se. – Forçou um sorriso. – Se é que sabe o que é bom para si.

O seu tom de voz era grave e poderoso e fez com que ela obedecesse, embora soubesse que era uma estupidez.

De tão perto, percebeu que ele era mais imponente do que parecia. E masculino. Parecia suficientemente forte para a agarrar com uma mão e levá-la para onde quisesse. Assustada, Regan percebeu que talvez a ideia não a aterrorizasse. De repente, tremeu.

Aquilo era uma loucura.

Pensar assim era uma loucura. Não costumava reagir daquela forma com os homens. E muito menos com aqueles que pareciam ter infringido a lei sem consequências. Em qualquer caso, o que podia acontecer num bar cheio de clientes? Clientes que continuavam a olhar para ela com curiosidade.

Impulsionada pelo desejo de se esconder daqueles olhares curiosos, obedeceu e sentou-se, agarrando a mala no colo a modo de escudo. Ele olhou para a mala como se tivesse compreendido a sua função e esboçou um pequeno sorriso.

Ao sentir-se exposta ao seu olhar, conteve-se para não se levantar e ir-se embora. Ainda que também não tivesse muitas alternativas. Não sabia para onde ir quando saísse daquele bar, exceto para o quarto de hotel e talvez de volta a Brooklyn. Derrotada. E nunca o faria.

– Gosta do que vê?

A sua voz grave era como a carícia do veludo na pele e ela apercebeu-se de que estivera a olhar fixamente para a boca dele. Assustada, apercebeu-se de que a sensação estranha que a invadia era algum tipo de atração sexual que não recordava ter sentido antes.

Corada por causa dos seus pensamentos, olhou para ele e disse:

– Fala inglês.

– Evidentemente.

O seu tom fê-la sentir-se mais estúpida do que já se sentia, portanto, fez uma careta.

– Queria dizer que fala bem.

Ele arqueou uma sobrancelha com condescendência. Regan tinha a sensação de que não gostava dela, mas como era possível se nunca o conhecera antes?

– O que está a fazer aqui, mulher americana? – perguntou, com desdém.

Não, não gostava dela. Nada mesmo.

– Como sabe que sou americana? Também é?

Esboçou um sorriso.

– Pareço-lhe americano?

Não, parecia um homem capaz de fazer com que uma freira sentisse a tentação de quebrar os seus votos. E ele sabia.

– Não. Lamento muito.

– O que está a fazer aqui?

Ela respirou fundo. Não sabia se devia mostrar-lhe a fotografia de Chad ou não.

– Estou… Estou à procura de alguém.

– De alguém?

– Do meu irmão. – Mostrou-lhe a fotografia e certificou-se de que os seus dedos não se tocavam quando ele a agarrou.

Olhou para ela nos olhos durante mais um segundo do que o necessário, como se soubesse o que ela estava a pensar.

– Alguma vez o viu?

– Talvez. Porque está à procura?

Regan olhou para ele, espantada. De repente, sentiu a esperança de ter encontrado alguém que talvez pudesse ajudá-la.

– Viu-o? Onde? Quando?

– Repito, porque está à procura?

– Porque não sei onde está. Sabe?

– Quando foi a última vez que soube alguma coisa dele?

O seu tom era cortante. Autoritário. E, de repente, sentiu-se como se fosse ele que procurava Chad em vez dela.

– Porque não responde às minhas perguntas? – perguntou ela.

– Porque não responde às minhas?

– Eu respondi. – Mexeu-se na cadeira, inquieta. – De onde conhece o meu irmão?

– Não disse que o conheço.

– Disse… Disse… – Ela abanou a cabeça. O que dissera exatamente? Tocou na cabeça, que lhe começara a doer. – Olhe, se não o conhece, diga-me. Tive um dia muito longo e estou muito cansada. Sei que não se importa, mas se souber onde está, agradeceria que me dissesse.

– Não sei onde está.

Havia algo no seu tom de voz de que não gostava, mas não conseguia saber o que era.

– Está bem…

– Quando foi a última vez que soube alguma coisa dele? – perguntou, pela segunda vez.

Regan fez uma pausa antes de responder. Não conhecia aquele homem. E ele também não a conhecia. Então, porque estava a fazer tantas perguntas?

