Читать книгу Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes - Страница 7
CAPÍTULO DOIS
ОглавлениеDuas surras
__________________
Era o dia do aniversário de mamãe. Antes mesmo que a babá nos acordasse, papai foi ao meu quarto e explicou que Marcus, ele e eu iríamos fazer uma surpresa para ela no fim da tarde. E pediu para fingirmos que esquecemos a data. Naquele dia, quando meu irmão e eu retornamos do colégio, papai nos esperava na sala. Vendo-nos, disse a meu irmão que fosse tomar banho, e pediu à babá para acompanhá-lo. Segurou minha mão e levou-me ao meu quarto. Ele tinha a cara fechada, parecia estar com raiva. Enquanto trancava a porta a chaves, mandou-me sentar na cama, dizendo que precisava falar comigo. Obedeci-o. Ele arrastou uma cadeira e sentou-se diante de mim.
— Gaius, hoje fui chamado no seu colégio. Você sabe por quê?
Balancei a cabeça, dizendo que não.
— O diretor me chamou porque os pais de um dos seus colegas, o Jean, fizeram uma reclamação contra você. Sabe o que eles disseram?
Novamente, balancei a cabeça, reafirmando que não.
— Disseram que Jean contou que vocês dois estavam brincando no banheiro do colégio. O que vocês faziam lá, meu filho?
— Papai, nós tiramos a roupa e eu fiquei pegando no pinto dele — respondi, envergonhado.
— E por que fez isso?
— Ele contou que viu sua mãe pegando no pinto do pai dele, e pediu para eu fazer a mesma coisa no dele. Então, nós tiramos a roupa e eu fiz. Era uma brincadeira.
— Gaius, o que fez não foi certo. Um homem não pode pegar no pênis de outro. Isso é pecado! Deus não gosta! O que o diretor me relatou não foi isso. Afirmou que os pais de Jean disseram que foi você que teve a ideia de ir para o banheiro. Por que está mentindo para mim? — perguntou, assumindo uma voz agressiva.
— Papai, não estou mentindo. Foi Jean quem me pediu — respondi, assustado.
Nisso, percebi o olhar de desconfiança dele. Papai não acreditou no que disse. E depois de explicar-me mais uma vez que eu estava errado, mandou-me tirar a calça. Obedeci-o, mesmo sabendo que seria castigado. Meus olhos estavam marejados, quando pedi para ele não me bater. Então, ele engrossou a voz e me ordenou que o obedecesse, enquanto se levantou e tirou o cinto das calças. O pavor se apossou de mim. Minhas mãos tremiam e eu já chorava, quase descontroladamente. Exaltado, gritou, mandando-me parar de chorar.
— Cale a boca! Homem não chora! Vai ser castigado para nunca mais fazer isso! Baixe a calça, agora! — ordenou, gritando, com fúria na voz.
Atendi sua ordem e me virei de costas para ele. Papai me empurrou na cama, e mandou que ficasse deitado e não me movesse nem gritasse, pois, se eu desobedecesse, bateria muito mais. Levei minhas duas mãos à boca e pressionei meus lábios com força. Papai deu-me dez golpes nas nádegas com o cinto, fortemente, que me deixaram marcas e me arrancaram sangue. Em seguida, levantou-me, virou-me de frente para ele, olhou em meus olhos e comunicou-me que aquele castigo era para eu aprender a ser homem. Proibiu-me de contar a qualquer pessoa o que ele fez e me mandou parar de chorar, tomar banho e vestir uma roupa, pois iríamos dar os parabéns à mamãe. Obedeci-o. Quando isso aconteceu, eu tinha seis anos, e minha mãe morreu sem nunca saber da primeira surra que papai me deu.
Em um clarão, vendo papai parado na porta do meu quarto, olhando para mim e Aidan, quase senti a dor dos golpes que ele me deu quando tinha seis anos. Estava estático e o pavor paralisou minha boca. Meus olhos não conseguiam desviar-se dos dele, mesmo quando Aidan tomou as cobertas e cobriu-se. Papai levou a mão à maçaneta e baixou a cabeça, enquanto fechava a porta, deixando-nos sozinhos no quarto. Saiu e não disse nada. Desesperei-me. Meu Deus! Meu Deus! Como isso foi acontecer?
— Aidan, você não fechou a porta? Você não fechou a porta? — gritava.
— Ei, calma! Calma! Vou conversar com ele — dizia, repetidas vezes, tentando me acalmar.
— Não sabe o que está dizendo? Você não conhece papai! Ele nunca vai aceitar isso! Isso não era para ter acontecido assim. Meu Deus, o que faço? — e chorava, desesperado.
— Acalme-se, Gaius! Precisa ficar calmo. Você não está sozinho nisso. Vou conversar com ele. É a nossa chance de ficarmos juntos — dizia, abraçando-me, tentando me tranquilizar.
Mandei Aidan chamar meu irmão, e que ficasse no hotel e não falasse com papai. Ele vestiu-se, pediu que eu me acalmasse e beijou minhas lágrimas, dizendo que me amava e que eu não estava sozinho. Quando saiu do quarto, atirei-me na cama e chorei. Recordo-me do pavor e da angústia que senti em meu peito naquele momento. Nunca havia experimentado algo parecido em toda a minha vida. Meu coração ficou miúdo, e eu, possuído de medo, quando vi a maçaneta da porta do meu quarto se mover. Lentamente, uma mão a empurrava. Vi um homem de barba, e suas roupas eram brancas. Ele carregava em seu rosto a seriedade e, na mão, uma bengala. Era papai. Oh, meu Deus! O que ele vai fazer? Olhava-me, enquanto fechava a porta do quarto a chaves. Depois, caminhou em minha direção. Nisso, senti meu coração acelerar.
— Papai, Marcus e eu íamos conversar com o Senhor. Sinto muito que as coisas tenham acontecido desse jeito. Só quero que saiba que...
Enquanto eu tentava explicar, ele levantou a bengala, agarrou-a na ponta e golpeou meu maxilar com o cabo. Caí da cama e, junto ao gosto de sangue, senti que um dente tinha quebrado. Comecei a gritar, chamando meu irmão e pedindo socorro. Ele golpeou minhas costelas. Fiquei paralisado. Não consegui me mover. Apenas gritava. Ainda ao chão, acertou meu joelho, e depois a coxa, o tornozelo, o punho, o peito, o quadril, o ombro e, novamente, o maxilar. Não conseguia parar de gritar e pedia pelo amor de Deus para que parasse. Então, ele pôs-se a encarar meus olhos. Vi fogo em seu olhar. Era ira. Meu Deus! Ele vai me matar! Agachou-se, aproximando-se mais do meu rosto, encarando-me. Então, eu disse, chorando:
— Papai, por favor, por favor — suplicava.
— Você quer servir de mulher para os homens, é? Então, vou lhe mostrar como é — respondeu, com a voz cheia de raiva.
Papai me virou de bruços e baixou meu calção, abriu minhas pernas e enfiou a ponta da bengala no meu ânus. Gritei.
— Então, está bom assim? Você quer mais, sua mulherzinha? Não é disso que você gosta? — perguntava, quando enfiou de novo.
Ele socava meu ânus com a bengala, quando Marcus bateu na porta, mandando que eu abrisse.
— Gaius! Gaius! Abra a porta! Papai! Papai! Abram a porta! — gritava ele.
— Socorro! — respondia, repetidamente.
Papai tirou a bengala de mim e me olhou nos olhos, cuspiu em minha cara e disse que eu não era mais o filho dele e, ainda, que tinha nojo de mim. Caminhou até a porta e a abriu. Eu estava tomado de dores, mas ouvi o que ele disse a meu irmão:
— Tire esse lixo da minha casa, agora.
As imagens eram embaçadas. Ao longe, ouvia vozes, mas não conseguia compreender o que diziam. Um vulto branco se movimentava diante de mim. O que é isso? Onde estou? Eu morri? Lentamente, abri os olhos e recobrei a consciência. Estava no hospital, e uma mulher negra chamou meu nome.
— Oi, Gaius. Consegue me ouvir? — perguntou, sorridente.
— Quem é você? — respondi.
Era a Dra. Lorena. Depois de dar-me água para beber, disse que eu estava no Center Hospitalier Princesse Grace, em Mônaco, e perguntou se me sentia bem. Depois, ainda, que eu tinha dormido por dois dias seguidos e, também, que havia feito uma pequena cirurgia na boca. Recomendava-me passar alguns dias sem fazer grandes movimentos, quando a interrompi.
— Onde está o meu irmão? — perguntei, ainda meio zonzo.
— Vou chamá-lo — respondeu, deixando-me sozinho no quarto.
Marcus abriu a porta do quarto, e seus olhos encontraram os meus. Chorou, enquanto caminhava em minha direção. Tomou minha mão, beijou-a e falou que sentia muito pelo que tinha acontecido. Avisou-me que Emmanuelle encontrou uma garrafa de uísque no quarto de papai na manhã seguinte à surra, e que, provavelmente, ele tinha passado a noite inteira bebendo. Contou-me que depois do ocorrido, papai saiu de casa e até aquele dia não sabia notícias dele. A voz do meu irmão era trêmula, ele não conseguia parar de chorar. Olhava-me com compaixão. Ouvia-o em silêncio e cheio de dores. Uma lágrima me escapou dos olhos, quando falei:
— Se você não tivesse chegado, ele iria me matar — e solucei.
Ele encostou sua testa na minha, disse-me que assim que saísse do hospital, iríamos para Manhattan, e que eu moraria com ele, Núbia e Arthur. Perguntou como estava me sentindo e me explicou os procedimentos médicos que foram necessários serem feitos em mim nos dias em que estive dormindo.
— Maninho, escute bem o que vou dizer. Você estava sedado por causa das dores e precisou fazer uma cirurgia na boca. Seu maxilar foi deslocado e você perdeu dois dentes. Mas o médico disse que pode fazer implante. Não precisa se preocupar com isso. Sua costela foi fraturada, por isso esta faixa na cintura. E, ainda, teve uma pequena hemorragia anal, mas já foi controlada. Agora, não corre nenhum risco de morrer. O que preciso que saiba é que está tudo bem, e que não vai ter nenhuma sequela grave do que aconteceu. Entendeu? — perguntou-me, aos soluços.
— Tudo bem. Quando vou poder sair daqui?
— A médica disse que mais alguns dias. Dependendo da sua recuperação, até o ano-novo nós viajamos. Daqui do hospital iremos direto para Nova Iorque.
