Читать книгу Apenas os Dignos - Морган Райс, Morgan Rice - Страница 11

PARTE DOIS
CAPÍTULO CINCO

Оглавление

Royce estava no meio dos campos de trigo, a talhar com a sua foice, alegre ao pensar na sua noiva. Ele mal podia acreditar que o dia do seu casamento tinha chegado. Ele amava Genevieve desde sempre. E este dia seria um dia que não rivalizaria com nenhum outro. Amanhã, ele iria acordar com ela ao seu lado, numa nova cabana só deles, com uma nova vida pela frente. Ele conseguia sentir a excitação no seu estômago. Não havia nada que ele desejasse mais.

Enquanto dava balanço à sua foice, Royce pensava nos treinos com os seus irmãos todas as noites, com os quatro a lutar incessantemente com espadas de madeira e às vezes com espadas verdadeiras, com pesos duplos, quase impossíveis de levantar, para torná-los mais fortes, mais rápidos. Embora ele fosse mais jovem do que os seus três irmãos, Royce percebia que já era um melhor lutador do que todos eles, mais ágil com a espada, mais rápido a atacar e a defender. Era como se ele fosse cortado de um pano diferente. Ele era diferente, ele sabia disso. No entanto, não sabia porquê. E isso incomodava-o.

De onde vinha o seu talento para o combate? ele perguntava-se. Porque é que ele era tão diferente? Não fazia muito sentido. Eram todos irmãos, todos do mesmo sangue, da mesma família. No entanto, ao mesmo tempo os quatro eram inseparáveis, fazendo tudo juntos, quer fosse lutar ou trabalhar nos campos. Isso, na verdade, era a sua única apreensão acerca daquele alegre dia: seria a sua saída de casa o início do afastamento deles? Ele prometeu, em silêncio, que não iria permitir que isso acontecesse.

Os pensamentos de Royce foram subitamente interrompidos por um som no limite do campo, um som incomum para aquele momento do dia, um som que ele não queria ouvir num dia perfeito como aquele. Cavalos. Galopando com pressa.

Royce virou-se e olhou, instantaneamente alarmado, e seus irmãos fizeram o mesmo. A sua preocupação aprofundou-se ao vislumbrar as irmãs e primas de Genevieve a cavalgarem até ele. Mesmo dali Royce conseguia ver as suas expressões de pânico, em urgência.

Royce tentava desesperadamente compreender o que estava a ver. Onde estava Genevieve? Porque é que eles estavam todos a cavalgar para ele?

E então, ele ficou verdadeiramente preocupado ao perceber que algo terrível tinha acontecido.

Ele largou a foice, assim como os seus irmãos e a outra dúzia da sua aldeia, correndo ao encontro deles. A primeira a chegar ao pé dele foi Sheila, a irmã de Genevieve, que desmontou do cavalo mesmo antes de ele parar, agarrando-se aos ombros de Royce.

"O que é que passa?", Royce gritou. Ele agarrou-lhe os ombros. Ele conseguia senti-la a tremer.

Ela mal conseguia pronunciar as palavras por entre as suas lágrimas.

"Genevieve!", ela gritou, com uma voz aterrorizada. "Eles levaram-na!"

Royce sentiu o seu mundo a desabar ao ouvir as palavras dela, ocorrendo-lhe os piores cenários.

"Quem?", ele perguntou, enquanto os seus irmãos corriam até ele.

"Manfor!", chorava ela. "Da casa de Nors!"

Royce ficou apavorado e a indignação percorreu-lhe o corpo. A sua noiva. Levada pelos nobres, como se ela fosse propriedade deles. O rosto dele encolerizou-se.

"Quando!?", ele exigiu saber, apertando o braço de Sheila com mais força do que pretendia.

"Mesmo agora!", respondeu ela. "Arranjámos estes cavalos para te vir dizer assim que conseguimos!"

As outras desmontaram atrás dela e, ao fazê-lo, entregaram as rédeas a Royce e aos seus irmãos. Royce não hesitou. Num movimento rápido ele montou o cavalo dela, esporeou e foi a romper pelos campos.

