Читать книгу O playboy implacável - Miranda Lee - Страница 6

Capítulo 2

Оглавление

– Obrigada por me emprestares este vestido comprido tão bonito, Fiona.

Alice estava a olhar-se ao espelho de corpo inteiro. O vestido era preto, liso e sem alças, mas tinha um casaco a condizer para a proteger do fresco da noite até chegar ao hotel.

– É um prazer – replicou a companheira de apartamento.

Essas palavras recordaram-lhe a conversa que tivera com o editor de Kenneth Jacobs. Era um homem encantador e tinha uma voz linda. Seria um leiloeiro muito melhor do que o senhor Jacobs.

– Oxalá pudesse ter ido ao teu evento em vez de ter de jantar com os pais do Alistair – continuou Fiona –, mas é o aniversário da mãe dele… Não posso começar mal com a minha futura sogra.

– Suponho que não.

Alice alegrava-se por não ter de se preocupar com essas coisas, porque não tencionava casar-se.

– Estás muito bonita – elogiou Fiona. – Adoraria ter a tua classe, a tua altura e o teu cabelo.

Alice ficou perturbada com os elogios. Parecia-lhe que não era nada de especial, embora tivesse um cabelo bonito. Era loiro e fácil de pentear. Também não era tão alta, media um metro e setenta. Sim, era verdade que Fiona era mais baixa, mas era muito atraente. Tinha um cabelo escuro e denso, uns olhos grandes e castanhos e um corpo voluptuoso que os homens desejavam. Embora Alice não quisesse que a desejassem.

– Esse vestido fica-te muito melhor do que a mim – continuou Fiona. – Quando o visto, fico quase com os seios de fora e os homens não me tiram os olhos de cima toda a noite. O Alistair diz que não devo voltar a usá-lo, portanto, se o quiseres, querida, é todo teu.

Alice surpreendia-se por Fiona lhe chamar «querida» como se fosse uma criança quando, na verdade, tinham a mesma idade. Também não queria que a tratasse como se ainda fosse aquela rapariga que chegara a Londres e aparecera, sem um cêntimo, à sua porta.

Fiona acolhera-a e dera-lhe um quarto, sem custos, até ganhar algum dinheiro. Então, quando dissera que ia mudar-se ao fim de umas semanas, Fiona rogara-lhe que ficasse, pois divertia-se muito com ela. Ao longo dos sete anos que tinham vivido juntas, tinham-se tornado bastante íntimas e contado confidências. Fiona entendia porque não gostava dos homens, mas, mesmo assim, não perdera a esperança de que, algum dia, conhecesse um homem em quem pudesse confiar… e que pudesse amar.

– Tinha-te contado que o Kenneth Jacobs desistiu de ser o nosso leiloeiro no último momento? – perguntou Alice, enquanto Fiona lhe punha perfume. – Alegou uma constipação.

– A sério? O que fizeste?

– Fiquei em pânico.

– Tu? – Fiona riu-se. – Em pânico? Impossível! Tu terás sabido o que fazer.

Divertia-se com essa fé cega de Fiona na sua capacidade organizativa, embora, claro, qualquer pessoa parecesse fria e serena em comparação com Fiona, que era bastante despistada e muito desordenada. Às vezes, pensava que Fiona lhe pedira para ficar porque ela fazia quase todas as tarefas da casa.

– Tive sorte. O Kenneth Jacobs pôs-me em contacto com uma mulher encantadora da Barker Books e, antes de dar por isso, o dono da editora ligou-me e ofereceu-se para substituir o senhor Jacobs.

– Que sorte!

– Não consegues imaginar. Tem uma voz incrível. Vai ser um leiloeiro fantástico. Não me ponhas mais perfume, Fiona. Tenho de ir buscar as minhas coisas. Combinei encontrar-me com o senhor Barker-Whittle às sete no vestíbulo do hotel.

– O quê?

– Disse…

– Sei o que disseste – interrompeu Fiona. – Suponho que não te refiras ao Jeremy Barker-Whittle.

– Sim – respondeu Alice. – Foi assim que se apresentou. Porquê? O que se passa?

– Nada, mas é um dos playboys com pior reputação de Londres. É bonito e tem mais encanto do que um homem devia ter o direito de ter. A minha irmã saiu com ele durante cinco minutos e não parou de o elogiar. Diz que, depois de ter estado com o Jeremy, nenhum outro homem pode comparar-se. Nunca te teria emprestado um vestido tão sensual se soubesse ao lado de quem ias estar sentada esta noite!

Embora ficasse atordoada com a notícia, Alice sentiu-se incomodada por Fiona pensar que podia ser vítima dos encantos discutíveis de um playboy. Tinha de a conhecer melhor do que isso. Uma vez avisada, o senhor Barker-Whittle não tinha a mínima possibilidade de a enganar, por muito bonito e atraente que fosse…

– Mais vale prevenir do que remediar, Fiona. Agora que sei, estarei preparada contra qualquer tentativa de me seduzir. Embora devesses saber melhor do que ninguém que sou imune aos homens assim.