— Onde está Aidan? — perguntei.
— Liguei para ele e contei o que tinha acontecido. Ele queria vir aqui, mas não deixei. Expliquei que você estava sedado e que não sabia quando iria acordar. E, também, que não era prudente ele ficar em Monte Carlo, e terminei pedindo para ele voltar para Nova Iorque, tentando evitar que encontrasse papai aqui. Prometi que ligaria todos os dias para dar notícias suas. Hoje, já falei com ele, mas se quiser eu posso ligar para dizer que você acordou. Ele está muito preocupado e avisou que vai nos visitar, quando chegarmos em Manhattan. Pediu-me para quando você acordar dizer que o ama e que sente muito pelo que aconteceu.
Uma lágrima escapou-me. O sorriso da Dra. Lorena foi a primeira visão que tive naquele dia. Era véspera de ano-novo e ela estava me dando alta. Marcus, Núbia e Arthur estavam empolgados ao me darem a boa notícia. A médica deu-me algumas recomendações, entre elas, que eu refizesse os exames em quinze dias. Do hospital, nós fomos direto ao Aeroporto Côte d'Azur, onde um jatinho particular nos aguardava. Foram quase dez horas de voo direto. Fiquei exausto.
— Ei, maninho. Acorde. Nós chegamos — disse meu irmão, enquanto eu abria os olhos.
Ao descer do avião, dois carros pretos nos aguardavam próximos à pista de pouso do aeroporto de Nova Iorque. Meu irmão pedia aos motoristas que retirassem nossa bagagem do avião, quando Núbia me ajudou a sentar no banco de trás de um dos carros, deixando-me sozinho logo em seguida. A outra porta do carro onde estava se abriu e um homem sentou-se ao meu lado. Era Aidan. Seus olhos estavam marejados e os lábios tremiam, num esforço de não deixar escapar um soluço. Olhei-o, cobri meu rosto com as mãos e chorei. Ele se aproximou, beijou-me a têmpora e levou minha cabeça ao seu peito.
— Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Nós vamos para casa — sussurrou ele ao meu ouvido, confortando-me.
O relógio marcava 22h13, quando entrei no meu quarto. Aidan carregava uma de minhas malas e a acomodou ao lado da cama, agradecendo ao motorista por tê-lo ajudado com as outras. Núbia e Marcus estavam na porta, olhando-me, quando sentei na cama e deslizei minhas mãos sobre os joelhos. Ela sorriu com a boca fechada e puxou o braço do meu irmão, encostando a porta. Fiquei sozinho com Aidan. E era impossível evitar as lágrimas que molhavam minhas coxas. Ele agachou-se e levantou minha cabeça até encontrar meus olhos.
— Você não sabe como eu sinto por tudo que aconteceu — expressou, com a boca trêmula.
— Aidan, muito obrigado por ter me acompanhado. Agora eu quero dormir um pouco. Estou muito cansado da viagem.
— Vou dormir aqui hoje com você.
— Não. Você vai dormir na sua casa. Preciso de um tempo para pensar em tudo que aconteceu. Preciso ficar sozinho. Entende isso?
— Mas não vou incomodar você. Só quero ficar aqui...
— Não, Aidan! Preciso ficar sozinho. Isso não tem nada a ver com você, e sim comigo. Por favor, vá para casa.
Ele me beijou os cabelos e saiu do quarto, fechando a porta, enquanto me olhava, demonstrando a vontade que carregava em ficar comigo naquele momento. Deitei e dormi. Meus olhos se abriram, quando um toque avisava que tinha uma nova mensagem no celular:
“Sei que as coisas estão difíceis agora, mas acredito que tudo vai passar. Não esqueça de mim. Espero por você. Amo você! Feliz ano-novo! Aidan”.
Os dias que se seguiram àquele eram longos, silenciosos e vazios. Em meu peito, carregava a sensação do nada. E a vida parecia não ter graça nenhuma. O frio que desaparecia de Manhattan dia após dia levava as lágrimas do meu rosto consigo, mas não as dores que sentia em minha alma. Era difícil aceitar o que papai tinha feito comigo. Como não lembrar de seu olhar de ira, da cusparada na cara, do que disse de mim, daquela bengala? Ao tentar dormir, ainda tinha lampejos de um homem de branco com uma bengala na mão, caminhando em minha direção. Quantas vezes acordei sobressaltado durante a noite? Quase sempre, mais de uma vez. Era um tormento. Quase três meses passaram-se e pouca coisa havia mudado dentro de mim. Mas tomei consciência de que precisava fazer alguma coisa para sair da situação em que estava. E aproveitei que a primavera deu as caras em Nova Iorque para passear pela cidade.
Era uma manhã de sábado, quando Richard e eu marcamos de nos encontrar no Central Park no fim da tarde. Havia tempos que não o via e pensei que fosse bom retomar minhas amizades. O que não sabia é que ele não me encontraria sozinho.
— Oi! Gaius! Aqui! — acenava ele, quando me viu tomando um cappuccino.
Nesse momento, vi-o. Era Pablo. Caminhava com Richard em minha direção. Meus olhos arregalaram! Será que ele contou ao Richard que nós transamos?
— Oi, amigo! — disse eu, abraçando Richard, meio temeroso.
— Você lembra de Pablo, não? Ele esteve na sua festa de aniversário ano passado.
Graças a Deus que ele não sabe de nada. Pensei.
— Lembro sim. Como vai, Pablo? — perguntei, com a voz tímida, quase não olhando em seus olhos.
Pablo sorriu com a boca fechada e disse que eu estava muito bonito. Enrubesci e sorri.
— Obrigado!
Nós andávamos pelo Central Park, enquanto falávamos amenidades. Richard me contava que terminaria o curso de moda no fim daquele ano e que pretendia passar alguns meses na Itália, logo em seguida. Pablo escutava nossa conversa e tentava nos deixar à vontade. Parecia entender que Richard e eu tínhamos assuntos atrasados, então transformou-se em uma companhia silenciosa naquele primeiro momento. Algumas vezes, surpreendi-o olhando para mim. Aqueles mesmos olhos pretos e sedentos que encontraram os meus no meu quarto em Monte Carlo. Vire-se! Vou comer você em pé! Lembrei, desconcentrando-me do que Richard dizia. Em outro momento, Pablo sugeriu que fôssemos comer alguma coisa, e enfatizou estar faminto.
— Por mim, tudo bem — confirmou Richard.
Nós entrávamos no táxi, quando Pablo disse ao motorista para ir ao Chinatown. Hum! Ele gosta de comida chinesa. Pensei.
— Boa noite! Meu amigo e eu queremos zong zi para dois — disse Richard ao garçom, já no restaurante.
E continuou:
— O que quer comer, meu amor? — perguntando a Pablo.
Ah, Meu Deus! Não acredito! Richard está namorando Pablo? Pensei.
— Quero mapo tofu e dan dan mian, por favor. Obrigado! — respondeu Pablo, olhando para o garçom.
O restaurante tinha pouca iluminação e estava abarrotado de pessoas. Por sorte, conseguimos uma mesa aos fundos. Onde estávamos, podíamos ver toda a movimentação das pessoas e dos garçons. Richard e Pablo estavam à minha frente, do outro lado da mesa pequena que nos separava. Richard contava-me sobre como pretendia ingressar na Gucci de Florença, quando Pablo chamou o garçom e perguntou o que era huangjiu. O garçom explicou-nos que era um vinho amarelo chinês, preparado com uma massa feita com arroz, pianço ou trigo. Até eu estou com vontade de beber. Pensei.
— Acho que vamos experimentar. Obrigado! — disse Pablo.
Nossos pratos chegaram. Richard e eu conversávamos, empolgadamente, quando algo me desconcentrou. Era Pablo, e estava comendo. Nesse momento, percebi-me olhando-o, curioso. Ele começou com o mapo tofu e depois mesclou com o dan dan miam. Para o primeiro, usou um garfo, e para o último, um hashi. Depois, os dois, simultaneamente. Tinha o corpo inclinado para frente, os cotovelos sobre a mesa, a cabeça baixa e as mãos ágeis. Comia depressa, sem muito mastigar. Quase não usava o guardanapo para absorver o excesso do molho da carne suína, que melava seus lábios. Entre um prato e outro, um ou dois goles do vinho amarelo e mais comida. Mastigava com força, com prazer. Ele era rude à mesa. E aquilo o transformou em um homem selvagemente sexy para mim. Oh, meu Deus! Sinto um latejar entre minhas pernas. Estou com tesão! Pensei. Richard continuava falando, quando pedi licença e fui ao banheiro. Olhei-me no espelho, sem saber ao certo o que pensar, e lavei as mãos, demoradamente. Acho que esperava que a sensação da água tocando meus dedos acalmasse meu corpo. Mais controlado, retornei à mesa. Vi-os conversando. E meus olhos percorreram aquele corpo queimado. Ele vestia uma bermuda marfim e uma camiseta branca, que valorizava seus braços. Calçava um tênis marrom e ainda tinha a barba por fazer. Será que ele gosta de ter essa barba malfeita? Que mau gosto! Pensei, sentando-me novamente à mesa. Pablo havia terminado de comer, e bebia seu huangjiu, quando nossos olhos se encontraram. Era visível, para mim, que eu o desejava. Fiquei receoso que Richard percebesse nossos olhares, então me contive e tentei me concentrar na conversa. Comentei que estava pensando em passar um tempo em Manhattan e, talvez, fizesse um curso de fotografia. Richard vibrava com essa possibilidade, afinal, eu era o único amigo mais próximo dele, e depois que tinha ido morar em Monte Carlo, no ano passado, ele acabou ficando sozinho na cidade. Pablo falava que estava pensando em atender pacientes fora do hospital para conseguir ganhar mais dinheiro, quando Richard pediu licença e foi ao banheiro. No mesmo instante, olhei para aqueles olhos pretos. Ele respondeu ao meu olhar, ordenando-me:
— Venha aqui!
— O que você quer, olhando-me desse jeito? Ele pode perceber, sabia? — indaguei-o.
— Venha aqui, garoto! Estou mandando! — respondeu forte, com a cara fechada.
Obedeci-o. Arrastei-me pelo sofá no entorno da mesa e me encostei a ele. Vi seus braços se abrirem e, logo, senti sua mão em minha cintura, pressionando meus quadris contra os dele. Estávamos colados um no outro. Então, ele virou seu rosto para mim e disse:
— Oi.
— Oi — respondi, alternando meu olhar entre seus olhos e lábios.
