Читать книгу Paixão e engano - Miranda Lee - Страница 6
Capítulo 1
ОглавлениеSidney, quinze meses mais tarde…
Scott, de pé junto da janela atrás da secretária, observou a vista. Embora a vista não tivesse nada de especial. O edifício em que se encontrava o escritório central da McAllister Mine estava situado a sul do centro de Sidney, não na parte mais pitoresca da cidade, junto do porto. De onde estava, não se via o mar nem a Casa da Ópera, nem os bonitos parques e jardins. Ali, só se viam arranha-céus anódinos e ruas cheias de trânsito.
Embora nada conseguisse acalmá-lo naquela segunda-feira de manhã. Nunca se sentira assim. Chorara a morte do pai, mas a morte era mais fácil de aguentar do que a traição. Continuava sem conseguir acreditar que Sarah lhe fizera aquilo. Só estavam casados há um ano. No dia anterior fora o primeiro aniversário do seu casamento. E embora ele nunca tivesse confiado plenamente numa mulher, Sarah parecera-lhe muito diferente das mulheres responsáveis pelo seu cinismo. Sim, muito diferente. Por isso, era incrível que o tivesse enganado.
Recebera o texto com as fotografias na sexta-feira à tarde, pouco depois do fim da reunião que tivera com um multimilionário de Singapura que se encontrava na Costa de Ouro e que podia ajudá-lo a resolver os problemas de entrada e saída de dinheiro. Por sorte, estivera sozinho nesse momento e ninguém presenciara o seu estado de choque inicial. Mas, a pouco e pouco, reconhecera a validade das provas. As fotografias tinham incriminado Sarah claramente. Todas elas tinham a data e a hora em que tinham sido tiradas. Na tarde desse mesmo dia, na sexta-feira anterior.
E todas elas vinham acompanhadas de uma mensagem: «Pareceu-me que poderias gostar de saber o que a tua esposa faz quando estás ausente». Assinado: «Um amigo.»
Não achava que fosse um amigo. Era um inimigo no mundo dos negócios ou uma colega invejosa de Sarah. A esposa costumava despertar a inveja de outras mulheres… e os ciúmes do marido. O que não significava que Sarah fosse inocente. Não lhe custara muito reconhecer que a esposa tinha relações com esse homem bonito e bem vestido que aparecia nas fotografias.
Era a primeira vez que Scott sentia esses ciúmes sombrios e essa fúria que o tinham levado a deixar a secretária, Cleo, na Costa de Ouro para concluir a negociação em seu nome. Como desculpa, dissera que Sarah estava indisposta e apanhara um avião para ir para casa e enfrentar a esposa adúltera.
Mas não a enfrentara imediatamente. Porquê? Por sentimento de culpa? Por vergonha?
A sua intenção fora falar com Sarah imediatamente. Ainda albergara a esperança de que houvesse uma explicação lógica a respeito de semelhante pesadelo. Contudo, ao entrar em sua casa, Sarah precipitara-se para os seus braços, contente por ter voltado tão cedo. Beijara-o apaixonadamente, com mais ardor do que de costume. Embora a sua vida sexual tivesse sido mais do que satisfatória até àquele momento, Sarah não era agressiva no que se referia ao sexo. Esperava sempre que ele desse o primeiro passo, que tivesse o controlo. No entanto, naquela noite, não fora assim. Naquela noite, Sarah mostrara-se atrevida, acariciara-o intimamente e beijara-lhe o sexo.
«Culpada», decidiu, ao pensar atentamente nisso.
Contra toda a razão, quando Sarah adormecera depois de uma maratona sexual cansativa, fora ele que se sentira culpado. Uma loucura. De que podia sentir-se culpado? Sarah era a culpada. Sarah era a adúltera, não ele.
Sarah mentira-lhe descaradamente ao contar-lhe o que fizera naquele dia: Fora comprar-lhe um presente maravilhoso de aniversário à tarde. No entanto, ele sabia perfeitamente o que Sarah estivera a fazer na sexta-feira à tarde.
Levantara-se da cama, fora para o escritório, começara a beber e, no fim, adormecera no sofá, completamente ébrio.
