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CAPÍTULO UM
ОглавлениеMeus três homens
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Alguns culparão a minha beleza. Outros não verão beleza em nada. Sinceramente, nem eu mesmo consigo dizer ao certo o que é a minha vida. Meu nome é Gaius Barrys, e resolvi escrever a minha história.
Era véspera de Natal. Estávamos todos à mesa: papai, Marcus, Núbia, Arthur e eu. A cadeira vazia da mamãe era uma lembrança constante da dor que sua morte causou a todos nós. Tentávamos aceitar que, talvez, tenha sido melhor que ela tivesse partido, embora ainda nos doesse o peito a sua ausência. Foi o primeiro Natal sem ela, e muitos outros seriam como aquele: tristes. Dispensei a sobremesa, mil-folhas recheado com creme pâtissière, e pedi licença a todos para ir ao meu quarto.
— Gaius, Emmanuelle fez a sobremesa que você mais gosta. Coma pelo menos um pouco, filho — solicitou meu pai na tentativa de manter-me mais tempo à mesa, enquanto eu arrastava a cadeira e me levantava.
— Desculpe, pai. Com licença — respondi, saindo da mesa.
Naquela noite, somente a companhia do meu travesseiro e o carinho do meu irmão podiam suavizar aquela dor que não cansava de maltratar meu coração. Já não suportava mais. Caí no choro e me entreguei à saudade e à revolta. Onde está Marcus? Onde está meu irmão? Pensei em meio às lágrimas. Ele não estava ali, mas sei que logo chegaria.
No dia seguinte à ceia, sob o tímido sol que me invadia os olhos, percebi um caminhar elegante. As imagens não eram nítidas. Havia um homem em meu quarto. Ele segurava em suas mãos algo vermelho e pendular.
— Quem é? — perguntei, ainda sonolento.
— Hora de acordar, maninho — respondeu Marcus, deitando na cama e me abraçando por trás.
— O que você trouxe?
— Uma tulipa. Sei que você gosta. Feliz Natal! Eu amo você! — e me beijou a nuca.
Não me contive, deixei escapar uma fina lágrima e solucei.
— Olhe! Sei que não está sendo fácil para você, e nem para mim, mas temos que reagir. Não pode se entregar. Olhe para mim. Mamãe não ficaria feliz se o visse assim, sofrendo tanto.
Encarei seus olhos e respondi:
— Marcus, não estou conseguindo. Não estou conseguindo! Você entende o que digo? — gritei.
— Gaius, você tem que conseguir. Nós estamos aqui. Papai, Núbia, Arthur, eu... Todos vamos ajudar você. Sei que era muito apegado à mamãe, mas ela se foi. Olhe! Deixe-me fazer uma pergunta: Você queria que ela continuasse sofrendo daquele jeito? Não foi melhor ela ter partido em paz? — questionou ele na tentativa de acalentar-me e acalmar-me.
— Por favor, abrace-me. Abrace-me, meu irmão! — e, chorando, estendi os braços para recebê-lo em meu peito.
Quando esta história que estou contando começou, meu irmão não morava em Monte Carlo. Os negócios da House’s Barrys o prendiam em Nova Iorque, embora fosse da vontade dele e da esposa morar em Mônaco conosco. Mas quando se é dono de uma das maiores redes de imobiliárias dos Estados Unidos, os deveres sempre precedem os desejos. Assim aconteceu com meu pai a vida inteira e, à época, acontecia com ele. Ele tinha vontade de estar conosco, mas não podia. Marcus estava nos visitando com a família apenas para as festas de fim de ano. Antes disso, só nos encontramos no enterro da mamãe e no início do ano, quando eu ainda morava com ele em Nova Iorque para terminar os estudos. Naquele mesmo ano, depois de concluir o colegial, resolvi sair da vida agitada de Manhattan para cuidar de mamãe, abandonando, assim, o convívio prazeroso com ele. Depois que ela morreu, precisava do meu irmão mais que nunca. E, como sempre, ele nunca hesitou em me salvar. E lamento que isso tenha mudado com o tempo.
Naquela manhã de Natal, depois de abraçar-me, Marcus me convidou para passear. Disse-me que Monte Carlo estava abarrotada de turistas por causa das festas de fim de ano. Tinha a clara intenção de me animar. Realmente, havia um agradável clima de celebração, afinal era Natal, e, também, estava fazendo calor naquele fim de ano, mesmo que estivéssemos no inverno. Depois que tomamos café, ele sugeriu que inaugurássemos o presente que eu tinha ganhado de papai há alguns dias, uma BMW Z4 preta. Meu irmão sempre foi apaixonado por carros. Então, aceitei o convite, e fomos ao Monte Carlo Beach, sentindo o vento bater em nosso rosto. Era contagiante a alegria do meu irmão, pois trocava a música, abria o capô do carro, cantava, sorria... Feliz estava igual a uma criança com brinquedo novo. Conseguiu-me arrancar algumas discretas risadas ao quase atropelar um casal de turistas. Que susto tive, meu Deus! Ele estava feliz, e eu, vendo-o tão entusiasmado, fui possuído por esse mesmo sentimento.
Chegando ao clube, fomos direto às mesas em torno da piscina. Que bom que a piscina é aquecida e coberta. Pensei. E, logo, pedimos um kir royal ao garçom. Algumas horas se passaram, enquanto conversávamos descontraidamente. Disse-me que gostaria de ter mais tempo para visitar ao papai e a mim mais vezes.
— Eu gosto daqui... Monte Carlo é melhor que Nova Iorque para se viver. Espero que possa vir morar com vocês daqui a alguns anos — disse ele.
Em suas palavras, vi-o desejoso de alguma coisa que não tivesse ligação com o trabalho, o que não era comum. Marcus era mais velho que eu, e meu único irmão. Era um homem de quem não se deveria esperar extroversão e sentimentalismos. Nunca se permitia dizer o que queria, pensava, sentia... Era formal, tímido, discreto, responsável e, talvez, misterioso, além de ser possuidor de uma beleza serena. As responsabilidades dos negócios o fizeram assim, um pouco diferente de mim. Recordo-me que, depois de almoçarmos, pedimos mais um kir e falávamos em entrar na piscina. Foi quando eu o vi. Ele vinha em nossa direção. E a sua presença mudou todo o curso daquele dia.
— Você não sabe quem está vindo até nós — comentei em voz baixa, mas sem dar tempo ao meu irmão de tentar adivinhar.
E antes que Marcus olhasse para trás, uma mão molhada tocou o seu paletó azul royal.
— Meu amigo! Não sabia que estava aqui! — exclamou Marcus ao vê-lo.
Era Aidan. E logo senti que deveria sair daquele clube o mais rápido possível. Marcus se surpreendeu, mas demonstrou estar feliz de tê-lo encontrado, sendo civilizado com ele.
— Você, por aqui? Pensei que não gostasse de Mônaco. Senta conosco? — perguntou Marcus.
— E não gosto! Mas estava entediado em Nova Iorque e resolvi passar o ano novo aqui. Olá, Gaius! — disse, olhando-me.
E, logo, sentou-se ao meu lado, depois de me beijar o rosto.
— Oi, Aidan! Como vai? — retribuí, meio envergonhado.
— Ao seu lado, bem melhor — respondeu, sorrindo.
Aidan era um velho amigo do meu irmão. Talvez, o único que teve de verdade. Estudaram o colegial juntos e moraram em Harvard no mesmo período. O pai dele tinha negócios com nossa empresa, e isso estreitou mais a sua relação conosco. Era holandês, alto, loiro, forte, másculo, belo e rico. Um bom partido para namorar. Quem olhasse, jamais imaginaria que fosse gay. A meu ver, só tinha um defeito, era obsessivo por mim. Na época em que morei em Nova Iorque, não foram poucas as vezes em que Aidan me procurou. Quase sempre se apresentava insistente e inconveniente. Como esquecer o vexame que ele me fez passar na minha festa de aniversário daquele mesmo ano, poucos meses antes daquele inesperado encontro em Monte Carlo? Lembro-me bem daquele dia. Um amigo chamado Richard convidou-me para a vernissage de um artista plástico latino. Depois, fomos jantar. Na volta, pegamos um táxi, e ele me deixou em frente ao prédio do meu irmão, seguindo para sua casa. Ao entrar no apartamento, emocionei-me:
— Parabéns pra você! Parabéns pra você!... — cantavam algumas pessoas, sorrindo e olhando para mim.
Na sala de estar estavam Marcus, Núbia, Arthur, dois ou três conhecidos do meu irmão, um garçom, e Aidan. Depois dos parabéns, dei um beijo de agradecimento em cada um. Arthur, meu sobrinho de cinco anos, segurava o bolo e dizia com voz angelical:
— Tio, tem que fazer um pedido e apagar a velinha.
Como resistir a tanta doçura deste menino? Pensei. Fiz o pedido e apaguei a vela sob aplausos discretos. Quando percebi as bebidas, a música tocando e Aidan me olhando, pensei: Preciso de Richard aqui, agora! Ele vai me salvar. Necessitava de apoio, caso Aidan aprontasse. E ele sempre aprontava comigo, principalmente em público. Tomei o celular e liguei para Richard.
— Meu irmão fez uma festa surpresa aqui em casa. Por favor, volte rápido!
Não podia deixar de dizer algumas palavras a todos, mas queria que Richard estivesse presente. Então, esperei. Passeei discretamente pelos convidados, agradecendo a presença, até chegar ao meu irmão.
— Eu amo muito você, sabia? Obrigado! — disse a Marcus, abraçando-o e beijando-lhe o rosto.
— Você sabe que papai não está aqui por causa da mamãe, não é, maninho? — justificava ele.
E, antes que eu dissesse algo, uma mão se apossou da minha cintura e pressionou meu corpo contra ela. Era Aidan.
— O seu presente. Espero que goste — disse ele.
Aidan estendeu diante dos meus olhos uma caixinha preta aveludada. No alto da caixinha, um cisne negro e um S ao lado em alto-relevo prateado chamava a atenção.
— Será o que estou pensando? — perguntei, curioso, com meio sorriso nos lábios.
— Abra-a! — respondeu, levando o copo de uísque à boca, tentando disfarçar a ansiedade.
— Ah! Não acredito! — exclamei.
Era um lindo par de abotoaduras.
— Deixe-me mostrar uma coisa — falou ele, tirando a mão da minha cintura e, por trás de mim, mostrando os cristais Swarovski & Ônix Negro nas bordas das abotoaduras.