Alice soube que estava a mentir enquanto o dizia. Sempre achara que os libertinos eram muito atraentes. Saíra com um uma vez e pagara caro. Embora não estivesse totalmente imunizada, esperava ter aprendido a lição. No entanto, era uma pena que o seu leiloeiro substituto fosse sozinho. Se Jeremy Barker-Whittle achava que ia entretê-lo depois do leilão, estava muito enganado.

– No entanto, não entendo – continuou Fiona. – O Jeremy é banqueiro, não editor.

– Agora, é editor – replicou Alice.

– Que estranho… Embora suponha que possa fazer o que quiser. A família Barker-Whittle é rica. Passaram a vida a trabalhar nos bancos comerciais.

– Sabes muito sobre eles…

– Sim, bom, como te disse, a Melody esteve obcecada com ele durante uma temporada e descobriu tudo o que pôde.

– Há mais alguma coisa que deva saber antes de o ver esta noite? – perguntou Alice.

– Na verdade, não. Simplesmente, não acredites em nada do que esse descarado diga e nem penses em sair com ele.

Alice quase se riu. Como se ele quisesse…

– Deve ser o meu táxi – comentou Alice, quando o telemóvel tocou. – Diverte-te esta noite, Fiona, e não te preocupes comigo, não vai acontecer-me nada. O Jeremy Barker-Whittle não tem nenhuma possibilidade.

Jeremy Barker-Whittle já estava sentado num sofá e falava ao telemóvel. Soube que era ele, ainda que houvesse mais homens no vestíbulo. No entanto, nenhum deles usava um smoking preto ou encaixava com a imagem que tinha do playboy com pior reputação de Londres. Enquanto Fiona falava dele, ela imaginara um dos seus atores favoritos que se tornara famoso a fazer papéis de rapazes maus e ricos. Jeremy Barker-Whittle era quase idêntico. Era muito bonito e a elegância do seu rosto e da sua roupa não podia ser uma imitação. Era evidentemente rico e era um desses homens invejado por outros homens e desejado pelas mulheres.

Não o desejava, mas o coração acelerara. Respirou fundo e alegrou-se por ele ainda não a ter visto. Isso dava-lhe tempo para ordenar as ideias e organizar as defesas… e para o observar calmamente. O cabelo, castanho-claro, era ligeiramente ondulado, quase lhe chegava até à gola do casaco e uma madeixa caía de uma forma muito sensual por cima da testa. O nariz era firme e reto e os olhos tinham uma cor azul resplandecente. Efetivamente, resplandeciam mesmo… ou, pelo menos, resplandeceram quando levantou a cabeça e a viu a olhar para ele. Desligou o telemóvel imediatamente, levantou-se e dirigiu-se para ela com um sorriso. Isso fez com que reparasse na sua boca, no seu lábio inferior sensual e nos seus dentes brancos incríveis. O coração parou por um segundo e fê-la pensar que era muito vulnerável aos homens que pareciam perfeitos.

– Por favor, diz-me que és a Alice – disse ele.

Era difícil não reagir ao seu encanto, mas conseguiu dominar-se e usou a fachada hermética que usava com os homens da sua índole.

– Sim, sou eu – reconheceu ela, com frieza. – Suponho que seja o senhor Barker-Whittle…

As mulheres não costumavam ser tão frias com ele e muito menos as mulheres com o aspeto de Alice. Alterou-o por um instante e começou a procurar um motivo para que tivesse uma atitude tão negativa com ele. Só lhe ocorreu que talvez fosse porque lhe dissera que era um solteirão resmungão e não gostasse que a enganassem. Fora muito calorosa ao telefone e, naquele momento, era gélida.

Esboçou um sorriso enquanto se questionava se essa beleza com tão má reputação dos Barker-Whittle conseguiria derreter um pouco a princesa de gelo porque, se não fosse assim, a noite que se aproximava não seria tão divertida como previra… e seria uma pena, pois sentia fraqueza pelas loiras esbeltas de ar frio com uns olhos azuis maravilhosos e uma boca feita para pecar.

– Chama-me Jeremy, por favor – pediu, ele enquanto, dissimuladamente, a observava. – Ninguém me chama senhor Barker-Whittle, nem a Madge me chama assim. A Madge menos do que ninguém. A Madge disse que seria melhor leiloar o nome de duas personagens, não de uma – inventou ele. – Se te parecer bem…

– O que…? Sim, claro. Seria… fantástico. Obrigada.

Perturbara-a um pouco isso e fora exatamente o que quisera fazer. Fora, durante uma milésima de segundo, a Alice amável e agradecida com quem falara ao telefone, até essa máscara gélida ter voltado ao seu lugar.

No entanto, não ia desistir. Tinha toda a noite para descongelar Alice. No mínimo, divertir-se-ia com o desafio. Ao fim e ao cabo, era estranho que alguém do sexo oposto o ignorasse. Reparou que não usava anéis e isso era um sinal inequívoco de que era solteira.

