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CAPÍTULO UM

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O dragão

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O poeta, pintor e visionário William Blake é, sem sobra de dúvidas, um dos autores mais estranhos da literatura inglesa para os críticos. Sua pintura em aquarela do apocalipse bíblico, intitulada de O grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, mesmo séculos depois, desafia o imaginário popular e provoca o expectador a um mergulho em suas dualidades inconscientes. No esplendor de sua genialidade, Blake apresenta o dragão como o guardião do que considero nossos tesouros inconscientes, aqueles que são recalcados com o propósito de nos manter civilizados e pertencentes a uma cultura. O enfrentamento a esse dragão, com o intuito de se apossar desses tesouros, é o que há de mais rude na natureza humana. A luta é para que o homem se aproprie do que é seu por direito e seja livre em sua essência, inclusive para amar, da forma que desejar. É isso que vejo naquele dragão.

Conflito, dor, sofrimento, angústia e desespero é o que deve esperar quem almeja ver o ouro dos seus infernos reluzir diante dos olhos. O contrário também é verdadeiro. Quietude, prazer, alegria, alívio e esperança são características de quem decidiu ignorar a existência dessa sala escondida e escura que existe em nós, mantendo, assim, uma vida normal e aceitável socialmente. Isso, com certeza, não se aplica à minha história. Mesmo sem armas e não tendo consciência do que fazia, em um passado não muito distante, enfrentei o dragão que detinha a chave da arca dos meus tesouros. Pensei que esse monstro habitava somente a minha fantasia e imaginação, mas, com o passar do tempo, descobri que também era real e dormia todas as noites na minha cama. Para vencê-lo, meu propósito era simples: esperar, humilhar e me vingar. Depois de destruí-lo, iria apossar-me do que é meu e recuperar a felicidade que me foi roubada brutalmente. Isso para mim significava vencer. Para a psicanálise, significa deixar o meu inconsciente gozar.

A analogia com a arte de Blake parece propícia para este momento de vida em que me encontro ao escrever meu segundo livro, que é a continuação do que revelei no primeiro. Caso o leitor não esteja entre os trinta milhões de pessoas que já leram a primeira parte da história em todo o mundo, incentivo-o a começar esta séria literária, inicialmente com o que já foi publicado, pois será mais fácil de compreender o que exponho, ou de enojar-se. Chamo-me Gaius Barrys e, antes que o leitor se confunda porque mencionei William Blake e o seu Grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, permita-me confessar que depois que apreciei aquela arte apocalíptica no Museu do Brooklyn, em Nova Iorque, quase todas as noites tenho sonhado com aquele ser estranho de olhos esbugalhados. Os sonhos eram misteriosos, repetidos e, quase sempre, acontecia a mesma coisa. Neles, estava em pé, contemplando o monstro e a mulher aos seus pés. Mas, em vez da calda, via, no dragão, um grande pênis, que não parava de gozar sobre o corpo dela, manchando sua roupa dourada, transformando-a lentamente em uma cor escarlate a cada jato de sêmen. A mulher tentava se livrar dos esporros que jorravam abundantemente do pênis. Eles encharcavam seu corpo inteiro. Em um determinado momento, o dragão e a mulher olhavam para mim. Nisso, percebia que era uma criança, com três ou quatro anos, e estava sem roupa. Com os olhos da mulher fitos nos meus, surgia em mim a consciência de que ela era uma santa. A Virgem Maria, talvez? Instantaneamente, sentia uma enorme vontade de estar no lugar dela e ser banhado por aquele líquido viscoso e farto. Então, caminhava ao encontro deles desejoso daquilo. E, antes que os tocasse, despertava do sono e acordava sobressaltado. Assim eram os sonhos.

Na noite de um desses sonhos que descrevi, em minha cama, já acordado, ainda com os olhos trêmulos, tentando aquietar a respiração ofegante, toquei meu membro e percebi que tinha gozado. No mesmo instante, olhei para ele, dormindo serenamente ao meu lado. Passeei meus olhos por aquele corpo e rosto angélicos, contemplando aqueles cabelos meio castanhos e meio loiros, e sentindo o ódio e a fúria gritarem dentro de mim. Apertei meus dentes uns contra os outros com força, respirei fundo e voltei a dormir.

Na tarde daquele dia, sutilmente, senti que alguém estava em meu quarto. Tentei abrir os olhos para me certificar, mas o sono me possuía por completo. Virei-me para o outro lado, agarrei-me a dois travesseiros que me faziam companhia e me entreguei àquela sensação gostosa de voltar a dormir. O barulho do fechar das gavetas e do salto alto, que tocava o piso de mármore e madeira do meu quarto, irritava-me. Que inferno! Pensei. E ao decidir libertar meu corpo das cobertas e esbravejar contra quem estivesse atrapalhando meu sono, virei-me e abri meus olhos, fazendo questão de mostrar minha cara feia a quem estava lá. Era Alyce. Meus olhos a fitaram com fúria. Bufei demoradamente para externar meu incômodo ao ser acordado, enquanto ela disfarçava que ainda procurava algo nas gavetas do meu closet. Caminhando como criança que sabe que fez alguma traquinagem e foi descoberta, cheia de vergonha em seu rosto, Alyce se aproximava da minha cama e parou somente ao me ouvir comentar com a voz impaciente, enquanto eu esfregava meus olhos:

— Não me lembro de ter pedido para que me acordasse, Alyce. Algum compromisso que esqueci?

— Como já passa das 13h, imaginei que quisesse repassar seus compromissos para esta semana. Temos convites pendentes que você não confirmou... — falava, com a voz baixa, tentando sorrir para que minha irritação não aumentasse, quando a interrompi.

— Não há nada que não possa esperar até o início da noite, Alyce. Sabe que não gosto que me acordem. Por que me acordou? Que inferno! — reclamei, batendo as palmas das mãos contra as cobertas, que ainda aqueciam meu corpo.

— Desculpe. Desculpe. Sei que não gosta, mas temos assuntos para tratar, e pensei que...

— Não pensou nada. Você me acordou para conversar sobre as suas investidas fracassadas em George. Meu Deus, Alyce! É claro que ele é gay! Que homem heterossexual e solteiro rejeitaria uma mulher linda como você? Esquece esse cara e me deixe dormir, por favor, por favor... — e fazia cara de súplica, implorando para que saísse do quarto.

— Gaius, não é sobre o George — interrompeu-me ela, assumindo um semblante de preocupação e tristeza em seu rosto, enquanto derreava as sobrancelhas e pressionava os lábios.

— Algum problema na entrevista com a Oprah? — questionei com tom de preocupação, percebendo que ela tinha algo importante a dizer.

— Para a Oprah, estamos com tudo sob controle — e ficou calada, olhando-me, querendo falar, como se buscasse palavras.

— Alyce, o que aconteceu? Algum problema com ele? Está tudo bem no México? — perguntei, imaginando que algo ruim tivesse ocorrido.

— Não. Não é isso... — e novamente ficou calada.

— Fale de uma vez, por favor — ordenei, ansioso e impaciente.

— O pai de Aidan faleceu — contou ela, à queima-roupa.

O quê? O Senhor Daan morreu? Pensei. Nisso, rapidamente, livrei meu corpo das cobertas e levantei-me, pondo-me a olhar para ela com cara de espanto, ainda tentando assimilar a informação que ouvi.

— Como isso aconteceu? O que houve? — perguntei, caminhando em sua direção, abraçando-a.

— Um infarto no início da manhã. A empregada percebeu que ele demorava no banho e foi ao quarto. Estava caído no box, com o chuveiro ligado. Ela chamou a equipe do resort, que o levou ao hospital. Foi inútil. Era tarde demais — respondeu, lamentando.

— Que coisa horrível, Alyce. Onde está Aidan? — perguntei, afastando-me dela, procurando um roupão para cobrir meu corpo quase nu.

— Já está no avião desde o fim da manhã. Deve chegar ao Havaí por volta das 23h — e caminhou até meu closet, apanhando um roupão branco para mim.

— Havaí? O que o Senhor Daan fazia no Havaí? E com quem? — questionei, tomando o roupão que ela estendeu a mim.

— Estava com sua empregada e cuidadora.

— O que ele fazia no Havaí, Alyce? Não faz sentido — e vesti o roupão, cobrindo meus ombros e tórax.

— Gaius, é uma longa história, mas já adianto que tem uma garota no meio.

— Está explicado. Um homem de quase setenta anos em um resort numa ilha isolada só podia ter uma garota no meio — comentei e, logo, acendi um cigarro, caminhando para a varanda, enquanto Alyce descortinava as janelas, clareando meu quarto.

Durante os dois tragos que dei em seguida, tentando organizar as ideias, contemplei, da varanda do meu arranha-céu, o Central Park naquela tarde ensolarada, e, por um instante, tive uma lembrança agradável. Fui interrompido dos meus pensamentos por Alyce, que perguntou:

— O que você quer fazer?

— O que disse? — respondi, perguntando.

— O que pretende fazer, Gaius? — Perguntou novamente.

— Prepare o avião. Vamos ao Havaí. Preciso ver Aidan — e dei mais um trago demorado no cigarro, inspirando o vento que ia de encontro aos meus cabelos.

— Imaginei que faria isso. Então, adiantei as coisas. Seu avião particular está pronto e esperando você há duas horas. Separei sua roupa no segundo quarto. Não tenho tanto talento para ser seu stylist como Richard, mas acho que consigo me virar em uma emergência — comentou, fazendo questão de deixar claro que era uma excelente assistente pessoal.

— O que eu faria sem você, Alyce? — perguntei, elogiando sua eficiência.

Ela ficou calada e sorriu com os olhos para mim, agradecida pelo reconhecimento.

— Vou tomar banho. Ajuda-me a me vestir? — perguntei, depois de ter apagado o cigarro, entrando no quarto, caminhando para o banheiro, retirando o roupão e jogando-o sobre a cama.

— Ajudo, sim. Só estou com uma dúvida — respondeu.

Virei-me para ela e balancei a cabeça, esperando-a falar.