Fora lá que Sarah o encontrara na manhã seguinte. E fora lá que tinham tido o confronto terrível…
Fora horrível. Ainda se surpreendia com as acusações que Sarah lhe fizera. No fim, Sarah fora-se embora. E não voltara.
No domingo à noite, Scott vira-se obrigado a aceitar que talvez Sarah não regressasse.
O que devia tê-lo agradado, mas era exatamente o contrário. Apesar de ser um homem que não tolerava ter uma esposa em quem não podia confiar, havia a possibilidade de não ser o que parecia e de ter cometido um erro grave.
Afastou os pensamentos ao ouvir alguém a bater à porta.
– Sim? – perguntou Scott, afastando-se da janela.
Cleo entrou discretamente e lançou-lhe um olhar extremamente significativo. A sua expressão mostrava preocupação. Contara a Cleo o que acontecera. Cleo era a sua secretária e não lhe escapava nada. Depois de três anos a trabalhar juntos, Cleo também era sua amiga e mostrara-se ainda mais surpreendida do que ele. Na verdade, Cleo declarara que não acreditava que Sarah tivesse sido infiel:
– Não é possível que a Sarah te tenha enganado, Scott. Essa rapariga adora-te!
Sim, fora o que ele pensara, mas, evidentemente, enganara-se. Teria mostrado a Cleo as fotografias que incriminavam Sarah, mas já não as tinha. Entregara o telemóvel em questão ao chefe de segurança da sua empresa no sábado à tarde para que investigasse o assunto.
Mostrar as fotografias da sua esposa com outro homem a Harvey fora humilhante. No entanto, não tivera outro remédio senão descobrir a autenticidade das fotografias e a identidade de quem as enviara. Além disso, queria saber o possível a respeito do homem que aparecia ao lado da esposa.
O homem que aparecia nas fotografias era bonito, embora não tão forte como ele, mas bastante magro. Elegante e muito bem vestido.
– O Harvey acabou de ligar para dizer que já sobe – informou Cleo, afastando-o dos seus pensamentos sombrios. – Queres que vos faça um café?
– Por enquanto, não. Obrigado, Cleo. Ah e também quero agradecer-te por me substituíres na sexta-feira. Não sei o que faria sem ti.
Cleo encolheu os ombros.
– Receio que não tenha servido de muito. O investidor deixou muito claro que não queria fazer acordos com uma mulher, sobretudo, com uma com menos de trinta anos. No entanto, se a minha opinião te servir de alguma coisa, acho que não devias aceitar o seu dinheiro. Não gosto nada desse tipo, tem um olhar muito esquivo.
Scott sorriu ironicamente. Cleo tinha o costume de julgar as pessoas pelo seu olhar. E não costumava enganar-se. Várias vezes, os conselhos de Cleo tinham-lhe evitado erros custosos. Cleo gostava muito de Sarah, considerava-a uma rapariga encantadora. Supunha que não pudesse acertar-se sempre.
– Nesse caso, vou apagá-lo da lista de possíveis sócios – declarou Scott.
– Sim, será o melhor. No entanto, tens de encontrar outro e com a maior rapidez possível, Scott. Caso contrário, vais ter de fechar a refinaria de níquel e talvez a mina também. Não podem continuar a funcionar com perdas durante muito mais tempo.
– Sim, eu sei – respondeu ele. – Porque não começas a investigar possíveis investidores? Talvez alguém da Austrália… Ah, aqui está o Harvey. Olá, Harvey, entra.
Cleo deixou-os e Harvey entrou no escritório com uma expressão impenetrável. Harvey tinha cinquenta e muitos anos, era um homem alto e corpulento e completamente careca. Tinha um rosto atraente, lábios firmes e olhos azuis frios. Fora polícia durante vinte anos e investigador privado durante outros dez anos, antes de entrar na sua empresa para ocupar o lugar de supervisor do departamento de segurança. O seu físico impressionante tornava-o uma escolta excelente, tarefa que desempenhara várias vezes para o proteger. Ser um magnata da indústria mineira tinha os seus perigos, sobretudo, quando tinha de fechar alguma mina, mesmo que fosse apenas temporariamente.
Harvey, que usava umas calças de ganga e um casaco de couro preto, também era um perito em informática, algo de valor incalculável nos tempos que corriam.
Scott fechou a porta do escritório e indicou a Harvey que se sentasse numa das duas poltronas situadas à frente da sua secretária.