Atrás dele, ele ouvia os seus irmãos a cavalgar, também, sem perderem o ritmo, todos através das espigas e na direção do distante forte.

O seu irmão mais velho, Raymond, cavalgava ao seu lado.

"Sabes que a lei está do lado dele", ele gritou. "Ele é um nobre e ela é solteira – pelo menos por agora."

Royce acenou de volta.

"Se invadirmos o forte e pedirmos para eles a deixarem voltar, eles vão recusar", Raymond acrescentou. "Não temos base legal para exigir que a devolvam."

Royce rangeu os dentes.

"Eu não vou pedir para eles a deixarem voltar", ele respondeu. "Eu vou tirá-la de lá."

Loren abanava a cabeça enquanto cavalgava ao lado deles.

"Nunca vais conseguir passar por aquelas portas", ele gritou. "Um exército profissional espera por ti. Cavaleiros. Armamento. Portões". Ele abanou a cabeça novamente. "E mesmo que conseguisses, de alguma forma, passar por eles, mesmo que conseguisses resgatá-la, eles não a iriam libertar. Eles vão perseguir-te e matar-te."

"Eu sei", respondeu-lhe Royce.

"Meu irmão," disse Garet. "Eu adoro-te. E adoro Genevieve. Mas isto vai significar a tua morte. A morte de todos nós. Deixa-a ir. Não há nada que possas fazer."

Royce conseguia ouvir o quanto os seus irmãos se importavam com ele, o que agradecia – mas ele não podia permitir-se a ouvir aquilo. Aquela era a sua noiva e, independentemente do que estivesse em jogo, ele não tinha escolha. Ele não podia abandoná-la, mesmo que isso significasse a sua morte. Era assim que ele era.

Royce esporeou o seu cavalo com mais força, não querendo ouvir mais, galopando mais rapidamente pelos campos, em direção ao horizonte, em direção à extensa cidade, onde estava o forte de Manfor. Na direção do que certamente iria ser a sua morte.

Genevieve, pensou Royce. Eu vou salvar-te.

*

Royce cavalgou com toda a sua veemência pelos campos, com os seus três irmãos ao seu lado, subindo a última colina e, depois, avançando para a extensa cidade que ficava lá em baixo. No seu centro havia um enorme forte, a casa da Câmara dos Nors, os nobres que governavam a sua terra com um punho de ferro, que haviam tirado tudo à sua família, exigindo dízimo após dízimo de tudo o que eles cultivavam. Eles tinham conseguido manter os camponeses pobres durante gerações. Eles tinham dezenas de cavaleiros à sua disposição, de armadura completa, com armas reais e cavalos reais; eles tinham grossas paredes de pedra, um fosso, uma ponte e eles vigiavam a cidade como uma mulher ciumenta, sob o pretexto de manter a lei e a ordem – mas na verdade apenas para lhes sacarem tudo.

Eles faziam a lei. Eles aplicavam as cruéis leis que lhes eram passadas por todos os nobres de todo o território, leis que só os beneficiavam a eles. Eles funcionavam sob o disfarce de oferecer proteção, mas todos os camponeses sabiam que apenas precisavam de ser protegidos dos próprios nobres. O reino de Sevania, afinal de contas, era um reino seguro, isolado de outros territórios por água dos três lados, no extremo norte do continente Alufen. Um forte oceano, rios e montanhas eram as suas grossas paredes de segurança. O território não era invadido há séculos.

O único perigo e tirania vinha lá de dentro, da aristocracia nobre e do que eles sugavam dos pobres. De pessoas como Royce. Já nem os bens eram suficientes, eles tinham de ter as suas esposas também.

O pensamento trouxe cor às bochechas de Royce. Ele baixou a cabeça e preparou-se ao agarrar com mais força a sua espada.

"A ponte está para baixo!", Raymond gritou. "A grade de ferro do forte está aberta!"

Royce reparou nisso ele próprio e considerou isso um sinal encorajador.

"Claro que está!", Lofen respondeu. "Achas realmente que eles estão à espera de um ataque? Ainda por cima nosso?"