— Vou perguntar uma coisa. E vai me responder a verdade, certo?
— Certo.
— Olhe para mim e responda: Você está me desejando agora?
Oh, meu Deus! O que digo? Ele já sacou tudo! Pensei.
— Estou — respondi baixinho.
Ele tirou a mão do meu quadril e pôs o seu celular diante de mim.
— Digite seu número aqui.
Salvei meu número no celular e o entreguei. Então, ele me mandou tirar a carteira e lhe dar cinquenta dólares. O quê? Por que ele quer cinquenta dólares? Pensei.
— Por que você...
— Não discuta! Confie em mim. Dê-me cinquenta dólares, agora! — mandou, interrompendo-me com seus dedos em meus lábios, a fim de não me deixar falar.
Ah, aqueles dedos! Confiei. Tirei a carteira do bolso e pus o dinheiro na mão dele. Pablo levantou-se e ordenou-me que ficasse sentado ali, pois logo voltaria. Minha testa franziu. Acompanhei-o com olhos curiosos e vi quando cochichou algo ao pé do ouvido do garçom e lhe entregou o dinheiro. Ele caminhava faceiramente à mesa, quando abriu um sorriso travesso. Que sorriso lindo! Sentou-se ao meu lado novamente e pôs sua mão em minha cintura e, olhando-me, disse:
— Estou excitado. Passe a mão.
— Você está louco? Há pessoas aqui. E Richard já vai voltar...
— Não vai, não. Ele está preso no banheiro. E o garçom só vai abrir a porta, quando você me fizer gozar.
Arfei duas vezes em menos de um segundo. Eu não acredito nisso! Pensei.
— Você só pode estar de brincadeira, Pablo — comentei, tentando rir, mas sem conseguir.
— Não estou não, garoto — respondeu, tomando minha mão e levando-a ao seu membro.
— Aperte assim, de cima para baixo.
Meu coração palpitou. E com sua mão sobre a minha, mostrou-me como queria eu o masturbasse por cima da bermuda. Eu estava muito nervoso com a possibilidade de um flagrante, e meus olhos não paravam de percorrer as mesas do restaurante na tentativa de descobrir se alguém percebia o que fazíamos. A cada vez que um garçom ameaçava ir em nossa direção, meu coração acelerava mais ainda. Richard está trancado no banheiro. Oh, meu Deus! Pensei.
— Relaxa, garoto. Está escuro aqui, e a mesa cobre tudo. Ninguém está vendo nada. Vai por mim. Quer que eu ponha para fora? — perguntou, baixinho.
— Não. Deixe assim. Assim está bom — respondi, nervoso.
Realmente, ele estava certo, e o restaurante estava escuro. Calma, Gaius! Relaxe, Gaius. Pensava e dizia para mim mesmo. Ele me olhava e respirava pela boca, enquanto mordia seus lábios rachados. A cada movimento que fiz no membro dele, senti suas pernas contraírem. Um gemido baixinho e manhoso saía de sua boca.
— Eu quero enfiar em você. Quero enfiar bem devagar e, depois, meter com força até você gritar — sussurrava ele.
— Quer? Então, goze para mim — provoquei, na tentativa de fazê-lo gozar logo e dar fim à minha angústia.
Ele não demorou. Pude sentir em minhas mãos as contrações do jato dele. Estava jorrando e, com certeza, deve ter inundado a cueca. Respirei fundo, tentando me acalmar. Alguns instantes em silêncio e o sorriso dele apareceu, olhando-me com satisfação pela tensão que causou em mim. Parecia gostar de fazer essas coisas exóticas.
— Salvou seu número? — perguntou, ainda sorrindo, meio ofegante.
— Salvei! — respondi, tentando fazer cara de bravo, mas sem conseguir disfarçar que tinha gostado.
Ele levantou e foi ao encontro do garçom, enquanto eu voltava para o outro lado da mesa. Instantes depois, Richard retornava com cara de ódio.
— Acredita que fiquei preso no banheiro? Só conseguiram abrir agora. Onde está Pablo? — perguntou ele.
— Acho que ele foi ao banheiro, Richard. Não encontrou com ele? — respondi, cabisbaixo.
Assim que cheguei em casa, depois de jantar com eles, um toque avisou-me de uma nova mensagem no celular:
“Desça! Estou na frente do seu prédio. O taxímetro marca dezoito pratas, e contando. Não demore! Pablo”.
Não acreditava no que estava lendo. E Richard, onde está? Este mexicano só pode ser maníaco. Pensei. Tomei as chaves do apartamento de volta às mãos e desci. Abri a porta do táxi, fazendo cara feia, e perguntei:
— O que foi, Pablo? Ficou doido?
— Entre e feche a porta! — ordenou-me.
Vendo-me bater a porta do táxi, ele passou o braço por trás de mim, apertou minha cintura, e disse ao taxista:
— Rua Madison, Bedford — e selou seus lábios nos meus.
E beijou-me com tesão. Não acredito que a essa hora da noite estou indo ao Brooklyn! Esse mexicano ainda vai me matar. Oh, meu Deus! Pensei, enquanto saboreava aquela boca gostosa e ardente.
O apartamento de Pablo era pequeno. Tinha somente sala, cozinha, quarto e um banheiro. A TV estava ligada e, a janela, aberta. O vento que entrava balançava as cortinas que cobriam as janelas da sala. Um gato branco recepcionou-nos e, logo, começou a roçar minhas pernas. A poucos passos da porta, vi dois colchões de solteiro ao chão, perto de uma das janelas. Eles estavam manchados e cobertos apenas com um lençol estampado. E, do outro lado, enxerguei um sofá velho de dois assentos com estofado vermelho. Meus olhos percorriam as paredes à procura de alguma beleza, quando vi pratos e xícaras sujas na cozinha e uma tinta escura nas paredes, que não escondia as rachaduras do prédio. Ao sentir o cheiro de mofo e ouvir o gato miar, entendi que Pablo era pobre e que eu estava no subúrbio de Nova Iorque. Ele mora aqui? Mas como conseguiu dinheiro para ir a Monte Carlo? Pensei. Assim que entramos, ele logo apertou a tela do seu celular e o jogou sobre o sofá. Uma playlist começou a tocar. Era rock. Enquanto caminhava até a cozinha, tirou a camisa e a jogou sobre uma cadeira. Puxou a porta da geladeira e tirou uma cerveja, abrindo-a no dente, enquanto me olhava. E veio em minha direção.
— Sei que não é o que está acostumado, mas é aqui onde moro — disse, dando um gole na cerveja e me fazendo beber também logo depois.
Agarrou minha cintura e puxou-me para ele.
— Nunca tinha vindo ao Brooklin — comentei, timidamente.
— Acho que depois de hoje vai querer vir mais vezes.
E selou sua boca na minha, pressionando meu abdome contra o dele. Estava preso em seus braços e não conseguia resistir. Queria-o, enlouquecidamente. Ele me beijava com força. E eu adorava.
— Gostei do que fez comigo no restaurante — comentou ele, ao pé do meu ouvido, com a voz manhosa, roçando a barba por fazer em meu rosto, provocando-me e atiçando meu tesão.
— Fui obrigado a fazer — respondi, quase sem forças diante daquela tensão sexual que se instalou entre nós.
— Não é verdade. Fez porque quis. Estava com vontade de pegar meu pau.
Por que ele diz essas coisas? Eu fico excitado!
— Ainda estou com a cueca molhada. Quer ver? — perguntou, desabotoando e descendo o zíper da bermuda.
Olhei para baixo e senti o cheiro de cueca suja em minhas narinas. Era cheiro de sexo. Inspirei e percebi minha ereção latejar. Oh, meu Deus! Que cheiro maravilhoso! Pensei.
— Ainda está molhadinho. Passe a mão — mandou-me ele, roçando a barba em meu pescoço novamente.
Pus minha mão dentro da cueca dele e o apertei. A cueca estava encharcada do orgasmo. Ele gemeu em meu ouvido.
— Aperte com força.
Obedeci-o. Enquanto o apertava, ele pôs a mão no bolso da bermuda e tirou um saquinho, que prendia um pó branco.
— Tenho uma coisa aqui para relaxarmos. Vai ser mais gostoso — disse, dando-me beijinhos.
— Talvez seja melhor, não — argumentei.
— Relaxe, garoto. Você vai gostar. E não vai acontecer nada. Prometo. Vá por mim.
Estávamos nós ali, em pé, colados um ao outro, eu apertando seu pênis melado, e ele levando seu dedo mindinho com pó às minhas narinas.
— Inspire forte — ordenava.
Obedeci-o. E minha cabeça retorceu para trás.
— Mais uma vez. Isso. Só mais um pouquinho. Muito bem, garoto. Assim está bom. Quero você consciente. Quero que sinta tudo que vai acontecer.
Inspirei quatro vezes seguidas, duas em cada narina. Instantaneamente, fiquei eufórico e agitado. Meu coração ficou a mil. E, segundos depois, estava relaxado. Tinha consciência do que estava acontecendo, embora meus movimentos fossem vagarosos e sentisse que alguma força me dominava. Foi a primeira vez que usei cocaína. E gostei. Pablo tomou minha cabeça nas mãos e pressionou meu rosto contra o dele. Beijava-me com violência e mordia meus lábios. Senti gosto de sangue na boca, quando o vi salivar um dedo. Ele pôs a mão dentro da minha calça e enfiou seu dedo molhado em mim. Arquejei! Ele está me comendo com o dedo. Então, baixei a cueca dele e libertei sua ereção. Ele estava muito excitado. Minha mão molhada ainda o masturbava devagar, quando ele tirou minha camiseta rapidamente e me empurrou no sofá. Ergui minhas mãos para trás e o deixei tirar meu tênis, meias, calça e cueca rapidamente. Fiquei nu em segundos. Ainda pensava que ele tinha pressa, quando percebi meu membro na boca dele. Oh, meu Deus! Ele está me chupando! Os gemidos eram inevitáveis. Retorci meu corpo inteiro, enquanto ele movimentava sua boca para cima e para baixo com rapidez. Não demorou muito e eu esporrei. Esporrei na boca dele. E ele gostou. Levantou-se e foi ao meu encontro, trazendo o meu “gosto” à minha boca, beijando-me, demoradamente.
— Tenho uma surpresa para você — sussurrou ao meu ouvido.