— A vendedora me disse que é o último lançamento da marca para os homens. Imaginei que você ainda não tivesse — completou ele.
E não tinha.
— Obrigado, Aidan! Gostei muito! — disse, dando-lhe um beijo demorado no rosto, enquanto ele apertava minha cintura contra a dele, suavemente.
O presente não impressionou somente a mim. Núbia, minha cunhada, aproveitou o momento para alfinetar meu irmão.
— Nossa, Gaius! Que presente, hein? Também gostaria de ganhar um desses de vez em quando.
Nossas risadas deixaram Marcus constrangido, mas ele conseguiu se safar elegantemente:
— Claro, meu amor — comentou ele, dando um gole no champanhe, levemente envergonhado.
Núbia era uma mulher de pouco mais de trinta anos. Tinha uma estatura mediana, cabelos curtos e pretos, que combinavam com seus olhos escuros. Sua pele clara e o corpo conservado, resultado de horas de ginástica na academia e de uma alimentação balanceada, faziam dela uma mulher bela e sexy. Tinha bom gosto para se vestir. Não trabalhava, e passava parte do dia cuidando do meu sobrinho, que sofria de asma, e precisava de atenção. A beleza dela com a de Marcus faziam deles um casal admirável.
Estávamos ali, comemorando meu aniversário, enquanto bebíamos, comíamos alguns aperitivos servidos pelos garçons, e falávamos amenidades, entre uma risada e outra. Havia um clima amistoso e descontraído entre nós. Lembro-me que comentava que ainda me sentia imaturo para ir à faculdade, pois não sabia o que queria fazer. Era apaixonado por fotografias, e pensava em trilhar esse caminho profissionalmente. Não queria apressar-me, afinal estava fazendo apenas dezessete anos e ainda tinha tempo para discernir o que fazer da minha vida. Papai sempre tentou me levar para o mundo dos negócios, da administração, dos escritórios, mas, vendo a vida do meu irmão, nunca me senti atraído. E, realmente, papai nunca conseguiu o que queria. Enquanto falava, fui interrompido pela campainha.
— É Richard! Com licença — disse, dando as costas a Marcus e Aidan, caminhando até a porta.
— Meu amigo, que bom que veio. Vejo que trouxe alguém com você. Quem é? — perguntei, enquanto o abraçava.
— Este é Pablo. Este é Gaius. A festinha está animada. Nós queremos beber — respondeu, entrando no apartamento com seu amigo Pablo.
O garçom recebeu os casacos deles, e eu os levei até o meu irmão.
— Pablo, este é o meu irmão Marcus, a esposa dele, Núbia, e um amigo da família, Aidan. Bom, Richard todos vocês já conhecem, não é? — comentei, descontraidamente, fazendo as devidas apresentações.
Aproveitei que todos estavam conversando e fui em busca do garçom, e pedi:
— Por favor, desligue a música e me traga uma taça de champanhe.
Pedi a atenção de todos para o discurso.
— Um minuto, por favor. Hoje é um dia muito especial para mim...
Uma voz estridente se sobressaiu à minha, interrompendo-me. Era Aidan, visivelmente bêbado.
— Peço a todos que escutem o que eu tenho a dizer: Hoje é um dia muito importante para nós que somos amigos de Gaius. Afinal, quem não se lembra dos seus dezessete, não é? Bom, às vezes é melhor não lembrar.
As gargalhadas o interromperam, mas ele continuou mirando em meus olhos e discursando:
— Desejamos toda a felicidade do mundo a você, pois o amamos e lhe queremos bem.
Neste momento, caminhou em minha direção.
— Não é segredo para muitos aqui que gosto de você. Nunca escondi o que sinto, e sabe disso. Lamento que seus pais não estejam aqui para ouvir o que tenho a dizer. Mas quero falar diante do seu irmão: eu amo muito você, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.
Ele segurou minha mão, olhou-me com os olhos marejados e perguntou:
— Gaius, você quer namorar comigo?
Não sabia se socava a cara de felicidade de Richard ou o rosto de bobo apaixonado de Aidan, que visivelmente estava mais bêbado do que supus. Que vergonha! Que vergonha, meu Deus! Estavam todos me olhando. Alguns, surpresos. Outros, ansiosos. E eu ali, em silêncio, vendo nas expressões faciais de cada um a expectativa pela minha resposta. Os segundos tornaram-se horas, e a angústia apossava-se de mim. Bruscamente, larguei a mão de Aidan, e o encarei com raiva.
— Com licença! — e corri ao meu quarto, trancando-me.
Como num lampejo, toda essa história me veio à mente, quando vi Aidan naquela piscina em Monte Carlo. Desde aquele dia desagradável, não tinha estado com ele, pois, poucas semanas depois decidi morar com meus pais em Mônaco para cuidar da minha mãe. Ele mandou-me flores, quando soube do falecimento dela, e o cartão era o reflexo do que sentia sobre a dor da morte da minha mãe e o vexame no meu aniversário:
“Sinto muito pela sua mãe. Sinto muito pelo que aconteceu no dia do seu aniversário. Gosto de você! Aidan”.
E ele estava ali, diante de mim.
— Gaius, Gaius! Oi? — disse meu irmão.
— Sim — respondi, forçando um sorriso.
— Parece distante, maninho.
— Não. Não estou. Tudo bem.
Fiz sinal ao garçom e pedi mais um Kir na tentativa de evitar iniciar uma conversa com Aidan, embora soubesse que era impossível, pois só estávamos nós três à mesa. Marcus percebeu meu desconforto e, logo, perguntou-lhe como estava seu pai. Eles dois sempre foram bom de papo, então os deixei conversarem. Instantes depois, comentei:
— Acho que vou mergulhar.
— Você trouxe calção de banho? — perguntou Marcus.
— Se você quiser, Gaius, pode usar o meu. Na minha suíte tem tudo de que precisa — disse Aidan antes que eu respondesse.
— Você está hospedado aqui, Aidan? Por que não ficou na nossa casa? Papai gosta tanto de você — indagou meu irmão.
Aidan enrubesceu e olhou para mim.
— É que eu não sabia que você estava aqui, meu amigo. E acho que Gaius não iria querer me receber.
Olhei-o com ódio. Como ele pôde dizer isso? Que cínico, meu Deus! Pensei.
— Não se preocupe, Aidan. Nossa casa é muito grande. Nem iríamos nos encontrar. Com licença — respondi, debochado, levantando-me e saindo da mesa.
— Você quer que eu o acompanhe até a... — ofereceu-se ele.
E, antes que ele terminasse a frase, intervi:
— Não precisa! Vou sozinho!
Dei alguns passos em direção ao hall do hotel, mas ainda consegui ouvir o comentário deles dois:
— É, meu amigo, você se apaixonou por um garoto bem bravinho — disse meu irmão.
— E você acha que eu já não percebi? — respondeu Aidan.
Ouvi as risadas. E eu mesmo ri.
Ao entrar na suíte, dei de cara com A ponte japonesa pendurado na parede acima da cama. Que bálsamo! Adoro Monet, meu Deus! E com a televisão ligada também. Que desleixado! Pensei. Caminhei vagarosamente até o banheiro, apreciando a clássica decoração inspirada no estilo Luís XVI. Dois pequenos abajures, um de cada lado da cama, uma cortina de tecido grosso de cor pastel e com bordas vermelho escuro, duas poltronas aveludadas brancas e um tapete de cor dourado envelhecido, que cobria o assoalho de madeira fina, ofereciam um ar imponente ao ambiente. No banheiro, o aroma do Givenchy Gentleman me recepcionou. Será que ele só usa Givenchy porque está em Mônaco? Não importa. Pensei. Precisava de um calção. Procurei nas gavetas e achei dois, um preto de cintura larga, e um branco, de cintura ajustável. Não poderia usar o preto, era largo demais e eu iria me perder lá dentro. Sobrou-me o branco. Ainda bem que estou de cueca preta. Pensei. Tirei minhas roupas e sapatos e dispus tudo sobre a cômoda do espelho. Vesti o calção e ajustei a cintura. Realmente estou muito magro. Papai está certo. Tomei um dos pares de sandálias de dedo que estavam ao chão do banheiro e virei-me para sair. Foi quando me assustei. Oh, meu Deus! O que ele está fazendo aqui? Não acredito que estava me olhando trocar de roupa! Que ódio! Que ódio, meu Deus! Pensei. Aidan estava parado na porta da suíte, olhando-me. Meio desconcertado, com a voz gaguejando, sem decidir se seus olhos paravam em minha cintura ou em meu rosto e, coçando sua barba suavemente, disse:
— É que... eu não lhe disse que... que o calção estava na gaveta do banheiro. Você saiu tão rápido da mesa e... e eu não tive tempo. Fiquei com medo de não achar.
— Não se preocupe, Aidan. Eu achei — comentei, com indiferença, caminhando em direção à porta.
— Espere! É melhor levar uma toalha e um protetor. Você tem a pele muito branca. A piscina é coberta, mas entra sol. Eu vou pegar.
Ele passou por mim em direção ao banheiro, e eu fui ao lugar onde ele estava. Depois, entregou-me uma toalha branca e um protetor solar, comentando:
— Se você quiser, posso passar nas suas costas.
— Peço para o meu irmão. Obrigado — e dei as costas para sair, quando ele segurou meu braço e me virou de frente para ele.
— Olha, Gaius! Sei que as coisas ficaram estranhas entre nós depois do seu aniversário, mas quero que saiba que sinto muito pelo que aconteceu naquela noite. Não foi minha intenção constranger você, eu só... — falou, olhando-me com cara de arrependido.
— Você só bebeu demais e tentou forçar uma história que não existe entre nós, Aidan! E, por favor, largue o meu braço — completei, irritado, olhando-o nos olhos.
Depois que ele me soltou, dei as costas, saí da suíte e caminhei em direção ao elevador, que ficava no final do corredor. Quantos quadros bonitos, meu Deus! Este hotel tem bom gosto! Pensei. Ao lado do elevador, um grande espelho refletia a imagem de Aidan, fechando a porta da suíte e encarando minhas costas. Ele vestia somente um calção branco, seus cabelos castanhos estavam molhados e bagunçados, e seus olhos estavam cheios de luxúria. Tenho certeza, meu Deus! Ele quer fazer sexo comigo. Pensei.