— Separei uma cueca para você vestir, e não uma calcinha. Devo mudar? — e olhou para minhas pernas.

Nisso, percebi que dormi com uma das calcinhas exclusivas que havia comprado na Victoria’s Secret a pedido de Aidan. Alyce me olhava com cara de luxúria, imaginando o que aquele minúsculo tecido havia testemunhado na noite anterior. Tentando não rir, continuou:

— E precisava ser tão minúscula?

Aproximei-me dela e sussurrei em seu ouvido:

— Ele pediu que eu comprasse a menor que encontrasse, e tinha que ser pink — e fiz cara de que a noite anterior havia sido maravilhosa.

Dei as costas para ela e caminhei ao banheiro, faceiramente, quando a ouvi dizer:

— Precisa me contar essa história, Gaius — elevando a voz para que eu a ouvisse.

— Só depois que me contar a história da garota do Senhor Daan. Alyce, você esqueceu meu drink — gritei de dentro do banheiro, depois de rirmos da situação.

Ela apareceu na porta, fez cara de luxúria e respondeu, sensualmente:

— Não esqueci. George estava em dúvida se iria querer Margarita ou Kir royal. Enquanto você toma banho, vou dizer a ele que quer tomar um Kir com o seu café da manhã — e saiu do banheiro, rindo, criando motivo para ver mais uma vez o bartender gostoso que ela mesma contratou para preparar meus drinks e flertar com ele também.

Pouco mais de um ano antes daquele dia, em que recebi a notícia da morte do Senhor Daan, voltei a viver em Nova Iorque com um objetivo claro e definido. Regressei, determinado a conseguir o que queria e, mesmo que em alguns momentos tenha desistido, nunca consegui me livrar por completo do que imaginei fazer, embora os tormentos mentais que sofri tenham sido avassaladores. Tudo precisava acontecer da forma como arquitetei, e a minha parte consistia em controlar minha fúria, escondê-la de todos e oferecer as doses de veneno no momento certo. Este foi meu maior desafio: administrar meu ódio e escondê-lo de todos. À época, para que as coisas ocorressem como era preciso, tive que revelar parte do meu segredo para Alyce, que, naquele momento, rejeitou veementemente me ajudar. Insistente, fiz com que considerasse minha proposta sob a motivação de que não conseguiria confiar em mais ninguém além dela, e, também, prometi ajudar sua mãe com o tratamento de Alzheimer. Mesmo assim, ela negou meu pedido. Uma semana depois da nossa primeira conversa, em uma manhã de sábado, convidei Alyce para almoçar em um restaurante na Stone Street. Depois de algumas cervejas, uma deliciosa salsicha alemã e algumas risadas, retirei do bolso um chaveiro e dispus, humildemente, próximo ao prato dela.

— O que é isso? — perguntou, segurando as chaves, curiosa.

— Seu apartamento, que fica a uma quadra do Central Park.

Vi seus olhos arregalarem e sua boca carnuda abrir, vagarosamente, enquanto seu rosto assumia o semblante de espanto.

— Do que está falando, Gaius?

— Comprei para você. É seu — e dei um gole demorado na cerveja alemã.

Alyce me olhava assustada e desconcertada, enquanto procurava palavras em sua mente para aceitar minha proposta. Eu, percebendo que ela iria falar, interrompi-a:

— Sua mãe terá todas as despesas médicas pagas pelo tempo que precisar em uma instituição apropriada para cuidar dela. Peça a seu irmão para interná-la e enviar as despesas para Alexander. Ofereço a você um salário cinco vezes maior do que está ganhando atualmente na House’s Barrys. O apartamento é seu, e pode se mudar para lá hoje mesmo, se quiser. Caso desista de me ajudar no meio do caminho, você perde o salário, o apartamento e a ajuda financeira para sua mãe. Vai assinar um contrato de confidencialidade, e eu prometo que não se envolverá diretamente em nada que seja ilegal. E, ainda, que não derramarei sangue de ninguém — disse, à queima-roupa, quase deixando-a sem saída.

Ela me observava falar com seus olhos sorridentes, não acreditando que, finalmente, depois de anos morando em Nova Iorque, teria seu próprio apartamento. Atônita, sem saber o que responder, começou a gaguejar, e foi interrompida, por mim, novamente:

— Alyce, o apartamento foi todo reformado, fica a uma quadra do Central Park, tem sessenta metros quadrados, um dormitório, uma suíte, uma vaga para carro e custou um milhão e quatrocentos mil dólares — e dei mais um gole na cerveja, contemplando sua cara de felicidade.

Ela fechou os olhos, respirou fundo e respondeu:

— Sem nada ilegal e sem derramamento de sangue. Certo? — perguntou ela, aceitando minha proposta.

Touché! Pensei, regozijando em meu interior, controlando-me para não gritar de alegria.

— Prometo a você — e pisquei o olho para ela, enquanto mostrava meu sorriso de felicidade por tê-la como assistente pessoal e cúmplice do meu plano.

Para comemorar, chamei o garçom e pedi mais duas cervejas alemãs. Percebendo que ela olhava para ele com desejo, comentei:

— Ele é bonito, não é? — e rapidamente analisei o estilo descolado das roupas que ele vestia.

— O nome dele é George. Ele trabalha como garçom aqui durante o dia e é bartender em outro restaurante à noite. Venho no Baviera Bierhaus só para olhá-lo — comentou, baixando a voz como se me contasse um segredo.

— Ele é bartender? Então, acho que você já tem uma primeira missão como minha assistente pessoal. Preciso de um stylist, um cozinheiro, um relações públicas e um bartender. Parece que não precisamos mais procurar alguém para fazer meus drinks, não é? — e dei um sorrisinho safado para ela.

— Está brincando comigo, Gaius? Posso contratá-lo? — questionou, ansiosa e eufórica.

— Avise-o que sou exigente com meus drinks. Pode contratá-lo, sim.

Meu ouvido ficou com um zumbido, depois do grito de felicidade que Alyce deu. Tentando acalmá-la, compartilhando de sua alegria e rindo com ela, ordenei:

— Garota, vá pegar o celular do bartender gostoso e vamos sair daqui, pois temos que ir conhecer seu novo apartamento — e bati repetidas vezes na mesa com a palma das mãos, repleto de alegria, rindo para ela.

Mais uma vez, ouvi um grito fino de Alyce em meus ouvidos.

— Pare de gritar. As pessoas estão olhando — ordenei, tentando controlar as gargalhadas que dávamos juntos.

Não pude controlar minhas lágrimas ao ver Alyce emocionada ao entrar em seu apartamento. Depois de me abraçar e agradecer o presente, ela percorreu todos os cômodos, comentando o que faria em cada um deles e como ordenaria os móveis. Sua alegria era contagiante. Por um instante, enquanto acendi um cigarro, olhei para ela e senti inveja de toda aquela alegria e entusiasmo. Naquele momento da minha vida, acabando de retornar a Nova Iorque pela segunda vez, dentro de mim, só havia dor e saudade. Percebi uma lágrima fina escorrer em meu rosto. Disfarcei e voltei a sorrir. Nos próximos anos, depois daquele dia, Alyce foi, para mim, muito mais que uma amiga e cúmplice. Foi um anjo em minha vida. Sem ela, jamais teria conseguido fazer o que fiz. Só lamento que a promessa que fiz a ela de não derramar sangue, não pude cumprir.

Quando saímos do apartamento dela, levei-a para o hotel, onde, à época, estava hospedado. Chegando à suíte do The Plaza, Alyce e eu fomos recepcionados por Rosa e Juanita. Mãe e filha estavam tendo aulas de inglês, com James, professor particular. Saudou-nos, também, Alexander, advogado da House’s Barrys, que montou uma equipe de profissionais especialistas em finanças e abriu uma empresa somente para cuidar do meu dinheiro desde os meus dezoito anos, depois que recebi a parte da herança da minha mãe. Arthur, meu sobrinho, dormia em minha cama. Vendo Alyce e eu juntos, Juanita logo correu ao nosso encontro e abraçou-nos, primeiro a mim e, depois, a ela, falando em espanhol conosco:

— Que bom que chegaram! — disse ela, beijando-nos o rosto.

— Olá, carinho! — e retribuí o beijo, envolvendo-a com meu abraço.

— Posso confessar um segredo a vocês? — perguntou ela, quase sussurrando.

— Claro que pode, meu amor — respondi no mesmo tom de voz.

— Não gosto muito de James. Ele é muito chato — e torceu os lábios, cruzando os braços, enquanto reclamava das aulas de seu professor.

— Meu amor, é importante que você aprenda inglês. Não pode ficar falando somente em espanhol aqui. Não é Alyce? Terá que ir para a escola em breve. Por favor, esforce-se. É importante para mim. Sei que ele pode parecer exigente, mas saiba que é para o seu bem. Por favor, dedique-se a aprender. Posso esperar que fará isso? — perguntei à Juanita, tentando conscientizá-la, chamando Alyce com os olhos para ela me ajudar.

— Juanita, já conversamos sobre isso várias vezes. Eu também tive dificuldade com o inglês, mas minha tia me ajudou. Sei que vai conseguir, pois é uma menina muito inteligente — disse Alyce a ela, incentivando-a.

Juanita abriu um leve sorriso e respondeu, olhando para mim:

— Você prometeu me levar a Disney. Isso ainda não aconteceu.

— Prometo a você que levarei, sim. Mas precisa aprender logo o inglês e ajudar sua mãe, pois sei que ela deve estar detestando essa ideia. Assim que aprenderem, prometo que iremos todos a Disney, até mesmo Alexander. Não é mesmo, doutor? — e beijei Juanita, apontando para a mesa onde Rosa e James estavam, deixando claro que ela deveria voltar para a aula.

Depois, caminhei para onde Alexander estava sentado, cercado de papéis em sua mesa.

— Espero conseguir tempo para cuidar dos seus negócios e ir à Expedition everest — comentou o advogado, tentando parecer engraçado para mim.