Agarrou minha cintura e pressionou meu peito contra o encosto do sofá. Estava eu ali, de quatro, com os braços apoiados nas almofadas e com a cabeça para fora. Nisso, enxerguei um garoto vindo em minha direção. Ele tinha a pele queimada e os cabelos longos. Seus olhos eram castanhos, da cor dos cabelos. Seu corpo era magro, e seus braços e pernas eram finos. Devia ter quase a mesma altura que eu. Quantos anos ele tem? Pensei. Caminhava, mordendo o lábio inferior e apertando o pênis por cima da calça. Era Juan, irmão de Pablo. E ele logo baixou o zíper e pôs seu membro em minha boca. Pablo foi até meu ouvido e disse baixinho:
— Chupe gostoso. E abra as pernas que vou comer você.
Estava sendo estocado pela frente e por trás. Enquanto Pablo me penetrava com força, Juan movimentava lentamente o quadril para frente e para trás, olhando em meus olhos. Os movimentos eram suaves. E meus olhos e mãos percorriam suas coxas, quando um gemido anunciou seu orgasmo. Juan estava esporrando. E, ainda gemendo, inundou minha boca com um jorro quente e cremoso.
— Isso, garoto. Bebe tudinho — repetia ele, várias vezes, em voz baixa, com cara de satisfação.
Engoli. Ele, logo, saiu da minha boca e circundou o sofá. Acompanhava seu movimento com a cabeça, quando meus olhos encontraram o corpo de Pablo, que caminhava para a minha frente. Ele tinha a cueca suja presa na metade das coxas, enquanto andava faceiramente com aquele sorriso travesso no rosto. Parou, diante de mim, no mesmo lugar onde Juan estava. Agachou-se e levou seus lábios aos meus, beijando-me com força. Roçou a barba no meu pescoço grosseiramente e sussurrou em meu ouvido:
— Vou gozar na sua cara.
Juan estava atrás de mim, com sua língua em meu ânus e uma mão me masturbando, quando Pablo tirou sua cueca suja e me mandou abrir a boca. Ele dobrou a cueca e, violentamente, enfiou-a em minha boca. Estava eu ali, com aquele tecido barato e sujo na boca, quando o vi me dar um tapa no rosto. Meus olhos arregalaram. Gostei. Faz de novo. Pensei. E ele fez, do outro lado, com mais força. E, logo, começou a dar-me pancadinhas nos lábios com o membro dele e a dizer que esporraria em mim. Salivou a mão e pôs-se a se masturbar. Não demorou. O primeiro jato atingiu meus olhos e escorreu pela bochecha. Ele esporrava e gemia, chamando-me de vadia. Molhou meu rosto inteiro. Não me contive. Sob o movimento rápido da mão de Juan, esporrei no sofá, gemendo pelas narinas, gozando de novo. Que gozada, meu Deus! Pensei. Pablo me empurrou no sofá. Caí deitado, com o rosto para cima.
— Levante as pernas! — ordenou.
Obedeci-o. Nisso, ouvi o barulho do fechar de uma gaveta, quando virei minha cabeça. Era um vibrador, e estava na mão de Juan. É muito grande, meu Deus! Pablo mandou que ele enfiasse tudo com força em mim. Juan obedeceu. Eu gritei e, logo, ganhei mais uns tapas na cara.
— Calma, garoto. Relaxe. Relaxe — dizia Pablo, enquanto me estapeava.
Estava eu ali, deitado, com o vibrador em mim e uma cueca suja dentro da boca, quando os irmãos mexicanos se masturbaram e esporraram em minha cara ao mesmo tempo. Fiquei encharcado e não consegui abrir os olhos. Nesse momento, ouvi Juan dizer:
— Eu faço na cara. E você no cu.
O que eles vão fazer? Limpei meus olhos e vi Pablo se agachar entre as minhas pernas e puxar o vibrador com força. Doeu. Ele enfiou seu membro dentro de mim e ficou parado. Juan já estava em pé, segurando seu membro e apontando para meu rosto. Foi quando senti uma quentura. Oh, meu Deus! Ele está mijando dentro de mim. Não demorou muito para Juan me molhar a cara com seu líquido.
— Toma, vadia! — diziam eles, com rosto de satisfação, enquanto me molhavam de urina, dentro e fora de mim.
O som das buzinas dos carros invadiu meus ouvidos. O que é isso? Que confusão é essa? Estava zonzo, e levei minhas mãos ao cabelo, enquanto abria os olhos. Senti um cheiro forte. Era mofo. Onde estou? Vi as costas do sofá e a janela aberta. Corri meus olhos pelas paredes e não vi ninguém. Foi então que percebi que estava sem roupa e que tinha dormido nos colchões manchados da sala do apartamento no Brooklyn. Meu Deus, eu dormi aqui? Onde está Pablo? Que cheiro horrível é esse? Parece cheiro de cão. Pensei. Levantei-me e fui ao banheiro. Ao ver as paredes manchadas de sujeira e sentir o cheiro de fezes de gato, tive ânsia de vômito. Não deu tempo de levantar a tampa do vaso. Vomitei, segundos depois. Preciso tomar banho. Pensei. Alguns passos até o chuveiro foram o suficiente para um pequeno espelho refletir meu rosto. Tinha as bochechas rosadas, meu cabelo estava grudado, e da minha narina escorria uma gota de sangue. Estou sangrando. Abri o chuveiro e me joguei debaixo d’água. Lavei o cabelo, ensaboei o corpo, enxaguei-me e retornei à sala atrás das minhas roupas. Nisso, o asco me possuiu. O gato lambia o sêmen derramado no chão do apartamento. Lambia e miava. Oh, meu Deus! O que eu fiz? Preciso sair daqui! Vesti a calça e a camiseta, e tomei os sapatos na mão rapidamente, enquanto me dirigia à porta. Fechei-a com força e saí do prédio. No silêncio do táxi, uma lágrima fina escorreu em meu rosto e me fez pensar: por que deixei que eles fizessem aquilo comigo? A dor visitou minha alma, e com ela a sensação de humilhação. O que você fez, Gaius? Pensei.
Os dias que se seguiram àquele foram de reflexão. As sensações dentro de mim eram uma mescla de prazer e angústia, o que as tornavam mais intensas e vívidas. Desejava Pablo, mas o que aconteceu naquele apartamento era forte demais para mim. Nunca tinha vivenciado situação semelhante. E o que era mais esquisito é que, mesmo Pablo tendo me levado brutalmente ao seu universo sexual, eu tinha gostado. O que não sabia é se gostei de ter sido levado com ele ou somente do que encontrei lá. Estava confuso. Precisava conversar com alguém, então liguei para Richard.
Na véspera do meu aniversário, ele foi ao apartamento do meu irmão. Já passava das 17h, quando chegou e me trouxe uma caixa de bombons Black Pearl, da Voges Hount Chocolat.
— Amigo, não poderei vê-lo amanhã. Preciso fazer uma viagem. Parabéns! — disse-me ele, abraçando-me.
— Acho que vamos jantar em algum lugar. Só nós mesmos. Não quero vexame dessa vez — respondi, em tom de brincadeira.
Levei Richard ao meu quarto, dizendo que precisava conversar a sós com ele.
— Então, tem visto Pablo? — perguntei.
— Nunca mais o vi. Ele enviou-me mensagem esses dias, convidando-me para sair, mas não aceitei — respondeu ele, jogando-se na minha cama.
— Por quê?
— Acho-o tão esquisito. Gaius, você acredita que ele me contou uma vez que fez sexo com um casal heterossexual?
— Mesmo? Ele é muito bonito. Você não tem ciúmes dele?
— Nós não namoramos, amigo. Só ficamos duas vezes. Ele é muito gostoso, mas acho que não vai rolar nada mais que isso. O que gosto dele é que está sempre disponível quando chamo, e é muito bom de cama. Acho que Deus estava inspirado quando o fez. Mas tem algumas coisas que não tolero. É pobre e tem um aspecto sujo. Você não observou? Um dia, ele me convidou para ir ao apartamento dele. Quando disse que era no Brooklyn, dei uma desculpa e não fui.
Nossas risadas me fizeram relaxar.
— Richard, pensei que vocês estivessem namorando — comentei.
— Não! Desde o ano passado, quando o trouxe à sua festa surpresa, ele sempre pergunta por você. Acho que tem interesse — revelou, olhando-me para ver qual seria minha reação.
Graças a Deus que ele não está namorando Pablo. Aliviei-me. Sentei na cama, de frente para Richard, segurei suas mãos e disse:
— Amigo, preciso contar uma coisa. Na noite em que fomos ao Chinatown, depois que nos despedimos, ele mandou mensagem, e fui ao apartamento dele...
Depois que contei a Richard tudo que tinha acontecido, ele limpou minhas lágrimas, suavemente, e me abraçou.
— Sinto muito que tenha passado por isso — disse, balançando a cabeça em desaprovação.
— Não sabia que ia ser assim. Achei que iríamos ficar só nós dois. Mas tudo foi tão rápido, intenso e brutal... Quando percebi, já tinha acontecido. Estou confuso porque gostei do que aconteceu, mas me sinto angustiado. Não sei se você consegue entender o que digo.
— Olhe, amigo. Pablo é um homem envolvente. É difícil não se encantar com ele. Toda aquela beleza rústica... Isso chama a atenção de qualquer pessoa. Acho que o que está acontecendo é que você foi levado ao mundo dele muito rapidamente. Tudo aconteceu de uma forma muito sexual. Você se impressionou. E tem motivos para ficar impressionado. Realmente, tudo que eles fizeram com você foi muito forte. Não sei como me sentiria se tivesse acontecido comigo.
Richard contou-me que das duas vezes em que saiu com Pablo, não percebeu aqueles gostos exóticos no sexo, e que gostou de ter ido para a cama com ele. Disse, ainda, que o lance deles era mais amizade, pois tinha percebido que Pablo não estava à sua altura. Completou, dizendo que não iria se casar com um fisioterapeuta e morar no Brooklyn. Almejava bem mais para si. Ao final da nossa conversa, tive vontade de revelar a ele o que aconteceu com papai em Monte Carlo, mas o barulho da porta batendo me fez parar. Era Marcus que chegava.
— Vem! Vamos falar com meu irmão — agarrando-o pelo braço e caminhando à sala.
— Oi, Richard! — disse meu irmão.
— Oi, Marcus! Chegando do trabalho?
— Sim. Por esta semana, chega. Vou aproveitar para passar o fim de semana com o aniversariante — e apontou o rosto para mim, sorrindo.
Adoro meu irmão!
— Vim dar um abraço nele hoje, pois amanhã terei de fazer uma viagem e não estarei aqui.