Chegando à piscina, vi meu irmão ao celular. Estendi o protetor diante dele e sentei-me de costas. Marcus falava sobre negócios, enquanto espalhava o protetor solar primeiro em meus ombros, depois no meio das costas, e, por último, já perto das nádegas. Que mãos fortes têm o meu irmão! Pensei. Dei um tchauzinho a ele e mergulhei. Havia poucas pessoas na piscina, talvez três ou quatro casais, mais dois homens e algumas crianças. A água estava morna, e eu nadava de uma ponta a outra, quando uma câimbra me paralisou.
— Não acredito! Ai que dor, meu Deus! Está doendo demais! — exclamei.
A dor era insuportável, e eu fiquei paralisado no meio da piscina na esperança de ela me deixar. Mas não passava e eu fazia cara feia, quando vi que dois homens me olhavam, curiosos.
— Oi! Você está bem? — perguntou-me um homem de olhos pretos.
Como não respondi, eles foram em minha direção.
— Oi! O que você tem? — perguntou-me outro homem, mais jovem que o primeiro, e com a pele queimada pelo sol.
— É que minha perna está doendo. Acho que é uma câimbra.
— Vamos tirar você da água, certo? — disse o primeiro homem.
Eles encaixaram seus ombros sobre meus braços abertos, um de cada lado, ajudando-me a sair da piscina. O homem de olhos pretos segurou-me nos braços e me levava em direção às cadeiras de sol, quando Aidan avistou-nos de longe e correu ao nosso encontro.
— O que houve? O que você tem? — perguntou, ansioso.
— Não foi nada. Ele só teve uma câimbra — respondeu calmamente o homem que me carregava, enquanto me deitava na cadeira.
De costas para mim, Marcus continuava ao celular e não viu nada do que acontecia.
— Obrigado! Por favor, você pode chamar meu irmão? É aquele que está ao celular — pedi ao homem de pele queimada, que parecia ter menos de vinte anos.
— Está sentindo alguma coisa? — perguntou-me o de olhos pretos.
— É que está doendo muito — agarrei a perna na tentativa de fazer parar a dor e comecei a chorar.
— Ei! Calma. Olhe! Eu sou fisioterapeuta. Vou fazer uma massagem e, logo, vai passar. Certo?
Aidan, rapidamente, trouxe um óleo para a pele, e o homem massageava minha perna, enquanto conversava comigo. Dizia-me ele que ter câimbra em piscinas é normal, e, também, que certos alimentos ajudam a evitá-las, e ficou a citar alguns. Sorridente, afirmou que iria pedir à minha mãe para cuidar melhor da minha alimentação. Naquele instante, fitei-o.
— Minha mãe morreu há alguns meses — comentei baixinho.
Ele enrubesceu e se desculpou pelo comentário:
— Eu não sabia. Sinto muito.
Era tarde demais, pois o choro havia se apossado de mim.
Marcus e o outro homem chegaram e encontram Aidan agachado, tentando me consolar, o fisioterapeuta em pé, e eu, chorando.
— Ei, maninho. O que foi? O que houve? — perguntou meu irmão, beijando-me o rosto, tentando me acalmar.
— Eu... eu quero ir embora — disse eu, e enxugava as lágrimas com as mãos, tentando não tremer o queixo.
Aidan explicava que eu tive uma câimbra na piscina e que aqueles homens me ajudaram.
— Olhe, maninho. Foi só uma câimbra. Já vai passar. Calma, certo? — repetia Marcus, acarinhando-me os cabelos.
Meu irmão apresentou-se aos homens que me ajudaram e franziu a testa ao olhar para o fisioterapeuta. Então, falou:
— Conhecemo-nos de algum lugar? — olhando-o, curioso.
Foi quando uma surpresa invadiu meus ouvidos.
— Acho que estive no apartamento do Senhor em Nova Iorque com Richard no aniversário dele. Sou Pablo, e este é o meu irmão Juan.
Parei de chorar no mesmo instante. Olhei para eles dois e pensei: O quê? Que mundo pequeno, meu Deus!
Ao lado da piscina, um espaço aberto permitia que respirássemos o ar daquele entardecer. O sol se escondia lentamente diante de nossos olhos. A noite dava as caras em Monte Carlo, e os últimos raios do crepúsculo só poderiam ser apreciados por mais alguns instantes antes de ela firmar-se por completo. A tarde aquecida dava lugar ao vento refrescante e agradável da noite. Mais parecia vento de verão, mas não era, pois estávamos no inverno. Lembro-me bem que aquela mescla de vento, pôr do sol e chegada da noite tornou-se mágica para mim. Aquilo me despertou sensações e desejos. No dia seguinte àquele é que descobri que eu não estava inebriado de alguma força sobrenatural e sob os efeitos das belezas da natureza. Era bebida mesmo. Eu estava quase bêbado! Mas como foi bom estar relaxado naquele dia, e melhor ainda foi o que aconteceu à noite! Que noite! Que noite, meu Deus! Depois do incidente com a minha perna e da feliz coincidência de todos nós termos nos reencontrado, meu irmão, civilizado como era, convidou Pablo e Juan para sentarem conosco. Horas de conversa e muitos drinks foram o suficiente para que meus olhos faiscassem diante do belo Pablo. Ele era latino, nascido no México. Os cabelos pretos e lisos chamavam a atenção, quando iam de encontro ao vento. A barba por fazer e o sorriso travesso eram um charme à parte. E o corpo? Que corpo, meu Deus! Era alto, forte, de pele queimada e exibia uma tatuagem pouco acima da axila esquerda. Todas as vezes que ele levava as mãos ao cabelo por causa do vento, eu tentava adivinhar que tatoo era aquela. Como ele se sentou perto de mim, e do outro lado da mesa estavam Marcus, Juan e Aidan, conversando empolgadamente, nós ficamos mais à vontade. De início, falávamos amenidades. Contou-me ele que, no dia do meu aniversário, poucas horas antes de ir ao apartamento do meu irmão, quase tinha sido atropelado na Times Square, mas, felizmente, nada de grave houve. Disse, ainda, que estava morando em Nova Iorque havia pouco tempo, e que estava gostando de trabalhar como fisioterapeuta. Falávamos sobre os bons lugares de se frequentar em Manhattan, e também sobre como era a vida dele no México. Entre drinks e risadas, um pensamento me invadiu: Será que ele é gay? Não vou dizer nada comprometedor, pois acho que não é. Mas que é um homem bonito, é! Ele é tão masculino! A certeza viria poucos instantes depois.
— Sua perna está melhor? — perguntou ele, olhando-me com aqueles olhos pretos e brilhantes.
— Sim. Não está mais doendo.
— Deixe-me ver — pediu, tomando minha perna, apoiando-a em sua coxa.
Levemente, ele apalpava minha panturrilha direita, enquanto me olhava e perguntava se doía. A cada “não” que eu respondia, ele subia as mãos um pouco mais e suavizava a voz.
— Dói aqui? ... E aqui? ... E aqui?
E continuou perguntando até o sorriso tomar conta de nós dois e eu perceber que ele estava me fazendo um carinho e me olhando com desejo em vez de me examinar.
— Que olhos, meu Deus! — pensei e falei.
E ele ouviu.
— Você gosta dos meus olhos? — perguntou-me, sorrindo, meio envergonhado, com a voz baixa.
— Gosto — respondi, baixinho, mirando bem em sua pupila.
Uma tossida nos desconcentrou. Era Aidan, olhando-nos. Que inferno! Ele está aqui, e de cara feia! Tirei minha perna da coxa do Pablo e pensei: Nunca vi Aidan falando espanhol. Ele é holandês e mora em Nova Iorque desde pequeno. Não deve saber nada da língua latina. Resolvi arriscar a conversar com Pablo em espanhol. E, mentalmente, agradeci à minha mãe e as professoras particulares que tive durante toda a infância, por me ensinarem a falar fluentemente três línguas antes dos dezessete anos:
— Pablo, vou aproveitar que você é mexicano e praticar meu espanhol. Acho que ele não vai entender nada do que dissermos — comentei, diminuindo a voz para que Aidan não escutasse.
Pablo, que já tinha presenciado o vexame de Aidan no dia do meu aniversário, e, naquele dia, a cara feia dele para nós a tarde inteira, entendeu o que quis dizer.
— Sim! Como você quiser. Posso lhe dizer uma coisa? — respondeu ele, diminuindo a voz, em espanhol.
— Sim! — disse, curioso.
— Quero beijar você desde a primeira vez que nos vimos em Nova Iorque. E hoje, durante toda a tarde, fiquei com mais vontade ainda — falou, encarando-me com seus lindos olhos pretos, cheios de malícia.
— Oh, meu Deus! — e ri, timidamente, meio nervoso com o que ouvi, mas mesmo assim fazendo charme para ele.
Minha comunicação com Pablo em espanhol estava funcionando. Aidan olhava-nos com a testa franzida, tentando ouvir e descobrir o que falávamos. E isso quase nos arrancou algumas gargalhadas de tão engraçado que foi.
— Quer ir à piscina comigo? — perguntei a Pablo, insinuando-me para ele.
— Sim — respondeu-me, animado.
Nós saímos da mesa, sob os olhares curiosos de todos. Pablo mergulhou primeiro, e depois fui ao encontro dele. Já era quase noite, e não se via mais a luz do sol. Não havia ninguém na piscina, somente ele e eu nadando de um extremo ao outro, fazendo apostas para ver quem chegava primeiro à outra ponta. Às mesas, apenas alguns casais distraídos. Com certeza, eram turistas ou franceses.
— Eu não sabia que os mexicanos nadavam tão mal assim — brinquei com ele.
— Mas eu ganhei quase todas as apostas — retrucou ele, jogando-me água no rosto.
E rimos, quando pedi ao garçom que nos trouxesse mais um kir para mim.
— O que está bebendo mesmo, Pablo? — perguntei.
— Senhor, um mojito, por favor — disse ele, exibindo-se ao garçom em espanhol.
Aproximei-me dele e fiquei nadando em círculos, enquanto o encarava. Ah, esses olhos pretos!
— Adoro quando você fala espanhol, sabia? — comentei.
— Você pode gostar de outras coisas que eu sei dizer também — completou.
— Uau! Que excitante! — exclamei.
Ele mergulhou e eu o perdi de vista. Passaram-se segundos e nada dele. Encostei-me à borda da piscina, estendi os braços para fora e o procurava com os olhos. E lá vinha ele, nadando por debaixo d’água com sua sunga preta. Parecia um atleta. Chegou perto demais de mim e, roçando o corpo dele no meu, subiu à superfície.