Ora! Ele gosta de aventura! Bom saber, pois teremos fortes emoções pela frente. Pensei, enquanto tentava rir da sua piada sem graça, virando meu pescoço e perguntando à Alyce:

— Quer beber alguma coisa? — e a vi acenar discretamente para Rosa, que respondeu a ela somente com um balançar de cabeça, certamente, indignada por causa das aulas de inglês.

— Estou bem. Obrigada — respondeu Alyce.

— Você já conhece Alexander, não? — perguntei a Alyce e fiz sinal a Rosa para que me trouxesse uma taça de vinho.

— Sim. Vemo-nos sempre na House’s Barrys. Não sabia que também trabalhava particularmente para Gaius. Como vai, Senhor Walker? — perguntou ela.

— Por favor, chame-me de Alexander. Eu cuido de assuntos mais particulares para ele, sim. Espero estar correspondendo às expectativas que Gaius depositou em mim — e olhou-me como se pedisse um elogio em público.

— Estamos indo bem, Alexander. Você quadruplicou minha fortuna nestes quase sete anos que trabalha para mim. Fez um bom trabalho, mas sei que podemos conseguir um pouco mais, não é? — respondi, recebendo a taça de vinho das mãos de Rosa e provocando meu advogado a trabalhar mais para me deixar mais rico do que já era.

Enquanto me entregava a taça, Rosa comentou com a voz baixa:

— Arthur não queria almoçar. Ficou olhando as fotos do pai. Chorou e depois dormiu.

Nisso, virei minha cabeça para minha cama e vi meu sobrinho dormindo de bruços. Ele era tão miúdo para a idade que tinha. Parecia tão sereno ao dormir. Cheguei a pensar que estivesse morto em minha cama. Por um instante, fixei meu olhar nele e tive compaixão.

— Acha que devemos ir para o outro quarto, Rosa? — perguntei, baixando o volume da voz.

— Não precisa. Ele sempre teve um sono muito leve, mas dorme melhor com pessoas por perto. Seus pesadelos são sempre nas madrugadas, quando sabe que está sozinho. Agora, basta não falar alto.

— Vamos falar mais baixo, pois Arthur está dormindo — pedi, olhando para Alyce e Alexander.

— O que faz aqui, Senhorita Stein? — perguntou Alexander à Alyce, enquanto Rosa voltava para a mesa onde estava estudando.

— A partir de hoje, Alyce é minha assistente pessoal, Alexander. E trabalhará diretamente com você. Ela está ciente do que faremos — respondi antes que ela falasse e dei um gole no vinho, contemplando o sorriso dele ao saber que teria mais contato com ela por causa do trabalho.

Alyce sorriu meigamente e completou:

— Por favor, chame-me de Alyce, Alexander. Gaius me pegou de surpresa, mas conseguimos nos entender. Acredito que compreendi o que ele espera de mim — respondeu ela.

Nisso, aproximei-me dela e comentei:

— Tenho certeza de que você e Alexander, juntos, poderão me ajudar a conseguir o que quero mais rapidamente — e sorri para ela, beijando seu rosto.

— Espero que sim — comentou ela.

— Alyce, vou deixar você conversando com Alexander, a fim de ele explicar em que momento estamos do nosso plano. Fique à vontade — e afastei-me deles.

Acenei para James, cumprimentando-o, enquanto acendi um cigarro e caminhava para a varanda da suíte. Lá, dei um trago, um gole no vinho e observei Rosa e Juanita, aprendendo inglês com o professor em uma mesa, Arthur, que dormia em minha cama, e Alexander e Alyce, conversando em outra mesa. Com o olhar fixo neles, tive a impressão de que o advogado flertava com minha assistente, sorrindo demais para ela. Alyce parecia não perceber o que acontecia. Por isso, talvez, naquele momento, tornou-se mais atraente para ele. Alexander tinha pouco mais de quarenta e cinco anos, era baixo e não tinha tempo para exercícios físicos, o que lhe proporcionava um abdome flácido. Era magro, mas não conseguia esconder um pequeno excesso de gordura na barriga ao vestir-se formalmente com sua camisa social branca por dentro de sua calça azul-marinho. Ao sentar-se, era impossível, a qualquer pessoa, não observar aquela gordura abdominal, que tentava escapar do tecido, derramando-se para frente. O grisalho de seus cabelos e a pele do rosto manchada por falta de cuidados externavam o quanto ele trabalhava por dia, inclusive aos fins de semana. Sua barba estava feita todos os dias, religiosamente. Certamente, uma tentativa de parecer mais jovem do que era de fato, visto que, até aquele momento, ainda não havia casado. Alexander era branco, nascido em Detroit, Michigan, e morava em Nova Iorque desde que se formou como advogado, aos vinte e poucos anos. Alyce exibia sua negritude com orgulho. Seu cabelo black power, visivelmente hidratado e bem cuidado, era a prova disso. Ela era alta, esguia, e sua boca carnuda não passava despercebida em lugar algum. Sua beleza resplandecia ao sorrir, com a boca e com os olhos. A harmonia de seu rosto e corpo coadunava-se bem com sua simpatia, simplicidade e felicidade, quase escondendo que ela tinha trinta anos, fazendo-a parecer ter menos. Alyce era bela, nascida em Gramado, Brasil, e morava em Manhattan desde a sua adolescência, quando foi levada por sua tia viúva, de origem alemã, para lhe fazer companhia. À época, reconheceu naquilo uma oportunidade para alcançar seus objetivos profissionais. Então, aceitou, visto que sempre foi ambiciosa. Observando-os juntos, conversando e entendendo-se, mais Rosa e Juanita, estudando inglês, tive a sensação de que o meu plano estava, de fato, começando a acontecer. Instantes depois, olhando para o cigarro em meus dedos, que chegava ao fim, meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Alyce, que caminhava em minha direção calmamente.

— Ele me explicou algumas coisas — e foi entrando na varanda, apreciando a vista comigo.

— Acredito que vocês se darão bem. É importante que estejam alinhados em todos os detalhes — respondi, deixando claro que precisava de sincronia entre eles, enquanto acendi outro cigarro.

Alyce balançou a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e perguntou:

— Muito bem, Gaius. Estou aqui. O que precisa que eu faça?

— Vou pedir a Alexander para efetuar sua demissão da House’s Barrys o mais rápido possível. A partir de hoje, você não precisa mais ir para lá. Darei a você um bônus em dinheiro mais o seu salário deste mês. Assim, poderá pensar em mobiliar seu novo apartamento. Preciso que contrate um chefe de cozinha de nível internacional. Não necessito que ele trabalhe exclusivamente para mim. Certifique-se de que seja alguém que possa ensinar algumas coisas mais simples para Rosa, pois quero que ela aprenda a fazer pratos mais sofisticados. Encontre um bom relações públicas. Não é necessário que seja exclusivo. Alguém que não tenha muita notoriedade na imprensa, mas que seja ambicioso o suficiente para não ser tão honesto quando for preciso. Tanto o cozinheiro quanto o relações públicas precisam ser homens. Eles são mais corruptíveis — respondi, imprimindo um tom de seriedade em cada ordem que dei.

— Com que prioridade precisa desses profissionais? — perguntou ela.

— Eles, mais o bartender, começarão a trabalhar para mim quando for morar no meu novo apartamento, que você vai procurar. Não esqueça que gosto de espaço e arquitetura que mesclem o moderno com o clássico. Será preciso alguém para decorá-lo para mim, mas isso pode esperar — respondi e dei mais um gole no vinho e um trago demorado.

— Parece que tenho algumas coisas para fazer agora, não é? — comentou, tentando se organizar com as informações que recebeu.

— Hoje é sábado, Alyce. Vá curtir seu novo apartamento e pensar em como mobiliá-lo. Começamos na segunda às 13h, aqui. Vou avisar à recepção que você tem acesso livre às duas suítes que estão reservadas para mim. Você já esteve aqui antes da viagem, deve saber como tudo funciona. Estou hospedado nesta suíte, e Rosa, Juanita e Arthur em outra, ao lado desta. Não chegue antes das 13h e não me acorde por nenhum motivo, por favor.

— Obrigado por me dar tempo para pensar em como fazer tudo isso, Gaius. Novo apartamento, cozinheiro internacional, relações públicas... Desse jeito, vai gastar toda a sua fortuna com seu plano — comentou ela.

Dei um sorrisinho e respondi:

— Não se preocupe com dinheiro. Gaste o que for preciso, pois ao terminar tudo isso, é muito provável que eu esteja cinco ou seis vezes mais rico do que sou agora, se é que não chegarei a ser trilionário.

Alyce abriu um sorriso meio que desacreditando no que ouviu, despediu-se de mim com um beijo no rosto e caminhava para o interior da suíte, quando pedi a ela:

— Só mais uma coisa, por favor.

Ela parou, olhou para trás e pôs-se a ouvir atentamente.

— Avise a Aidan que retornei à cidade e que quero jantar com ele no domingo à noite. Vou ajudar você a conseguir meu novo apartamento — e pisquei meu olho para ela, sorrindo maliciosamente, enquanto a vi franzir a testa, esforçando-se, em vão, para compreender a conexão de uma coisa com a outra.

No dia seguinte, enquanto tomava meu café da manhã, uma mensagem de Alyce em meu celular fez-me sorrir:

“Gaius, Aidan aceitou seu convite para jantar. Ele insistiu para saber onde você estava hospedado e para que eu informasse seu novo número de celular. Achei melhor falar com você antes. O que devo dizer a ele? Onde quer jantar? Devo reservar algum lugar?”

Larguei o suco de laranja que bebia e escrevi para ela:

“Verão. Lagosta. The Palm, às 21h. Faça reserva e peça uma mesa discreta. Encontro-o lá.”