– Porque quer saber isso? Já disse que não sabe onde está.

Ele encolheu os ombros.

– Eu não. Isso não significa que não vá ajudá-la.

Os seus olhares encontraram-se e Regan sentiu-se encurralada.

– Ajudar?

– É claro. Parece uma mulher que está prestes a ficar sem opções.

Como sabia? Aparentava estar tão desesperada como se sentia?

Ele sorriu, mas não havia carinho no seu sorriso.

– Vai negá-lo?

Regan franziu o sobrolho. Desejava negá-lo, mas não podia fazê-lo. E precisava realmente da ajuda de uma pessoa dali que conhecesse a zona. Alguém que talvez até conhecesse Chad. Embora esse homem já tivesse admitido que não o conhecia e, realmente, a fizesse sentir-se incomodada. Assim que o vira, parecera-lhe perigoso e o facto de lhe parecer muito atraente não servira para mudar a sua opinião. Embora ele nem sequer tivesse feito um gesto ameaçador.

– Obrigada na mesma, mas estou bem.

– Bem? – Ele deixou escapar uma gargalhada. – É uma mulher estrangeira num bar. Está sozinha, à noite, e numa cidade que não conhece. Como diz que está bem?

Ela fez uma careta. Não pensara noutra coisa senão em encontrar Chad, mas realmente não podia ser assim tão vulnerável, pois não? Tinha o seu frasco de gás pimenta.

– Sou de Nova Iorque. Sei o que faço.

– A sério? E qual é o seu plano? Vai de bar em bar mostrar a fotografia a qualquer pessoa com quem se cruzar? Isso é bom se, para além de procurar o seu irmão, quiser procurar um problema.

– Não estou à procura de problemas – contradisse ela.

Ele semicerrou os olhos e o preto das suas pestanas fez com que os seus olhos parecessem de um azul mais intenso. Era injusto que ela tivesse os olhos e o cabelo castanhos quando aquele homem era uma das criaturas mais belas que alguma vez vira.

– Olhe para fora. Esteve no meu país durante menos de vinte e quatro horas e não sabe nada a respeito dele. Devia alegrar-se por estar a oferecer-lhe ajuda.

Regan semicerrou os olhos com desconfiança.

– Como sabe há quanto tempo estou em Santara?

– Se a tivesse deixado sozinha um pouco mais, teria aprendido a não entrar num bar desta parte da cidade sem um acompanhante que consiga enfrentar cinquenta homens.

Regan olhou à volta e viu que o local estava mais cheio do que antes.

– Gostaria que me devolvesse a fotografia, por favor – pediu e levantou-se para se ir embora.

– Onde vai?

– Já lhe roubei tempo suficiente – disse ela. – E está a fazer-se tarde.

– Portanto, vai-se embora sem mais nem menos?

– Sim – afirmou ela, tentando mostrar valentia. – Tem algum problema com isso?

– Não sei, consegue enfrentar cinquenta homens?

Regan tremeu ao ouvir o seu tom de voz. Os seus olhares encontraram-se e a tensão sexual interpôs-se entre ambos. Mais uma vez, ele não se mexeu, mas ela tinha a sensação de que era mais ameaçador do que os cinquenta homens de que falava.

– Teremos de descobrir, não é?

Mais uma vez, os clientes do bar olharam para ela com curiosidade e Regan pôs a mão na mala para tocar no frasco de gás, antes de se virar e de se dirigir para a porta do bar como se a sua vida dependesse disso.

Ao ver que saíra de lá sem incidentes, suspirou e mexeu a mão para chamar um táxi. Surpreendentemente, o veículo parou junto da calçada.

– Olá? Está livre? – perguntou ao motorista.

– Sim, menina.

– Ainda bem. – Sentou-se no banco traseiro e disse o nome do hotel ao motorista. Quando o carro arrancou, ela percebeu que o homem vestido de preto não lhe devolvera a fotografia de Chad.

Regan olhou pela janela traseira, esperando que ele estivesse na calçada a observá-la a afastar-se, mas, é claro, não estava. Era uma tolice. A fotografia não importava. No dia seguinte, voltaria a imprimi-la.

A bela cativa

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