— Oi — disse baixinho.
— Oi — respondi, sorrindo.
Ele tomou minha cintura em seus braços, puxou-me para ele e me beijou. Afastei-me e disse envergonhado:
— Eles estão olhando, Pablo — referindo-me ao meu irmão, Aidan e Juan, que tinham suas cabeças viradas em nossa direção.
— Não me importo — e selou sua boca na minha novamente.
Os lábios dele eram ásperos. Sua língua era ousada, tinha gosto de limão e álcool. Ele beijava com ímpeto, passeando vagarosamente sua mão pelas minhas costas. Encaixou sua perna no meio das minhas e me pressionou contra a parede da piscina. Eu estava preso, mas adorando tudo aquilo. O som do caminhar do garçom, depois de deixar as bebidas ao chão da borda da piscina, não me distraiu, mas o que ele disse com voz empolgante, sim:
— Senhor Barrys, boa noite! Seja bem-vindo! Posso ajudá-lo?
— Estou procurando meus filhos. Eles estão aqui?
Não acreditava no que estava ouvindo. Meu Deus! Meu Deus! É meu pai! Ele está aqui!
Imediatamente, larguei a boca do mexicano e o empurrei.
— O que houve? — perguntou-me ele, sem nada entender.
— Meu pai está aqui!
Deixei Pablo de braços cruzados, rindo do meu desespero, e mergulhei para o outro extremo da piscina. Quando subi à superfície, papai, que já se encaminhava à nossa mesa, viu-me.
— Oi, filho! Por que vocês não me disseram que iriam passar o dia todo aqui? Teria vindo com vocês.
Fique calmo, fique calmo, Gaius. Ajude-me, meu Deus! Dizia eu em meus pensamentos.
— Oi, pai! Nós almoçamos por aqui e perdemos a hora. Quer entrar? A água está bem quentinha.
Eu mal terminei de falar, quando Pablo subiu à superfície perto de mim. Como ele veio tão rápido? E por que ele faz isso?
— Boa noite! — exclamou ele, cumprimentando meu pai, meio sorridente.
— Boa noite! É seu amigo, filho? — retribuiu papai.
— Sim, papai. Este é Pablo. Ele é mexicano e vai passar o fim de ano aqui em Monte Carlo. Pablo, esse é meu pai, Lucas Barrys.
Pablo assumiu um semblante sério no rosto. Parecia incomodado naquele momento. Meio desconcertado, disse ele a papai:
— Boa noite, Senhor Barrys!
Lembro bem do rosto de papai naquele instante. Sua expressão era de quem estava desconfiado. Aquela testa franzida não era só curiosidade. Papai nos deixou e foi ao encontro de Marcus, que estava na mesa com Juan. Onde está Aidan? Não importa! Pensei. Disse a Pablo que devíamos voltar à mesa e dar um pouco de atenção a papai.
— Certo. Mas só se me prometer que vamos nos ver mais tarde — condicionou ele, tentando agarrar minha cintura por baixo d’água.
— Pablo, meu pai está aqui! E nós dois ainda não conversamos sobre eu ser gay. Entende isso? — exclamei com intensidade.
— Tudo bem, tudo bem. Mas vamos nos ver mais tarde?
— Eu... acho que sim. — respondi, cambaleando a voz e com um meio sorriso nos lábios, fazendo charme para ele, enquanto jogava água em seu rosto.
À mesa, papai conversava com os irmãos latinos, e contou que visitou o México há alguns anos, passando parte dos dias em Tijuana. Percebendo que todos estavam empolgados na conversa, aproximei-me do meu irmão e perguntei:
— Onde está Aidan?
— Ele viu você e Pablo se beijando, e saiu. Parecia irritado — respondeu, sussurrando.
— Que droga! Eu não morro de amores por ele, mas também não quero machucá-lo. Que inferno!
A voz do meu pai nos interrompeu.
— O que vocês estão falando tão baixinho aí, hein?
— Nada importante, papai. Gaius perguntou onde estava Aidan, e eu respondi que ele já tinha saído. Que droga, Marcus! Você não devia ter comentado que Aidan está aqui! Pensei.
— Aidan está aqui? Onde está? — perguntou papai a Marcus.
— Acho que ele foi até à suíte pegar alguma coisa, mas não sei se ainda vai voltar.
— Marcus, quero ver Aidan. Mande chamá-lo.
Agora eu estou fodido, meu Deus! Marcus me olhava na esperança de que eu mesmo dissesse o que ele deveria fazer. O que eu faço agora? Papai era muito amigo do pai de Aidan, o Senhor Daan. Praticamente enriqueceram juntos. Dizia sempre que Aidan era o filho loiro que ele não teve. Quando eles três se encontravam nos eventos da empresa ou até mesmo para jogar golfe, não se desgrudavam um minuto. Por vezes, o companheirismo de papai com Aidan no esporte arrancava comentários enciumados do Senhor Daan. Lembro-me que, certa vez, ele comentou que gostaria que Aidan morasse conosco, pois apreciava muito a sua companhia. O que papai não sabia era que, assim como eu, Aidan era gay. E aquele louco queria me pedir em namoro no dia do meu aniversário aos meus pais. Papai iria dar uma surra nele. Grosso do jeito que é! O que faço? Aidan está com raiva. Saiu daqui furioso. E se ele disser a papai que eu estava beijando Pablo? Oh, meu Deus! O que faço? Foi quando minha boca ultrapassou a velocidade do meu pensamento.
— Vou chamá-lo, papai! Vou ao banheiro, e aproveito para chamá-lo! — gritei, tentando controlar a ansiedade da voz, depois que percebi que papai me olhava intrigado.
Ainda tinha as mãos trêmulas, quando apertei o botão 6 do elevador. Olhava para o visor e pensava: vai rápido, vai rápido. E lá estava no mesmo corredor dos belos quadros, que apreciei no início da tarde. O espelho da luxúria me lembrou da última conversa com Aidan, e como o deixei falando sozinho. Droga! Preciso que ele não diga nada a papai sobre o beijo com Pablo. Pensei. A porta da suíte estava entreaberta e, vagarosamente, empurrei-a. Vi-o em pé na sacada da suíte, descalço, apenas de bermuda, com os cabelos molhados e penteados, tendo apenas a companhia de uma garrafa de uísque e um cinzeiro que servia de descanso para o fim de mais um cigarro. Olhava concentrado para o horizonte ou para o grande bosque nos arredores do hotel, ou até mesmo para o nada. Aos primeiros passos, fui recepcionado por nocturne, de Chopin. Minha mãe adorava essa peça. Pensei. Dois abajures acesos ofereciam uma iluminação intimista ao ambiente. Alguns passos meus foram o suficiente para que minha presença fosse percebida por ele. Nisso, virou-se em minha direção. Ele tinha a mandíbula fechada, os olhos vermelhos e o semblante triste. Encarou-me direto na pupila, e deixou que os segundos de silêncio falassem o que sua boca se recusava a dizer. Não foi preciso muito tempo daquele olhar constrangedor para saber o quanto eu o tinha machucado. Mas o ápice da minha consciência se deu quando uma tímida lágrima escorreu dos seus olhos. Ele virou-se para o horizonte novamente e tentou disfarçar, enxugando-a com as costas da mão. Envergonhado, com um nó na garganta, aproximei-me lentamente e pus-me a olhar para horizonte com ele.
— Minha mãe adorava Chopin, sabia? — comentei.
Tive silêncio como resposta. Apenas os uivos dos ventos e a maciez de Chopin podiam ser ouvidos. Era embaraçoso estar ali, principalmente depois do que vi instantes antes.
— Papai perguntou por você — comentei novamente, tentando ver sua reação de soslaio.
— Por que está aqui, Gaius? — perguntou, encarando meu rosto de frente.
— É que você saiu... E papai quer que você vá vê-lo. Então, vim chamá-lo — respondi, gaguejando e sem conseguir olhá-lo direito.
— Acho que prefiro não ver seu pai hoje — comentou, com a voz suave, porém firme.
Virei-me de frente para ele e disse:
— Aidan, sinto muito pelo que aconteceu na piscina. Quero que saiba...
— Você sabe por que estou aqui, Gaius? — interrompeu-me, olhando-me nos olhos, com a voz meio exaltada.
Depois, continuou:
— Vim até aqui por você. Porque senti sua falta. Depois que foi embora de Nova Iorque, vi-me perdido, distante de quem eu amo. Nunca escondi que gostava de você. E não esconderei! O que aconteceu entre nós naqueles dias que passamos juntos foi muito forte para mim. Talvez, não tenha sido para você, mas para mim foi! Você nunca soube, mas é bom que saiba agora que foi o primeiro homem com quem fui para a cama. Não foi o único, mas foi o primeiro. Depois daqueles dias, eu quis ter uma relação, mas você sempre fugiu e me evitou, nunca atendeu ao celular ou quis me encontrar. Então, conversei com seu irmão e disse que estava apaixonado e, também, que iria conquistar você. Marcus sempre me apoiou, incentivou e aconselhou, mas você nunca me deu nenhuma chance de mostrar o quanto eu o amo e o quero fazer feliz. Nunca pensou em como eu me sentia, quando o convidava para uma vernissage ou mesmo para ir ao teatro e você inventava uma desculpa, dizendo que não podia? Nunca pensou em como eu me senti todas as vezes que chegava ao apartamento do seu irmão para ver você, e via quando se trancava no quarto até eu ir embora? Nunca passou pela sua cabeça que eu gostasse de você de verdade? Nunca considerou que o que eu sinto por você é amor? E então eu venho aqui para vê-lo, e o que encontro? Você beijando um cara que mal conhece? É isso que mereço por amar você? Que droga, Gaius! Que droga! O que é que preciso fazer para que entenda que eu amo você, droga? — e, num ato impulsivo e violento, tomou a garrafa de uísque na mão, atirou-a com força na parede, encarando-me ferozmente com aqueles olhos cor de âmbar.
Era janeiro em Nova Iorque. O frio de dezembro e a decoração de Natal desapareciam diante de nossos olhos dia após dia. Os americanos deixavam para trás as emoções das festas e retomavam novamente suas rotinas de trabalho. Tudo voltava ao normal. Ainda morava com Marcus e Núbia em Manhattan, mas já estava preocupado com o estado de saúde da minha mãe, e pensava, seriamente, em mudar para Monte Carlo. Lembro-me que no início daquela primeira semana do ano, meu irmão comentou que iria viajar na sexta-feira para Connecticut para participar de um congresso sobre serviços financeiros imobiliários e que iria aproveitar para descansar. Disse-me que ficaria na cidade uns dois ou três dias a mais depois do fim de semana. Núbia e Arthur iriam com ele.