— Que pena, Richard! Estamos pensando em ir ao Barbetta para jantar. Seria bom se estivesse conosco. Se mudar de ideia, apareça — disse Marcus, beijando-me o rosto e caminhando para seu quarto.
Despedi-me do meu amigo e voltei ao quarto mais aliviado por ter conversado com alguém sobre o que aconteceu com Pablo. Depois, fui ver meu irmão para saber a que horas iríamos jantar.
— Marcus? Marcus? — chamei, batendo na porta e entrando em seu quarto.
— Oi, maninho! Estou no banho — respondeu ele.
Alguns passos foram o suficiente para que conseguisse empurrar a porta entreaberta do banheiro. Um cheiro de jasmim me recepcionou. Ele estava dentro do box, com o chuveiro ligado, ensaboando o peito e cantarolando. Escorei-me à cômoda do espelho e cruzei os braços.
— A que horas vamos jantar? — perguntei.
— Fiz reservas para as 21h. Tudo bem para você?
— Tudo bem. E seremos só nós? — perguntei novamente.
— Não! Aidan não vai, se é o que quer saber. Não o convidei, mas ele sabe que seu aniversário é amanhã. Então, pode ser que ele o procure. Vocês não se viram mais?
— Disse a ele que precisava de um tempo. Desde a véspera de ano novo que não o vejo. Já faz alguns meses. Sempre recebo mensagens dele no celular, mas não me sinto preparado para encontrá-lo.
— Sabe que torço por vocês, não é, maninho?
— Sei, sim — respondi, desconcentrando-me da conversa.
Marcus tinha um sabonete verde claro nas mãos e, depois de ensaboar o abdome, enquanto conversava comigo, lavava o pênis e as virilhas. Dobrava os joelhos, o que permitia às mãos alcançar o interior das coxas. Ele olhava para baixo e ensaboava a glande do pênis, puxando o prepúcio para trás. Era um movimento sexy. E eu não conseguia parar de olhar. Estava ficando excitado. Nisso, uma voz feminina me fez piscar os olhos. Era Núbia.
— Então vocês estão aí! — exclamou ela, sorridente, entrando no banheiro, beijando-me o rosto.
— Amor, o aniversário de Gaius é amanhã. Acho que vamos jantar no Barbetta. Às 21h está bom para você? — perguntou meu irmão, desligando o chuveiro e tomando a toalha nas mãos.
— Tudo bem. Quer dizer que amanhã você faz dezoito, é? Que bom! Aidan vai conosco? — indagou Núbia, olhando-me, curiosa pela resposta.
— Acho que seremos apenas nós — respondi, saindo do banheiro.
— Nós amamos muito você. Não esqueça! — afirmou Marcus, com a toalha na cintura e me mandando um beijinho com os lábios, enquanto eu saía do banheiro.
Retribuí o beijinho de longe e saía do quarto deles, quando ouvi Núbia dizer que precisava chamar a babá para ficar com Arthur no dia seguinte.
Era uma voz doce, angelical, repetitiva e manhosa. Então, percebi que alguém estava empurrando meus ombros.
— Acorde, tio! Acorde!
Abri meus olhos. Era Arthur, ainda de pijama. Meu Deus, que horas são? Abracei-o junto ao meu corpo e envolvi a nós dois com as cobertas.
— Fique aqui quietinho com o tio. Vamos dormir mais um pouco.
Foi quando o susto invadiu meus ouvidos.
— Tio, papai me mandou acordá-lo. Vovô chegou de viagem e quer falar com você.
Arregalei os olhos e sentei na cama ao mesmo tempo, repentinamente.
— Quem está aqui, Arthur? — perguntei.
— Vovô Lucas está na sala. Ele veio falar com você — respondeu.
O pavor me possuiu. Levantava-me, apressadamente, quando a porta do meu quarto se abriu. Era Marcus. Ele me olhava sério.
— Oi, maninho. Parabéns! Papai está na sala. Ele quer falar com você a sós. Posso trazê-lo aqui? — perguntou, beijando-me o rosto, enquanto me parabenizava.
— Não! De jeito nenhum! O que ele quer comigo? Não vou ficar sozinho com ele, Marcus! — respondi, agitado.
— Calma. Calma. Vou dizer a ele que você vai até a sala e que conversam lá. Certo? — perguntou, tentando me tranquilizar.
— Você e Núbia podem ficar comigo? — perguntei, pedindo.
— Claro, maninho. Não se preocupe. Não vai acontecer nada. Vá se vestir. Nós o esperamos lá. Vamos, Arthur?
— Não! Arthur vai comigo! — disse eu.
Depois de vestir minhas sandálias de dedo e meu roupão, segurei na mão de Arthur e me dirigi à sala. A cada passo que dava, apertava a mão do meu sobrinho com mais força. Estava nervoso, e curioso, também. Meu coração estava acelerado e eu podia ouvir seus batimentos descompassados. Já na sala, vi Marcus e Núbia sentados no sofá, diante de um homem maduro, vestido elegantemente. O homem usava terno e gravata azul marinho. Seus sapatos eram brilhosos. E seu cabelo estava penteado classicamente. Ao fundo da sala, vi um homem de branco, que estava em pé, de costas para mim, olhando a rua através da vidraça da janela. Era papai. O silêncio só foi rompido, quando o homem de terno azul levantou-se e disse:
— Senhor Barrys, bom dia! Feliz aniversário! Chamo-me Alexander Walker. Sou advogado da House’s Barrys. Seu pai e eu queremos falar com o Senhor — disse educadamente, estendendo e apertando minha mão.
— Obrigado, Senhor Walker. Mas, por favor, chame-me de Gaius — e soltei a mão dele, tornando a segurar a de Arthur.
Nesse momento, papai se virou para mim. Meus olhos ainda contemplavam as feições sérias da sua face, quando o movimento da mão dele me desconcentrou. Ele apoiava o corpo com as duas mãos na bengala de carvalho, e mexia, vagarosamente, os dedos de uma mão sobre a outra. Seu olhar era ríspido, e não estava diferente da última vez que nos vimos. Meu Deus, ele está com aquela bengala! Pensei. Quando vi aquele objeto na mão de papai, minha mão suada esmigalhou a mão de Arthur. Minha pupila dilatou. Estava com muito medo.
— Sente-se, Gaius. Alexander quer falar com você — disse papai, rispidamente.
— Estou bem assim, Senhor Walker. Pode falar — respondi, com a voz trêmula, tentando mantê-la firme.
O advogado caminhou até o sofá e apanhou nas mãos uma pasta de documentos e, em pé, disse:
— Gaius, hoje você completa dezoito anos e, como deve saber, todo cidadão norte-americano, a partir desta idade, é considerado responsável por todos os seus atos diante da nossa legislação, como também pode assumir qualquer benefício ou herança que seja devida a ele sem a necessidade de um tutor financeiro. Estou aqui, hoje, porque é desejo de seu pai entregar a você a sua parte da herança, mais uma porcentagem mensal nos lucros da House’s Barrys. Antes de falarmos da herança, preciso explicar que a House’s Barrys é um conglomerado de empresas imobiliárias de capital societário familiar, de nível internacional, ou seja, ela foi construída unicamente com o dinheiro da sua família e, hoje, está presente em todos os continentes. E os únicos acionistas dela são o seu pai, seu irmão e você. Com o falecimento da sua mãe, a parte financeira que cabia a ela, ou seja, cinquenta por cento da empresa, mais todos os bens que foram adquiridos durante o casamento, foram divididos em duas partes, metade para você, e metade para seu irmão. O Senhor Marcus Barrys já recebeu a parte da herança da sua mãe. Como você era menor de idade à época do falecimento dela, seu pai tornou-se seu tutor financeiro, ou seja, ele administrava seu dinheiro até que atingisse a maioridade. Como hoje você está completando dezoito anos, estou aqui para entregar a você a metade da herança da sua mãe, e para explicar os lucros mensais que você tem direito da House’s Barrys. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou ele.
— Não. Pode continuar — respondi, sem entender direito o que estava acontecendo.
— Sua mãe faleceu em junho do ano passado. Desde que o trâmite para distribuição da herança dela ficou pronto, os lucros da House’s Barrys, que eram devidos a você, estavam sendo enviados a uma conta bancária. O titular dessa conta era seu pai, mas o nosso escritório já fez a mudança de titularidade e, agora, a conta está em seu nome. Todos os valores foram transferidos e já estão disponíveis para você. Todos os meses, até o décimo quinto dia útil do mês, após o fechamento do balanço financeiro do mês anterior, as quantias devidas a você, ao Senhor Marcus Barrys e ao Senhor Barrys são automaticamente enviadas às respectivas contas. Do mês de junho do ano passado até este mês, foram enviados pouco mais de trezentos milhões de dólares para sua conta, o que nos faz constatar que a média de lucro mensal da House’s Barrys por acionista é de pouco mais de três milhões de dólares, visto que foram contabilizados para você um total de dez meses de lucros acumulados. Esse valor está sujeito ao rendimento mensal da empresa, e é dividido igualitariamente entre o seu irmão, seu pai e você. Estamos falando de valores líquidos, e não brutos. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou novamente.
— Não. Pode prosseguir.
— A House’s Barrys, à época do falecimento da sua mãe, estava avaliada em dezenas de bilhões de dólares. Com a distribuição que precisou ser feita, alguns bilhões foram divididos entre você e seu irmão. E o restante é direito do seu pai. No caso de falecimento dele, toda a herança do seu pai, segundo a vontade dele, será destinada exclusivamente ao Senhor Marcus Barrys. Com o falecimento do seu pai, você não herdará nenhuma quantia da House’s Barrys, mas continuará como acionista e receberá os lucros mensais que são a herança da parte da sua mãe. Você está compreendendo o que digo? — perguntou mais uma vez, franzindo a testa, esperando minha resposta.
— E por que não herdarei nada quando papai falecer?
— Esse é um desejo do seu pai, e a lei norte-americana assegura o que ele quer fazer com a herança dele.
Senti uma pontada no coração.
— Pode continuar — disse, tentando parecer indiferente.
