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PARTE DOIS
CAPÍTULO SEIS

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Royce acordou, sobressaltado, sentindo água gelada no rosto e ouvindo gritos e vaias. Ele pestanejou com a luz. Apercebeu-se de imediato que um de seus olhos estava fechado e o outro quase fechado, apenas o suficiente para ele conseguir ver. A sua cabeça cambaleava por causa da dor, o seu estava corpo rígido, coberto de inchaços e contusões. Sentia-se como se tivesse rebolado por uma montanha abaixo. Olhou para o mundo diante de si e desejou não o ter feito.

Uma multidão agitada rodeava-o, alguns a gritar e a vaiar, outros a protestar, aparentemente em seu nome. Era como se aquelas pessoas tivessem irrompido numa guerra civil, com ele no centro. Ele esforçava-se por perceber o sentido do que via. Seria um sonho? ele questionava-se.

A dor era demasiado intensa para que fosse um sonho; a dor de cabeça dos golpes e as cordas grossas a apertarem os pulsos. Ele lutava com as cordas que lhe atavam os pulsos e tornozelos, sem sucesso, e, ao olhar para baixo, percebeu que estava amarrado a uma estaca. O seu coração bateu com mais força ao ver uma pilha de madeira debaixo dele, como se estivesse pronta para ser acesa. O medo apoderou-se de si ao perceber que estava amarrado no pátio do castelo.

Royce olhou e viu centenas de aldeões a multiplicavam no pátio e dezenas de cavaleiros e guardas de pé ao longo dos muros; ele viu um palco de madeira improvisado, talvez a cinquenta pés de distância e, nele, juízes do tribunal, todos eles nobres. Ao centro estava um homem que ele reconheceu: Lorde Nors. O chefe da família dos nobres. O pai de Manfor. Ele era o juiz presidente do território. Ele estava ao meio a olhar para Royce com um ódio que Royce jamais havia visto.

Não era um bom presságio.

Voltou tudo à memória de Royce. Genevieve. A invasão ao forte. O resgate dela. Matar Manfor. Saltar. Lutar contra aqueles cavaleiros. E depois…

Ouviu-se várias vezes o bater de um martelo na madeira e a multidão sossegou. O Lorde Nors estava de pé, olhando taciturnamente para todos. Estava ainda mais feroz, mais imponente, de pé. Fixou o seu olhar cheio de fúria sobre Royce que percebeu que estava a ser levado a julgamento. Ele tinha visto vários julgamentos e nenhum tinha corrido bem para os prisioneiros.

Royce observava os rostos, desesperado por ver Genevieve, rezando para que ela estivesse em segurança, longe de tudo aquilo.

No entanto, ele não via nada. Isso era o que o preocupava mais do que tudo. Teria ela sido presa? Morta?

Ele tentava bloquear da sua mente vários cenários de pesadelo.

"És aqui acusado do assassinato de Manfor da Casa de Nors, filho do Lorde Nors, governante do Sul e das Florestas de Segall", fez soar o Lorde Nors. A multidão ficou completamente imóvel. "Qual é a tua alegação?"

Royce abriu a boca, esforçando-se para falar – mas os seus lábios e garganta estavam ressequidos. A sua voz ficou aquém e ele tentou novamente.

"Ele roubou a minha noiva", Royce finalmente conseguiu responder.

Ouviu-se um coro de aplausos de apoio. Royce olhou e viu milhares de aldeões, seus compatriotas, a aparecerem, empunhando tacos, foices e forquilhas. Ele ficou esperançado e grato ao perceber que todos os do seu povo tinham vindo para apoiá-lo. Eles estavam todos fartos.

Royce olhou para o Lorde Nors e viu-o perder a sua convicção, apenas um bocadinho. Um olhar nervoso espalhou-se pelo seu rosto. Ele virou-se e olhou para seus colegas juízes e eles olharam para os cavaleiros. Parecia que estavam a começar a aperceber-se que podiam, se condenassem Royce à morte, ter uma revolução nas suas mãos.