Royce cavalgou mais rápido, grato pela companhia dos seus irmãos, sabendo que todos os seus irmãos tinham um sentimento tão forte por Genevieve quanto ele. Ela era como uma irmã para eles e uma afronta a Royce era uma afronta a todos eles. Ele olhou em frente e sobre a ponte levadiça viu alguns dos cavaleiros do castelo, sem entusiasmo a olharem para os pastos e campos que rodeavam a cidade. Eles não estavam preparados. Eles não eram atacados há séculos e não tinham nenhum motivo para esperar serem naquele momento.

Royce puxou da espada com um toque diferenciado, baixou a cabeça e ergueu a espada. O som das espadas ecoou no ar quando os seus irmãos puxaram das suas, também. Royce saiu primeiro para a frente para assumir a liderança, querendo ser o primeiro na batalha. O seu coração batia com a excitação e medo, não medo por ele mesmo, mas por Genevieve.

"Vou entrar, encontrá-la e sair!", Royce gritou para os seus irmãos, formulando um plano. "Vocês ficam todos fora do perímetro. Esta é a minha luta."

"Não vamos deixar que entres sozinho!", Garet respondeu.

Royce sacudiu a cabeça, inflexível.

"Se algo correr mal, não quero que vocês paguem o preço", ele gritou. "Fiquem aqui e distraiam aqueles guardas. Isso é o que eu mais preciso."

Ele apontou com a sua espada para uma dúzia de cavaleiros que estavam na guarita ao lado do fosso. Royce sabia que, assim que ele cavalgasse por cima da ponte, eles iriam reagir; mas se os seus irmãos os distraíssem, talvez desse para os manter alheios apenas o tempo suficiente para Royce entrar e encontrá-la. Ele calculava que apenas precisava era de uns minutos. Se ele conseguisse encontrá-la depressa, poderia agarrar nela rapidamente, fugir e ver-se livre daquele lugar. Ele não queria matar ninguém se o conseguisse evitar; ele nem sequer queria magoá-los. Ele só queria a sua noiva de volta.

Royce baixou a cabeça, galopando tão rápido quanto conseguia, tão rápido que ele mal conseguia respirar, com o vento a bater-lhe no seu cabelo e rosto. Ele aproximou-se da ponte, a trinta, a vinte, a dez jardas de distância, ouvindo o som do seu cavalo e o seu batimento cardíaco. Sentia-se inquieto ao cavalgar, percebendo o quão louco aquilo era. Ele estava prestes a fazer o que a classe camponesa nunca sonhara fazer: atacar a aristocracia. Era uma guerra que possivelmente não conseguiria ganhar e uma maneira certa de ser morto. Mas, no entanto, a sua noiva estava por detrás daquelas portas e isso era o suficiente para ele.

Royce estava tão perto agora, a apenas a algumas jardas de alcançar a ponte. Olhou para cima e viu os olhos dos cavaleiros arregalarem-se de surpresa e a ficarem atrapalhados com as armas, apanhados de surpresa, claramente não estando à espera de nada daquilo.

A sua reação tardia era exatamente o que Royce precisava. Ele correu para a frente e, quando eles levantaram as suas alabardas, baixou a espada e, apontando para os fustes, cortou-os ao meio. Ele golpeava de um lado para o outro, destruindo as armas dos cavaleiros que estavam em ambos os lados da ponte, com cuidado para não os magoar se tal não fosse necessário. Ele só queria desarmá-los e não propriamente envolver-se num combate.

Royce ganhou velocidade, incitando o seu cavalo. Cavalgava cada vez mais rápido, usando o seu cavalo como uma arma, embatendo nos restantes guardas com força suficiente para atirá-los para o ar, na sua armadura pesada, por cima da ponte estreita e fazendo-os cair no fosso de água abaixo. Seria preciso algum tempo para que eles conseguissem de lá sair, Royce apercebeu-se. E esse era todo o tempo que ele precisava.

Atrás dele, Royce ouvia os seus irmãos ajudando à sua causa; do outro lado da ponte eles cavalgaram para a guarita, golpeando os guardas, desarmando-os antes de eles terem qualquer hipótese de se reagruparem. Eles conseguiram bloquear e barrar a guarita, mantendo os desconcertados cavaleiros desprevenidos e dando a Royce a cobertura de que precisava.