— Muito bem. Concluindo, estou dizendo a você que na sua conta dos lucros, somados os meses de junho do ano passado até este mês, estão disponíveis pouco mais de trezentos milhões de dólares. A parte da sua herança também já está disponível, ou seja, os bilhões que foram divididos entres vocês três com a morte da sua mãe. Caso tenha alguma dúvida sobre a divisão, o Senhor Marcus Barrys poderá explicar melhor, pois isso envolve assuntos de natureza particular da sua mãe e do seu pai. Somando tudo, hoje está disponível na sua conta algumas dezenas de bilhões de dólares para você, que é o resultado dos lucros acumulados de dez meses mais a sua parte na herança deixada por sua mãe. E lembro que os seus rendimentos mensais continuarão sendo enviados a você, mesmo com o falecimento do seu pai e seu irmão. Você detém vinte e cinco por cento das ações da House’s Barrys. E isso continuará até quando você falecer ou decidir vender suas ações. Você tem alguma dúvida? — perguntou.
Eu não sabia para onde olhar. Papai me encarava e o advogado esperava uma palavra minha. O que digo?
— Marcus, posso falar com você um instante? — e soltei a mão de Arthur, dirigindo-me ao meu quarto.
Lá, perguntei ao meu irmão se ele sabia o porquê de tudo aquilo. Disse-me que papai tinha feito a mesma coisa com ele. Eu perguntei se podia confiar no que o advogado estava dizendo, se não corria o risco de estar sendo enganado. Meu irmão me explicou resumidamente:
— Maninho, escute o que vou dizer. A empresa valia bilhões. Papai conseguiu o valor que a empresa valia com os bancos. Esse valor ele dividiu em três, a parte dele, a minha e a sua. A parte dele, ele devolveu ao banco e até hoje paga mensalmente o saldo até liquidar a dívida. A minha parte, ele já me deu. E, agora, ele está dando a sua parte...
— Mas a parte da herança da mamãe, depois que ela morreu, não deveria ficar com papai? — perguntei, interrompendo-o.
— Deveria, sim. Mas mamãe fez com que papai assinasse um documento que garantisse que depois da morte dela, a empresa deveria ser avaliada, vendida e os valores fossem divididos entre nós três imediatamente. Para não se desfazer da empresa, correndo o risco de perder um negócio familiar sólido, papai optou por recorrer aos bancos e conseguir o valor que a empresa valia à época, e entregou esses valores a nós dois. Como nós somos sócios, temos direitos a valores de lucros mensais. Papai fez tudo que prometeu à mamãe e tudo que está no documento assinado por ele mesmo. Como você era menor de idade à época, papai administrou seu dinheiro. Agora que atingiu a maioridade, ele está entregando tudo que é seu por direito. Eu também recebi a minha parte da herança e recebo, todos os meses, os lucros. A única diferença entre mim e você é que eu recebo também salário por ser o diretor da empresa. Entende?
— E por que com a morte de papai a herança dele ficará só para você? — inqueri.
— Maninho, esse é o desejo dele. Acho que nós sabemos o porquê.
Senti outra pontada no coração.
— Então, estou recebendo dezenas de bilhões de dólares? É isso? E está tudo certo?
— Está sim. Conferi tudo antes de eles virem aqui falar com você. Eu só não sabia que papai iria aparecer de surpresa aqui no domingo para tratar disso. Pode voltar para a sala e assinar a papelada. Depois, com calma, você e eu podemos ver como aplicar seu dinheiro, certo? — e me deu um beijo no rosto, encorajando-me.
— Tudo bem. Vamos lá — respondi.
Quando retornei, o advogado e papai estavam sentados à mesa de jantar.
— Alguma dúvida, Gaius?
— Não, Senhor Walker. Onde assino?
— Aqui, por favor — respondeu ele, apontando o dedo para quais folhas deveria assinar.
Quando terminei de assinar as várias folhas de vários documentos, levantei meus olhos e encontrei os de papai. Estávamos próximos, separados apenas pela mesa de mármore envelhecido do apartamento de Marcus. Ele tinha o olhar duro, e encarou-me grosseiramente até encostar a bengala na cadeira e começar a assinar as mesmas folhas que assinei. Levantou-se e foi onde Marcus e Núbia estavam, beijou-os, fez um afago na cabeça de Arthur, e caminhou à porta sem dizer nenhuma palavra. O advogado apertou minha mão e me entregou seu cartão, para o caso de eu ter alguma dúvida. Quando vi papai saindo, levantei-me, fui para perto do meu irmão e disse:
— Papai. Hoje é meu aniversário. O Senhor não vai me dar um beijo? — perguntei, tremendo a voz.
— Tudo que está na minha casa que for seu, chegará em breve aqui. Mande buscar seu carro também. Vamos, Alexander — respondeu ele, de costas, sem me olhar.
E saíram, batendo a porta. Não aguentei e solucei. Corri ao meu quarto e me joguei na cama, chorando.
Meus olhos sonolentos perceberam que o crepúsculo anunciava que a noite chegava. Daqui a pouco tenho que levantar para me arrumar, mas agora não. Pensei, e voltei a dormir. Um agradável odor amadeirado chegou às minhas narinas e, logo, senti uma mão suave tentando retirar os cabelos que cobriam minha testa. Virei-me e abri os olhos. Era Aidan. Estava agachado ao lado da minha cama. Meus olhos abertos encontraram seu sorriso. Ele acarinhava meu rosto, quando eu disse:
— Oi!
— Oi, menino! Desculpe se o acordei. Só queria beijar você antes de ir embora.
— Você estava aqui? — perguntei, segurando sua mão e pressionando-a contra meu peito.
— Estava. Vim conversar com Marcus e Núbia, e entregar seu presente. Eles disseram que você dormiu a tarde inteira. Não quis acordá-lo. Só vim deixar isso, mas não aguentei e fiquei aqui observando você dormir.
Ele me entregou um embrulho coberto por um saco grosso marfim, enlaçado por um cetim verde esmeralda.
— Espero que goste — disse, timidamente.
Era um livro: Helena de Tróia.
E continuou:
— Este livro conta a história de uma mulher que causou uma guerra entre dois povos por causa de sua beleza e do seu amor.
— E por que acha que vou gostar de lê-lo? — perguntei, curioso.
— Porque essa história é parecida com a sua. Talvez, ainda não tenha percebido, mas sua beleza e tudo que você é está causando uma guerra dentro de mim há muito tempo. Um dia vou explicar melhor. Feliz aniversário, menino! — e me beijou os cabelos.
Ele ainda me olhava, quando se levantou, e depois deu as costas para mim.
— Aidan! — chamei-o, com a voz baixa.
Ele virou-se, e eu continuei:
— Nós vamos ao Barbetta daqui a pouco. Deveria ir conosco.
Os olhos dele se apertaram e um sorriso largo mostrava os dentes, quando me disse que iria tomar um drink com Marcus e me esperaria na sala. Seu rosto estava resplandecente, quando saiu e fechou a porta do meu quarto. Animei-me. Preciso me arrumar. Pensei.
Já passava das 20h20 quando cheguei na sala. Encontrei Núbia dando recomendações à babá, que cuidaria de Arthur durante o jantar. Vi Marcus e Aidan conversando no sofá, enquanto bebiam uísque. Apareci e atraí os olhares para mim. Eu vestia uma calça Louis Vuitton preta, aveludada, e uma camisa Gucci manga longa branca. Tinha nos pés um exclusivo Aubercy com diamantes na parte frontal, e um terno Versace 100% lã tailor, amarelo brilhante, com apenas um botão que cobria meus ombros e tórax. No rosto, apenas um pouco de pó e uma pincelada de um delineador preto nos olhos. O perfume deixei por conta da Chanel. Adoro jasmim, meu Deus! Fui vestido para matar mesmo, afinal, além de eu estar fazendo aniversário, era o novo bilionário dos Estados Unidos. E precisava comemorar isso.
— Boa noite! — exclamei, pondo as duas mãos na cintura e abrindo um sorriso, esperando que eles admirassem minha beleza.
Marcus e Aidan levantaram-se e foram ao meu encontro.
— Está lindo, maninho — disse meu irmão, beijando meu rosto.
— Não tenho nem o que dizer diante de tanta beleza — comentou Aidan, beijando-me o outro lado do rosto, com os olhos faiscando de felicidade.
— Gaius, você está lindo! Vestiu-se para matar! — comentou Núbia, empolgadamente.
Chegando ao Barbetta, o maître recepcionou-nos e nos encaminhou à mesa. Era um domingo à noite, e o restaurante italiano estava abarrotado de pessoas. Estávamos nós, Marcus e Núbia de um lado da mesa, Aidan e eu do outro, quando o garçom anotou as bebidas.
— Aidan, acompanha-me no uísque? — perguntou meu irmão.
— Claro — respondeu ele.
— Então, vamos querer uma garrafa de Dalmore 50 anos — falou ao garçom.
E continuou, dirigindo-se à Núbia:
— Meu amor, você está dirigindo, mas quer beber alguma coisa?
— Quero um refrigerante Chinotto.
— E você, maninho? — perguntou a mim.
— Um Cosmopolitan, por favor — respondi, olhando para o garçom.
Instantes depois, estávamos conversando amenidades, enquanto decidíamos o que pediríamos para jantar. Era visível a felicidade de Aidan em estar conosco. Ele bebia o uísque empolgadamente, enquanto falava de viagens com Marcus. Aproveitei para ter uma conversa menos formal com Núbia. Dizia-me ela que achava que Aidan e eu formávamos um lindo casal e, também, que o via como um homem muito bonito e atraente, principalmente por ele ser muito alto. E é! Pensei. Ela me dava conselhos para eu aproveitar que ele era apaixonado por mim e casar logo. Eu a escutava, animadamente, quando a interrompi falando que algumas coisas ainda estavam confusas dentro de mim, e que precisava de tempo para discernir bem. Aproximei-me mais dela e comentei baixinho que tinha ficado com um homem e que havia gostado bastante. E, ainda, que achava estar sentindo algo, pois me percebia lembrando dele às vezes. Ela piscou os olhos de curiosidade e quis saber quem era. Quando contei que era Pablo, ela arfou.
— Gaius, vem mais para cá para eles não escutarem nada — sugeriu baixinho.
Depois, continuou:
— É aquele cara que estava na noite de Natal conosco em Monte Carlo?
— Ele mesmo — respondi.
— Meu Deus, Gaius! Você tem uma sorte para homens bonitos. Quem me dera essas coisas acontecessem comigo!
Como assim? E meu irmão? Pensei.
E rimos. Nossas risadas chamaram a atenção de Marcus e Aidan, que nos olhavam curiosos. Olhei-os e dei uma piscadinha de olho para Aidan, que retribuiu sorrindo com a boca fechada. Voltei a conversar com Núbia, quando o garçom deixou na mesa um champanhe Dom Pérignon dentro de um balde de gelo e duas taças emborcadas.