– O que descobriste? – perguntou Scott, sem preâmbulos.
Os olhos de Harvey quase mostraram compaixão e Scott teve de conter uma náusea.
– A julgar pela tua expressão, receio que não sejam boas notícias.
– Não.
– Vá lá, conta-me.
Harvey inclinou-se para a frente e deixou o telemóvel de Scott em cima da secretária, antes de voltar a recostar-se.
– Mas vamos por partes – disse Harvey. – O telemóvel que foi usado para te enviar essas fotografias não pôde ser rastreado.
– Já o suspeitava – disse Scott. – As fotografias são verdadeiras?
– Sim. Não foram manipuladas.
– E a data e a hora em que foram tiradas?
– Também verdadeiras. Confirmei-o ao examinar a filmagem da câmara de segurança do hotel. O estabelecimento tem câmaras por todo o lado.
– Que hotel é esse?
– O Regency.
Scott sentiu um nó no estômago. O Regency era um hotel de cinco estrelas que era muito perto do local de trabalho de Sarah.
– O que mais descobriste? – perguntou Scott, resignado a continuar a receber más notícias.
– Falei com um dos empregados do hotel que estava a trabalhar na sexta-feira à tarde. Lembra-se da Sarah.
Naturalmente, pensou Scott. Só um cego não repararia nela. Sarah era uma rapariga deslumbrante de cabelo loiro, olhos azuis grandes e uma boca irresistível. Apesar de ser magra, tinha curvas e vestia roupa muito feminina.
Scott nunca esqueceria o momento em que vira Sarah pela primeira vez. Fora há exatamente quinze meses. Nos escritórios da Goldstein e Evans, o escritório de advogados de Sidney que costumava usar para assinar os seus contratos. Apaixonara-se por ela imediatamente, fora amor à primeira vista. Uma semana mais tarde, durante o seu terceiro encontro para jantar, Sarah confessara-lhe que sentia o mesmo.
E Scott acreditara. Três meses depois, casaram-se. E agora, um ano mais tarde, parecia que Sarah ia tornar-se a sua ex-esposa.
Scott pigarreou.
– O que é que o empregado te disse?
– Disse-me que pareciam ter uma relação íntima. Sentaram-se num canto do estabelecimento, não beberam muito e limitaram-se a falar. Quinze minutos depois, levantaram-se e foram-se embora.
– Entendido – disse Scott, num tom cortante.
Tanto Harvey como ele sabiam para onde Sarah e o amigo tinham ido. As fotografias demonstravam-no. O homem fora ao balcão da receção e reservara um quarto. Depois, ambos tinham apanhado o elevador, tinham ido para o quarto e tinham saído quarenta e cinco minutos mais tarde.
– No entanto, o empregado disse que nunca a tinha visto lá – acrescentou Harvey.
Mas havia muitos outros hotéis em Sidney.
– No entanto, conhecia o tipo – continuou Harvey. – Tinha-o visto lá com outra mulher em várias ocasiões. Uma morena.
– Descobriste quem é?
– Sim. Chama-se Philip Leighton. Trinta e tal anos. Advogado.
– E trabalha na Goldstein e Evans, engano-me?
– Não, não te enganas. O seu trabalho concentra-se em assuntos de família e especializou-se em divórcios. Fundamentalmente, encarrega-se dos divórcios de pessoas ricas. Também procede de uma família com dinheiro. O pai dele é senador. Segundo os rumores, o senhor Leighton quer envolver-se na política. Não é casado e não tem namorada estável. Segundo um colega de trabalho com que falei esta manhã, é um playboy.
Scott, repentinamente, sentiu uns ciúmes enormes. Não suportava que o tratassem como um tolo e Sarah fizera-o. No sábado de manhã, a indignação que Sarah mostrara fora apenas uma arma para esconder a culpa. A verdade era que Sarah se deixara seduzir por um descarado.
«Talvez, se não tivesses feito tantas viagens de negócios, isto não tivesse acontecido…»
Não, nada disso, o comportamento de Sarah não tinha desculpa!
– Mais alguma coisa que tenhas a dizer a respeito da minha esposa e do tal Leighton?