Cheguei ao restaurante para o encontro com Aidan vinte e cinco minutos depois do combinado. Caminhando com o maître para minha mesa, avistei-o, visivelmente nervoso, com um copo de uísque na mão, olhando para os lados, como se me procurasse. De repente, os olhos cor de âmbar dele encontraram os meus. Naquele momento, quase senti em meu corpo os batimentos cardíacos descompassados que ele deve ter tido ao me ver. O tempo pareceu não passar para ele, pois continuava belo e sexy, aquele corpo atlético. Ele vestia uma camisa social branca com os dois primeiros botões abertos, deixando, à mostra, seu peitoral depilado e rígido. O blazer cinza riscado em estilo clássico de um único botão e as mangas repuxadas até a altura do final do antebraço conferiam, a ele, um aspecto despojado, mas sem deixar de ser formal. Por que ele está usando esse blazer? Esse modelo é para o outono e inverno, e não para o verão. Pensei. Seu cabelo estava disciplinarmente ordenado de forma clássica, da esquerda para a direita. E seu rosto liso demonstrava que a barba havia sido feita naquele mesmo dia. Sorri discretamente para ele e continuei caminhando, enquanto o vi levantar para me receber. Ele vestia sapatos e calça pretos. Por um instante, tentei descobrir que sapatos eram aqueles que brilhavam tanto, mas não me contive e fitei meus olhos em seu par de coxas grossas, devidamente marcadas pela calça slim, que valorizava os contornos do seu membro. Uau! Como ele está gostoso! Pensei. Contemplando a beleza de Aidan, lembrei que fazia algumas semanas que eu não transava, e quase esqueci qual a finalidade daquele jantar, embora eu soubesse que seria difícil resistir, pois ele estava terrivelmente sexy naquela noite. Ao chegar à mesa, depois de me beijar o rosto e desejar-me boa-noite, Aidan esperou que eu me sentasse e, somente depois, retornou à sua cadeira. De lá, olhava-me já marejando os olhos, enquanto o maître perguntava se conhecíamos o restaurante.

— Conheço, sim. Vim aqui diversas vezes com meu irmão — respondi, educadamente, e pedi para que enviasse alguém que me trouxesse a carta de vinhos, quase sugerindo que precisava de privacidade.

A sós com Aidan, pude contemplar seu rosto emocionado. Estávamos em silêncio, olhando-nos e acostumando-nos, novamente, com a presença um do outro, depois de seis meses sem nos vermos ou falarmos. Algumas vezes, desviei meus olhos dos dele e busquei apreciar com a ponta dos dedos aquele tecido nobre sobre aquela mesa redonda, posicionada em um local tão intimista, mesmo com o restaurante abarrotado de pessoas. De soslaio, percebi-o me olhando, enquanto bebia seu uísque de forma tão provocante. Nisso, quebrei o silêncio e falei:

— Obrigado por aceitar meu convite, Aidan.

Ele sorriu, como se não acreditasse que estava jantando comigo. E respondeu:

— Confesso que fiquei surpreso, quando Alyce me ligou. Surpreso e feliz — e deu mais um gole no uísque.

— Fiquei com vontade de apreciar uma lagosta e pensei que seria uma oportunidade para reencontrar você. Disse que voltaria, não foi? — comentei e perguntei de forma natural, mas sentindo algo inflar dentro de mim, quando falei no fruto do mar.

Controle-se, Gaius! Controle-se, Gaius! Repetia várias vezes para mim mesmo, tentando não me desviar do objetivo.

— Que bom que se lembrou de mim. Onde esteve durante esse tempo todo? Já faz mais de seis meses que nos vimos, não? — perguntou, curioso.

Antes que conseguisse responder, o garçom se aproximou, desejou-nos boa-noite e nos entregou a carta de vinhos.

— Aidan, confio no seu bom gosto. Pede um vinho para mim?

— Claro que peço — respondeu, sem conseguir disfarçar o entusiasmo.

— Com licença. Vou ao banheiro — e saí da mesa.

Lá, tranquei-me dentro de um box, pressionei minhas mãos contra minha boca para não gritar e comecei a chorar, tamanha a dor, saudade e o ódio que carregava em meu peito. Instantes depois, tentei controlar minha respiração, a fim de me acalmar, e percebi que uma sensação de alívio ganhava espaço em mim. Caminhei até as pias e, diante do espelho, encarando meus olhos levemente avermelhados, lavei as mãos demoradamente. Depois, com um lenço de papel, tentei harmonizar a maquiagem manchada pelas lágrimas. Que inferno! Esse lápis da Dior não deveria ser à prova d’água? Uma última olhadela no espelho para conferir como estava. Nisso, um homem saiu do box, aproximou-se para lavar as mãos e pôs-se a me encarar pelo espelho. Ele olhava como se me conhecesse. Desviei o olhar e saí do banheiro, retornando à mesa.

— Está tudo bem? — perguntou Aidan, enquanto eu sentava.

— Sim. Pediu o vinho? — respondi.

— Veja se gosta deste — e virou o rótulo da garrafa para que eu visse o que pediu.

Nisso, o garçom se aproximou e serviu água em nossas taças.

— Fez um bom pedido, Aidan. Mas sei que aqui eles têm um francês, que é quase uma raridade em Nova Iorque. Importa-se se trocarmos o vinho? — perguntei, educadamente.

Aidan pareceu decepcionado por não ter acertado na escolha do vinho para mim. Vi, em seu rosto, uma sensação de fracasso. Gosto de fazer isso com ele. Pensei.

— Claro! Podemos trocar sim. Pensei que fosse gostar deste. Foi o garçom quem sugeriu — respondeu ele, tentando disfarçar seu próprio incômodo.

— Você fez uma boa recomendação. Obrigado por isso. Mas prefiro beber um branco Châteauneuf-du-Pape, da Château Sixtini. Por favor, certifique-se de que nos trará um de uma safra de, pelo menos, três anos atrás, e que seja orgânico — comentei, gentilmente, olhando para o garçom, sorrindo levemente depois de falar.

— O tempo só faz você melhorar seu bom gosto — comentou Aidan, referindo-se à escolha do vinho que fiz, e deu um gole demorado no uísque.

— Não é bom gosto, Aidan. É somente uma questão de dar ao paladar o que ele precisa para me oferecer a experiência que desejo com a comida. Neste caso, o vinho serve à lagosta. Esse que pedi, vertido na taça, exala aroma de jasmim e pera. E a mescla do gosto suave de damasco somado à sua acidez imprimem em meu paladar o que preciso para que a lagosta fique mais saborosa do que já é — e dei um gole na água, encarando seus olhos, que demonstravam admiração pelos meus conhecimentos como apreciador de vinhos.

Nisso, percebi que minhas falas com Aidan estavam sempre em tom de ataque, travestidas de elegância e sofisticação, mas sempre de ataque. Não fale dessa forma com ele, Gaius! Ele não pode desconfiar de nada. Seja doce e conseguirá o que quer. Pensei. Então, decidi ficar mais calado, pondo-o para falar.

— Como estão as coisas com a sua construtora? — perguntei.

Aidan contou que os negócios estavam caminhando bem e que a Holding Lifting, pertencente à sua família, desde a sua fundação, já havia completado quase vinte mil projetos em cento e quarenta países, e, ainda, que a empresa se dedicava, atualmente, à construção de uma gigantesca represa entre os estados de Arizona e Nevada. Curioso de como se dava o seu trabalho, incentivava Aidan a falar mais sobre ele, enquanto esperávamos o garçom nos trazer o vinho e levar nosso pedido de jantar. Ele parecia feliz de conversar, de explicar como era sua rotina de trabalho da manhã à noite durante quase todos os dias e de como passava seus fins de semana trabalhando sozinho em seu apartamento em Nova Iorque. Comentou que sentia falta de sair para jantar, de ir a um vernissage ou, simplesmente, de ver a um filme no cinema. Lamentou ao dizer que não tinha companhia para fazer essas coisas, pois quase todos os seus conhecidos ou colegas de trabalho eram casados e sempre rejeitavam seus convites. Declarou que se sentia incomodado em sair sozinho, quase deixando escapar que preferia ficar em casa por não ter um namorado com quem compartilhar esses momentos.

Nossa conversa foi interrompida pelo garçom, que nos trouxe o vinho, abriu e verteu um pouco em minha taça para degustação. Percebendo o que fazia, comentei que já conhecia o vinho, e que ele podia servir a nós dois. Aidan e eu pedimos um pouco mais de água e o nosso jantar: uma salada verde mista de palma, uma lagosta Jumbo Nova Scotia de quatro libras com manteiga derretida e limão fresco, devidamente acompanhada de couve de bruxelas, creme e folhas de espinafre, batatas Au Gratin e cogumelos selvagens.

Minutos depois, ao dispor os pratos sobre a mesa, o garçom deixou disponível uma lavanda, para o caso de precisarmos lavar as pontas dos dedos. Antes que eu passasse o guardanapo sobre minha cabeça e começasse a me preparar para quebrar a lagosta, Aidan, subserviente como sempre, falou:

— Não precisa fazer isso. Você está muito bonito para colocar essa coisa horrorosa em seu pescoço. Eu quebro para você — e sorriu, tentando me agradar, lançando seu charme sobre mim.

Aidan segurou a lagosta com as duas mãos e, com a ponta dos dedos, torceu-a vagarosamente em posições opostas, cabeça e corpo, desmembrando-os. Depois, quebrou o rabo e, em um movimento único e certeiro, enfiou seu longo dedo indicador pelo rabo da lagosta, empurrando aquela carne macia para fora da casca. Eu observava aqueles dedos ágeis e a concentração com que ele fazia aquilo e pensava que, talvez, um médico, em uma cirurgia, não conseguisse ser tão preciso quanto ele foi. Antes que eu piscasse os olhos novamente, as mãos meladas de Aidan estenderam, diante de mim, a carne da lagosta em um prato, pronta para ser comida. Recebi o prato que ele me deu e entreguei o meu vazio a ele. Observei-o fazer aquilo novamente com a pata da lagosta, desta vez, utilizando o quebrador. Aidan me deu a maior parte do crustáceo, ficando com a menor, e parecia contente com o que tinha em seu prato para comer. Esperando-o terminar para começarmos a comer juntos, contemplava seu rosto e vários pensamentos invadiam minha mente, inclusive o de se eu conseguiria concretizar o que planejei.

— Prontinho. Vamos comer — disse ele, e ergueu a taça de vinho, propondo um brinde.

