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Capítulo 2

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– Tens a certeza de que não queres que te leve, querida? – perguntou Cory. – Vais precisar que alguém te ajude a levar as coisas. Posso tirar o resto do dia, isso não é um problema. Temos um horário flexível.

– Obrigada, Cory, mas prefiro fazê-lo sozinha.

– De certeza que o Brutus não estará lá?

Sarah pestanejou ao ouvir a alcunha que Cory dera a Scott, embora não porque não fosse apropriada. O que Scott fizera na sexta-feira à noite em nome da paixão fora uma brutalidade. Sentiu um nó no estômago ao recordar que ela não só o permitira, como também desfrutara. Sim, isso era o pior. Adorara que Scott a devorasse e encorajara-a com súplicas e rogos.

Na manhã seguinte, ao descobrir que o comportamento de Scott se devia aos ciúmes e à ansiedade de vingança, a sua surpresa transformara-se rapidamente em fúria.

– Não é possível que acredites que o Scott não foi trabalhar – disse Sarah, com amargura. – Acredita em mim, nem uma bomba atómica o manteria afastado do seu escritório adorado numa segunda-feira de manhã.

– A julgar pelo que me contaste, no sábado, foi como se tivesse rebentado uma bomba atómica.

Sarah não costumava zangar-se. Mas quando se zangava…

– Não consegues imaginar como estava furiosa!

– Não tenho de imaginar, querida, vi-o quando apareceste em minha casa. Bom, estavas furiosa até começares a chorar. Todo o fim de semana a chorar. Achei que ia precisar de um colete salva-vidas.

– Por favor, Cory, não tentes fazer-me rir. Esse homem partiu-me o coração. O que fez foi imperdoável.

– Porquê? Porque se comportou como muitos homens se comportariam na sua situação? Quando descobri que o Felix estava a enganar-me, apetecia-me mais estar com ele do que nunca.

– Mas não estavas apaixonado pelo Felix e eu não enganei o Scott!

– Mas parecia…

– Eu sei. Eu sei – concedeu Sarah, com um gemido.

– Acho que devias ligar ao Scott e explicar porque estavas nesse hotel com o teu amigo advogado. Ao fim e ao cabo, tu própria me disseste que essas fotografias eram bastante incriminatórias.

– E depois? O Scott pede-me desculpas e não aconteceu nada? Não, nem pensar, Cory.

– Ah, desculpa, já me esquecia de que és escorpião. Os escorpiões não perdoam nem esquecem. Na verdade, paraste para pensar em quem enviou essas fotografias ao Scott?

Sarah suspirou.

– Passei toda a manhã a pensar nisso.

– Achas que pode ter sido alguém do teu emprego?

– Não sei, não consigo pensar em ninguém.

– Evidentemente, tem de ser alguém que te odeia. Ou talvez seja mais provável que se trate de alguém que odeia o Scott.

– Talvez seja a mesma pessoa que contou ao Phil esses rumores sobre o Scott e a Cleo – disse Sarah.

– Sim, deve ser isso – respondeu Cory, animado. – Desde o começo, disse-te que era uma armadilha. Caso contrário, como é que essa pessoa, homem ou mulher, podia estar presente no momento e no lugar adequado para tirar as fotografias? Demasiada coincidência. Acho que foi alguém com quem trabalhas, Sarah, alguém que vos viu a sair juntos para almoçar e vos seguiu.

– Mas… Quem?

– Não sei. A única coisa que sei é que, se permitires que isto arruíne o teu casamento, permitiste que essa pessoa que conseguisse o que queria.

– Foi o Scott que destruiu o nosso casamento – declarou Sarah. – A questão é que o Scott não me ama e não confia em mim. Recusou-se a ouvir-me. Para ele, fui apenas um enfeite e uma mulher com quem podia ir para a cama das poucas vezes que estava em casa. Coisa que mal aconteceu durante os últimos seis meses. E eu que achava que tinha vindo na sexta-feira para celebrar o aniversário do nosso casamento comigo! Que iludida!

– Estou a ver que continuas zangada com ele.

– Claro. Enfim, tenho de ir. O pessoal da limpeza já deve ter-se ido embora e quero fazer tudo e ir-me embora antes de o Brutus voltar para casa.

– Agora, também lhe chamas Brutus – comentou Cory, ironicamente.

– Sim, acho que a alcunha lhe fica bem.

– Suponho que saibas que o ódio é a outra face do amor, não é?

– Sim, claro que sei. Bom, Cory, vou indo. Até esta noite.

– Levo comida chinesa para o jantar – replicou Cory. – E uma garrafa de um bom vinho.

– Estupendo. Obrigada.

Os olhos encheram-se de lágrimas. Cory era um grande amigo. E muito terno. Não sabia o que teria sido dela no fim de semana se não fosse por Cory.