Royce baixou a cabeça e avançou para a grade de ferro, que estava aberta, cavalgando mais rápido e vendo que ela começava a baixar. Ele baixou a cabeça e conseguiu passar rapidamente pelo arco aberto exatamente antes de a grade se fechar de uma vez por todas.

Royce entrou no pátio interno, com o coração aos pulos. Fez um balanço, olhando ao redor. Ele nunca tinha estado lá dentro e estava desorientado, encontrando-se cercado por grossas paredes de pedra por todos os lados, com vários andares de altura. Servos e pessoas comuns movimentavam-se de um lado para o outro, carregando baldes de água e outros produtos. Felizmente, nenhum cavaleiro o aguardava. Claro, eles não tinham nenhum motivo para esperar um ataque.

Royce examinou as paredes, desesperado por qualquer sinal da sua noiva.

No entanto, ele não encontrou nenhum. Ele entrou em pânico. E se eles a tivessem levado para outro lugar?

"GENEVIEVE!", gritou ele.

Royce olhava para todos os lados, freneticamente a girar no seu cavalo que relinchava. Ele não fazia a mínima ideia para onde olhar e não tinha nenhum plano. Ele não tinha sequer pensado que conseguiria chegar tão longe.

Royce atormentava o seu cérebro, precisando pensar novamente. Os nobres provavelmente viviam lá em cima, ele imaginou, longe do mau cheiro, das multidões, onde o vento e a luz do sol eram fortes. Naturalmente, seria para ai que eles levariam Genevieve.

Aquele pensamento enraiveceu-o.

Forçando-se a controlar as suas emoções, Royce esporeou o seu cavalo e galopou pelo pátio, passando por servos em choque que paravam e olhavam, largando o trabalho à sua passagem. Ele viu uma grande escadaria de pedra, em espiral, do outro lado e cavalgou até lá, desmontando do cavalo ainda antes de ele parar, correndo a grande velocidade pelas escadas acima. Ele correu espiral acima sem parar, subindo lance após lance. Ele não tinha ideia para onde estava a ir, mas imaginava ter quando chegasse ao topo.

Royce finalmente saiu da escadaria no patamar mais alto, respirando com dificuldade.

"Genevieve!", ele gritou, esperando, rezando por uma resposta.

Não havia nenhuma. O seu pavor aprofundava-se.

Ele escolheu um corredor e correu por ele fora, rezando para que aquele fosse o caminho certo. Ao passar a correr, um homem, de repente, abriu uma porta e espreitou. Era um nobre, um homem baixo e gordo, com um nariz largo e cabelo fino.

Ele fez má cara para Royce, claramente por ver o seu traje de camponês; ele torceu o nariz como se algo desagradável o tivesse invadido.

"Ei!", gritou. "O que é que estás a fazer no nosso…"

Royce não hesitou. Quando o indignado nobre se lançou para ele, Royce deu-lhe um soco na cara, derrubando-o de costas no chão.

Royce, rapidamente, espreitou pela porta aberta, esperando vislumbrá-la. Mas não estava lá.

Ele continuou a correr.

"GENEVIEVE!", gritava Royce.

De repente, ele ouviu um grito, ao longe, em resposta.

Ele ficou ali quieto e alerta a ouvir, perguntando-se de onde tinha vindo. Ciente de que o seu tempo era limitado, que um exército inteiro estaria em breve atrás dele, ele continuou a correr, com o coração bater com força, chamando por ela repetidas vezes.

Mais uma vez, ouviu um grito abafado. Royce sabia que era ela. Ficou inquieto. Ela estava aqui em cima. E ele estava a aproximar-se.

Royce chegou finalmente ao fim do corredor e, ao fazê-lo, por trás da última porta à esquerda, ele ouviu um grito. Ele não hesitou. Baixou o ombro e embateu contra a porta de carvalho antigo.

A porta partiu-se e Royce entrou de rompante. Ele estava numa opulenta câmara, trinta pés por trinta pés, com tetos altos, janelas esculpidas nas paredes de pedra, uma enorme fogueira e, no centro, uma enorme e luxuosa cama de dossel, diferente de tudo o que já havia visto. Ele sentiu uma onda de alívio quando viu ali, numa pilha de peles, o seu amor, Genevieve.