Despertara a sua curiosidade desde que ouvira aquela voz clara e precisa ao telefone. Naquele momento, depois de a conhecer, o desejo juntou-se à curiosidade e decidiu que não descansaria até aceder a sair com ele.

– Ias mostrar-me o programa na sala de baile, mas, primeiro, deixa-me tirar-te o casaco…

O pânico embargou-a com a ideia de lhe tirar o casaco, com a ideia de se mostrar mais a esse homem com um olhar sensual. Enganava-se se achava que não percebera como olhara para ela. Sabia que os homens a achavam atraente. Era uma cruz que quase todas as loiras bonitas e com classe tinham de carregar. Felizmente, naquela época, não atraía muito os homens porque tinha sempre o cabelo apanhado, não se maquilhava e usava calças de ganga. Naquela noite, no entanto, estava a mostrar-se em todo o seu esplendor. Amaldiçoou Fiona por lhe ter emprestado aquele vestido e por lhe ter posto aquele perfume tão caro. Só podia reprovar-se pela maquilhagem, mas, na altura, não soubera que passaria a noite com um homem que poderia fazer com que quisesse ser uma mulher diferente da que era.

Era uma pena que tivesse escolhido aqueles brincos de brilhantes que lhe tocavam no pescoço quando andava. Pensou em dizer-lhe que ia ficar com o casaco, mas ele já estava atrás dela e, além disso, não podia passar toda a noite com um casaco vestido. Tirou o casaco dos ombros sem virar a cabeça para olhar para ele. Susteve a respiração quando sentiu que uns dedos lhe tocavam na nuca e sentiu um arrepio nas costas enquanto o casaco caía nas suas mãos.

O que é que aquele homem tinha para fazer com que se sentisse assim? Sentira a atração sexual antes, não fora sempre tão precavida. O sexo parecera-lhe fascinante quando chegara à puberdade e passara grande parte da adolescência a fantasiar com diferentes atores. Até conhecer aquele enganador na universidade, um rapaz alto, bonito e moreno que a atraíra. Esse rapaz que a convencera de que sentia o mesmo que ela. Como uma parva, aceitara sair com ele.

No entanto, a atração que sentira não se comparava com o que se apoderava dela naquele momento. Era um disparate. Queria esquecer a cautela, queria esquecer tudo o que aprendera sobre os homens, queria esquecer os avisos de Fiona e permitir que Jeremy Barker-Whittle usasse todas as suas manhas com ela que, naturalmente, era o que ele queria fazer. Era um playboy, não era? Era isso que os playboys faziam.

No entanto, não ia fazê-lo com ela, decidiu, enquanto reunia toda a sua força de vontade.

– Vou guardá-lo – informou ele, com delicadeza, quando ela se virou finalmente. – Depois, continuaremos.

Ela observou, com certo desespero, que se mexia como fazia tudo, com estilo e uma elegância natural. Depois, demasiado depressa, estava a voltar para ela e, daquela vez, observava-a abertamente, sem disfarçar que gostava do que via.

– Não há nada como um bom vestido preto, pois não? – comentou ele, enquanto a agarrava pelo cotovelo e a levava para os elevadores. – O gerente disse-me que a sala de baile é no primeiro andar – acrescentou ele, antes de ela conseguir perguntar o que estava a fazer.

Mesmo assim, soltou o braço assim que pôde e lançou-lhe um olhar que lhe transmitiu, taxativamente, a mensagem de que não voltasse a tocar nela. Não ia permitir que ele tivesse o controlo da noite… ou dela.

Jeremy dominou a vontade de revirar os olhos, mas a verdade era que parecia a protagonista de um romance vitoriano. Não lera nenhum, mas conseguia imaginar como seria essa mulher: Rígida, afetada, que olhava por cima do ombro para os homens, sobretudo, os que ousavam pôr um dedo na sua pele virginal.

Alice teria encaixado perfeitamente nesse papel, à exceção de três circunstâncias. A primeira era aquele vestido. Não tinha alças e era tão justo que lhe dava uma imagem evidente de como seria nua. Teria uns seios duros, uma barriga plana e atlética, uma cintura de vespa, umas pernas compridas e bem formadas e as ancas e o rabo perfeitos para serem acariciados. A segunda era como olhara para ele quando chegara ao hotel. Não fora o olhar de uma virgem dissimulada. Comera-o com o olhar e deixara muito claro que o achava atraente. A terceira fora esse arrepio que lhe percorrera todo o corpo quando lhe tocara na nuca, embora tivesse sido sem querer. Não tinha o costume de tocar dissimuladamente numa mulher. Nunca precisara, mas fora muito eloquente que Alice tivesse reagido dessa forma.

Durante o breve trajeto de elevador, chegou à conclusão de que Alice Waterhouse era uma farsante, que se fazia de princesa de gelo com ele, mas que era apenas uma representação. Não sabia o que havia por trás, mas estava disposto a descobrir.

O playboy implacável

Подняться наверх