— Obrigado por quebrar para mim. Nunca sei fazer isso direito. Uma vez, ela escapuliu da minha mão e caiu no chão. Desde esse dia, Marcus sempre quebrava para mim — comentei, e vi em seu rosto um semblante de preocupação aparecer.

— Vamos falar de coisas boas esta noite. Um brinde a você e a nós, por este reencontro maravilhoso. Saúde — e pressionou sua taça contra a minha, piscando um olho para mim, enquanto deixava escapar um sorrisinho de felicidade.

Enquanto jantávamos, Aidan falava sobre trabalho e a preocupação que tinha com seu pai, o Senhor Daan, que abusava do cigarro e das bebidas, mesmo já tendo passado dos sessenta anos. O que o angustiava naquele momento não eram somente os vícios do pai, mas, também, o fato de ele estar conhecendo mulheres jovens pela internet e de estar gastando, com elas, muito dinheiro em viagens e presentes. Segundo ele, o pai já o havia apresentado a uma ou duas delas. Os dois discutiram algumas vezes por causa disso, mas o Senhor Daan manteve-se inflexível na busca por alguns pequenos prazeres, mesmo na terceira idade, e enfrentou o filho, afirmando que precisava de sexo e, ainda, que se preciso fosse, pagaria para tê-lo. Aidan entendia que o pai havia se rendido à cultura dos chamados sugar daddy, e fez questão de comentar o quão vulgar aquilo lhe parecia. Narrando com reclamação as ações do pai, que considerava como descalabros, Aidan observava outras mesas, e franzia a testa, como se estivesse incomodado com alguma coisa. Percebendo que algo acontecia, perguntei a ele:

— Algum problema, Aidan?

— Acho que algumas pessoas estão nos fotografando — e virou a cabeça mais uma vez para os lados.

Nisso, olhei para trás e vi quatro ou cinco mesas de pessoas, que cochichavam entre si e olhavam para nós de soslaio. Outras, usavam seus celulares para nos fotografarem e fazerem vídeos. No fim do restaurante, três ou quatro garçons observavam nossa mesa de forma diferente. Voltei meu rosto para Aidan e perguntei:

— Por que eles estão olhando para nós?

— Acho que é por causa do seu livro e por tudo que aconteceu.

— Não sabia que tinha repercutido tanto assim... — comentava, quando fui interrompido por ele, que falou com tom de dissabor, mas sem ser grosseiro.

— Gaius, você publicou um livro há mais de dois anos expondo todos nós, inclusive a si próprio. Seu livro, até hoje, já vendeu mais de trinta milhões de cópias no mundo inteiro e, em quase todo o primeiro ano, ficou na lista dos mais vendidos do The New York Times. E não podemos esquecer toda aquela confusão há seis meses, não é? Não se deve admirar que as pessoas reconhecessem você e comentassem o que narrou naquela história e o que aconteceu depois.

Por um instante, refleti sobre o que Aidan dizia. Há meses que eu não pisava em solo norte-americano. Tinha retornado há poucos dias e não imaginava que as coisas que contei no livro tivessem ganhado aquela proporção. Pensei que a imprensa tivesse esquecido de mim. Agora entendo porque a produção da Oprah insiste tanto em uma entrevista. E confesso que estar ali, com todas aquelas pessoas falando sobre mim, incomodou-me, mas não o suficiente para me fazer parar de comer a minha lagosta com aquele delicioso creme de espinafre.

— Você quer sair daqui? — perguntou Aidan, preocupado.

— Não. De jeito nenhum. Sempre vivi em Nova Iorque, e não vou me retirar de um restaurante porque existem pessoas me fotografando. Deixe-as em paz. Daqui a pouco elas param — respondi, arrogantemente, e dei uma garfada na lagosta.

— Você enricou os tabloides norte-americanos por muitos meses, Gaius. Acabou sendo a principal notícia semanal para eles — argumentou Aidan, tentando me convencer a sair do restaurante.

— Aidan, vou continuar aqui. Não vou sair. É um livro. Já foi escrito. Não há o que fazer. Hoje, considerando tudo que aconteceu, até acho que não deveria tê-lo escrito, mas não tenho mais o que fazer.

— Só acho que é importante saber que você ganhou muita notoriedade na cidade. As pessoas falam de você, Gaius — e torceu os lábios, como se dissesse que minha reputação não era a das melhores.

— Coisas boas ou ruins? — perguntei, curioso e um pouco ansioso também.

— As pessoas falam muitas coisas — respondeu, tentando desviar o assunto, extremamente desconcertado.

Entre Aidan e eu, por causa da atenção que atraí para a mesa, surgiu um clima pesado, onde qualquer outro assunto não poderia ser conversado com naturalidade. Aidan estava muito preocupado e, ao mesmo tempo, atento. Sua vigilância fazia com que a atenção para o que tentava conversar com ele fosse diminuída. Enquanto eu procurava agir com naturalidade e ignorar aquela situação, que só crescia no The Palm, contando sobre o curso de fotografia que fazia há alguns anos, vi Aidan fechar a cara e levantar-se bruscamente, ao perceber que uma moça caminhava em direção à nossa mesa com um celular na mão. Ele se aproximou de mim, ficando ao meu lado, e assumiu quase a postura de um segurança particular. Eu permaneci sentado, repousei os talheres no prato, limpei meus lábios com o guardanapo e dei um gole no vinho. Instantes depois, a moça, sorridente, pediu licença, desejou-nos boa-noite e perguntou se poderia tirar uma foto comigo. Meu espírito relaxou ao ouvir seu pedido. Graças a Deus! Pensei. Sorrindo para ela, respondi que sim. Tiramos uma foto e ela comentou que havia adorado o livro. Agradeci-a pelo comentário, e ela nos deixou, ainda sorrindo, feliz por ter uma foto minha. Olhei para Aidan e comentei:

— Ela só queria uma foto. Está tudo bem. Relaxe — e fiz sinal para ele se sentar novamente.

Ele ficou mais calmo, mas se manteve atento durante as duas horas a mais que permanecemos lá. Depois de saborear um delicioso Cronut, que é o resultado da massa folheada do Croissant com a cobertura crocante mais o glacê do Donut, comentei que queria retornar ao hotel, sugerindo que ele me levasse até lá. Aidan, prontamente, chamou o garçom, pagou a conta em dinheiro, deixando o troco como gorjeta generosa para ele e escoltou-me, enquanto eu caminhava para a saída do The Palm, apreciando a decoração do ambiente com aqueles diversos rostos de pessoas estampados em suas paredes. Ele parecia aliviado de estar saindo dali. Tive a certeza disso ao ouvir de sua própria boca já do lado de fora do restaurante:

— Que bom que não aconteceu nada. Importa-se se eu fumar um cigarro antes de pegarmos um táxi? — perguntou, respirando relaxadamente, tentando sorrir.

— Tenho cigarro aqui. Por que estava preocupado? — questionei.

— Não sei. Tive medo de alguém ser grosseiro com você — e acendeu o cigarro que lhe dei, tragando demoradamente.

Ele é tão masculino ao fumar. Pensei. Enquanto eu acendia meu cigarro, percebi seis ou sete pessoas correrem ao nosso encontro com seus celulares apontados para nós. Eram repórteres de tabloides que, grosseiramente, falavam ao mesmo tempo, fazendo-me perguntas. Não conseguia entender o que diziam e fiquei assustado com toda aquela algazarra. Aidan se aproximou para evitar que eles encostassem em mim, gritando para saírem dali. Foi inútil. Eles falavam sobre o livro, Marcus e Arthur, o sequestro, Pablo e as prisões. Em um momento, percebendo que não conseguiríamos fazê-los parar, puxei a mão de Aidan, a fim de retornarmos para dentro do restaurante. A confusão de pessoas e o nervosismo me fizeram tropeçar. Desequilibrei-me e caí sobre meu braço direito. Rapidamente, Aidan levantou-me e ajudou-me a entrar no restaurante. Os seguranças do The Palm foram ao nosso encontro e fecharam a porta, impedindo que os repórteres nos incomodassem novamente. As pessoas que estavam nas mesas viram o que aconteceu e começaram a se agitar, olhando para nós e cochichando entre si. O gerente foi até onde estávamos e ajudou-nos:

— Senhor Barrys, vamos sair daqui. Vou pedir para alguém levá-los para casa. Sairão pelos fundos do restaurante. Será mais seguro.

No hotel, enquanto abria a porta da minha suíte, agradeci Aidan pela companhia e desejei-lhe boa-noite. Enquanto fechava a porta, ele a pressionou com a mão e pediu:

— Espere.

Em um movimento rápido, escondeu as mãos nos bolsos da calça e fitou-me com aqueles olhos agitados. Era impossível não perceber o movimento que fazia com o pé direito, batendo o sapato apressadamente no chão, com certeza, com a ponta dos dedos. Apoiava-se em uma perna, depois na outra, mexendo seu quadril e tórax para a esquerda e direita, em um movimento quase imperceptível a quem não observasse. Sua boca ensaiava dizer algo, mas o silêncio permanecia entre nós. Vendo-o angustiado e desorientado, compadeci-me dele e comentei, enquanto encostava meu rosto na lateral da porta:

— Você esteve ótimo hoje à noite. Diverti-me muito — e pisquei os olhos, fazendo charme para ele.

Funcionou. Em uma fração de segundos, vi seu semblante relaxar, e ele aquietar seu corpo. Seus olhos intercalavam entre minha pupila e lábios. Era evidente que ele queria me beijar. Depois de engolir em seco, falou:

— Não vai me convidar para entrar? — e inspirou fundo, como se tivesse precisado de muita coragem para ter perguntado.

— Aidan, acho melhor irmos devagar. Sabe de tudo que passei. Não quero apressar as coisas. Por que não saímos na próxima semana e almoçamos?

— Na próxima semana? — perguntou ele, franzindo a testa, quase elevando o tom de voz, considerando a distância entre um encontro e outro como uma eternidade.

— Se estiver ocupado, podemos nos ver em duas semanas — respondi, fazendo-me de desentendido.

— Quero almoçar com você amanhã, Gaius! — comentou, em tom de súplica.