Ele ficou aliviado ao ver que ela estava completamente vestida, ainda a agitar-se, pontapeando, enquanto Manfor tentava agarrá-la por trás. Royce encolerizou-se. Ali estava ele, agarrando a sua noiva, tentando tirar-lhe as roupas. Royce estava aliviado por ter chegado a tempo.

Genevieve contorcia-se, tentando corajosamente tirá-lo de cima de si, mas Manfor era demasiado forte para ela.

Sem hesitar um momento, Royce explodiu em ação. Ele correu e atirou-se a ele, exatamente quando Manfor se virou para olhar. Os seus olhos arregalaram-se em choque. Royce agarrou-o pela camisa e atirou-o.

Manfor foi atirado do quarto a voar, estatelando-se com força no chão, a gemer.

"Royce!", gritou Genevieve, com uma voz de alívio ao vê-lo quando se virou.

Royce sabia que não podia dar a Manfor a hipótese de se recuperar. Quando ele se tentou levantar, Royce saltou-lhe para cima, prendendo-o para baixo. Cheio de raiva pelo que ele tinha feito à sua esposa, Royce chegou o seu punho atrás e deu-lhe um muro com força no maxilar.

Manfor foi projetado para trás. Porém, sentou-se e alcançou um punhal. Mas Royce arrancou-o da sua mão e bateu-lhe sem parar. Manfor caiu para trás e Royce atirou o punhal para longe, fazendo-o deslizar pelo chão.

Ele imobilizou Manfor que sorria sarcasticamente para ele, sempre desafiante e superior.

"A lei está do meu lado", Manfor fervilhava. "Eu posso ficar com quem eu quiser. Ela é minha."

Royce olhava para ele com má cara.

"Tu não podes ficar com a minha noiva."

"Estás louco", Manfor contrapôs. "Louco. Vais ser morto de qualquer das formas. Não há lugar onde te possas esconder. Não sabes isso? Nós possuímos este país."

Royce abanou a cabeça.

"O que tu não entendes", disse ele, "é que eu não quero saber."

Manfor franziu a testa.

"Não te vais safar desta", disse Manfor. "Eu vou tratar disso."

Royce agarrou os pulsos de Manfor ainda com mais força.

"Não vais fazer nada do género. Genevieve e eu vamo-nos embora daqui hoje. Se vieres atrás dela novamente, eu mato-te."

Para surpresa de Royce, Manfor sorriu maleficamente, com sangue a escorrer-lhe da boca.

"Eu nunca a vou deixar", Manfor respondeu. "Nunca. Vou atormentá-la para o resto da sua vida. E vou perseguir-te como um cão com todos os homens do meu pai. Vou levá-la e ela será minha. E tu serás pendurado na forca. Portanto, foge agora e lembra-te da cara dela – dentro em breve, ela será minha."

Royce sentiu uma quente onda de raiva. O pior daquelas palavras cruéis era que ele sabia que elas eram verdadeiras. Não havia para onde fugir; os nobres eram donos do território. Ele não podia lutar contra um exército. E Manfor, de facto, nunca iria desistir. Por puro desporto – por mais nenhuma razão. Ele tinha tanto e, ainda assim, não conseguia evitar privar as pessoas que não tinham nada.

Royce olhou para os olhos daquele nobre cruel. Ele sabia que Genevieve seria possuída por aquele homem um dia. E ele sabia que não podia deixar que isso acontecesse. Ele queria ir-se embora, ele realmente queria. Mas não podia. Fazer isso significaria a morte de Genevieve.

Royce, de repente, agarrou Manfor e atirou-o ao chão. Ele encarou-o e sacou da sua espada.

"Saca da tua espada!", Royce ordenou-lhe, dando-lhe uma hipótese de lutar com honra.

Manfor olhou para ele, claramente surpreendido por lhe estar a ser dada aquela oportunidade. De seguida, ele sacou da espada.

Manfor atacou, dando balanço com força e Royce ergueu a sua espada e bloqueou-a. Voaram faíscas. Royce, sentindo que era mais forte, ergueu a sua espada, empurrando Manfor para trás. Depois girou com o cotovelo e bateu-lhe no rosto com o punho da espada.