Sarah não tinha muitos amigos. Ao entrar na universidade, perdera o contacto com as amigas da escola. O mesmo acontecera quando a pobre mãe morrera no fim do seu primeiro ano na universidade. Incapaz de estudar, tirara um ano sabático para viajar por todo o mundo. Ao regressar a Sidney dois anos depois, também perdera o contacto com os antigos colegas de curso. Uma depressão durante o seu primeiro ano sabático impedira-a de manter o contacto com os amigos. Mal recordava a sua viagem pela Europa. Era tudo impreciso.

Começara a sentir-se melhor ao chegar à Ásia, talvez pela simpatia e amabilidade do povo. As crianças de lá eram adoráveis. Viajar pela Índia, pela Tailândia e pelo Vietname fora a cura para a sua depressão e também diminuíra a sua hostilidade para com os homens.

Ao voltar a Sidney, reatara os seus estudos e até se atrevera a pensar na possibilidade de dar uma oportunidade ao sexo oposto, embora ainda sem intenção de ir para a cama com um homem sem mais nem menos. Por sorte, durante o primeiro semestre na faculdade ao regressar a Sidney, conhecera Cory.

Sarah sorriu ao recordar que, ao princípio, pensara na possibilidade de Cory ser o homem da sua vida. Cory não só era divertido, como também era extremamente bonito: Loiro, olhos azuis e musculado. E embora não a tivesse enlouquecido sensualmente, nesses tempos, não sabia o que era estar louca por um homem e parecera-lhe atraente. Depois de saírem juntos e de irem a festas durante algum tempo, Cory confessara-lhe que era homossexual. Aparentemente, nem sequer Cory o reconhecera até há pouco tempo, por medo de que os pais o rejeitassem. Mas os pais, felizmente, tinham-no aceitado como algo natural.

Sarah resignara-a a permanecer virgem durante o resto da sua vida. Porque não estava disposta a ir para a cama com um homem que não amasse e em quem não confiasse. O homem com quem fizesse amor tinha de ser como Cory, mas heterossexual: Atraente, inteligente e carinhoso. Nem sequer Phil, que era extraordinariamente bonito e extremamente inteligente, a atraíra. Além disso, com trinta e cinco anos, parecera-lhe demasiado velho.

Contudo, quando Scott McAllister aparecera na sua vida, todas as suas ideias sobre o amor mudaram. Para começar, Scott parecia mais velho do que Phil, embora fossem da mesma idade. Scott não era bonito no sentido clássico da palavra e também não tinha estudos universitários. Na verdade, só tinha estudos elementares, já que passara a adolescência a acompanhar o pai nas suas viagens de uma mina para outra.

Apesar de ser obviamente inteligente e de ter obtido o sucesso sozinho, Scott tinha mais dinheiro do que maneiras e não desperdiçava as palavras nem o tempo. Com um corpo plenamente em forma, Scott McAllister era um homem muito viril e pouco subtil.

Ainda recordava o dia em que o conhecera. O olhar cinzento gélido de Scott percorrera-a dos pés à cabeça com um desejo evidente. O seu corpo parecia ter ardido. E, a partir desse momento, entregara-se a ele. Cinco minutos depois de a conhecer, Scott convidara-a para jantar e ela dissera que sim. Depois de sair três vezes com ele, sucumbira.

É claro, Scott ficara perplexo ao descobrir que era virgem. Mas não o desagradara. De facto, confessara que era a primeira vez que ia para a cama com uma virgem.

Sarah não demorara a tornar-se viciada nas carícias apaixonadas e ternas de Scott. Adorara sentir-se segura entre esses braços fortes, amada. Sentir-se amada era tão importante como o prazer do sexo com Scott.

Mas, na sexta-feira anterior, tudo mudara.

– Não penses mais nessa noite se não queres enlouquecer, Sarah – repreendeu-se.

Abanando a cabeça, Sarah foi buscar a mala e as chaves do carro. Dez minutos depois, no carro, a caminho da ponte do porto, fez mentalmente uma lista do que tinha de levar da casa: Roupa, cosméticos, artigos de higiene pessoal… Ia levar o que precisaria com urgência e deixaria para mais tarde o resto dos seus pertences.

Mas… E se só dispusesse desse dia? E se Scott mudasse a fechadura da porta? Podia ser um comportamento próprio de Scott, um homem que não suportava que o enganassem e muito menos que o traíssem. Por muito que lhe custasse admiti-lo, naquelas fotografias, Phil e ela pareciam amantes.

Sarah seguiu pela saída em direção a McMahon’s Point. A sua resolução estava a dissipar-se ao ver o edifício alto em que se encontrava o apartamento que fora o seu lar durante o último ano. Um lar feliz, apesar das ausências constantes de Scott. Compreendia as dificuldades que Scott enfrentava naqueles últimos meses. A indústria mineira passava por dificuldades e o preço dos metais estava mais barato do que nunca. No entanto, incomodava-a que estivesse sempre a viajar, apesar de os seus regressos serem sempre extraordinários. A sexta-feira anterior fora excecional e, no sábado de manhã, acordara com um sorriso enorme no rosto.

