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Capítulo 2

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Bella demorou mais de cinco minutos a parar de tremer. Embora tivesse desligado a chamada, ainda tinha o coração acelerado e a boca seca. Nunca tivera um ataque de pânico assim, mas sabia tudo sobre eles. Conhecia uma colega que sofria ataques de pânico antes das estreias. Sabia quais eram os sintomas, mas nunca tivera um.

Era verdade que estivera um pouco nervosa antes de ligar a Sergio, mas isso era natural. Ainda tinha remorsos pela forma como a mãe tratara o pai dele. Se fosse sincera consigo própria, achava que não tinha o direito de lhe pedir ajuda depois do que a mãe fizera. Se alguém tinha a culpa do ataque de pânico, era a mãe!

Não sabia como a mãe tratara o pai de Sergio até ao ano anterior. Uma noite, enquanto dava conselhos à filha sobre os homens e o casamento, Dolores reconhecera que fingira uma gravidez para caçar o empresário italiano, que nunca o amara realmente e que só quisera garantir o dinheiro de que precisava para transformar a filha numa estrela. A declaração que fizera de que pedira o divórcio porque o marido já não a amava fora uma mentira.

Ficara tão espantada com a confissão da mãe que se sentira obrigada a procurar o homem a que chamara «papá» e a desculpar-se. Fora difícil encontrá-lo porque não se dizia nada sobre ele na Internet, mas acabara por conseguir, graças a um detetive privado, e descobrira que Alberto estava internado, à beira da morte, num hospital de Milão. O remorso fizera com que deixasse tudo e apanhasse um voo para Milão para lhe dizer que sempre o recordaria com muito carinho e que lhe agradecia por tudo o que fizera por ela.

No entanto, já morrera quando chegara ao hospital. Fora por isso que fora ao funeral, disfarçada, claro. Não quisera causar nenhum problema à família, sobretudo, a Sergio. Sabia que, se os fotógrafos a reconhecessem, o funeral poderia transformar-se num circo.

Fora um dos dias mais difíceis da sua vida. Sentara-se sozinha naquela catedral imensa e fria e presenciara em silêncio a dor evidente de Sergio enquanto se questionava se a mãe seria culpada, indiretamente, da morte do pai dele. Dolores enervara Alberto Morelli durante os oito anos que o seu casamento desgraçado durara.

No entanto, ele não mostrara essa infelicidade quando estava com ela. Sempre fora muito bom com ela, como Sergio, que fora como um irmão mais velho maravilhoso que estava sempre disposto a ouvi-la a cantar e a vê-la dançar. Se olhasse para trás, percebia que fora incrivelmente paciente com ela, uma virtude que não costumava associar-se com rapazes adolescentes. Sergio só tinha quinze anos quando o pai se casara com a mãe dela e ela era uma menina bastante tola e muito precoce de dez anos. Era um menino reservado, mas muito inteligente e espantosamente dotado no desporto. Costumavam jogar basquetebol no jardim quando ele queria descansar um pouco dos estudos.

Sentira muitas saudades quando o tinham mandado para a universidade em Roma porque o pai não queria que esquecesse as raízes italianas. Ela tinha treze anos e era muito magra. Era a única rapariga da turma que não chegara à puberdade. Depois, só vira Sergio três vezes por ano: Na Páscoa e no Natal, quando voltava a Sidney para passar uns dias, e durante duas semanas em julho, quando toda a família passava o verão na villa familiar do lago de Como.

Aquelas férias tinham-na entusiasmado! Ambos se divertiam, tomavam banhos e remavam, mas, em geral, só vagueavam.

Embora se lembrasse de que, da última vez, Sergio passara quase todo o tempo no seu quarto para se preparar para os exames finais. No ano seguinte, os pais já se tinham separado, Sergio já fora para Oxford para continuar a estudar e ela já estava a caminho da Broadway e do estrelato. A sua relação, que lhe parecera estreita, deixara de existir de repente. Sentira falta do irmão mais velho, mas depressa se encontrara perdida na sua profissão. No fim, olhos que não veem, coração que não sente.

Os seus caminhos só se encontraram uma vez, na festa posterior a um concerto de beneficência em Londres. Não o reconhecera ao princípio. Estava impressionante, já não era um rapaz desajeitado, mas os seus olhos continuavam a ser os mesmos. Era difícil esquecer uns olhos como aqueles, tão escuros e bonitos. Sentira-se desassossegada pela dureza do seu olhar e não demorara a perceber que continuava zangado com a mãe dela. Supôs que com ela também. A sua cortesia era gélida.

