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Capítulo 1

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– Queres mesmo barbear-te?

Amy Green, que estava a admirar o rabo de Helios, perguntou-o num tom lisonjeador. Olhou para ela nos olhos através do espelho da casa de banho e piscou-lhe um olho.

– Voltará a crescer.

Ela fez beicinho com muito cuidado, porque a máscara de argila que pusera já secara e custava-lhe expressar-se sem que gretasse. Faltavam dez minutos para que pudesse tirá-la.

– Mas ficas muito sensual com barba…

– Estás a dizer que não sou sensual sem barba?

– És sempre sensual… – sussurrou ela.

Demasiado sensual, mesmo sem barba. Até a sua voz era sensual, uma voz grave e profunda com um sotaque de Agon que a enriquecia ainda mais.

Além disso, era incrivelmente alto, incrivelmente musculado e incrivelmente forte, tinha a pele morena e o cabelo cor de azeviche despenteado depois de ter passado uma hora com ela. Helios parecia um pirata e essa aparência perigosa exagerava-se mais por causa do nariz e da pequena cicatriz que tinha na cana, uma lembrança de uma luta com o seu irmão Theseus quando eram adolescentes. Helios, sem a mínima vaidade, usava essa cicatriz com orgulho. Era o homem mais sensual que alguma vez conhecera.

Em breve, pentear-se-ia para que o cabelo ficasse tão arranjado como o resto da cara, mas continuaria a irradiar essa virilidade inata. O seu corpo curtido ficaria coberto por um smoking, mas a sua força e vitalidade atravessariam o tecido. A expressão maliciosa dos seus olhos castanhos continuaria a ser igualmente tentadora.

Transformar-se-ia no príncipe Helios Kalliakis, herdeiro do trono de Agon, mas continuaria a ser um homem de carne e osso.

– Tens a certeza de que não queres fazê-lo? – perguntou ele, pegando na lâmina.

– Imaginas o que aconteceria se te cortasse? – Amy abanou a cabeça. – Seria detida por traição.

Ele sorriu e passou uma mão pelo espelho para limpar a condensação do vapor.

Amy sorriu, esticou a perna direita até às torneiras e verteu mais água quente com os dedos do pé.

– Tenho a certeza de que encher a casa de banho de vapor para que não consiga ver bem também é traição – comentou, num tom brincalhão, enquanto ligava o extrator.

Ligou-se imediatamente, como tudo nesse apartamento fabuloso do palácio, e eliminou o vapor da casa de banho.

Baixou-se ao lado da banheira, com a cara à frente da dela.

– Se continuares a cometer traição, terei de te castigar.

– E como terias de me castigar…?

O desejo, que achava satisfeito, voltou a bulir por dentro e fê-la ofegar.

Ele semicerrou os olhos e esboçou um sorriso com esses lábios que a tinham beijado por todos os lados. Era uma boca que qualquer mulher adoraria beijar a todas as horas.

– Um castigo que nunca esquecerás.

Helios cerrou os dentes e resmungou enquanto a observava com um brilho ardente nos olhos e se virava para o espelho, sem parar de olhar para o reflexo dela pelo canto do olho.

Amy teve de reconhecer que a fascinava observá-lo. Barbeava-se como se fosse um comandante medieval num filme. No entanto, também a assustava. A lâmina de barbear era muito afiada, um movimento errado e…

Em qualquer caso, não conseguia desviar o olhar dele enquanto passava a lâmina pela face. Tinha um erotismo que a transportava para outros tempos, quando os homens eram homens a sério… E Helios era assim dos pés à cabeça.

Se quisesse, poderia ter estalado os dedos e um batalhão de empregados teria aparecido para o barbear, mas esse não era o seu estilo. A família Kalliakis era descendente direta de Ares Patakis, o guerreiro que libertara Agon dos invasores venezianos há mais de oitocentos anos. Os príncipes de Agon aprendiam a usar armas com o mesmo esmero com que aprendiam o protocolo real. Para o seu amante, uma lâmina de barbear era mais uma das muitas armas que dominava. Esperou que se limpasse com uma toalha para voltar a falar.

– Tenho de interpretar que não me reservaste um pouco de tempo esta noite, apesar das minhas pequenas indiretas?

As pequenas indiretas tinham sido dizer-lhe que adoraria ir ao baile real de que toda a ilha falava, mas a verdade era que não esperara receber um convite. Era apenas uma empregada do museu do palácio e temporária.