— E vou ficar sozinho aqui? — perguntei, indignado.
— Olhe, maninho! Se quiser ir conosco, pode ir, não tem problema, mas vou passar o fim de semana inteiro no congresso. Somente na segunda é que vou poder passear. Núbia marcou de encontrar umas amigas do colegial que moram lá para passar o tempo. E na segunda é o aniversário dela. Estamos pensando em ficar um pouco sozinhos, sabe? Ela até já conseguiu para que Arthur fique na casa de uma amiga dela na segunda e na terça. Mas se você quiser ir conosco, tudo bem. Só acho que você não vai gostar.
Estava claro que meu irmão sugeriu, educadamente, que eu não fosse com eles. Que saco! Pensei. Na noite de quinta-feira, depois do jantar, despedi-me deles, visto que iriam sair antes do nascer do sol. Dei um beijo em cada um e fui dormir. Na manhã de sexta-feira aproveitei para organizar alguns livros e jogar fora os cadernos do colegial. Graças a Deus que acabou! Pensei. Eram quase 13h, quando resolvi fazer um sanduíche para almoçar: pão integral, pasta de espinafre com ricota e tomate seco. O sono me chamou, e me entreguei a ele. Eram quase 17h, quando o telefone da sala me acordou. Por que não fechei a porta do quarto, meu Deus?
— Oi. Oi, Aidan. Como vai? — disse, ainda sonolento, ao atender.
Ele comentou que tinha convites para a inauguração de uma confeitaria, no centro de Manhattan, e que passaria às 19h para nos pegar.
— Aidan, meu irmão não está aqui. Ele viajou com Núbia para Connecticut.
Perguntou-me se não queria acompanhá-lo. E, brevemente, respondi:
— Desculpe, Aidan. Fica para outro dia. Tchau — e desliguei.
Corri ao meu quarto e me atirei na cama. Voltei a dormir. Era uma melodia suave, de ritmo constante, mas insistente. O que é isso? Pensei. A campainha da porta tocava insistentemente. Não acredito. Que saco! Acordei.
— Já vai! Calma! — gritava, irritado, encaminhando-me à porta.
Era Aidan. E quando me viu, logo levantou a mão para me mostrar os doces que trouxe.
— Trouxe para você — disse ele, beijando-me o rosto e entrando no apartamento, dirigindo-se para a cozinha, antes que eu o convidasse a entrar.
Tomou um prato, dispôs sobre a mesa, abriu o embrulho e tirou três sonhos americanos recheados com doce de leite. Hum! Adoro doce de leite! Estou com fome. Que horas são? Pensei.
— Obrigado por vir, Aidan. Desculpe, mas não vou lhe acompanhar na inauguração da confeitaria.
Ele sorriu.
— Ei, garoto! A inauguração já acabou. Já são quase 22h.
Como eu dormi, meu Deus! Pensei.
Estávamos ali, comendo sonhos e conversando. Ele me perguntava o que fiz o dia todo, e depois me contou que seu pai, o Senhor Daan, tinha se sentido mal naquela semana. Explicou-me que, com a idade que o pai tinha, não podia mais beber e fumar como fazia antes. Aliviado, falou que foi apenas um susto, mas que o ocorrido tinha chamado sua atenção para a saúde do pai. Foi quando percebi que os sonhos acabaram.
— Não tem mais? — perguntei, sorrindo.
— Se quiser, vou comprar mais para você — ofereceu-se, gentilmente.
— Não precisa. Estou brincando. Vou tomar banho e depois assistiremos a um filme. Certo? — perguntei, dando as costas e caminhando ao meu quarto.
— Espero-o — respondeu, com a voz alta para que o ouvisse.
— Tem bebida na geladeira! — gritei, já tirando a roupa e entrando no chuveiro.
Rapidamente, sequei meu corpo e vesti um calção de pijama branco, penteei os cabelos e pus o meu Luna Rossa. Hum! Adoro Prada, meu Deus! Pensei. Chegando à sala de estar, já o encontrei sentado no sofá com a cabeça recostada e os olhos fechados. Os braços estavam apoiados nas almofadas e ele tinha uma cerveja à mão. Estava descalço, com as pernas abertas e tinha desabotoado os dois primeiros botões da camisa. Ele vestia uma calça sarja cáqui e uma camisa social de manga longa branca. Parei e o olhei. Não conseguia não olhar. E, enquanto meus olhos passeavam vagarosamente por aquele corpo exuberante, seu rosto encontrou o meu, e, abrindo os olhos, penetrou-me ele a pupila com seu olhar. Minha respiração parou. Meu coração acelerou e a adrenalina se apossou de mim. Oh, meu Deus! Estou com tesão! Pensei.
— Oi! Sente aqui. O que quer ver? — perguntou, calmamente, ainda me olhando.
— Não sei. Gosto mais dos filmes do streaming que da TV a cabo — respondi, sentando sobre minhas pernas no sofá ao lado dele.
Tomei o controle remoto e procurava algo para assistirmos, quando vi Patrick Dempsey na capa de uma comédia romântica.
— Adoro esse filme! — comentei, empolgado.
Ele sorriu.
— O que foi? Você não gosta? — indaguei.
— Achei que poderíamos ver um filme policial, mas tudo bem.
— Assistimos a este e, depois, a outro. Certo?
— Como você quiser — comentou, conformado com a minha escolha.
Fiquei feliz por Aidan ter aparecido. Estava me sentindo sozinho. Lembro-me que não gostava da ideia de passar tanto tempo sem o meu irmão. A presença dele me dava uma sensação de segurança. Estar com ele, naquela noite, era quase como estar com o meu irmão.
— Quer outra cerveja? — perguntei.
— Você não vai beber? — indagou ele.
— Não bebo.
— Você tem quantos anos mesmo?
— Dezesseis. Faço dezessete em março.
— Qual é o dia?
— Vinte e dois. Aidan, quer deixar eu assistir ao filme? Que coisa! — falei, querendo rir.
— Tá! Não falo mais. Vou pegar uma cerveja — e levantou-se sorrindo, caminhando até a cozinha, olhando para trás com aquele sorriso doce nos lábios.
Quando ele saiu, estiquei minhas pernas no sofá e deitei-me, apoiando a cabeça numa almofada, pertinho do lugar onde ele estava sentado. Retornando, ele disse:
— Levante a cabeça, por favor.
Forcei meu corpo para frente, ainda olhando para a TV. Ele sentou-se e disse baixinho:
— Pode deitar.
Concentrado no filme, inclinei meu corpo para deitar-me e percebi minha nuca repousando nas coxas dele. O quê? Estou no colo dele? Oh, meu Deus! Pensei. Ele logo tomou mais um gole de cerveja e a deixou na mesinha do telefone, ao seu lado direito. Respirou fundo e pôs a mão em meus cabelos, massageando-os levemente com a ponta dos dedos. Eu estava estático. Não conseguia falar. O coração a mil. Nenhum de nós falava nada. Ao longe, ouvia-se um barulho, parecia um toque de celular, mas não sabia ao certo. Será meu celular? Pensei. Depois não ouvi mais. Ainda com suas mãos por entre meus cabelos, percebi que ele me olhava e respirava aceleradamente. Parecia nervoso. Eu estava ansioso, e não conseguia me mover. O telefone fixo do apartamento, ao lado dele, desconcentrou-me. Tentei mover-me para atender, mas ele segurou minha cabeça e falou baixinho:
— Não, não. Fique aqui. Fique assim. Eu atendo — esticando a mão e tomando o telefone.
Era Marcus. Aidan perguntou como estava a viagem, e comentou que tinha passado no apartamento para saber se eu estava bem. E, ainda, que estávamos assistindo a um filme. E finalizou, perguntando quando ele voltaria.
— Claro! Vou passar o telefone para ele. Um abraço, meu amigo — encerrando a conversa com Marcus, dando-me o telefone, enquanto tomava mais um gole de cerveja.
— Seu irmão quer falar com você — sussurrou.
Já comecei dizendo que estava com saudade e que queria que ele me trouxesse um presente. Marcus me perguntou se Aidan iria dormir no apartamento, e eu disse que não sabia, mas achava que não. Ele lembrou-me que, se ele fosse dormir lá, poderia usar o quarto dele, avisando-me que no closet havia lençóis limpos. Disse, ainda, que estava com saudades, e prometeu que voltaria na quarta ou quinta.
— Se precisar de alguma coisa, peça a Aidan, certo? Um beijo, maninho. Amo você! — disse meu irmão, encerrando a ligação.
Aidan tomou o telefone e pôs-se a acarinhar meus cabelos novamente. Comentou, tentando quebrar o silêncio que ficou entre nós:
— Ele disse que a viagem foi boa, e que você não deve se preocupar com nada, e me pediu para lhe fazer companhia.
— Quero que ele volte logo — respondi.
Minutos depois, o filme já estava quase no final. Por alguns instantes, fechei meus olhos e apenas me entreguei àquele carinho gostoso. Aidan passeava a mão por todo o meu cabelo e fazia-me cócegas ao tocar minha nuca com os dedos. Sua mão estava mais suave e vagarosa, quase imperceptível. Foi quando não a senti mais. Por que ele parou? Pensei. E a resposta viria a seguir: ouvi um ressono. Ele adormeceu. Fiquei quieto por mais alguns instantes e baixei o volume da TV. Levemente, afastei-me e consegui me levantar sem o acordar. Desliguei a TV e caminhava ao meu quarto, quando olhei para trás. Vi-o. Estava relaxado, dormindo com a cabeça pendida em minha direção. Que homem, meu Deus! Ele é lindo! Pensei. Lá, apaguei as luzes e deitei-me na cama. Fechei os olhos e me percebi pensando em tudo que aconteceu. Por que ele fez isso? Os pensamentos não me deixavam dormir. O que está acontecendo comigo? Pare com isso, Gaius. Durma! Tentando pôr ordem em minha mente. Depois de muito me mexer na cama, senti que começava a adormecer. Ai que bom. Vou dormir. Era uma sensação suave, mas havia algo estranho no meu quarto. Estava frio e eu abraçava meu corpo debaixo das cobertas. Virei-me e abri os olhos. Vi-o. Estava agachado junto à minha cama, olhando-me. Não tive reação. Só o olhei, meio surpreso.