Royce partiu o nariz de Manfor, ouvindo-se um estalido. Manfor cambaleou para trás e olhou, claramente atordoado enquanto agarrava o seu nariz. Royce poderia ter aproveitado o momento para matá-lo, mas, novamente, deu-lhe mais uma hipótese.

"Desiste", Royce propôs, "e eu deixo-te viver."

Manfor, no entanto, soltou um gemido de fúria. Ergueu a sua espada e atacou novamente.

Royce bloqueava-a, enquanto Manfor balançava furiosamente, cada um deles a golpear para a frente e para trás, com as espadas a ressoar quando as faíscas voavam. Os dois andavam de um lado para o outro por todo o quarto. Manfor podia ser um nobre, criado com todos os benefícios da classe real, porém, Royce tinha um talento superior para o combate.

Durante a luta, ouviram-se cornetas ao longe e o som de um exército a aproximar-se do castelo, com os cascos dos cavalos a baterem calçada abaixo. Royce ficou preocupado. Ele sabia que o seu tempo estava a acabar. Algo tinha de ser feito rapidamente.

Finalmente, Royce fez girar acentuadamente a espada de Manfor e desarmou-o, atirando-a pelo ar para o outro lado da sala. Royce encostou a ponta da sua espada à garganta de Manfor.

"Recua, agora", Royce ordenou.

Manfor afastou-se lentamente, de braços para cima. No entanto, quando chegou a uma pequena mesa de madeira, ele, de repente, girou, apanhou algo e atirou-a para os olhos de Royce.

Royce gritou ao ficar, de repente, cego. Os olhos ardiam-lhe e o seu mundo ficou preto. Ele percebeu, tarde demais, ao tatear os seus olhos, que era tinta. Tinha sido uma jogada suja, um movimento impróprio de um nobre ou de qualquer lutador. Mas, mais uma vez, Royce sabia que não deveria ficar surpreendido.

Antes de conseguir recuperar a sua visão, Royce, de repente, sentiu um pontapé forte no estômago. Desequilibrou-se, caindo para o chão, sem fôlego, e, ao olhar para cima, recuperou apenas a visão suficiente para ver Manfor a sorrir enquanto extraia um punhal escondido na sua capa – e ergueu-o na direção das costas de Royce.

"ROYCE!", Genevieve gritou.

No momento em que o punhal desceu na direção das suas costas, Royce conseguiu recompor-se, apoiando-se num joelho, levantando o braço e agarrando o pulso de Manfor. Royce lentamente ficou de pé, com os braços tremendo e, enquanto Manfor baixava o punhal, ele, de repente, esquivou-se para o lado e girou o braço dele ao redor, usando a sua força contra ele. Manfor continuou a mover-se, não disposto a parar, mas, desta vez, quando Royce se desviou, ele mergulhou o punhal no seu próprio estômago.

Manfor arfava. Ele estava ali, a olhar para Royce, com os olhos arregalados, com o sangue a escorrer-lhe da boca. Ele estava a morrer.

Royce sentiu a solenidade do momento. Ele havia matado um homem. Pela primeira vez na sua vida, ele havia matado um homem. E não um homem qualquer mas sim um nobre.

O último gesto de Manfor foi um sorriso cruel, com o sangue a escorrer-lhe da boca.

"Recuperaste a tua noiva", ele ofegou, "à custa da tua vida. Vais juntar-te a mim em breve."

Dito isso, Manfor sucumbiu e caiu no chão com um baque.

Morto.

Royce virou-se e olhou para Genevieve, que estava sentada na cama, atordoada. Ele conseguia ver o alívio e gratidão no seu rosto. Ela saltou da cama, correu pelo quarto, diretamente para os seus braços. Ele abraçou-a com força. Era tão bom. Tudo fazia sentido no mundo outra vez.

"Oh, Royce", disse ela ao seu ouvido. E isso era tudo o que ela precisava de dizer. Ele entendeu.

"Vamos, temos de ir", disse Royce. "O nosso tempo é curto."

Ele pegou-lhe na mão e os dois saíram a correr pela porta do quarto para os corredores.