Além disso, também não iam estar juntos para sempre, pensou, com uma pontada de melancolia. A sua relação não fora um segredo, mas também não tinham falado dela. Era a sua amante, não a sua namorada, e soubera-o desde o começo. Não tinha uma relação oficial com ele e nunca teria.

– Embora adore estar contigo, não seria apropriado.

– Eu sei. Sou uma plebeia e os assistentes ao baile são a flor e nata da alta sociedade.

– Adoraria ver-te lá com o vestido mais bonito que pudesses comprar, mas não estaria bem se a minha amante estivesse no baile onde tenho de escolher uma esposa.

O banho quente e relaxante arrefeceu numa questão de segundos e sentou-se.

– Escolher uma esposa? Do que estás a falar?

– O verdadeiro motivo do baile é para que possa escolher uma esposa.

– Como a Cinderela? – perguntou ela, depois de uma pausa.

– Exatamente. – Helios barbeou o queixo e voltou a limpar a lâmina numa toalha. – Já sabes tudo isto…

– Não – negou ela. – Achava que o baile era mais um evento prévio ao baile de gala.

Faltavam três semanas para que todos os olhares se dirigissem para Agon. A ilha celebrava o aniversário dos cinquenta anos do reinado do rei Astraeus e chefes de estado e mandatários de todo o mundo viriam ao baile.

– E é, acho que se diz «matar dois coelhos de uma cajadada».

– Porque não podes encontrar uma esposa de uma forma normal?

– Porque sou o herdeiro ao trono e tenho de me casar com alguém de sangue real, já sabes.

Efetivamente, sabia, mas pensara que seria noutro momento. Não lhe passara pela cabeça quando ia para a cama com ele todas as noites.

– Tenho de escolher acertadamente – continuou ele. – Naturalmente, tenho uma lista de favoritas, de princesas e duquesas que conheci ao longo dos anos e que me chamaram a atenção.

– Naturalmente… – repetiu ela. – Há alguma que encabece a lista ou há várias que disputam o lugar?

– A princesa Catalina de Monte Cleure está no topo da lista. Conheço a família há anos, veem ao nosso baile de Natal desde que a Catalina era um bebé. A irmã e o cunhado conheceram-se no último. – Helios sorriu ao lembrar-se do escândalo. – A Catalina e eu saímos para jantar algumas vezes quando estive na Dinamarca na semana passada. Tem todos os requisitos para ser uma rainha magnífica.

Amy imaginou uma imagem dessa princesa com o cabelo preto como o azeviche, uma beleza muito seguida pela imprensa por causa do seu encanto régio e etéreo… e sentiu náuseas.

– Não tinhas dito nada…

– Não há nada para dizer.

– Foste para a cama com ela?

– Que pergunta é essa? – perguntou ele.

– Uma pergunta normal de uma mulher ao seu amante.

Não pensara que poderia ter-se enganado. Helios não lhe prometera fidelidade, mas também não fora preciso. O desejo fora devorador desde a primeira noite que tinham passado juntos.

– A princesa é virgem e continuará a ser até se casar, seja comigo ou com outro homem. Responde à tua pergunta?

Não, só dava azo a uma infinidade de perguntas que não tinha o direito de fazer e que preferia que ele não respondesse. Só pôde fazer uma pergunta.

– Quando achas que te casarás com essa mulher tão sortuda?

– Será um casamento de estado, mas espero estar casado dentro de alguns meses.

Alguns meses? Tencionava encontrar esposa e organizar um casamento de estado em alguns meses? Isso tinha de ser impossível…

No entanto, era Helios e, se havia uma coisa que sabia sobre o amante, era que não ficava de braços cruzados. Se quisesse fazer alguma coisa, queria que se fizesse hoje, não amanhã.

Mesmo assim, alguns meses…

Ela estava contratada até setembro, até dentro de cinco meses, e imaginara… Esperara…

Pensou no rei Astraeus, o avô de Helios. Nunca estivera com o rei, mas tinha a sensação de o conhecer graças ao seu trabalho no museu do palácio. O rei estava a morrer e Helios tinha de se casar para ter um herdeiro e garantir a continuidade da linhagem.

Sabia tudo isso, mas passara todas as noites com ele e albergara a esperança de que não se casasse até ela acabar a sua estadia em Agon.

Agarrou-se à banheira, levantou-se com cuidado e saiu. Agarrou numa toalha com as mãos trémulas e levou-a ao peito, nem sequer se embrulhou nela.

Helios esticou o lábio superior e barbeou-o com cuidado e destreza.

– Ligo-te quando o baile acabar.