No entanto, os seus olhos não tinham nada de gélidos no funeral do pai, só refletiam tristeza e amabilidade, algo que ela já achava que não merecia. Felizmente, pusera uns óculos escuros porque derramara lágrimas de infelicidade e remorso. Sabia que devia ter entrado em contacto com o pai e com ele depois do divórcio, que devia ter mostrado arrependimento, gratidão e decência. No entanto, encontrava-se cativada pelo salto repentino para a fama, por estar prestes a satisfazer a ambição fanática da mãe… e dela própria. Poderia desculpar-se dizendo que só tinha dezoito anos, mas isso não era uma desculpa.

Sentira-se espantada quando Sergio lhe escrevera o seu número de telemóvel privado num cartão de visita e lhe dissera para lhe ligar se alguma vez precisasse de alguma coisa. A generosidade inesperada quase fizera com que perdesse o pouco de domínio sobre si própria que lhe restava e, quando uma ruiva muito atraente se aproximara e o agarrara pelo braço, guardara o cartão na mala, despedira-se apressadamente e fora-se embora antes de começar a chorar ruidosamente à frente de todos.

Nesse momento, as lágrimas ameaçavam aparecer outra vez. Eram lágrimas de desespero e tristeza. Na noite anterior, não dormira bem. Há séculos que não dormia bem. Não podia continuar assim. Tinha de se afastar de todas essas pessoas que ela sabia, no fundo, que não queriam o melhor para ela, que só queriam o que podiam tirar dela e que era por isso que a pressionavam para que aceitasse mais trabalho. Reunira uma lista muito comprida de parasitas durante os últimos anos. Nesse momento, tinha um representante, um agente em Hollywood, uma secretária pessoal, uma publicitária e uma estilista. Além disso, naturalmente, a mãe estava sempre presente.

Todos queriam a sua parte, todos queriam uma parte dela.

Não tinha tempo para si, não tinha tempo para a sua vida pessoal, só tinha tempo para trabalhar.

Ultimamente, começara a sentir-se como se estivesse numa montanha russa que nunca parava. Nunca parava e tinha de parar. Tinha de parar nesse momento! Tinha de parar de ser uma covarde e tinha de ligar a Sergio.

Endireitou-se, não fez caso ao coração acelerado, agarrou no telefone e voltou a marcar o número.

Sergio estava na mesa com a melhor vista do rio, a beber um gole de uísque com gelo e a fazer tudo o que podia para relaxar quando o telemóvel tocou.

O coração acelerou enquanto olhava para o ecrã. Uma onda de alívio embargou-o quando viu que não era Alex para lhe dizer que iam atrasar-se um pouco mais. Era uma chamada anónima e isso queria dizer que Bella estava a ligar-lhe outra vez, graças a Deus. Receara não conseguir dormir se não ligasse e fazer algo absurdo, como contratar um detetive privado para que descobrisse o seu número de telefone, a morada ou alguma forma de entrar em contacto com ela.

Teria sido penoso e tinha de recuperar o domínio sobre si próprio.

No entanto, já não importava. Agarrou o telemóvel com força e levou-o à orelha, mas a sua voz era tranquila quando falou.

– Olá, Bella.

– Ena! Como soubeste que era eu?

– Porque é uma chamada anónima e és única que o faz.

– Ah…

– O que se passou antes? Porque desligaste?

– Lamento muito, mas a minha mãe apareceu de repente e não queria que soubesse que estava a ligar-te.

– A tua mãe vive contigo? – perguntou Sergio.

– Não! Vivo sozinha em Nova Iorque, mas vim há uns dias para Sidney para passar umas férias. Sou uma parva. Liguei-te em mau momento? Não podes falar? Onde estás? Ouço barulho de fundo…

Um grupo de homens bastante barulhento passara ao lado da sua mesa.

– Estou num restaurante e estou à espera que cheguem uns amigos, mas atrasaram-se. O trânsito de Londres não favorece a pontualidade.

– O de Nova Iorque também não. Então, continuas a viver em Londres?

– Comprei um apartamento cá.

Sergio começou a questionar-se onde ela queria chegar e a perceber que fora ridículo por se ter preocupado, mas era típico dele quando se tratava de Bella. As suas reações eram desmesuradas e careciam de lógica.