Royce correu pelo corredor com Genevieve ao seu lado. O coração dele batia com força ao ouvir soar as cornetas reais, uma e outra vez. Ele sabia que era o som do alarme – e sabia que era por causa dele.

Ao ouvir o barulho da armadura abaixo, Royce sabia que o forte estava fechado e que ele estava cercado. Os seus irmãos tinham feito um bom trabalho ao conseguir mantê-los fora, mas a incursão de Royce tinha demorado muito tempo. Enquanto corriam, ele olhou para baixo para o pátio e ficou aterrorizado ao ver dezenas de cavaleiros já a passar pelos portões.

Royce sabia que não havia saída. Não só ele havia invadido a casa deles, como também tinha matado um deles, um nobre, um membro da família real. Ele sabia que eles não o iam deixar viver. Hoje seria o dia em que sua vida mudaria para sempre. Que ironia, pensou; esta manhã, ele tinha acordado tão cheio de alegria, antecipando o dia. Agora, antes do sol se pôr naquele mesmo dia, ele provavelmente estaria, ao invés, enfrentando a forca.

Royce e Genevieve correram sem parar, aproximando-se do fim do corredor e da entrada para a escada em espiral, quando de repente uma meia dúzia de cavaleiros apareceu, emergindo das escadas, bloqueando o seu caminho.

Royce e Genevieve pararam imediatamente, viraram-se e correram para o outro lado, enquanto os cavaleiros os perseguiam. Royce ouvia a armadura deles a ressoar atrás dele e sabia que a sua única vantagem era a sua falta de armadura, o que lhe dava a velocidade suficiente para se manter à frente deles.

Eles corriam sem parar, percorrendo os corredores. Royce esperava desesperadamente encontrar uma escada traseira, outra saída – quando, de repente, ao viraram noutro corredor, deram por eles diante de uma parede de pedra. Royce ficou desesperado ao chegarem ao fim.

Um beco sem saída.

Royce voltou-se e sacou da espada ao mesmo tempo que colocou Genevieve atrás dele, preparado para marcar uma posição contra os cavaleiros, embora ele soubesse que seria a última.

De repente, ele sentiu Genevieve a agarrar-lhe o braço freneticamente, gritando: "Royce"

Ele voltou-se e viu para onde ela estava a olhar: uma grande janela ao lado deles. Ele olhou para baixo e ficou apavorado. Era uma longa queda, demasiado longa para sobreviver.

Porém, ele viu que ela estava a apontar para uma carroça cheia de feno que passava devagar por baixo deles.

"Nós podemos saltar!", gritou ela.

Ela agarrou na mão dele e, juntos, aproximaram-se da janela. Ele virou-se e olhou para trás, viu os cavaleiros a aproximarem-se, e, de repente, antes de ter tempo para pensar o quão louco aquilo era, sentiu a sua mão a ser puxada – e foram transportados pelo ar.

Genevieve era ainda mais valente do que ele. Ela tinha sempre sido, até mesmo em criança, ele lembrou-se.

Eles saltaram, caindo uns bons trinta pés pelo do ar, com Royce apavorado e Genevieve a gritar, visando o vagão. Royce preparava-se para morrer e estava grato por, pelo menos, não ir morrer nas mãos dos nobres – e com o seu amor ao seu lado.

Para grande alívio de Royce eles caíram na pilha de feno, provocando uma enorme nuvem à volta deles. Apesar de estar sem fôlego e magoado com a queda, para sua surpresa, ele não tinha partido nada. Sentou-se imediatamente e olhou para ver se Genevieve estava bem; ali estava ela, atordoada, mas sentou-se, também, e, ao escovar o feno, viu com imenso alívio que não se tinha ferido.

Sem dizer uma palavra, ambos, ao mesmo tempo, lembraram-se da sua difícil situação e saltaram do carro, com Royce a agarrar-lhe a mão. Royce correu para o seu cavalo, que ainda o aguardava no pátio, montou, agarrou Genevieve e ajudou-a a subir para trás dele. Com um pontapé, os dois partiram a galope, com Royce a apontar para o portão aberto para o castelo, enquanto os cavaleiros continuavam a entrar, passando a correr por eles, sem sequer se aperceberem que eram eles.