Dirigiu-se para a porta sem se importar de deixar um carreiro de água pelo caminho.

– Não, não o farás.

– Para onde vais? Estás encharcada.

Pelo canto do olho, viu que ele dava umas palmadinhas na cara com a toalha e que a seguia para o quarto sem se incomodar em tapar-se.

Amy pegou na roupa e agarrou-a com força. Tinha um zumbido na cabeça que a impedia de pensar com coerência.

Dormira com ele durante três meses. Durante todo esse tempo, só tinham dormido separados uma dúzia de vezes, quando ele estivera fora por motivos oficiais. Como quando fora à Dinamarca e jantara com a princesa Catalina sem que ela soubesse. Além disso, naquele momento, ia celebrar um baile para encontrar a mulher com quem dormiria para o resto da sua vida.

Soubera desde o começo que não tinham futuro e mantivera o coração e os sentimentos à margem, mas ouvi-lo a falar com essa indiferença sobre o assunto…

Ficou junto da porta da passagem secreta que ligava os seus apartamentos. Havia dúzias e dúzias de passagens como aquela por todo o palácio, um palácio construído para as intrigas e os segredos.

– Vou para o meu apartamento. Diverte-te esta noite.

– Perdi alguma coisa?

O facto de Helios o perguntar com o que parecia uma perplexidade sincera só piorou as coisas.

– Disseste que não é apropriado ir esta noite ao baile, mas vou dizer-te o que não é apropriado: Falares da esposa que vais escolher dentro de algumas horas com a mulher que dormiu contigo durante três meses.

– Não sei qual é o inconveniente. O meu casamento não mudará nada entre nós.

– Se realmente achas isso, és tão néscio como misógino e insensível. Falas como se essa seleção de mulheres fosse de rebuçados no balcão de uma loja e não de pessoas de carne e osso.

Amy abanou a cabeça para dar mais ênfase ao seu desagrado e pôde ver, à medida que falava, que a expressão de perplexidade de Helios dava lugar a outra mais sombria e carrancuda.

Helios não aceitava bem a crítica. Nessa ilha e nesse palácio, elogiavam-no e todos ouviam o que dizia. Era afável e encantador e o seu bom humor era contagiante. No entanto, se se zangasse…

Se não estivesse tão furiosa com ele, certamente, teria medo.

Ele, esplendidamente nu, aproximou-se dela, parou a meio metro e cruzou os braços com os dentes cerrados.

– Cuidado com o que dizes. É possível que seja o teu amante, mas não tens permissão para me insultar.

– Porquê? Porque és um príncipe? – Apertou a toalha e a roupa com mais força. – Estás prestes a ficar noivo de outra mulher e não quero saber nada do assunto.

O Benedict, o labrador preto de Helios, percebeu o ambiente e também se aproximou dela. Sentou-se ao seu lado com a língua de fora e lançou o que pareceu um olhar de censura ao seu dono.

Helios também reparou, acariciou a cabeça do Benedict e esboçou um sorriso enquanto olhava para Amy.

– Não sejas melodramática. Sei que estás no período pré-menstrual e que isso faz com que estejas mais sensível, mas estás a ser irracional.

– Pré-menstrual? Disseste mesmo isso? Fico… sensível porque o meu amante tem encontros secretos com outras mulheres e está prestes a escolher uma delas para ser a sua esposa e ainda espera que lhe aqueça a cama. Não te preocupes, dá-me uma palmadinha na cabeça e diz-me que estou no meu período pré-menstrual, dá-me umas palmadinhas nas costas e diz que não fizeste nada de mal.

Demasiado furiosa para continuar a olhar para ele, rodou a maçaneta da porta e abriu-a com a anca.

– Vais-te embora? Vais deixar-me?

Perguntara-o num tom brincalhão? Parecia-lhe divertido?

Amy, sem lhe fazer caso, levantou a cabeça e entrou na passagem que a levaria ao seu apartamento.

Uma mão imensa agarrou-a pelo braço e obrigou-a a virar-se. Apesar de ter o coração apertado e de sentir náuseas, conseguiu falar com firmeza.

– Solta-me, acabámos.

– Não. Esta noite, quando estiveres abatida, estarei a pensar em ti, estarei a pensar em todas as formas de te possuir quando acabar o baile. Então, virás ter comigo e poderemos pô-las em prática.

O seu corpo reagiu àquelas palavras e à proximidade como reagia sempre. Com Helios, era como uma menina faminta que, finalmente, deixavam comer. Desejava-o. Desejava-o desde que o conhecera, há três meses, e o desejo não diminuíra.