– Como posso ajudar, Bella? – perguntou Sergio.

– Questionava-me se… Ainda tens a villa do lago de Como? Não a vendeste depois de o teu pai falecer, pois não?

– Não, nunca venderia a villa. Está há gerações na família Morelli. Porque perguntas?

– Eu… Preciso de desligar, Sergio, em algum lugar aprazível e isolado. Esperava arrendar-ta durante algumas semanas, talvez durante um mês.

– Entendo.

Custou-lhe dominar a irritação. Se queria arrendar uma maldita villa no lago de Como, havia muitas no mercado. Porque lhe pedia a dele? Por um lado, quis mandá-la para o inferno, mas, por outro, pelo lado que ainda a desejava, não conseguia resistir à possibilidade de voltar a vê-la em carne e osso, nessa carne impressionante…

– Para quando a quererias? – perguntou ele, com despreocupação.

– Já – respondeu ela. – Pelo menos, assim que conseguir chegar. Como já te disse, estou em Sidney.

Em casa da mãe, pensou ele, com raiva, nessa casa que o pai dera generosamente à caça-fortunas como parte do acordo de divórcio.

– Então, suponho que a Dolores não te acompanhe.

– Não! Quero ir sozinha.

Isso perturbou-o, porque imaginara que fosse com o seu último acompanhante. De repente, não pôde conter um arrebatamento de emoção sombria. Nunca perseguira Bella, apesar de a desejar obsessivamente. Podia tê-lo feito quando crescera, sobretudo, quando os seus bares especializados em vinhos tinham tido um sucesso imenso e o dinheiro começara a chegar. Além disso, já não era como uma irmã, já não lhe estava vedada. Então, porque não o fizera?

Por muitos motivos. Sobretudo, por orgulho. Ao fim e ao cabo, era italiano e não teria aceitado bem a rejeição. Ir atrás de uma mulher, de qualquer mulher, não era o seu estilo. Ir atrás da filha de uma caça-fortunas que partira o coração do seu pai parecera-lhe uma traição absoluta e o cúmulo da estupidez. Além disso, tal pai, tal filho, não era? Se Bella tivesse correspondido, nunca teria sabido se os seus sentimentos eram verdadeiros ou falsos, sobretudo, depois de ser imensamente rico.

No entanto, aquilo era diferente. Ficar em dívida com ele tornava-o diferente.

– Lamento muito, Bella. – Sergio saboreou esse momento de poder sobre ela. – Não posso arrendar-te a villa. Vou estar lá em julho.

– Ah…

Ela transmitiu uma desilusão e uma desolação enormes com essa palavra.

– Mas podes ficar comigo de graça – convidou ele. – Se não te importares de ter um pouco de companhia, claro.

– Só… tu? – perguntou ela. – Quero dizer… não haverá mais ninguém contigo?

– Só eu e a Maria durante o dia.

– A mesma Maria que cozinhava e limpava antes?

– A mesma, mas já não vive na casa. Casou-se e vive numa vila próxima com o marido, o Carlo. Ele toma conta do jardim quando é preciso e da piscina no verão. A Maria vai quando há alguém, que já não é com tanta frequência desde que o meu pai faleceu.

– Ainda me sinto mal por causa do teu pai – replicou ela.

Sergio cerrou os dentes porque não queria que se desculpasse outra vez.

Viu que Alex e Jeremy entravam no restaurante e tomou uma decisão.

– Lamento ter de desligar, Bella, mas os meus amigos acabaram de chegar. Se me deres o teu número de telefone, prometo-te que te ligo mais tarde e que faremos algum plano mais concreto. – Calculou que, à meia-noite de Londres, ainda seria de manhã na Austrália. – Enquanto isso, reserva um voo para Milão e apanha-o, mas não digas à tua mãe para onde vais. Melhor dizendo, não digas a ninguém. Não quero que um helicóptero cheio de paparazzi sobrevoe a villa para tentar tirar fotografias tuas com o teu último acompanhante. Está bem?

– O que…? Sim, sim, entendo o que queres dizer. Gostam de tirar conclusões precipitadas, não é? E mais ainda de mim. Prometo-te que não direi a ninguém. Não consegues imaginar como te agradeço, Sergio. Sempre…

– Tenho de desligar, Bella – interrompeu ele. – O teu número, por favor…

Deu-lhe o número e ele desligou quando Alex e Jeremy chegavam à mesa. Desligou o telemóvel e guardou-o no bolso.