Eles aproximaram-se do portão aberto. O coração de Royce batia com força; eles estavam tão perto. Tudo o que tinham a fazer era transpô-lo e, com alguns passos largos eles estariam fora, no campo. Lá eles poderiam reunir-se com os irmãos dele, os seus primos e homens, e, juntos, podiam todos fugir daquele lugar, e começar uma nova vida algures. Ou melhor ainda, eles poderiam juntar o seu próprio exército e lutar contra aqueles nobres de uma vez por todas. Por um glorioso momento, o tempo parou e Royce sentia-se à beira de mudança, da vitória, da mudança de paradigma. O dia para a revolta tinha chegado. O dia para as suas vidas nunca mais voltarem a ser as mesmas.

Ao aproximar-se do portão, Royce ficou congelado de medo quando viu a grade de ferro, que estava aberta novamente para deixar os cavaleiros entrar, de repente, a baixar e a fechar-se diante dele. O seu cavalo empinou-se e eles pararam mesmo a tempo.

Royce virou-se, olhando para trás para o pátio. Lá ele viu cinquenta cavaleiros, que agora percebiam quem eles eram, a aproximarem-se. Royce preparava-se para cavalgar para a frente e encontrá-los no campo de batalha, por muito imprudente que isso fosse, quando, de repente, sentiu uma corda a cair sobre ele, vinda de trás, ouvindo Genevieve a gritar.

As cordas apertaram-se ao redor da sua cintura e, com uma sacudidela, Royce sentiu-se a ser atirado para trás do seu cavalo. Ele caiu com força no chão, sem fôlego, atado por trás. Ele olhou e viu Genevieve atada com cordas e puxada para o chão, também.

Royce rebolava e tropeçava, tentando freneticamente libertar-se, com as cordas apertadas à volta dos seus braços e ombros. Ele alcançou a sua cintura, agarrou no punhal e, com um empurrão, conseguiu soltá-las.

Livre, ele desviou-se a rebolar de um taco que vinha na direção da sua cabeça. Agarrou a espada do seu atacante, virando-se e depois, ficou de pé no centro do pátio, cercado por aquilo que era naquele momento quase uma centena de cavaleiros. Eles cercaram-no de todos os lados.

Eles atacaram. Royce levantou a sua espada e lutou também, defendendo-se à medida que eles golpeavam, golpeando também, sentindo-se invencível, mais forte e mais rápido do que todos eles. Ainda assim, eles cercavam-no cada vez mais, com as suas fileiras a crescerem.

Royce ergueu a sua espada e bloqueou um golpe apontado para a sua cabeça; então ele girou e golpeou outra espada apontada para as suas costas, arrancando a espada das mãos do seu atacante. Ele então inclinou-se para trás e pontapeou outro cavaleiro no peito quando ele se aproximou, forçando-o a largar o seu taco.

Royce lutava como um homem possuído, golpeando e defendendo-se, conseguindo manter dezenas deles afastados, à medida que as espadas soavam e as faíscas choviam à sua volta. Ele respirava com dificuldade, mal capaz de ver por causa do suor que lhe fazia arder os olhos. E durante todo aquele tempo, ele pensava apenas numa coisa: Genevieve. Ele morreria aqui por ela.

As fileiras estavam cada vez maiores. Era demasiado até mesmo para ele. Os braços e os ombros de Royce doíam-lhe, a sua respiração estava pesada. A multidão era tanta, tão próxima, que ele mal conseguia mexer-se para dar balanço. Ao erguer a sua espada uma última vez para golpear, de repente, sentiu uma terrível dor na parte de trás da cabeça.

Caiu no chão, vagamente consciente de que tinha sido atingido por um taco. Ele só deu por estar deitado de lado no chão, incapaz de se mover, quando dezenas de cavaleiros se lançaram sobre ele. Era um muro de metal a prendê-lo ao chão, dobrando-lhe os braços, com os joelhos nas suas costas e com os braços na sua cabeça.

Era o fim, ele percebeu.

Ele tinha perdido.

Apenas os Dignos

Подняться наверх