No entanto, chegara o momento de dominar esse desejo.

Pôs-lhe uma mão no peito granítico, conteve a vontade de acariciar os pelos escuros que o cobriam e fez um esforço para olhar para ele nos olhos, que ainda tinham um brilho brincalhão.

– Diverte-te esta noite. Tenta não entornar vinho no vestido de uma das tuas princesas.

A sua gargalhada sarcástica seguiu-a pela passagem que levava ao seu apartamento.

Quando chegou ao apartamento, grande em comparação com sua moradia habitual e pequeno em comparação com o apartamento de Helios, passou à frente de um espelho e viu que continuava com a máscara de argila, embora completamente gretada.

Helios levava a sua acompanhante, uma princesa da antiga família real da Grécia, por toda a pista. Era uma jovem muito bonita, mas riscou-a da sua lista à medida que dançava com ela e ouvia o que dizia. Fosse quem fosse com quem se casasse, queria poder ter uma conversa com ela que não fosse sobre o último desfile na passarela.

Quando acabou a valsa, inclinou a cabeça com cortesia, alegou que tinha de ir falar com o irmão Theseus, que continuava sozinho à mesa, e não fez caso do olhar suplicante daquela mulher que lhe pedia que lhe concedesse outra dança.

Lembrou-se do que Amy dissera sobre tratar as mulheres como se fossem rebuçados no balcão de uma loja. Era suficientemente homem para reconhecer que eram verdadeiras, mas, se tivesse de escolher uma com quem passar o resto da sua vida e para ser a mãe dos seus filhos, queria que se parecesse o máximo possível com o que gostava.

Se Amy pudesse ver aquelas mulheres, a avidez dos seus olhos e como lhe mostravam o decote quando passava, entenderia que queriam que as saboreasse, que queriam ser exatamente do seu gosto.

Olhou para Talos, o irmão mais novo, que estava a dançar com a violinista cativante que tocaria dentro de três semanas no baile do aniversário do avô.

– Há mais uma coisa – comentou Theseus, bebendo um gole de champanhe. – Olha, o parvo está apaixonado.

Helios olhou para a pista e entendeu imediatamente o que queria dizer. Talos e a acompanhante prestavam tanta atenção um ao outro que era como se os outros duzentos convidados não existissem. Entreolhavam-se com tanta intensidade que era quase visível e hipnótico em certo sentido.

Helios desejou, e não pela primeira vez, que Amy estivesse ali. Adoraria dançar a valsa com ela. Para alguém tão voluntariamente rígido, ela tinha uma parte divertida que fazia com que adorasse estar com ela.

Theseus voltou a observá-lo.

– E tu? Não deverias estar na pista de dança?

– Estou a fazer uma pausa.

– Devias estar com a princesa Catalina.

Helios e os irmãos tinham falado muitas vezes sobre as suas possíveis esposas e tinham chegado à conclusão de que Catalina seria perfeita para entrar nessa família.

Até há uma geração, os casamentos dos herdeiros ao trono de Agon eram arranjados. O casamento dos próprios pais fora assim. O avô, o rei Astraeus, ao presenciar o desastre desse casamento, decidira acabar com essa parte do protocolo e permitir que a geração seguinte escolhesse o seu cônjuge, desde que tivesse sangue real… E ele agradecia. Fosse quem fosse a escolhida, não podia ter ilusões, o seu casamento seria apenas para cumprir o dever.

– Achas…? – perguntou Helios, com desinteresse.

Sentia arrepios só de pensar em dançar com outra daquelas mulheres, por muito bonitas que fossem. Podia encontrar uma mulher bonita em qualquer lugar, mas não havia muitas com substância.

Sentiu que ficava tenso ao lembrar-se da conversa dessa tarde. Nunca a vira tão irritada e essa raiva fora possessiva. Estivera ciumenta.

Normalmente, quando uma amante mostrava indícios de ficar possessiva, era o momento de virar a página. No caso de Amy, parecia-lhe incrivelmente atraente. Adorara os seus ciúmes, embora fosse estranho.

Sempre suspeitara que lhe escondia uma parte de si própria. Entregava-lhe o seu corpo e desfrutava tanto como ele quando faziam amor, mas o que se passava pela sua cabeça inteligente continuava a ser um mistério.

Fora diferente das suas amantes habituais desde o começo. Era bonita e muito inteligente e chamara-lhe a atenção como nenhuma outra mulher. A raiva de antes não o alterara, como teria acontecido com qualquer outra pessoa, despertara a sua curiosidade, tirara outra camada dessa mulher apaixonada e brilhante de quem não se cansava. Quando estava com ela, esquecia tudo o resto e vivia o momento. Deixava-se levar pela voracidade.