— Desculpe, Senhor. Nós não pedimos champanhe — disse Marcus ao garçom.
— É uma cortesia do Senhor Marvel para o Senhor — e estendeu, diante de mim, um cartão dentro de um envelope em tom pastel.
— Para mim? Obrigado — agradeci a ele.
Olhei para Marcus e Aidan, que me encaravam curiosos, e abri o cartão.
“Há tempos não via tanta beleza em um único homem. Espero que goste. Maison”.
Minha alma deu três pulinhos de tanta alegria. Oh, meu Deus! Um homem está me cortejando. Adoro isso! Pensei. Fechei o cartão e o guardei no terno, sentindo-me poderoso. Todos estavam me olhando curiosos e esperavam que eu dissesse algo.
— Então, vamos fazer um brinde? — perguntei, tentando disfarçar o sorriso.
— Não, não! Primeiro diga quem mandou o champanhe — solicitou Núbia, sorrindo, curiosa.
— Não sei. Foi um homem chamado Maison. Não o conheço.
— Aidan franziu a testa. Marcus abriu um sorriso. E Núbia fazia cara de inveja branca ao me olhar.
— Ele foi muito gentil, maninho. E ainda tem muito bom gosto para champanhe. Quando o garçom vier, pergunte quem é e o convide para brindar conosco. É o mínimo que pode fazer — instruiu-me meu irmão.
Fiz sinal ao garçom pedindo mais três taças e desemborcava as que estavam no balde de gelo, quando Aidan se aproximou e perguntou:
— Essas abotoaduras são as que dei de presente no ano passado?
— Sim — respondi, olhando aqueles olhos cor de âmbar que me causavam quentura.
Ele abriu um sorriso. Adoro quando ele sorri, mostrando-me aquela cara de homem apaixonado. Adoro quando ele se derrete para mim.
— Estou feliz que esteja usando hoje. E, só mais uma vez, você está lindo! — sussurrou ao meu ouvido, aproximando seu rosto do meu para me beijar a bochecha.
Adoro quando ele se declara para mim! Pensei e pisquei os olhos três vezes. Enquanto ele falava, senti hálito de álcool em sua boca. Gostei daquele cheiro. Ele tomou o champanhe nas mãos e a abriu. Servia a nós quatro, quando pedi ao garçom que fosse até o Senhor Marvel e perguntasse se ele não gostaria de brindar conosco. O garçom não demorou e caminhava em nossa direção, apontou discretamente para nossa mesa e deixou o caminho livre para Maison chegar. E lá vinha ele. Era um homem maduro, parecia ter pouco mais de cinquenta anos, era gordo e usava cavanhaque. Os poucos cabelos que tinha na cabeça estavam ordenados da esquerda para a direita. Usava um clássico terno cinza com gravata azul. Caminhava devagar em nossa direção, olhando em meus olhos até nos saudar.
— Boa noite a todos! Peço desculpas se estou interrompendo alguma coisa.
— Não está interrompendo, Senhor Marvel. Quer brindar o aniversário do meu irmão conosco? — perguntou Marcus.
— Sinto-me lisonjeado pelo convite.
— Mas, antes, deixe-me apresentar minha esposa Núbia, e o nosso amigo Aidan. Chamo-me Marcus, e este é o aniversariante da noite, Gaius.
Ele me olhou e seus olhos verdes brilharam.
— Muito prazer, Gaius! — e estendeu a mão para me cumprimentar.
E, depois, comentou:
— O seu nome é grego, não é?
— Sim. Foi mamãe quem escolheu. Ela era grega e disse que meu nome é uma versão masculina do nome da deusa Gaia. Nunca estudei muito sobre isso, mas ela sempre disse que eu me parecia com o que essa deusa representa, por isso o escolheu para mim.
— Talvez, sua mãe estivesse certa — e apertou os olhos com um sorriso leve de boca fechada.
— Senhor Marvel, por favor, sente-se conosco para brindar — sugeriu meu irmão.
— Obrigado, Marcus! Mas, por favor, chamem-me de Maison — pediu, sentando-se na cadeira que o garçom tinha trazido.
Estávamos nós, Marcus e Aidan de um lado da mesa, Maison e eu do outro lado, e Núbia entre nós quatro. Aidan encheu a taça de Maison de champanhe e ergueu a sua, dizendo:
— Parabéns, Gaius! Hoje, você atinge a maturidade. Queremos desejar a você felicidades, mas não se esqueça de não aprontar muito. Ah, os meus dezoito! Saúde a todos!
Graças a Deus que ele não me fez nenhum vexame dessa vez!
Rimos, brindamos e bebemos. Maison dizia que morava em Madri, e que estava em Nova Iorque apenas para um congresso de banqueiros. E, ainda, que ficaria apenas mais uma semana na cidade, e logo voltaria à Espanha. Núbia perguntou em qual banco ele trabalhava, e meus ouvidos foram agraciados com a resposta.
— Sou vice-presidente do Banco de Madri.
Uau! O cara é dono de um banco privado, e ainda está me cortejando. Estou gostando disso, meu Deus!
Olhei para ele e sorri. Ele retribuiu. Nisso, meus olhos viram a testa franzida de Aidan mais uma vez. O que será que ele está pensando? Maison aproveitou que Núbia, Aidan e Marcus conversavam para se dirigir somente a mim.
— Espero que não tenha sido grosseiro em enviar o champanhe. Vi que você bebia um drink, mas não sabia o que enviar a um homem tão belo.
Arfei com o galanteio. Meu “eu” interior estava saltitando nesse momento.
— Não, não foi. Na verdade, quase não bebo. Tomei um drink e essa taça de champanhe, e por hoje é só. Obrigado pelo que escreveu no cartão — respondi, com a voz suave, incentivando-o a continuar flertando comigo.
— Fiquei receoso de Aidan ou Marcus ser seu namorado. Não sabia que um era seu irmão, e outro era amigo da família.
— Não. Ele não é meu namorado — comentei, timidamente, volvendo os olhos para Aidan.
— Gostou do que escrevi para você?
— Gostei.
— E tudo é verdade. Há muito tempo não via um homem tão belo quanto você.
— Obrigado, Maison. Mas vou ficar envergonhado se ficar me dizendo essas coisas — e sorri mais uma vez para ele, jogando charme.
— Tudo bem. Não é minha intenção constranger você. Mas posso fazer apenas uma pergunta?
— Pode.
— Você é solteiro?
— Sou. E você?
— Sou divorciado, e tenho três filhas.
Maison e eu falávamos baixinho, quando meus olhos perceberam Aidan nos fitando de soslaio. Decidi que deveríamos pedir as entradas, e chamei o garçom.
— Alguma preferência? — perguntei a todos.
Pedi a ele que trouxesse alcachofras à romana e carpaccio. Não demorou e o cheiro de carne crua chegou à nossa mesa. Todos se serviam, enquanto Maison preparava delicadamente duas torradas com carpaccio, temperando-as com orégano e azeite. Tomou meu prato e trocou pelo que tinha preparado, enquanto conversávamos.
— Obrigado — disse a ele.
Que gentileza da parte dele, não? Ele é muito educado. Gosto disso! Pensei. Falávamos da filha mais nova dele, Luna, quando o garçom nos interrompeu e disse:
— Peço licença. Senhor Gaius Barrys, há um rapaz que deseja falar com o Senhor. Ele está na entrada do restaurante. Pediu para que fosse até onde ele está. O nome dele é Pablo.
Meu coração disparou. Como ele me achou aqui, meu Deus? Pedi licença a todos, levantei-me e fui até a entrada do restaurante. Meu coração estava acelerado e, sinceramente, não sabia o que dizer a ele, quando o visse. Enquanto caminhava, em um lapso de segundo, tudo que ocorreu no apartamento dele passou diante de mim. Pisquei os olhos, balancei a cabeça, desabotoei o Versace e desci os primeiros degraus do Barbetta. Ele estava encostado em um poste e, logo, viu-me.
— Quer falar comigo? — perguntei, seriamente.
— Oi! Falei com Richard pelo celular, e ele disse que hoje é seu aniversário. Então, fui ao seu prédio, e a babá me avisou que vocês tinham saído para este restaurante. Vim desejar felicidades. Não vai me dar um beijo? — perguntou, levantando as sobrancelhas e fazendo cara de carente.
Enquanto Pablo falava, um sentimento de superioridade surgiu em mim. Ou apenas ressuscitou? Sinceramente, não sei ao certo. Hoje, depois de anos, nunca entendi porque o tratei daquela forma.
— Por que beijaria você? Acho que você e eu somos muito diferentes, Pablo. O que aconteceu no seu apartamento naquela noite...
— Pare com isso, garoto! Sei que você gostou, e quer fazer de novo — interrompeu-me ele, falando pretensiosamente.
— Não me interrompa, quando eu estiver falando! Você já fez isso várias vezes, e não gostei! Como dizia, acho que somos diferentes. Aquela noite foi o suficiente para eu saber que estamos em caminhos distintos! — e concluí com a cara fechada.
— Pare com isso, Gaius! Venha aqui e me dê um beijo — pediu ele, aproximando-se de mim, tentando me agarrar pela cintura.
— Não! Não vou beijar você! Será que não percebe o que fez comigo? Pablo, você me dopou com cocaína, fez-me transar com seu irmão, gozou na minha cara e ainda mijou dentro de mim. Não acha que eu gostaria de ter sido perguntado se iria querer tudo isso? — questionei, enquanto o empurrava para longe de mim.
— Vai dizer que não gostou? — respondeu ele, ironicamente rindo.
O pior é que eu gostei.
— Não! Não gostei!
— Duvido que não tenha gostado — e mais uma vez se aproximou de mim, tentando me beijar.
— Se você tocar em mim, denuncio você! — ameacei, grosseiramente.
Ele recuou e entendeu que não estava brincando.
— Mas o que está acontecendo com você? Nós tivemos um lance bem gostoso, e agora vem com esse papinho chato. Qual é, garoto?
— Não tive lance nenhum com você! Você não é homem para ter lance comigo! Olha para mim, Pablo. Olha para você. O que tem para me oferecer? O que acha? Que vou passar os meus fins de semana em um apartamento mofado no Brooklyn cheirando cocaína e sendo fodido por você e seu irmão, enquanto seu gato lambe a porra que vocês jorram no chão? — questionei, ironicamente exaltado.