Cumprimentou-os com uma expressão de tranquilidade na cara. Sergio nunca expressava as suas emoções e foi uma vantagem nesse momento, dado o que pensava. Ainda não conseguia acreditar. Bella ia estar em sua casa e em dívida com ele!

Nunca se considerara desumano ou vingativo, mas, aparentemente, era mais do que imaginara.

– Lamento o atraso – desculpou-se Alex, enquanto se sentava.

Sergio viu que Alex usava umas calças de ganga azuis e uma camisa azul-clara, enquanto Jeremy continuava de fato. Não era o fato azul-marinho às riscas que usava antes, mas um cinzento de três peças com uma camisa castanha e uma gravata malva.

– Estavas a marcar um encontro para amanhã à noite? – perguntou Jeremy.

– O Sergio não tem encontros – interveio Alex. – Só… dorme em casa de… amigas.

– Que miserável – comentou Jeremy, com carinho. – O mínimo que podes fazer é convidar uma rapariga para jantar antes de ires para a cama com ela. Com quem estás… na cama ultimamente?

– Isso não é assunto vosso. – Sergio decidiu não lhes contar nada sobre a chamada de Bella porque não queria que o dissuadissem do que decidira fazer. – Vamos pedir, estou cheio de fome.

Essa era outra das coisas de que Sergio gostavam nesse restaurante, a velocidade com que serviam as bebidas e a comida. Abriram-lhes uma garrafa de champanhe e trouxeram-lhes uns pratos com pão de ervas para ensopar um pouco o álcool.

Teria sido uma noite muito boa se não estivesse a pensar noutra coisa, em como ia seduzir Bella, que, naturalmente, era o que tencionava fazer. Embora, se fosse sincero, não tivesse muita experiência na arte da sedução. Os homens altos, morenos e bonitos não tinham de recorrer, normalmente, à sedução descarada e ainda menos os ricos. No entanto, era possível que ser alto, moreno e bonito não bastasse para Bella. Também poderia dizer-lhe que era multimilionário. As mulheres como Bella nunca tinham dinheiro suficiente, mas isso não seria tão gratificante como se fizessem amor por ele, não pelo seu dinheiro.

Pensou nisso durante as entradas e, no prato principal, chegou à conclusão de que, a julgar pelo seu historial, gostava dos rapazes maus, algo que ele não era, pelo menos, por enquanto.

Durante a sobremesa, decidiu que podia ser mau porque, já que tinha a oportunidade, faria tudo para levar Bella para a cama pelo menos uma vez. Não, não só uma vez. Uma vez não bastaria para sufocar a labareda que já sentia. Precisaria de um mês de relações sexuais para se cansar dela e não só de relações sexuais. Queria possuí-la de todas as formas possíveis, queria conhecer todo o desenfreio lascivo que teria praticado com os outros… amigos.

Quando esse mês passasse, quando estivesse satisfeito, livrar-se-ia dela e começaria a procurar uma rapariga boa para se casar.

Comeu a última trinca de crème caramel e decidiu que era um bom plano, embora também fosse possível que «bom» não fosse a palavra adequada.

– Estás estranho, Sergio – comentou Jeremy, quando chegaram os cafés. – Sei que o Alex e eu falamos mais dos três, mas costumas participar mais na conversa. Tens algum problema de saias?

Sergio conteve a gargalhada. O efeito da chamada de Bella não podia chamar-se «um problema de saias». No entanto, já traçara um plano e sentia-se mais tranquilo. Só faltava levar esse plano a cabo e fazer com que ela deixasse de ser um problema, uma obsessão.

Até então, decidiu que trataria do assunto de que quisera tratar antes da chamada de Bella. Ao fim e ao cabo, era possível que não voltassem a ver-se até dentro de muito tempo e, como sócios do Clube dos Solteiros, achava que tinham o direito de saber quais eram as suas intenções.

– Em certo sentido – respondeu ele, enigmaticamente. – O sexo oposto entra no que vou dizer-vos.

– Ena, isso parece infeliz – comentou Alex.

– Não é infeliz, mas é sério. Decidi que vou casar-me.

Alex engasgou-se e Jeremy limitou-se a sorrir com ironia.

– Não me surpreende.

– Mas eu estou surpreendido! – exclamou Alex. – Achava que tinhas rejeitado o casamento para sempre depois do divórcio do teu pai.