Sabia que diria isso. Ele está mais ansioso que nunca. Isso é ótimo. Pensei. Arqueei as sobrancelhas e abri a boca, dando a entender que estava surpreso com o que ouvi.

— Aidan, tenho algumas coisas já marcadas. Estou organizando minha vida... Não tenho nem local certo para morar.

— Posso ajudá-lo com tudo isso. Contrato pessoas para fazer o que precisar. Por favor, deixe-me ajudá-lo — e moveu levemente a cabeça para a esquerda, depois de franzir a testa, como um cão que abana seu rabo ao pedir comida a seu dono.

Sorri para ele, dei alguns passos em sua direção e levei minha mão esquerda em seu rosto, acarinhando-o suavemente. Nisso, beijei o outro lado de sua face demoradamente, bem próximo à boca, e deslizei minha mão direita em sua cintura ao mesmo tempo. Aidan pressionou sua mão direita sobre a minha esquerda, enquanto se deliciava com aquele beijo casto e solene. Afastando-me dele, comentei baixinho:

— Prometo que vou marcar um encontro nos próximos dias — e fui dando as costas para ele, que segurava minha mão na tentativa de prolongar aquele momento.

— Por favor, almoce comigo amanhã — e apertou a ponta dos meus dedos, enquanto eu caminhava para dentro da suíte.

— Boa noite, Aidan! — respondi, soltando a mão dele.

— Por favor, deixe-me entrar — e respirou fundo.

— Boa noite, Aidan! — respondi novamente, fechando a porta devagar, mirando bem em seus olhos brilhantes, que não escondiam o seu tesão.

Preciso de um banho. Pensei, tentando acalmar meu corpo, que, naquele momento, tinha resistido a um dos homens mais belos que meus olhos já viram. Livrei-me das roupas leves que escolhi para jantar com Aidan e, em segundos, estava nu, caminhando para o banheiro. Abri o chuveiro e deixei que a água esfriasse meu corpo cheio de desejo. Não resisti e masturbei-me, esporrando abundantemente. Durante a madrugada, acordei várias vezes com a boca seca e uma inquietação que insistia em não passar. Meu sono era leve, e minha mente não pensava em outra coisa a não ser sexo. Aquilo perturbava meus pensamentos. Depois de vários cigarros, algumas taças de vinho e de trocar de posição na cama várias vezes, duelando com os lençóis e travesseiros, consegui adormecer novamente.

As imagens não eram nítidas. Recobrava a consciência devagar e sentia-me zonzo, quando inclinei meu corpo na cama para ver o que estava acontecendo. Depois de coçar os olhos, vi Rosa e Aidan entrando na minha suíte. Rosa dizia a ele para não entrar, pois eu estava dormindo e não gostava que me acordassem, enquanto Aidan a ignorava e caminhava em direção à minha cama, carregando em sua mão um pequeno buquê de flores.

— Algum problema, Rosa? — perguntei, tentando entender aquele tumulto.

— Este senhor invadiu o quarto dizendo que é seu amigo. Entrou assim que abri a porta...

— Desculpe se o acordei. Estava aqui por perto e resolvi ver se precisava de alguma coisa — falou Aidan, interrompendo Rosa.

Nisso, ele apoiou um joelho sobre meu colchão, beijou meu rosto e continuou, alegremente:

— Bom dia! Trouxe para você! — e estendeu as flores cônicas do Tennessee diante de mim.

Eram lilases e lindas. Recebi e agradeci-lhe, ao mesmo tempo em que descobri meu corpo das cobertas e levantei-me da cama. Caminhei até Rosa, pedi que ela pusesse as flores em um jarro com água e, também, que nos deixassem sozinhos, pois precisava conversar com Aidan.

— Quer o seu café aqui ou vai tomar no bar? — perguntou, injuriada por não ter conseguido impedir a entrada dele em minha suíte.

— Vou tomar aqui, mas só peça para daqui a uma hora — respondi.

Ela encarou meus olhos, como se quisesse me dizer algo.

— O que foi, Rosa? — perguntei, quase sussurrando.

— Você está só de cueca — falou baixinho, meio envergonhada.

— Se for por causa dele, não se preocupe. Ele já me viu pelado — e dei um sorrisinho safado para ela.

Rosa se indignou com meu comentário, torceu os lábios e deu as costas para mim, saindo do quarto, imediatamente, com certeza, desaprovando o que ouviu. Ao olhar para minha cama, vi Aidan, que ao encontrar meus olhos, logo ficou em pé e deixou transparecer um semblante preocupado, como se esperasse receber uma bronca por ter me acordado. Ele vestia uma camiseta bege, que prendia um par de óculos escuros esportivos, uma bermuda marfim e um par de tênis branco. Estava provocante e sexy, bem como sugere o verão. E nós dois estávamos sozinhos em meu quarto. Aproximei-me dele com cara de zangado, sugerindo com o olhar que brigaria. Como criança levada que foi pega pelos pais, ele esperava por isso. Parei, com meu corpo quase colado no dele, e encarei seus olhos assustados, ainda com os lábios serrados. Nisso, ele tentou se explicar:

— Desculpe acordar você. É que...

— Cale a boca, Aidan! — e joguei minha mão no meio das pernas dele, apertando suas bolas.

Ele arfou no mesmo instante, e petrificou seu olhar surpreso em mim.

— Você sabia que eu detesto que me acordem? — e apertei mais um pouco.

Ele fez cara de dor e respondeu, espremendo-se para que a voz saísse:

— Não sabia. Por favor, desculpe.

— Da próxima vez que me acordar, juro que arranco seu pau fora. Entendido? — e dei um último apertão.

— Entendi. Por favor, não aperte mais. Está doendo muito — suplicou, quase com cara de choro.

Nisso, afrouxei a mão e comecei a deslizá-la sobre a bermuda, para cima e para baixo, transfigurando meu olhar e rosto sérios naquilo que sentia: tesão. E comentei:

— Normalmente, pela manhã, acordo com muito tesão.

— É mesmo? — perguntou ele, assumindo uma cara de safado.

— Ponha para fora. Quero chupar seu pau.

O rosto de dor de Aidan transfigurou-se em desejo instantaneamente.

— Oh, meu Deus! Assim, tão rápido? — perguntou, tentando assimilar o que ouviu.

— Quero lamber seu pau — e selei minha boca na sua, invadindo-a suavemente, pressionando meu corpo quase nu contra o dele.

Aidan não resistiu e respondeu, de forma carinhosa, ao meu beijo. Suas mãos passeavam pelo meu corpo ao mesmo tempo em que eu sentia seu membro crescer contra a bermuda, toda vez que ele puxava meus quadris contra os dele. Ele está de pau duro. Pensei. Em um movimento suave, larguei a boca dele e ajoelhei-me. Com cuidado, abri sua bermuda e a baixei com a cueca branca até a metade de suas coxas. Comecei a cheirar suas bolas e virilhas. Elas exalavam um aroma de limpeza. Seu membro estava ereto, e a glande melada. Que delícia! Pensei. Olhava para ele, que mantinha seu olhar de luxúria sobre mim. Nisso, vi-o flexionar os joelhos e segurar seu membro, posicionando-o suavemente em minha boca, enquanto pedia carinhosamente:

— Você quer chupar? Chupe, meu amor. Abra sua boquinha e chupe a cabeça do meu pau — e enfiou bem devagar, sugerindo que eu começasse pela glande.

Depois que abocanhei e molhei seu membro, enquanto o ouvia gemer e retorcer o pescoço para trás, levei minha mão às suas bolas, acarinhando-as com as unhas. Comecei a fazer movimentos de vaivém com a boca, molhando o pênis dele inteiro, regozijando-me com aquele gosto divino. Os gemidos de Aidan foram aumentando. Repentinamente, senti um jato em minha boca. Abri os olhos, de supetão. Depois mais um jato, e vários outros em seguida. Ele já está gozando? Não acredito! Pensei e arregalei os olhos, tentando não acreditar que ele já havia chegado ao orgasmo tão rápido. Percebendo que minha boca estava inundada do líquido dele, engoli e fui diminuindo os movimentos, até que parei por completo ao sentir seu membro ficar flácido. A ira me possuiu. Levantei, consternado, e dei as costas para ele, buscando um cigarro. Ficamos alguns instantes em silêncio. Então, ele falou:

— Desculpe. Não consegui me controlar — enquanto subia a cueca e a bermuda visivelmente envergonhado.

— Em menos de cindo minutos, Aidan? — perguntei e dei um trago.

— Desculpe, meu amor. Você me pegou de surpresa. Eu não esperava... E a sua boca é muito morninha. Aí, eu não aguentei.

— Egoísmo da sua parte. Não pensou que, talvez, eu quisesse que você me comesse não? — inqueri, irritado e elevando o tom de voz.

— Por favor, desculpe-me. Prometo que não vai acontecer. Vamos tomar um banho. Daqui a pouco nós começamos de novo.

— Não quero mais — respondi, chateado.

— Não fique bravo. Não fiz porque quis...

— Tudo bem, Aidan. É melhor você ir. Daqui a pouco Alyce chega, e nós temos muito o que fazer — sugeri, interrompendo-o.

— Podemos, ao menos, jantar mais tarde? — e foi se aproximando, tentando me beijar.

— Vou pensar. Se der certo, ligo para você — e desviei do seu beijo, levando-o até a porta.

— Você ficou chateado. Por favor, perdoe-me. Não fique bravo comigo... — dizia repetidamente, enquanto eu o empurrava para fora da suíte, batendo a porta com força quase na cara dele.

Que inferno! Pensei e procurei uma das taças espalhadas pelos móveis do quarto para beber vinho e terminar meu cigarro. Depois de dar um gole, ouvi a porta bater novamente. Não acredito que ele não foi embora! E caminhei apressado para esbravejar contra ele. Abrindo a porta violentamente, vi Alyce, segurando pastas e agendas em seus braços, como uma adolescente que carrega livros para o colégio. Soltei o ar dos meus pulmões demoradamente, tentando me acalmar. Dei as costas para ela, que logo foi entrando.

— Bom dia!

— O meu começou péssimo — respondi, deixando claro que estava de mau humor.