— Está frio lá na sala. Posso deitar aqui com você? — perguntou ele, com a voz baixa, esfregando as mãos.
— Aidan, você pode dormir no quarto do meu irmão — respondi, com a voz trêmula.
— Quero dormir aqui. Posso? — e fez cara de homem carente para mim.
Olhei-o por alguns segundos, e não resisti.
— Pode — e afaste-me, levantando as cobertas para ele entrar debaixo delas.
Ele mal deitou, logo se aproximou de mim e me abraçou de costas, encostando seu corpo inteiro no meu. Mesmo estando com roupa, ele tremia de frio.
— Se eu abraçar você, o frio vai embora — comentou ele com a boca encostada na minha nuca, pressionando minha cintura contra a dele.
Fechei os olhos e os abri logo em seguida. Vi o relógio ao lado da cama, que marcava 4h10. Sentia sua respiração, era curta. Sua mão repousava em meu abdome. Eu estava preso. Não conseguia me mover. Percebi algo em mim. Era meu calção. Eu estava excitado. Estava molhado.
— Gaius — chamou ele, sussurrando.
— Oi — respondi, tremendo a voz.
— Não consigo dormir — comentou.
Respirei fundo e me virei para ele. Olhando seus olhos cor de âmbar, disse:
— Eu também não.
Ele abriu um leve sorriso, levou sua mão ao meu rosto e acarinhou-me a face com as costas dos dedos, enquanto molhava os lábios. Depois, pôs sua boca na minha. Beijava devagar, com carinho e doçura, pressionando meu rosto contra o dele. Sua língua passeava em minha boca, enquanto eu lhe acarinhava a barba macia em seu rosto. Nossas mãos estavam livres: a minha não queria largar o seu rosto, a dele ia das minhas costas até as coxas, num movimento suave de vaivém que estava me enlouquecendo.
— Tire o calção — pediu ele, ainda com a boca selada na minha.
Meu coração disparou, minha pupila dilatou. Larguei sua boca e o olhei, enquanto ele pediu de novo, com aquele rostinho carente.
— Tire, por favor.
Ele tinha olhos ardentes, olhos de fome. Acho que ele vai me comer. Pensei. Obedeci-o. Ainda com meus lábios nos dele, senti falta daquela mão, que passeava em minhas coxas, arrepiando-me. Ouvi um barulho de metal. Ele desabotoou o cinto e baixou as calças. Não aguentei: levei minha mão à cueca dele e apertei. Estava molhada, estava muito molhada. Ao meu toque, ele gemeu, dentro da minha boca e, depois, ordenou:
— Levante a perna.
Obedeci-o. Ergui minha perna e senti seu dedo molhado me tocando. Oh, meu Deus, que coisa maravilhosa! Pensei. O prazer me possuiu. Soltei a boca dele, retorcendo meu pescoço para trás e gemi. Seu dedo me invadia num ritmo lento. Era muito bom.
— Vire-se — pediu.
Ainda deitado, virei-me, encostando minhas costas em seu abdome. Ele não demorou e levantou minha perna com sua mão e me penetrou. Eu gemi. Gemi alto, de dor e de prazer.
— Ai, meu Deus! — Exclamei.
Estava com a perna levantada e sentindo o membro dele dentro de mim, quando salivei minha mão e me masturbei. Não demorou muito e cheguei ao orgasmo. Relaxei minha cabeça para trás e minha nuca encontrou a boca dele. Ele tinha uma respiração forte, um gemido intenso, um acelerar de movimento.
— Eu acho que vou... — exclamou ele, já gemendo de prazer em meu ouvido.
E jorrou. Jorrou forte dentro de mim.
Numa faísca de momento, tudo que Aidan e eu vivemos naqueles dias em Nova Iorque me veio à tona ao vê-lo ferido e machucado naquela suíte de hotel em Monte Carlo. Os dias que se seguiram àquela primeira noite de sexo entre nós, os carinhos, as tardes quentes de prazer que tivemos, os lugares que visitamos, as gargalhadas e a emoção de estarmos juntos me possuiu totalmente. Realmente, foram dias intensos. E ele estava ali, encarando-me, cheio de raiva, machucado, violento. Nunca o tinha visto assim. Seus olhos flamejavam. Era ciúme. Quando o vi atirar aquela garrafa de uísque na parede, pensei que ele fosse me machucar. Tive medo, e não consegui esconder. Chorei. Chorei como uma criança. Minhas lágrimas não conseguiram aplacar a ira de Aidan. Ele segurou-me pelos ombros e ordenou que eu o olhasse nos olhos.
— O que você quer, hein? O que quer de mim, Gaius? Responda! — esbravejava contra mim.
— Por favor, Aidan. Desculpe. Não queria machucá-lo — respondi, repetidas vezes, chorando.
— Não queria me machucar? Não queria me machucar? Como não queria me machucar, se estava beijando um cara na minha frente, sabendo que gosto de você? Droga, Gaius!
— Foi ele quem me beijou primeiro, Aidan... — disse, soluçando, tentando acalmá-lo.
— Porque você aceitou! Você quis e incentivou! A culpa é sua! Que inferno!
— Por favor, solte-me. Está me machucando — supliquei, entre um soluço e outro.
A frase teve efeito. Ele largou meus ombros e se afastou, ainda me encarando. Seu semblante saía da ira e chegava ao remorso. Estava estampado em seu rosto a consciência de que tinha agido mal em me sacudir daquela forma
— Desculpe-me. Não quis machucar você — falou, cabisbaixo, tentando amansar a voz.
Eu não conseguia parar de chorar. Estava nervoso. Sentia minhas pernas perderem a força. Oh, meu Deus! Está tudo escuro. Encostei-me à parede e me percebi derreando ao chão. Abracei meus joelhos e escondi minha cabeça entre as pernas. O silêncio reinou, e voltamos a ouvir Chopin. O nocturne chegava ao fim, e somente aquele piano conseguiu nos acalmar. Minha mãe, onde você está? Por favor, volte! Nisso, senti seus passos em minha direção. Depois, o calor do seu corpo a me abraçar. Ele estava ao chão comigo, levantando minha cabeça e, com os dedos, descobrindo meus olhos por baixo dos cabelos. O olhar dele encontrou o meu. Éramos apenas nós dois, cheios de dor. Ele pôs sua mão em minha nuca, pressionou-me contra seu rosto até sentir seus lábios nos meus, e sussurrou:
— Eu amo você, menino. E acho que sempre vou amar — e me beijou.
Lembro-me bem do que senti depois daquele beijo. Meu corpo relaxou, embora uma mescla de tranquilidade e angústia ainda encontrasse espaço em mim. Estava confuso, mas depois de tudo que vi, pela primeira vez, olhei para Aidan com outros olhos. Pensei se o que ele sentia não era amor. Mas como saber? Eu nunca tinha amado. E nunca fui amado também. Como saber se o que ele sente é amor? Pensei. Tive medo. O mesmo medo que se apossou de mim depois daqueles dias que passamos juntos em Nova Iorque. Instantes depois, disse a Aidan que papai queria vê-lo e que estava na piscina nos esperando, e o convenci a voltar para lá. Ele foi tomado de um sentimento de alegria e, logo, pôs uma camisa e um tênis, e lavou o rosto. Eu estava abalado, mas tinha de levá-lo até papai. Disse-me que iria conversar com papai sobre nós dois. Gelei na mesma hora!
— Não! Aidan, você não conhece papai! Ele e eu ainda não conversamos sobre isso, e não sei como ele pode reagir.
— Calma. Seu pai gosta de mim, meu amor — argumentou, com voz suave, abraçando-me.
— Aidan, preciso conversar com o Marcus sobre isso. Não sei como papai vai reagir, entende? Tenho medo. Quero que me prometa que não vai falar nada com ele. Promete? — perguntei, aflito.
— Tudo bem. Se você quer assim...
Chegando à piscina, papai recepcionou Aidan com um abraço caloroso e perguntou porque ele não tinha avisado que iria passar as festas de fim de ano em Monte Carlo. E logo o intimou a voltar com ele e se hospedar em nossa casa. Aidan olhava desconcertado para mim e disse que aquela noite ficaria no hotel, mas no dia seguinte iria para nossa casa. Prometeu. Eu sabia que isso iria acontecer. Agora eu estou três vezes fudido, meu Deus! Por causa da presença de papai, Pablo e Aidan estavam comedidos ao falar, e eu, já exausto de tanta emoção, resolvi sentar ao lado do meu irmão. Recostei minha cabeça no ombro dele e não falei nada. Marcus me fazia um carinho na cabeça, enquanto perguntava baixinho se eu estava bem. Sussurrando, respondi que a conversa com Aidan tinha sido difícil e, ainda, que estava confuso. Encerrei, dizendo que precisava conversar com ele um assunto importante. Papai já tinha tomado três ou quatro cowboys, quando pediu ao garçom para trazer uma garrafa de The Macallan. Oh, meu Deus! Não acredito que ele pediu The Macallan! Pensei. Era seu uísque preferido. Só bebia em ocasiões especiais. Ele estava feliz! Papai, Aidan, Pablo e Juan conversavam empolgadamente, quando meus olhos pesaram e o sono me possuiu. Sabia que não devia ter bebido tanto. Era uma sensação gostosa estar no peito do meu irmão, com suas mãos tocando meus cabelos. Não resisti e fechei os olhos. Ouvi ao longe as vozes deles conversando, enquanto aproveitava alguns momentos sem pensar em nada. Meu repouso foi interrompido por papai, quando perguntou se eu estava bem. Respondi que me sentia um pouco cansado.
— Venha aqui, filho. Venha deitar no colo do papai — e intimou-me a trocar o peito do meu irmão pelo dele.
Papai puxou uma cadeira para perto de si e, com a mão, repousou meu rosto em seu peito. Ele afagava meus cabelos, quando disse baixinho que gostava dos dois filhos igualmente, mas que eu lembrava muito mamãe, pois tinha a mesma beleza, sensibilidade e o temperamento dela. Não aguentei e caí em um choro, quase desesperado.
— Meu filho, desculpe. Não deveria ter falado nela — comentou papai, emocionado, arrependido de ter me feito lembrar da morte de mamãe.
Marcus foi ao meu encontro e me salvou daquela situação.