Finalmente, o Lorde Nors bateu com o martelo e a multidão sossegou.

"No entanto", ele bombardeou, "a lei é clara: qualquer mulher camponesa é propriedade de qualquer nobre até ela se casar."

Ouviu-se um grande coro de vaias e assobios da multidão que avançou. Uma pessoa anónima atirou um tomate em direção ao palco e a multidão aclamou, pois, por pouco não acertou no Lorde Nors.

Ouviu-se um sussurrar horrorizado entre os nobres e, quando o Lorde Nors assentiu, os cavaleiros começaram a empurrar a multidão, ansiosos por encontrar o agressor. No entanto, eles logo pararam, pensando melhor no assunto, ao serem cercados por mais centenas de aldeões que se movimentavam para a praça, tornando a passagem impossível. Um cavaleiro tentou passar em frente dando cotoveladas, mas em pouco tempo ficou submerso pelas massas, empurrado de um lado para o outro e, entre gritos zangados e aclamações, ele recuou.

A multidão aplaudiu. Finalmente, eles estavam a defender-se a si mesmos.

Royce sentiu uma onda de optimismo. Um ponto de viragem tinha chegado. Os camponeses, tal como ele, estavam fartos. Já ninguém queria que as suas mulheres fossem levadas. Ninguém queria ser considerado como propriedade. Todos se aperceberam que poderiam estar na posição de Royce.

Royce observou a multidão, ainda desesperado para encontrar Genevieve – de repente, ele viu-a ao fim do pátio, amarrada em cordas. Ao pé estavam os seus três irmãos, eles, também, amarrados. Ele ficou aliviado ao ver que, pelo menos, estavam vivos e ilesos. Mas preocupado ao ver que estavam amarrados. Ele perguntava-se o que é que lhes iria acontecer. Ele desejava mais do que qualquer coisa poder ser castigado em vez deles.

À medida que a multidão se avolumava, os magistrados pareciam cada vez mais nervosos e olhavam para o Lorde Nors com olhares de incerteza.

"É a tua lei!", Royce gritou, recuperando a sua voz, encorajado. "Não a nossa!"

A multidão soltou um enorme rugido de aprovação, avançando perigosamente, com forquilhas e foices erguidas no ar.

Lorde Nors, olhando taciturnamente para baixo na direção de Royce, ergueu as mãos e, finalmente, a multidão sossegou-se.

"Hoje o meu filho está morto", ressoou ele, com uma voz pesada de tristeza. "E se eu fosse fazer cumprir a lei, tu serias morto, também."

A multidão vaiou e aglomerou-se ameaçadoramente.

"E, no entanto", ecoou Lorde Nors, levantando as mãos, "dada a situação dos nossos tempos, matar-te não seria no melhor interesse da coroa. E assim", disse ele, voltando-se e olhando para os seus companheiros magistrados, "decidi conceder-lhe misericórdia!"

A multidão aclamou calorosamente, agitando-se. Royce sentiu uma onda de alívio. O Lorde Nors ergueu as mãos.

"Os teus irmãos não mataram nenhum dos nossos homens no vosso ataque e, portanto, eles não vão mortos, tampouco."

A multidão aclamou

"Eles serão presos!", ressoou ele.

A multidão vaiou.

"No entanto, a tua noiva nunca será tua", disse o Lorde Nors numa voz crescente. "Ela será propriedade de um dos nossos nobres."

A multidão vaiou e assobiou, mas antes que se intensifica-se, Lorde Nors terminou, apontando para Royce com toda a sua ira:

"E tu, Royce, serás condenado à Arena!"

A multidão vaiou e correu para a frente e, em pouco tempo, uma briga irrompeu nas ruas.

Royce não conseguiu vê-la a crescer. De repente, as cordas foram cortadas dos seus pulsos e dos seus tornozelos e ele caiu no chão, mole. Ele sentiu uns braços ao seu redor e manoplas de metal a agarrarem-no, arrastando-o para longe através do caos.

Apenas os Dignos

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