— Lamento. Posso fazer alguma coisa para ajudar? — perguntou, prestativa.

— Pode, sim. Na minha bolsa, tem cartão de crédito. Se necessário, tem dinheiro também. Por favor, entre em contato com Alexander e solicite um cartão de crédito para que você possa usar em minhas despesas pessoais. Ele controlará os gastos. E contrate um garoto de programa para estar aqui em três horas — ordenei, ainda irritado, e dei o último trago no cigarro.

— Oh, meu Deus! Como vou conseguir alguém em tão pouco tempo, Gaius? — perguntou ela, meio angustiada.

— Sei que é capaz — e caminhei até o banheiro.

Enquanto baixava minha cueca melada, ouvi Alyce perguntar:

— Alguma preferência?

Pelado, fui até a porta do banheiro, encarei seus olhos apreensivos e respondi:

— Um loiro, alto, forte e sem pelos. De preferência, bem-dotado. Tomarei café no bar, depois verei Juanita e Arthur, e resolverei algumas coisas com Rosa. Avise à recepção que preciso de uma esteticista para depilação. Diga que quero para daqui a uma hora e meia. Quando o garoto chegar, você pode trabalhar na suíte de Rosa. Concentre-se na contratação de um relações públicas. Dê prioridade a isso. E outra coisa, Alyce. Certifique-se de que o rapaz seja loiro e, de jeito nenhum, que tenha cabelos pretos e a pele queimada. Quero um loiro! Vou me vingar do que Aidan fez comigo hoje! — e fechei a porta, tentando não rir ao me lembrar da cara de espanto e o abrir de boca de Alyce, enquanto eu falava.

Banho, café da manhã, conversar com Juanita e Arthur, depilação... Que disciplinado você está, Gaius! O que a certeza de uma boa foda no início da tarde não faz com você, não é? Pensei, entusiasmado, entrando debaixo do chuveiro. Horas depois, abri a porta da minha suíte e vi um rapaz loiro, enrolado em uma toalha, fumando um cigarro na varanda. Percebendo que eu entrava, encarou meus olhos, mantendo seu rosto impassível. Em silêncio, caminhei até ele, que continuava me examinando com aqueles olhos apertados, enquanto o vento balançava seus cabelos molhados. Próximo do meu corpo, perguntou, deixando escapar a fumaça por sua boca e nariz:

— O que você quer?

— Que você meta no meu cu com força e goze na minha cara. E se prepare, pois não sairá daqui tão cedo — respondi.

No outro dia, Alexander e Alyce me esperavam em minha suíte às 17h para uma reunião. Juanita, Arthur, Rosa e eu tínhamos saído no início da tarde para almoçar e comprar alguns livros de psicanálise para mim, visto que já pesquisava respostas sobre a minha vida há muito tempo. Naquele momento, a leitura se apresentava como um refúgio para a espera dolorosa que vivia. Fazia questão de incentivar as duas a ler também. Rosa não se interessava pela prática, Juanita demonstrava entusiasmo ao me contar o que tinha aprendido após ler cada livro, e Arthur já era acostumado a ler desde criança, o que não exigia, de mim, nenhuma motivação, mas estava muito focado em assistir a vídeos pela internet, o que o dispersava da leitura. As aulas diárias de inglês estavam funcionando para elas, pois já compreendiam bem o que escutavam e até conseguiam formular algumas frases corretamente. Por isso, incentivava a leitura. De fato, James fazia um excelente trabalho. De volta ao hotel, depois de me despedir deles, tranquei a porta e joguei as sacolas sobre a cama. Na mesa, havia dois mackbooks ligados e três celulares quase se perdiam no meio de tantas agendas e papéis soltos. Alyce e Alexander trabalhavam a todo vapor.

— Oi! — saudei-os e, logo, procurei uma taça para dar um gole no vinho.

— Temos muitas coisas para resolver, Gaius — comentou Alyce, empolgada, antecipando-se nos assuntos.

— Alexander, o contrato de confidencialidade de Alyce está pronto? — perguntei e dei um gole.

— Sim. Quer revisar? — respondeu ele.

— Está de acordo com a última revisão?

— Sim.

— Alyce, por favor, leia e assine. Vou adiantando com Alexander. Daqui a pouco trataremos dos seus assuntos — e olhei para o advogado, sugerindo que começasse a falar, enquanto acendi um cigarro.

— Gaius, estamos de olho em três empresas. Não são tão grandes quanto às últimas que apresentamos a você, mas é possível obter um lucro significativo depois de finalizarmos. Duas de fast food e a outra é uma casa de entretenimento adulto — e levantou-se, caminhando até mim com duas pastas de relatórios que continham o histórico, a fundação, o segmento de atividade, localização, balanço financeiro dos últimos três anos, um plano de investimentos para reforma, o valor da venda e a probabilidade de lucros para mim, entre outras informações que não me recordo.

— Você sabe que não olho essas coisas, Alexander. Tenho confiado no seu trabalho. Até agora, nossa parceria tem funcionado bem para ambas as partes — e joguei as pastas sobre a cama, depois de receber das mãos dele.

— Sabe que preciso fazer isso, Gaius. Se tiver alguma dúvida, pode consultar a qualquer momento.

— Qual a porcentagem de lucros para mim ao final de tudo? — perguntei, incisivamente.

— Estimamos um lucro de quarenta e três por cento sobre o valor da venda. Depois dela, pagamos o investimento e lucramos isso.

— Estamos falando de quanto, Alexander? — e dei um trago no cigarro, atento à resposta que daria.

— Quase uma dezena de milhões de dólares, somando as três empresas — e sorriu levemente para mim, fazendo sinal com os olhos de que não queria explicitar o valor exato por causa de Alyce.

— Realmente, é bem menos do que lucramos no investimento anterior, não? Quanto tempo? — perguntei.

— Acredito que três ou quatro meses, no máximo. Se desejar, posso contratar mais pessoas e acelerar as reformas, finalizando em até três meses. Acho que consigo — e me olhou, esperando uma resposta.

— O negócio é seguro, Alexander?

— Muito seguro. Estão vendendo muito abaixo do valor de mercado, Gaius. Problemas familiares e amorosos.

Quem não os tem? Pensei. Afastei-me da cama onde estava e caminhei para a varanda, sendo acompanhado por ele. Sentindo o vento bagunçar meus cabelos, continuei, agora com mais liberdade, já que Alyce não podia nos escutar.

— É a sexta empresa de fast food que você me sugere comprar, Alexander. Não entendo sua obsessão nesse segmento. Poderíamos lucrar muito mais com empresas locais e que não façam parte de uma rede, pois os investimentos são menores. Lucramos bastante, é fato, mas acabo tendo que soltar mais grana nas reformas. Poderíamos investir menos e lucrar a mesma coisa — argumentei, não compreendendo a lógica que movia os pensamentos do meu advogado e administrador financeiro.

— Gaius, as empresas de fast food em países como China, Japão, Brasil e Reino Unido são extremamente lucrativas, principalmente nas regiões mais pobres. Nossos compradores gostam de fast food. Não esqueça que nós não ficamos com as empresas. Compramos por um bom preço dos proprietários endividados, reformamos e vendemos com valor bem-alterado para nossos compradores. Nossos lucros com fast food só crescem. Desculpe, mas disso você não pode reclamar — e impôs seu profissionalismo brandamente sobre minhas opiniões amadoras.

— É verdade. Onde ficam essas empresas?

— As de fast food ficam em São Paulo, Brasil. A casa de entretenimento adulto fica em Manhattan, não muito distante do Rio Hudson, em um local reservado.

Hum! Aqui em nova Iorque? Pensei e senti uma enorme curiosidade latejar em meu ser. Depois de mais um gole no vinho e alguns instantes em silêncio, assenti:

— Você tem minha autorização para comprar e reformar as empresas de fast food no Brasil. O clube de sexo, eu quero conhecer antes de autorizar. Diga ao proprietário que iremos na sexta à noite, com a casa aberta. Quero ver o que acontece lá dentro — e dei um trago demorado, empolgando-me.

Alexander emitiu um ruído com a garganta, como se quisesse dizer alguma coisa.

— O que foi? — perguntei, franzindo a testa.

— Não sei se percebeu, mas os tabloides já noticiaram que você voltou a morar em Nova Iorque. Considerando o que eles têm falado, não recomendo que você seja visto em um local desses.

— Por quê? — inqueri.

— Gaius, seu livro vendeu muito ao longo desses anos. Você ficou muito conhecido aqui. A imagem que as pessoas têm de você agora é bem diferente da que era passada pelas colunas sociais há alguns anos pelo trabalho da empresa da sua família.

— Está exagerando, Alexander — comentei.

— Não estou, não. Muito foi falado a partir do que você escreveu no livro. Foram muitas confissões de foro íntimo, Gaius. Isso mobilizou muitas pessoas, grupos de pessoas, associações e entidades religiosas. Deveria pensar nisso. Confesso que me preocupo em você andando sozinho nas ruas. Deveria se dedicar mais em pensar sobre o que digo. Não seria ruim contratar um segurança — sugeriu.

Se bem que percebi algumas pessoas olhando diferente para mim nas lojas hoje à tarde. Pensei e lembrei-me do que aconteceu no The Palm. Nisso, considerei que deveria investigar que reputação eu tinha naquele momento em Nova Iorque. Curioso, perguntei:

— O que as pessoas falam sobre mim, Alexander?

— Gaius, você escreveu um livro contando como rejeitou um casamento sólido e feliz com Maison para fugir com seu irmão Pablo para viver um relacionamento amoroso. O que acha que as pessoas pensam disso? E não podemos esquecer que você fez acusações sérias sobre a conduta sexual de Marcus, além de narrar detalhes do seu sequestro e toda aquela violência que sofreu. Reflita sobre o que digo. Temo por você — e saiu da varanda, deixando-me sozinho com meus pensamentos inquietos e aquele vento, que insistia em continuar assanhando meus cabelos.

Olhei para a taça em minhas mãos e vi que o vinho tinha acabado. Droga! Então, dei o último trago no cigarro e falei em voz alta:

— Alyce, ligue para Aidan. Preciso falar com ele. E marque com Ryder hoje às 23h.