– Isso são águas passadas. Agora, que o meu pai faleceu e vendemos as cotas da franquia, sinto a necessidade de ter uma vida mais aprazível. Quero constituir uma família, Alex.

– Parece-me bem – concedeu Alex.

– Quem é a sortuda? – perguntou Jeremy.

– Sim, pode saber-se quem é? – insistiu Alex.

– Não tenho ideia – respondeu Sergio. – Ainda não a conheci. Estava a pensar numa italiana, em alguém cuja família viva perto de Milão, já que trabalharei lá a partir de agora.

Alex abanou a cabeça e Jeremy assentiu como se estivesse de acordo.

– Boa ideia, Sergio. As italianas são apaixonadas e magníficas… reprodutoras, porque imagino que queiras casar-te por isso, para ter filhos.

– Sim – reconheceu ele. – Quero mais de um filho e isso significa que a minha esposa terá de ser jovem. Também terá de ser bonita, naturalmente e, preferivelmente, de uma família rica. Vou pedir à condessa para celebrar algumas festas na sua villa. Ela conhece a flor e nata da zona.

A condessa era a sua vizinha mais próxima no lago de Como, uma viúva de cinquenta e tal anos que fora boa amiga do pai e dele. No entanto, naturalmente, não lhe pediria para fazer nada até Bella se ir embora.

– E o amor? – perguntou Alex. – Não podes casar-te com alguém por quem não estejas loucamente apaixonado.

– Por favor, Alex – interveio Jeremy. – Estar loucamente apaixonado é o pior motivo para o casamento. Garanto-te que sei. O meu pai, a minha mãe e os meus irmãos estão sempre a apaixonar-se loucamente e nunca dura. O Sergio está no bom caminho. Casa-te com alguma preciosidade que te adore, que só queira ser mãe e esposa, e serás feliz. Sempre suspeitei que eras um potencial marido.

– Porquê?

– Pela forma como me censuravas quando… me divertia um pouco – respondeu Jeremy.

– Continuas a divertir-te muito – observou Alex.

– É verdade. Custa renunciar a uma atividade tão divertida e para a qual, a risco de parecer arrogante, tenho um talento especial. Ambos me criticaram porque não me importava de partir corações, mas posso dizer sinceramente que nenhuma das minhas ex-namoradas tem má opinião de mim. Quando acabo com elas, faço-o sempre com delicadeza e com muita empatia pelos seus sentimentos.

– Que bonito! – exclamou Alex. – O que fazemos com este diabo, Sergio? Damos-lhe a medalha de ouro do amante do ano?

– É possível. O seu recorde indica que tem jeito para esse assunto. Como o fazes, Jeremy? Quero dizer, imagina que conheces uma rapariga de que gostas muitíssimo, mas que ela não gosta de ti, o que fazes para a levar para a cama? Qual é a tua melhor artimanha e a mais sedutora? Naturalmente, é um caso hipotético – indicou Sergio. – É possível que nunca te tenha acontecido.

– A verdade é que não me lembro.

– Mas o que farias se te acontecesse? – insistiu Sergio.

Jeremy bebeu o café enquanto pensava.

– A partir de hoje – interveio Alex –, só terá de mostrar o saldo da sua conta bancária à rapariga.

Jeremy revirou os olhos.

– Que parvoíce. Nunca tive de recorrer a medidas tão rasteiras para conseguir a rapariga que queria.

– Isso dito por um homem que nasceu com tudo o que podia querer – replicou Alex.

– Rapazes… Portem-se bem! – repreendeu-os Sergio. – Estou a tentar fazer uma investigação séria. Quero saber o que o Jeremy faria para atrair o interesse dessa rapariga. E tu também, Alex. Certamente, também terás encontrado alguma jovem que não caiu rendida aos teus pés. Quero saber o que fariam nesses casos.

– Acho que tentaria enrolá-la primeiro – explicou Jeremy. – Diria como é fantástica. Não falaria da sua beleza. As mulheres belas são bastante céticas com os elogios sobre a beleza. É melhor concentrarmo-nos nas suas outras virtudes. Se isso não desse resultado, passaria à psicologia inversa. Sabes o que dizem, quanto pior as tratas, mais gostam.

– Não estou de acordo com nenhuma dessas táticas – replicou Alex.

– O que farias, Don Juan? – perguntou Jeremy.