— Papai, acho que vou levá-lo até a suíte de Aidan para descansar um pouco. Está emocionado e, ainda, bebeu alguns drinks hoje. Não tem o hábito de beber. Deve ser isso. Com licença.
Saí com meu irmão em direção ao hall do hotel sob os olhares curiosos.
Na suíte, abracei-o com força e pedi que ele me ajudasse. Marcus não entendia o que eu dizia e porque eu estava tão abalado. Expus que tinha medo de muitas coisas: de Aidan, Pablo e de papai. E, também, que sentia muito a falta de mamãe, e que não estava sendo fácil para mim suportar todas essas coisas. Ele tentava me acalmar, dizendo que eu não precisava ter medo, pois ele iria me ajudar em tudo que fosse preciso. Quanto mais o abraçava, mais eu chorava.
— Calma, maninho. Isso vai passar. Essas coisas acontecem na adolescência. Eu também passei por essas incertezas. Precisamos ter calma.
— Eu quero a minha mãe. Preciso dela. Traga-a de volta para mim, por favor — dizia, repetidas vezes, soluçando.
— Olhe! Eu acho que você bebeu um pouco demais hoje. Deve estar precisando de um banho.
Então, ele levou-me ao banheiro, tirou minha roupa e me pôs embaixo do chuveiro. Depois, secou meu cabelo e me cobriu com um roupão branco. Pediu para eu deitar na cama e tomou o telefone, ligando para a recepção do hotel.
— Por favor, preciso de dois cafés e um sorvete de tomilho com pinhões. Se possível, Berthillon. Para a suíte do Senhor Mettis. Obrigado! — e desligou.
Em seguida, deitou na cama comigo e me acarinhava os cabelos, enquanto eu me aninhava em seu peito.
— Maninho, o que está acontecendo com você? Está me deixando preocupado — perguntava, com a voz doce.
— Não sei. Estou sentindo coisas estranhas. E estou com medo. Gosto de Aidan, mas tenho receio de ter um relacionamento com ele. Nunca tive um relacionamento com ninguém, nem sei como é. Tenho medo da reação de papai, quando souber que sou gay. Sinto-me atraído por Pablo. E teve esse beijo hoje à tarde. Estou com saudades da mamãe. Às vezes acho que ela morreu por minha culpa. Sinto que estou enlouquecendo.
— Olhe, maninho. Precisa dar tempo para que as coisas aconteçam na sua vida. Realmente, são muitas emoções. Entendo que você se sinta assim, mas é importante saber que todos passamos por essas incertezas. Também passei por isso quando era jovem. Sou mais velho que você, por isso digo que cada coisa precisa ser olhada de uma forma. Você e o Aidan, por exemplo. Acho bonito o que ele sente por você. Nós dois já conversamos muito sobre isso. Eu ficaria mais tranquilo, se você se relacionasse com alguém que nós já conhecemos. Sobre papai, não posso enganar você, pois acho que ele não vai reagir bem a essa história de você ser gay. Nós o conhecemos bem. Ele é russo, veio de outra cultura, tem outro pensamento, não acompanha os tempos que vivemos hoje... Mas acho importante você mesmo conversar com ele. Penso que isso pode facilitar as coisas, entende? Posso falar com ele depois para ajudar, mas você que tem que contar. Sobre Pablo, foi só um beijo. Isso não significa muita coisa. Um beijo é só um beijo. Não precisa ficar se impressionando com essas coisas. Com relação à mamãe, isso está me preocupando. Não acho normal que depois de alguns meses você ainda esteja tão fragilizado. De repente, podemos conversar com alguém sobre isso. Um psicólogo, talvez? Mas só se você quiser — e beijou minha têmpora.
Eu estava em lágrimas e o abraçava com força. Sentia-me protegido pelo meu irmão. Sua voz soava em meus ouvidos como uma melodia harmônica. Era tranquilizador ouvi-lo. Ele me trazia paz e aquietava-me o coração. Instantes depois, alguém bateu na porta.
— O café chegou — comentou ele, levantando-se.
Tomamos o sorvete e o café, e falamos sobre a minha conversa com Aidan. Contei a ele que tinha pedido desculpas pelo que aconteceu com Pablo na piscina, que Aidan tinha se alterado, mas que, ao final da conversa, nós nos beijamos. Marcus sorriu e perguntou se eu tinha gostado. Respondi, dizendo que ele beija bem. E rimos, quando eu o abracei e pressionei seu corpo contra o meu. Estávamos ali, deitados, abraçados e conversando, quando eu abri dois botões da camisa dele e pus minha mão em seu peito. Passeava minhas unhas por entre seus pelos com movimentos suaves. Ele franziu a testa e me olhou, mas não disse nada. Com a outra mão, desabotoei os outros botões da camisa e a puxei para fora da calça. Olhei-o e pedi que trancasse a porta.
— Maninho, não somos mais crianças, não é? — perguntou, com meio sorriso nos lábios, meio envergonhado.
— Eu sei, mas você sabe que só faço com você. Vai, fecha logo a porta — sugeri, sorridente, provocando-o.
Ele levantou, trancou a porta a chaves e perguntou se queria que eu apagasse a luz. Respondi, mandando-o deixar acesa. Caminhando em minha direção, tirou seu paletó azul royal e a camisa branca. Sentou-se na cama e livrou-se dos sapatos, deitando ao meu lado. Eu estava de roupão, e ele estava apenas de calça. Era uma calça jeans de cor escura, quase preta. Quando passei a mão em suas coxas, logo percebi o tecido e o corte italiano. Tenho certeza de que é Dolce & Gabbana. Pensei. Logo abri o roupão e deixei meu tórax à mostra. Ele me olhava, enquanto desabotoava a calça. Levei minha mão até seu membro e o apertei por cima da cueca. Ele tocou-me e pôs-se a me masturbar. Ficamos molhamos e excitados. Quando ele baixou a cueca, balançou seu membro para mim. Comecei a masturbá-lo, suavemente. Estávamos ali, com as mãos cruzadas, um a masturbar o outro, quando eu inundei meu abdome. Que orgasmo maravilhoso! Molhei minha mão com meu líquido e levei ao membro dele. Era um movimento suave, e ele gostava. Fechou os olhos e retorceu a cabeça para trás. Gemeu e gozou forte em seu abdome. Que tesão eu tenho, quando me masturbo com meu irmão, meu Deus! Pensei. Nós tomamos banho juntos e, depois, vestimo-nos.
Retornando à piscina, uma surpresa invadiu meus olhos. O que é isso? Será que estou enxergando bem? Papai, Pablo, Juan e Aidan estavam em pé, dançando. Um celular sobre a mesa tocava uma música mexicana, e os quatro tentavam acompanhar o ritmo latino. Estão todos bêbados! Oh, meu Deus! Não aguentei e gargalhei. Marcus me acompanhou na risada, e fomos ao encontro deles, misturando-nos à dança. A alegria chegou e se instalou entre nós. Depois que a música acabou, os aplausos fizeram barulho, inclusive dos dois garçons que olhavam risonhos a nossa performance.
— Papai, você dança muito bem! — comentei, beijando-lhe o rosto.
— Ai, filho! Há quanto tempo eu não me divertia — expressou, abraçando e beijando minha cabeça.
Marcus chamou a atenção para o horário, e disse que era melhor irmos para casa.
— Mas, filho, está tão bom aqui — argumentou papai.
— Papai, já passa das 22h. Quase não vi Núbia hoje.
— Então vamos todos para minha casa. E você, Juan, prepare-se para me ensinar mais algumas danças — ordenou, entusiasmado.
Confesso que quando ouvi papai dizer isso, minha boca secou. Pablo e Aidan na minha casa. Isso não vai dar certo. Pensei, sorrindo. Mas foi tão bom ver papai alegre, risonho, brincalhão e relaxado naquela noite que eu não podia me opor àquele sentimento. Ele estava feliz, e eu também. Marcus, Juan e eu fomos no meu carro. Pablo e Aidan foram com papai. Ao chegarmos, de cara, encontramos Núbia e Arthur na sala de estar. O sorriso curioso da minha cunhada nos recepcionou.
— Núbia, por favor. Fique com eles um pouco. Preciso tirar essa roupa e tomar um banho — supliquei, beijando o rosto intrigado da minha cunhada.
— Claro. Pode deixar — respondeu.
Ainda subindo as escadas, ouvi papai e Aidan cantando ao entrar em casa, e pedindo a empregada uma garrafa de uísque. Meu Deus! Esta noite será longa. Pensei!
Quando retornei, tive uma visão cômica. Do alto da escada, vi todos dançando ao som de música latina, inclusive Núbia. Minha cunhada se empolgou. Passei discretamente no meio deles e fui à cozinha. Perguntei à Emmanuelle se era possível servir entradas para eles ou algo mais simples para beliscarem. Disse-me que mais cedo papai tinha pedido foie gras para o jantar, e que estavam prontos para serem servidos, pois ninguém havia jantado. Não poderia ser melhor. Adoro foie gras! Retornei à sala e sentei perto de Arthur. Nesse momento, meu sobrinho disse que estava com vontade de ir ao banheiro.
— Claro. Vamos ao meu quarto — falei.
Esperava Arthur sair do banheiro, quando vi a porta do quarto se abrir. Era Pablo. Olhou-me e não disse nada. Estava de bermuda, sandálias de dedo e uma camiseta branca. Seu cabelo liso cobria o olhar flamejante que ele dirigia a mim. Ele quer sexo! Pensei. Ele caminhava apressado em minha direção, quando eu disse em voz alta:
— Arthur, já terminou? Titio precisa voltar! — deixando claro que não estava sozinho no quarto.
Ele parou e abriu um meio sorriso nos lábios. Vendo Arthur sair do banheiro, Pablo disse para ele:
— Oi! Sua mãe pediu para ir vê-la agora.
Meu sobrinho não hesitou, correu e me deixou sozinho com ele. Eu não acredito que ele fez isso. Pablo me olhou e fechou a porta a chave.
— Pablo, é melhor nós voltarmos — disse a ele com a voz meio trêmula.
— Ei! Pare com isso. Eu sei que você também quer — comentou, agarrando minha cintura e me dando beijinhos no pescoço.
— Pablo, não é assim. Têm pessoas lá em baixo. Alguém pode entrar aqui — dizia, repetidas vezes, com a voz de quem não está convencido do que diz.