– Só que não foi ter com ele depois de sair da tua casa no sábado. O Leighton tem uma casa na zona residencial da Costa Norte de Sidney, a Sarah não foi vista por lá.
– Talvez tenha ido para casa do Cory – murmurou Scott. – É o melhor amigo dela, conheceram-se na universidade.
Scott não deu mais explicações, sobretudo, porque não sabia muito em relação à amizade da sua esposa com o jovem arquiteto. De repente, percebeu que, na verdade, não sabia grande coisa sobre a esposa. Sarah contara-lhe que a mãe já não era viva e que não tinha contacto com o pai ou com o irmão, mais velho do que ela. Os pais tinham-se divorciado, não amigavelmente, e o irmão ficara do lado do pai, apesar das infidelidades dele.
Scott não tentara indagar mais no passado de Sarah. Também não lhe perguntara em relação à natureza da sua amizade com Cory, principalmente porque Cory não o preocupava. Na verdade, gostava de Cory e vice-versa.
«Suponho que, agora, depois de a Sarah lhe ter falado da sexta-feira à noite, já não goste de mim», pensou Scott. Porque de certeza que Sarah lhe teria contado. Tudo. Quando Cory e Sarah estavam juntos, pareciam dois adolescentes.
De repente, Scott desejou ficar sozinho para fazer algumas pesquisas sozinho. Portanto, levantou-se, deu a volta à secretária e ofereceu a mão a Harvey.
– Obrigado, Harvey. Agradeço-te por tudo o que fizeste.
– De nada, chefe – replicou Harvey, apertando a mão que Scott lhe estendia. – Lamento não ter podido dar-te melhores notícias.
– A vida não é fácil, Harvey.
Nem o amor. Porque ainda amava a esposa infiel. E não sabia porquê!
Assim que Harvey se foi embora, Scott agarrou no telemóvel pessoal e marcou o número do emprego de Sarah. Quando lhe disseram que Sarah não fora trabalhar, alegando estar doente, não soube o que pensar. Sarah nunca faltava ao trabalho. Adorava o que fazia, sobretudo, agora que se encarregava, de forma permanente, dos casos de pessoas sem meios para pagar um advogado. Encarregara-se de vários casos, entre eles, um sobre uma demissão injusta e outros sobre discriminação de género. Ganhara a maioria deles. Não, não era próprio de Sarah faltar ao trabalho.
Scott franziu o sobrolho. Sarah devia estar muito incomodada, sem dúvida. Mas… por causa dele ou por causa do seu próprio comportamento? Talvez só tivesse sido infiel uma vez. Talvez se arrependesse do que fizera.
Subitamente, outra ideia apareceu na sua mente. Algo horrível. E se Sarah fugira com o tal Leighton?
O coração pareceu querer sair-lhe do peito quando fez a pergunta seguinte à rececionista:
– E o senhor Leighton? Está no escritório?
– Sim, está, sim. Deseja falar com ele?
– Não, agora não, obrigado – respondeu Scott, com firmeza e um grande alívio.
Mas falaria com ele. Não tinha dúvidas de que fora Leighton que dera o primeiro passo. Sarah, pela sua personalidade, não tinha tendência para a infidelidade.
Ou sim?
Estava claro que não conhecia bem a esposa.
Abanando a cabeça, ligou para o telemóvel de Sarah. Surpreendeu-o ver que não estava desligado, embora estivesse ocupado. Com quem estaria a falar? Com Cory? Com o descarado do seu amante? E onde estava? O mais certo era que continuasse em casa de Cory.
Consciente de que não podia continuar a pensar nisso sem fazer nada, Scott tomou uma decisão. Tinha de enfrentar Sarah mais uma vez. Agarrou no casaco, vestiu-o, saiu do escritório e aproximou-se da secretária de Cleo, que olhava para o ecrã do computador com o sobrolho franzido.
– Tenho de sair, Cleo. Cancela todos os compromissos que tenho esta tarde e tira o resto do dia. Mereces.
Cleo levantou os olhos e suspirou.
– Não vais fazer nenhuma tolice, pois não, Scott?
– Não, hoje, não. Fiz a maior tolice da minha vida há um ano. – Quando se casara com uma rapariga que não conhecia bem, uma rapariga fora do comum.
Porque, quando conhecera Sarah, ela era virgem.