É claro, ignorara o motivo verdadeiro do apetite sexual insaciável de Scott na noite de sexta-feira. Também se alegrara por ter adotado um papel mais ativo na relação sexual. Contente e satisfeita, vestira-se e fora procurar o marido no sábado de manhã, pensando que tinham o fim de semana todo pela frente…

Sarah deixou escapar um gemido ao recordar o confronto que tivera lugar ao encontrar Scott.

– Descarado! – exclamou, zangada, enquanto descia a rampa da cave em que era o estacionamento do edifício.

Apesar de ter dito a Cory que não duvidava que Scott estivesse no escritório, sentiu um grande alívio ao ver que o carro dele não estava no estacionamento. Estacionou o seu, vermelho, e dirigiu-se para os elevadores para subir para o apartamento luxuoso que Scott comprara uma semana antes do seu casamento. Claramente, com intenção de a impressionar. E conseguira.

Não era nas águas-furtadas, mas o apartamento por baixo das águas-furtadas, enorme e com terraços à volta que gozavam de umas vistas fantásticas. As janelas da sala de estar principal davam para a ponte do porto e, a certa distância, via-se a Casa da Ópera. O quarto principal gozava da mesa vista.

O apartamento contava com dois quartos de convidados, para além do principal, cada um com uma casa de banho privada. Também tinha duas salas de estar, uma sala com cinema, outra casa de banho, um ginásio e uma cozinha suficientemente grande para permitir que os empregados da empresa de cateringue, que ela costumava contratar quando dava festas em casa, se mexessem à vontade. Ultimamente, dava festas uma vez por mês, no mínimo.

Quando Sarah entrou no apartamento, parou no vestíbulo amplo de chão de mármore e recordou como se sentira impressionada com aquela casa da primeira vez que entrara. Apesar de provir de uma família de classe média, o tamanho e o luxo dos espaços daquela propriedade tinham-na espantado.

Sarah dirigiu-se por um corredor alcatifado para ir ao quarto principal. Ao entrar no que fora a divisão de que mais gostava na casa, evitou olhar para a cama. Não queria recordar o sábado de manhã, com os lençóis manchados de óleo e o lenço azul na cabeceira. No entanto, não pôde evitar recordar, com uns arrepios de prazer, o momento em que Scott lhe atara os pulsos com o lenço e como, depois de lhe cobrir o corpo com óleo, demonstrara o seu conhecimento sobre os sonhos eróticos de algumas mulheres.

«Para de pensar na sexta-feira passada!», ordenou-se. «Agarra nas tuas coisas e vai-te embora!»

Sarah apressou os passos na alcatifa espessa e creme e entrou no closet, de onde tirou as duas malas grandes que tinham levado ao Havai na sua viagem de lua de mel.

No Havai, tinham sido felizes, muito felizes. Talvez tivesse sido apenas uma miragem, uma ilusão. Talvez os rumores sobre Scott e Cleo fossem verdadeiros.

Não, não podia ser. Recusava-se a acreditar. Não acreditara quando lhe tinham contado e não ia acreditar agora.

«Mas, se não acreditavas, porque foste a correr para a casa de banho do hotel e vomitaste depois de o investigador privado te ter dito que não tinha descoberto nenhuma prova de que o Scott e a Cleo estavam a ter relações?»

A verdade era que acreditara nos rumores. Costumava acreditar que a maioria dos maridos enganava as esposas e que estas costumavam perdoar. Não sabia o que teria feito se o investigador privado lhe tivesse apresentado provas de que Scott e Cleo tinham relações. Tê-lo-ia enfrentado? Tê-lo-ia deixado? Ia deixar Scott agora?

Evidentemente, o marido achava que lhe fora infiel e, quase com toda a certeza, quereria o divórcio. Scott via tudo a preto e branco, o que era uma das suas virtudes e um dos seus defeitos. Embora admirasse a sua retidão, honestidade e integridade, para ele, não havia ambiguidades. Scott não perdoava facilmente se achava que o tinham traído e estava convencido de que o enganara.

Sarah decidiu abandonar aqueles pensamentos inquietantes e, ao virar-se para tirar os vestidos dos cabides, viu-se refletida no espelho da parede do fundo do closet. Que horror! Tinha um aspeto terrível! O seu cabelo estava um desastre e, de repente, sentiu a necessidade urgente de o lavar e de usar o suavizante magnífico que tinha. Além disso, não havia perigo de Scott aparecer em casa e de a surpreender nua no duche.

No entanto, despachou-se, queria sair dali o mais depressa possível.

Paixão e engano

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