A gravidade da doença do avô afetava-o, mas mitigava-se quando estava com Amy e passava a ser uma pontada leve de dor e pessimismo. Quando estava com ela, esquecia o peso das responsabilidades por ser o herdeiro ao trono e podia ser um homem, um amante, o seu amante. Era como uma vibração constante nas entranhas e não tencionava renunciar a ela, estivesse casado ou não.

– Há alguma outra de quem tenhas gostado? – perguntou Theseus.

– Não.

Helios sempre soubera que teria de se casar. Nunca o questionara. Não tinha sentimentos em relação a isso. O casamento servia para gerar a próxima geração de Kalliakis e era sortudo porque podia escolher a sua esposa, embora com certas condições. Os pais não tinham tido tanta sorte. O seu casamento fora arranjado antes de a mãe deixar de usar fraldas. Fora um desastre e ele só esperava que o seu casamento não se parecesse com o deles.

Olhou para a princesa Catalina que, nesse momento, dançava com um príncipe britânico. Era incrivelmente bonita e refinada. O irmão era seu amigo da escola e as vezes que tinham jantado juntos na Dinamarca tinham-lhe demonstrado que era uma mulher inteligente, para além de bonita, embora um pouco séria para o seu gosto.

Não tinha a irreverência de Amy.

Mesmo assim, Catalina seria uma rainha excelente e ele já perdera tempo suficiente. Devia ter escolhido há cinco meses, quando lhes comunicaram a gravidade da doença do avô.

Catalina fora criada num mundo sujeito ao protocolo, como ele. Não esperava o amor nem tinha ilusões. Se a escolhesse, saberia que seria um casamento por dever, onde não entravam os sentimentos. Exatamente o que ele queria.

Além disso, constituir uma família com ela não seria um sacrifício. Tinha a certeza de que se criaria um laço se ambos se empenhassem. Também brotaria uma certa… química. Ainda que, naturalmente, não fosse a mesma química que tinha com Amy, isso era irrepetível.

Pensou na imagem de Amy a afastar-se pela passagem na penumbra, abraçando o monte de roupa e a toalha, com o cabelo loiro molhado a cair pelas costas. Nesse momento, fora tão altiva como qualquer princesa e desejava castigá-la pela sua insolência. Levá-la-ia até à beira do orgasmo tantas vezes que acabaria por lhe rogar que a deixasse explodir.

No entanto, não era o momento nem o lugar para imaginar o corpo esbelto de Amy entre os seus braços.

Sufocou implacavelmente o ardor e concentrou-se nas mulheres que tinha à sua frente. Teria de afastar Amy durante umas horas para levar a tarefa a cabo.

Chamou um empregado para que lhe trouxesse uma taça de champanhe e bebeu um bom gole antes de pensar em voltar a dançar.

– O que se passa? – perguntou Theseus.

– Nada.

– Pareces um homem numa prova de vinhos que percebe que todas as garrafas estão fechadas.

– Melhor? – perguntou Helios.

– Agora, pareces um assassino em série.

– O teu apoio não tem preço, como sempre. – Helios esvaziou a taça e levantou-se. – Se tivermos em conta que não sou o único príncipe que tem de se casar e ter herdeiros, acho que também deverias misturar-te com as nossas convidadas bonitas.

Sorriu com ironia face ao ar de desgosto de Theseus. Embora aceitasse o seu destino com a resignação férrea que lhe tinham inculcado no internato inglês onde fora criado, sabia que o irmão, mais rebelde, tinha muito pouca vontade de se casar.

Depois, enquanto dançava com a princesa Catalina a uma distância prudente para que os seus corpos não se tocassem e sem a mínima intenção de encurtar essa distância, voltou a pensar no avô.

O rei não aparecera naquela noite. Estava a guardar as poucas forças que lhe restavam para o baile de celebração do seu aniversário. Se estava disposto a dar o último passo e assentar, era por causa desse homem extraordinário que criara os três irmãos desde que ele tinha dez anos.

Faria tudo pelo avô.

Em breve, receberia a coroa, mais cedo do que desejara e esperara, e precisava de uma rainha ao seu lado. Queria que o avô passasse em paz para a outra vida, com a tranquilidade de saber que a continuidade da linhagem dos Kalliakis estava garantida. Se o tempo os ajudasse, o avô poderia vê-lo no altar.

No ardor

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