— Então, a questão é dinheiro, não é? — respondeu com cara de ódio.
— A questão também é dinheiro, mas não é só isso. Você não tem modos nem educação, não respeita minha vontade. Penso que é só um cara presunçoso que acha que transa bem! E, na verdade, nem é tudo isso. Já saí com homens bem melhores que você!
Que mentira acabei de dizer.
— Como Aidan, por exemplo?
— Sim, como o Aidan, por exemplo! Não é por acaso que ele está jantando comigo agora em um restaurante sofisticado, e você, não.
— Duvido que ele seja melhor que eu — retrucou, andando de um lado para o outro, nervoso, tentando rir para disfarçar.
E, naquele momento, deixei que a crueldade falasse por mim. E não me orgulho do que disse.
— Pois saiba que ele é melhor que você!
E me aproximei dele, olhando em seus olhos pretos cheios de raiva, e completei:
— Além de ele ter mais dinheiro, ser mais educado e bonito que você, ele não fede igual a você, e, ainda, tem um pau bem maior que o seu! — e abri um sorriso de satisfação para ele.
Pablo não disse nada. Touché! Agora eu o peguei! Pensei. Ele me olhou demoradamente com olhar de fúria, balançou a cabeça verticalmente com a mandíbula cerrada, e tirou do bolso da bermuda que usava uma caixinha transparente, atirando-a em meus pés. Deu as costas e caminhou enraivecido para longe de mim. Olhei para baixo e vi dois chocolates em formato de coração jogados no chão. Ergui minha cabeça e o vi se distanciando e limpando os olhos com as costas das mãos, bruscamente. Oh, meu Deus! Ele está chorando. Foi quando o remorso me possuiu. Oh, meu Deus! O que fiz? Entrei no restaurante correndo e fui direto ao banheiro. Lá, um grande espelho refletia a minha arrogância e maldade. Encarei a mim mesmo por um instante e não me controlei, caindo no choro. Quando alguém bateu na porta, senti que não estava sozinho. Tentava me recompor, ainda de olhos fechados, quando senti uma mão sobre meu ombro. Abri os olhos. Era Aidan. Olhei-o e o abracei. Ele me envolvia em seus braços e encostou sua boca em meu ouvido.
— Ei, calma. Vi você correndo. O que foi?
Solucei.
— Não foi nada. Só fiquei com saudade da minha mãe — comentei, baixinho, mentindo para não precisar dizer a ele o real motivo do choro.
Antes que terminasse de falar, a voz desagradável de um desconhecido tomou conta do banheiro.
— Que é isso, meu irmão? Vai ficar de agarração aqui no banheiro? Vocês não têm outro lugar para fazer essa sujeira, não? Que nojo! — cuspiu em uma das pias e, depois, caminhou para a porta, balançando a cabeça em desaprovação, olhando para trás.
— É melhor nós voltarmos para a mesa — comentou Aidan, afastando seu corpo do meu.
— Encontro você lá em um segundo.
— Não. Eu vou esperar — retrucou ele.
— Preciso ficar um pouco sozinho, Aidan.
Ele segurou de leve meus ombros e disse:
— Olha! Caras como esse que estavam aqui são perigosos. Eles não nos entendem. Podem nos machucar. Você entende?
— Sim — respondi, cabisbaixo.
— Vamos — ordenou ele.
Quando voltamos à mesa, as conversas me distraíram e calavam a voz que me acusava por ter dito coisas muito duras a Pablo. Tentava relaxar, mas estava um pouco difícil. Aidan e Maison falavam de bolsas de valores, quando resolvi ficar perto do meu irmão.
— Está gostando, maninho? — perguntou ele.
— Estou. Marcus, acho que devíamos pedir o jantar — sugeri.
— Calma, maninho. Estamos nos divertindo. Há tempos não saíamos juntos para conversar um pouco. Veja! Estamos todos felizes e conversando e brincando. E hoje é seu aniversário. Então, precisamos comemorar. Você não acha? — perguntou com a voz meio alta.
Ele está bêbado? Pensei. Marcus tinha as faces rosadas e o semblante relaxado, estava visivelmente embriagado. Eu olhava para Núbia, quando ele me puxou pelo ombro e encostou minha cabeça em seu peito, beijou meus cabelos e disse que me amava. Fechei meus olhos e me entreguei aos afagos dele. Um toque de celular me desconcentrou. Núbia pediu licença e saiu da mesa para atender. Retornou nervosa, fez sinal que queria falar comigo em particular. Discretamente, saí da mesa.
— O que houve? — perguntei.
— Kathy acabou de ligar. Arthur teve uma crise de asma. Ela chamou a ambulância e eles já estão a caminho do hospital. Vou encontrá-los agora — contou, nervosa e agitada.
— Vou com você.
— Não! Não! Hoje é seu aniversário, Gaius. Fique aqui. Fique com seus amigos. Estou de carro, vou ao hospital e, depois, para casa. Quando jantarem, você leva Marcus de táxi. Ele está embriagado e não vai ajudar em nada agora indo comigo ao hospital. Não diga a ele o que houve. Não deve ser nada demais. Arthur sempre tem essas crises.
— Você está bem para dirigir? Não quer ir de táxi? — perguntei, preocupado.
— Estou bem. Não se preocupe. Só preciso que você pegue a minha bolsa na mesa. Não quero chamar a atenção.
Entreguei a bolsa a ela e a acompanhei até a entrada do Barbetta, pedindo que não se preocupasse e que me ligasse, se precisasse. E ao caminhar de volta, meus olhos se alegraram. Vi o restaurante inteiro olhando para a minha mesa e batendo palmas, animadamente. Marcus, Aidan e Maison estavam em pé, com as mãos sobre os ombros uns dos outros e cantando funiculí funiculá. Os músicos que animavam a noite acompanharam os três até a última nota aguda da canção. E, depois, uma chuva de aplausos ecoou no restaurante inteiro. Oh, meu Deus! O que faço com esses meus homens? Pensei e sorri ao mesmo tempo. Dei um beijo em cada um e disse que estava com fome. Como Maison afirmou conhecer bem a culinária italiana, deixei-o escolher nosso jantar. E ele o fez muito bem. Pediu tortellini de Bolonha e gnocchi e paleta de cordeiro. De sobremesa, tiramisù. Adoro a gastronomia italiana, mas é muito calórica. Pensei. Ainda conversávamos, quando Marcus chamou o garçom e pediu mais uma garrafa de Dalmore. Eu o interrompi no mesmo instante.
— De jeito nenhum, maninho! Já bebemos demais e está na hora de irmos para casa.
Aidan me ajudou a convencer Marcus:
— É verdade, Marcus. Amanhã, preciso acordar cedo e Maison tem um congresso para participar.
— Tudo bem. Tudo bem. Se vocês querem ir, nós vamos. Onde está Núbia — perguntou ele, com a voz embargada.
Graças a Deus que ele aceitou ir para casa. Comentei com ele que ela teve uma pequena indisposição, e que tinha ido para casa, mas que não era nada sério. Pedia ao garçom para trazer a conta e chamar um táxi para nós, quando Maison disse que nos levaria em casa, pois estava com um motorista.
Depois de deixarmos Aidan em casa, seguimos nós, Marcus, Maison, seu motorista e eu para o apartamento do meu irmão. Na porta do prédio, Maison perguntou se não precisava de ajuda com Marcus. Disse a ele que não. Segurei meu irmão pela cintura e apoiei seu braço em meu ombro, agradecendo o champanhe e a noite agradável. Dei as costas, e subia as escadas com Marcus, quando ele se aproximou e deixou no bolso do Versace o seu cartão, dizendo:
— Vou ficar em Nova Iorque até sexta-feira. Adoraria se me ligasse.
— Obrigado, Maison. Boa noite! — e sorri para ele.
No apartamento, ajudei meu irmão a sentar no sofá.
— Que coisa feia, hein, maninho? Embriagou-se no dia do meu aniversário? — perguntei, sorrindo e zombando dele.
— Não me embriaguei, não. Só fiquei um pouco alegre. E estou um pouco tonto, também. Onde está Núbia? — respondeu com a voz embargada.
— Núbia está no hospital com Arthur. Ele teve uma crise asmática, mas está tudo bem. A babá deve estar com ela.
— Ai, droga! Por que ela não me disse? — questionou ele, meio enraivecido.
— E você iria poder fazer alguma coisa nesse estado? Não se preocupe. Ela está bem. Disse que se precisasse, ligaria. Se ela não ligou é porque está tudo bem. Vou fazer um café para você, e depois vai tomar banho e dormir.
— Mas não quero café.
— Mas vai tomar, sim! Amanhã é segunda e você não pode acordar indisposto. Tem de trabalhar.
Fui até a cozinha, esquentei água e fiz uma xícara de café solúvel, e adicionei um pouco de leite, adoçando e levando para ele depois. Vi-o recostando a cabeça no sofá e esticando as pernas. Tenho de ir rápido, se não ele vai dormir. Fui até ele e me sentei sobre minhas pernas ao lado dele.
— Tome. Logo vai melhorar.
Ele levou a xícara à boca e bebeu o primeiro gole. Fez cara feia.
— Está quente. Não vou beber.
— Vai sim. Vou esfriar.
Havia silêncio entre nós, quando tomei a xícara de suas mãos e comecei a soprar levemente o café. Os olhos dele encontraram os meus. Ele tentava sorrir, mas não conseguia, apenas me observava. Vi-o molhando os lábios com a língua e meus sentidos despertaram para algo. Estava eu ali, ao lado do meu irmão, soprando seu café quente quando um desejo me invadiu. Estiquei meu braço e deixei a xícara sobre a mesa ao lado do sofá, olhei-o e aproximei meu rosto do dele, alternando meu olhar entre sua boca e olhos. Ameacei chegar mais perto, e ele nada fez. Senti sua respiração acelerada e não resisti, levemente pressionei minha boca contra a dele. Afastei-me em seguida e esperei sua reação. Seu olhar flamejante atingiu minha pupila, depois chegou até meus lábios. Foi então que ele selou sua boca na minha. Ele me beijava timidamente, e eu saboreava o gosto de seus lábios. Sua língua encontrou a minha e, no mesmo instante, eu molhei a cueca. Estava com tesão, mas só entendi o que iria acontecer, quando a mão dele deslizou em minhas costas e entrou em minha calça. Arfei. E uma certeza se apossou de mim. Oh, meu Deus! Ele está apertando minha bunda. É hoje que ele vai me comer! Pensei e me animei com a ideia.
***