Estava preso em seus braços, sentindo sua barba por fazer roçando meu pescoço, quando o rosto dele encontrou o meu. Ele selou a boca na minha. Ah! Aquela língua impetuosa!
— Vire-se! — ordenou ele.
Eu não tive escolha. Queria-o. Fiquei de costas para ele, sentindo sua ereção debaixo da bermuda, roçando em minhas nádegas. Encaminhava-me até a cama e ia me deitar de bruços, quando ele me puxou para si.
— Não. Na cama, não. Baixe as calças e encoste-se à parede. Eu vou comer você em pé — ordenou, com os lábios colados em meu ouvido.
E, logo, penetrou-me. Estava pressionado contra minha estante de livros, e ele a me invadir com força. Era violento, mas eu gostava. Uma de suas mãos chegou ao meu membro, e senti que estava sendo masturbado, enquanto a outra encontrou minha língua. Então, ele disse, com tom de ordem:
— Chupe meu dedo.
Ele falava palavras quentes. O movimento dos seus quadris me extasiava! Não demorou e ele me inundou, derramando-se dentro de mim e gemendo em minha nuca. Eu o acompanhei, banhando o chão do meu quarto. Meu corpo relaxou depois que gozei. Ele, ainda dentro de mim, pôs-se a se movimentar novamente. O quê? De novo? Pensei. Franzi a testa e olhei para ele.
— Relaxa, garoto. A segunda é bem melhor. Já tá tudo molhadinho.
Na mesma hora, arfei. Suas mãos suadas apertaram minha cintura com força, e o movimento era rápido e brutal. Recostei minha cabeça para trás e minha nuca encontrou seus lábios.
— Fique de quatro na cama — ordenou.
Apoiei meus braços esticados sobre os travesseiros e ele se pôs de joelhos atrás de mim. Levou suas mãos aos meus ombros e me pressionava contra seu membro com força. Não demorou muito e eu o senti, de novo, gozando dentro de mim. E, mais uma vez, derreou seu corpo cansado sobre o meu.
Na sala de estar, todos apreciavam o foie gras, quando Pablo e eu descemos as escadas. Foi impossível não perceber a testa franzida de Aidan. O que será que ele está pensando? Papai conversava com Núbia e Marcus, e Pablo logo foi ao encontro de Juan. Aidan estava sozinho. Fui até ele.
— Oi — falei, baixinho.
— Oi. Pablo estava com você? — perguntou-me.
— Sim. Ele queria usar o banheiro, então mostrei onde ficava. Foi só isso.
Ele deslizou a mão em minha cintura e abraçou meu corpo, discretamente. Perguntou se ele e eu estávamos bem. Respondi que sim e afastei meu corpo do dele. Seu hálito tinha cheiro de álcool. Ele está bêbado! Então, pedi para ele não beber mais e tentar convencer papai a descansar.
— Meu amor, estamos todos cansados. Acho que devíamos encerrar. Papai não pode beber em excesso.
Seus olhos brilharam. O sorriso ficou radiante. Não parava de me olhar com cara de bobo apaixonado.
— Você sabe que foi a primeira vez que me chamou de “meu amor”?
— Foi? — perguntei, com meio sorriso nos lábios, não percebendo o que tinha dito.
— Foi sim! O que você quer que eu faça?
— Aidan, estamos todos cansados. Acho que devemos parar por aqui. Papai precisa dormir.
No mesmo instante, ele largou o copo e se dirigiu à cozinha. O que ele está fazendo? Pensei. Retornou para perto de mim e puxou-me pelo braço até papai.
— Senhor Barrys, com licença. Quero dizer ao Senhor que estou muito feliz de passar meu Natal com sua família. E aproveito para pedir ao Senhor...
Na mesma hora meu coração estalou. Não acredito no que eu estou ouvindo. Oh, meu Deus! Foi quando Marcus tomou a voz dele, interrompendo-o:
— Papai, Aidan quer pedir ao Senhor para dormir aqui, hoje. Ele bebeu demais e não quer dormir sozinho. Disse a ele que o Senhor não iria se opor.
— Mas claro que não, filho. Você pode ficar na nossa casa o tempo que quiser. Núbia, por favor, mande preparar um quarto para ele.
Meu coração voltou a bater. Que susto tive. Aproximei-me de papai e tirei o copo de uísque de sua mão. Dizia a ele que era hora de encerrar a festa, quando Emmanuelle avisou a Aidan que o táxi tinha chegado. Táxi? Que táxi? Aidan foi até Juan e Pablo e cochichou algo para eles, dando-lhes tapinhas nas costas. Os irmãos mexicanos aproximaram-se e agradeceram o convite para estarem conosco. Pablo me olhava com a cara feia, parecia estar com raiva, mas disfarçadamente apertou minha mão e se despediu. Por que ele está com raiva? Ele já fez sexo comigo. O que mais ele quer? Pensei. Depois que eles saíram, mandei desligar a música e recolher as bebidas. Já tivemos emoção demais por hoje.
— Hora de todos irem para a cama! — exclamei, beijando papai e meu irmão, e desejando boa-noite a todos.
A água que escorria do meu corpo levava consigo o cansaço do dia e me deixava a sensação de tranquilidade e paz. Naquela noite, depois de todas as emoções que vivi, somente o silêncio e a solidão do meu quarto seriam capazes de oferecer quietude ao meu coração. Depois de escovar os dentes e secar o cabelo, vesti meu calção de pijama preto. A maciez do seu tecido dava-me a sensação de não estar vestindo nada, e aquilo era relaxante. Estava com sono. Apaguei as luzes e me deitei por cima das cobertas. Recostei minha cabeça, quando vi sobre a mesinha do abajur, ao lado da cama, a tulipa que Marcus me trouxe pela manhã. Apertei meus olhos, com meio sorriso nos lábios, e me lembrei dele. Tomei-a à mão e levei-a à minha narina na esperança de sentir algum aroma. Fechei meus olhos e, em prece, dirigi-me a Deus:
“Senhor, obrigado por este dia que me destes. Obrigado pela minha família e, principalmente, pelo meu irmão Marcus. Perdoa-me, se o ofendi hoje. E peço que cuides da minha vida, assim como cuidou da vida do seu filho Jesus. Peço também que receba minha mãe junto do seu Reino. Jesus, parabéns pelo seu aniversário. Amém.”
Os meus olhos se abriram, e eu o vi. Era Aidan. Estava à porta do meu quarto, parado. Sentei-me na cama e disse baixinho:
— Aidan, é melhor você ir dormir.
Ele encostou a porta e caminhou devagar em minha direção. Agachou-se e deixou seu rosto na altura do meu. Olhava-me fixamente, quando me disse, com a voz serena:
— Eu não quero nada. Só vim dormir abraçado com você. Prometo. É só isso — e me beijou castamente os lábios, fazendo aquela cara de apaixonado.
Como resistir? Pensei.
— Você bebeu demais hoje. Tomara que não ronque, pois estou com sono e quero dormir — falei, fazendo voz de bravo, mas sorrindo e levantando as cobertas para ele entrar.
Ele apertou os olhos sorrindo e, logo, encostou seu corpo no meu. Puxou-me para deitar em seu peito e, enquanto me acarinhava as costas, perguntou:
— E essa flor?
— Foi meu irmão que me deu de Natal. Ela vai dormir conosco — e levei meus lábios aos dele e o beijei, desejando-lhe uma boa-noite.
— Boa noite! Eu amo você — respondeu, puxando meu corpo para si novamente.
Então, adormecemos. O peito de Aidan me serviu de travesseiro a noite toda. Estar ao seu lado, sentir seu cheiro, tocar aquele corpo rígido me fez lembrar aqueles dias em que estivemos juntos em Nova Iorque.
Abri meus olhos com o corpo descansado e com a sensação de bem-estar. Ele movia seus dedos por minhas costas de cima para baixo. Ele já acordou? Era tão gostoso estar ali em seus braços, sob seus carinhos. Estava me sentindo amado. E aquilo era muito, muito bom.
— Já acordou? — perguntei baixinho.
— Sim. Quase não dormi — respondeu, ainda de olhos fechados.
— Por quê?
— Porque estou muito feliz de estar aqui com você.
Ele tomou meu cabelo em sua mão e pressionou meu rosto contra o dele até seus lábios tocarem os meus, e disse:
— Bom dia, meu amor! — enquanto dava-me beijinhos singelos.
— Bom dia! — respondi.
Sua mão voltou a acarinhar minhas costas. Eu encaixei minha coxa sobre a dele e lhe acarinhava o peito com a ponta dos dedos, quando senti a primeira contração. Eu estava molhado e excitado. Não me contive e levei minha mão ao seu membro. Estava alto, latejando. Aidan retorceu a cabeça para trás e gemeu. Encostei meu rosto no dele, beijei-o, e perguntei:
— Posso fazer uma coisa?
Ele me olhou com meio sorriso nos lábios e disse que sim. Seus olhos estavam curiosos, quando sussurrei em seu ouvido que eu nunca havia feito, mas que tinha vontade. E fez cara de pensativo quando joguei as cobertas ao chão e subi em seu abdome. Tirei sua camisa e deixei seu peito à mostra. Levei meus lábios aos seus e fui deixando uma trilha de beijinhos do peito ao umbigo. Olhei para ele e desabotoei a bermuda, tirando-a e contemplando suas pernas peludas. Afastei-me e me pus a apreciar seu corpo com os olhos, dos pés ao rosto. Encantei-me. Somente de cueca, ele estava diabolicamente sexy na minha cama. Levemente, baixei a Prada branca e pus minha boca no membro dele. Eu estava preenchido. Que sabor! Os gemidos dele me causavam excitação. Salivei minha mão e me masturbei, enquanto ele fazia movimentos suaves com o quadril e acarinhava meu rosto com as costas dos dedos. Ele estocava minha boca devagar, quando minha língua encontrou o primeiro jato. Ele está jorrando na minha boca. Seu último gemido foi acompanhado da última contração do orgasmo. Que coisa maravilhosa. Acho que vou querer fazer isso de novo. Eu ainda tinha o gosto do seu membro na boca, quando ele me puxou para si e me beijou. Sua língua passeava entre meus dentes à busca daquele sabor, quando uma corrente de vento chegou ao meu corpo. Larguei a boca de Aidan e abri os olhos. A porta do quarto estava aberta. E minha pupila dilatou, quando vi papai olhando para nós. Oh, meu Deus! Eu não acredito! Papai viu tudo! Agora estou fodido! Pensei.
***