– Primeiro, descobriria tudo o que pudesse sobre ela. As suas origens, os seus amigos, o que gosta de fazer, o que gosta… Depois, levá-la-ia a algum lugar que adore, um lugar muito especial e exclusivo. Os melhores lugares para um concerto, por exemplo. Depois, se isso não desse resultado, dir-lhe-ia como a admiro e como a desejo e que, se não sair comigo, irei para a Tailândia e me tornarei monge.

Sergio riu-se e Jeremy limitou-se a mostrar a sua incredulidade.

– Isso alguma vez deu resultado? – perguntou Jeremy.

– Não sei. Nunca tentei, nunca tive de chegar tão longe. Lamento muito, Sergio, mas as raparigas caem rendidas aos meus pés sem ter de me esforçar muito.

Sergio conseguia imaginar. Embora os três fossem bonitos, Alex era ainda mais. Era muito alto e muito atraente, era loiro e tinha os olhos azuis e um corpo modelado até à perfeição no ginásio.

– Não te custará conseguir a rapariga que quiseres – continuou Alex, dirigindo-se a Sergio –, mas não te precipites com o casamento. Já que esperaste tanto, dá uma oportunidade ao amor.

– Não tinha percebido que eras tão romântico.

Sergio sentiu vontade de acabar o jantar e de voltar a ligar a Bella.

– Eu também não – comentou Jeremy. – Receio que o Clube dos Solteiros possa perder dois dos seus sócios dentro de pouco, não só um.

– Não serei eu – replicou Alex. – Não tenciono assentar a curto prazo, se é que alguma vez o farei. Estou muito ocupado. Tenho de acabar um centro turístico com campo do golfe. Já sabem qual.

– Não sei…

– O que compraste ao dono quando foi à falência? – perguntou Jeremy.

– Esse. Foi uma bagatela, mas é um projeto descomunal que me ocupa muito tempo. Além disso, tenho alguns negócios a oeste de Sidney. Com os juros tão baixos, o mercado imobiliário está a disparar nessa zona. A verdade é que, se não tivesse encontrado a secretária pessoal perfeita, que faz tudo menos atar-me os cordões dos sapatos, nem teria tido tempo para ter relações sexuais.

– Hum… – murmurou Jeremy. – Essa secretária pessoal perfeita é atraente?

– A verdade é que é muito atraente. Gosto de estar rodeado de pessoas atraentes, mas não sou assim tão néscio, querido amigo. A Harry está noiva e muito apaixonada. Além disso, nunca misturo o prazer com o trabalho.

– Uma regra muito sensata – interveio Sergio. – Suponho que o seu verdadeiro nome seja Harriet.

Sergio sabia a afeição que Alex tinha pelas alcunhas. Por exemplo, tentara chamar Jerry a Jeremy quando se tinham conhecido, até Jeremy o impedir.

– E tu, Jeremy? – continuou Sergio. – Há alguém especial na tua vida neste momento?

– Não posso dizer que a haja. Saio com raparigas, claro, mas não há ninguém especial. Garanto-vos que serei sócio do Clube dos Solteiros até morrer. Certamente, tal como estão as coisas, serei o único.

– Não tens de te casar – comentou Alex. – Podes viver com alguém e até ter um bebé.

– Não gosto de bebés – indicou Jeremy, imediatamente. – Também não quero viver com alguém. Gosto de viver sozinho, gosto de ser egoísta.

– Não és egoísta. És um homem carinhoso e generoso e um ótimo amigo.

Sergio nunca vira Jeremy tão corado.

– E tu, meu amigo, és o melhor enganador do mundo – replicou Jeremy. – Conseguirias vender gelo aos esquimós. Ganharás mais milhões antes de morreres.

– Espero que sim – reconheceu Alex. – Tenho de dar casas a muitas pessoas pobres e educar os seus filhos.

– Tu e as tuas organizações de beneficência. – Jeremy soprou. – Suponho que, depois de hoje, me peças mais doações.

– Podes ter a certeza e a ti também, Sergio. Vou mandar-vos uma mensagem de correio eletrónico com as quantias. Não sei quanto a vocês, mas eu estou cansado. Foi um dia muito comprido e, ainda por cima, amanhã, espera-me um voo de vinte e três horas até Sidney. Vamos pedir a conta. Sergio, como ganhaste a melhor parte, podes pagar.

– Será um prazer.

O italiano implacável

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