Preciso transar antes de dormir. E já que estou sob os holofotes, melhor ficar somente com um garoto de programa. Pensei, entrei na suíte e sentei-me à mesa para tratar dos meus assuntos com ela.

Alguns minutos antes das 23h30, ouvi que alguém batia na porta da minha suíte. Deve ser ele. Após abri-la, vi Ryder, pedindo desculpa com os olhos. Ele foi entrando e já se explicando:

— Desculpe o atraso. Tive problemas com minha mãe. O remédio dela demorou para fazer efeito. Quase não dormiu. Não sei mais o que fazer. Ela tem Parkinson e precisa de alguém em tempo integral...

— Ryder, não quero saber dos seus problemas. Vá tomar banho. Vou preparar uma taça de vinho para você. Hoje, dormirá aqui — ordenei, interrompendo-o e deixando claro que não estava disposto a ouvir queixas familiares dele.

— Alyce não disse que teria que dormir aqui — comentou, quase em tom de negação.

— Mas eu estou dizendo. Vai ganhar quatro vezes mais que o combinado. Vá tomar banho — ordenei novamente.

Ele fez cara de preocupado por ter de deixar a mãe sozinha, mas ficou contente ao saber que quadruplicaria seu cachê.

— Vai precisar de estimulante? — perguntei, sugerindo que a noite seria longa.

— Não vou, bebê. Você é gostosinho demais. Não precisa. Nada de estimulante — e começou a retirar a jaqueta barata que vestia, tentando fazer uma cara sexy para mim, enquanto falava.

Nisso, completei:

— Que bom. E prepare-se, pois hoje vou comer você também.

De supetão, ele virou seu rosto para mim e abriu a boca, pasmo com o que ouviu. Ryder e eu tínhamos bebido três garrafas de vinho e estávamos secando a quarta. As taças espalhadas pela suíte e o cheiro de cigarro demonstravam o quanto estávamos embriagados e nos divertindo. Uma trilha sonora provocante embalava aquela madrugada de sexo tórrido, onde o carpete, a cama, as cadeiras, a varanda e o banheiro serviram de cenário para as várias posições que fizemos. Não recordo ao certo, mas devia passar das 3h. Ryder estava de quatro na cama, e eu lambia seu ânus. Adorava sentir aquele gosto azedo em minha língua. Repentinamente, alguém bateu na porta. Que inferno! Só pode ser Rosa. Engoli e gritei:

— Estou ocupado, Rosa! — e voltei a lamber aquele orifício encardido e peludo.

— Oi, Gaius! É Aidan! Abra a porta, por favor.

Meus olhos esbugalharam. Meu Deus! É Aidan! Pensei, tentando assimilar o que ouvi e o que faria para que ele não visse Ryder lá. O garoto loiro olhou para mim, tentando saber quem batia na porta. Fiz sinal a ele, ordenando que ficasse calado e sussurrei que fosse para o banheiro, mas não trancasse a porta. Ele obedeceu, e eu logo me levantei, tomei um gole de água e cobri meu corpo nu com um roupão branco, torcendo para que, em segundos, meu pênis ficasse flácido. Parado na frente da porta, inspirei fundo e soltei devagar, relaxando meus ombros, enquanto tentava parecer natural. Quando abri a porta, vi Aidan com o rosto de preocupação.

— O que faz aqui? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.

— Não consegui dormir. Depois que falei com você, fiquei preocupado com o que me contou. Então, vim ver como estava e ficar aqui com você — e foi entrando na suíte.

Oh! Meu Deus! O que faço? Acalme-se, Gaius! Aja com naturalidade.

— Não precisa se preocupar, Aidan. Acho que a conversa com Alexander me deixou nervoso. Por isso, liguei para você. Só queria conversar um pouco e saber como estão as coisas com relação ao meu nome aqui em Nova Iorque — comentei, enquanto fechava a porta e me esforçava para não me atropelar nas palavras de tanto nervosismo.

Aidan observava a suíte, passeando seus olhos pelas garrafas secas no chão, até que encontrou meus olhos e comentou:

— Estava bebendo? — e aproximou-se de mim, esperando uma resposta.

— Às vezes, tenho dificuldade para dormir. Fico bebendo, ouvindo música, lendo, fumando, fazendo bagunça... Assim o sono chega. Por isso, não gosto que me acordem pela manhã. Acho que, depois do que passei, é normal ter um pouco de insônia, não é? — perguntei, já apelando ao sentimento dele, enquanto cruzei pelo seu corpo, caminhando para o lado oposto ao banheiro, dando um gole demorado no vinho.

— Entendo você. Vem aqui — e foi ao meu encontro, envolvendo-me em um abraço demorado.

Respondi ao abraço dele e, por um instante, percebi que meu coração estava disparado. Nisso, ele comentou:

— Vou dormir aqui com você.

Oh, Meu Deus! Como vou sair dessa enrascada?

— Não acho uma boa ideia, Aidan. Hoje, quero ficar sozinho. Não seria uma boa companhia. E ainda estou com raiva do que você fez comigo — e fiz cara de manhoso para ele.

— Desculpe, meu amor. Você me pegou de surpresa, e eu fiquei nervoso. Por isso, gozei rápido. Prometo que não vai mais acontecer — e levou seus lábios aos meus, fechando os olhos e me beijando com suavidade.

Respondi ao seu beijo, envolvi sua nuca com minha mão, acarinhando-a e, depois, deslizei minhas unhas pela barba áspera que nascia em seu rosto. Aidan passeava sua mão em minha cintura e pressionava-me contra seu membro, que endurecia e latejava contra a calça jeans que vestia. Nisso, larguei a boca dele devagar e comentei:

— Você sabe que eu gosto de ser comido e me privou desse prazer no outro dia. Ainda estou com raiva de você.

Aidan enlouquecia sempre que eu falava manhoso com ele, quase assumindo uma voz infantil, torcendo os lábios como uma criança que faz birra, quando quer algo. Vi seus olhos cor de âmbar transparecerem o seu tesão em mim naquele momento.

— Não vai mais acontecer. Deixa eu comer você agora. Prometo que faço o que quiser. Hein? Podemos fazer de ladinho, que é como você gosta. Lembra de como eu comi você na primeira vez? Foi de ladinho e você gemeu, quando eu enfiei. Hein? Deixa, meu amor. Tô com muito tesão em você. Por favor... — e deixava um rastro de beijinhos em meu pescoço, de um lado e do outro, provocando-me com aquelas frases quentes.

— Você quer me comer? — perguntei, emitindo uma voz infantil.

— Quero. Prometo que faço o que quiser, do jeito que quiser. Hein? O que acha? — e continuava tocando minha pele com aqueles lábios macios e aquela barba áspera.

E se eu transar com ele e, depois, pedir para que vá embora? Ele vai querer usar o banheiro depois. Vai querer dormir aqui. Não, Gaius! Não será bom! Ponha-o para fora agora! Pensava e tentava resistir às suas investidas sexuais.

— Por que não fazemos assim? Você vai para casa descansar e eu vou tentar dormir. Amanhã, depois das 14h, por que não vem aqui para passarmos a tarde juntos? Posso pedir nosso almoço na suíte. O que acha? — e lancei, em sua pupila, um olhar provocante.

— Já estou aqui, meu amor. Quero ficar. Deixe-me ficar — e continuava a beijar meu pescoço e deslizar sua mão em meu corpo, tentando-me convencer a ceder ao seu tesão.

— Não me preparei, Aidan. Não será bom se acontecer agora. Amanhã será melhor — e abracei-o, sentindo-o respirar fundo, enquanto buscava forças em seu interior para controlar todo aquele desejo.

— Tudo bem. Eu venho amanhã. Mas prometa que vai dormir, certo? Amanhã, precisa estar descansado. Chega de beber por hoje — e, finalmente, convenceu-se de que deveria ir embora.

— Prometo que vou tomar um banho e dormir para amanhã estar descansado.

Nisso, afastei-me dele, segurando em sua mão e conduzindo-o até a porta. Ele beijou minha boca demoradamente e, antes de sair, comentou:

— Olha como você me deixou — e riu, olhando para sua calça, que mostrava, claramente, seu membro excitado.

— Guarde toda essa energia. Prometo que resolvo isso amanhã. Boa noite! — e dei uma piscadela para ele, fazendo cara de safado.

— Uma última coisa. Vou contratar uma equipe para fazer a sua segurança. Ficarei mais tranquilo assim.

— Tudo bem, Aidan. Fazemos como você quiser. Boa noite! — e beijei seus lábios castamente.

— Boa noite, meu amor. Durma bem — respondeu ele.

Nunca senti um alívio tão prazeroso em toda a minha vida, quanto àquele ao fechar a porta. Obrigado, Senhor Jesus! Seria capaz de cantar um hino de louvor aos céus em agradecimento por ter me livrado dele naquele momento. Ainda ofegante, vi Ryder sair do banheiro, rindo do meu desespero. Depois de também me ver rir, ele perguntou:

— É seu namorado?

— Não. É o homem com quem vou me casar. E esta noite, você quase estragou meus planos. Onde estávamos mesmo? — perguntei.

— Você estava lambendo meu cu — respondeu ele, fazendo cara de quem estava gostando.

— É verdade. Pegue a camisinha. Agora, vou meter em você.

No dia seguinte, Aidan chegou à minha suíte no horário que combinamos. Estava preparado para uma tarde de sexo, pois necessitava me aproximar dele para que as coisas começassem a acontecer. Era um investimento, e estava disposto a fazê-lo. De fato, não foi um sacrifício tão grande ir para a cama com ele, pois, mesmo que a mescla de sentimentos confusos reinassem em minha mente, não podia ignorar que Aidan era gostoso, além de ser um dos homens mais bonitos de Nova Iorque. Pensei em tudo isso ao vê-lo caminhar faceiramente pela minha suíte, aproximando-se de mim, como criança que vai ao parque de diversões. Seu sorriso e felicidade eram evidentes. E, antes que ele me entregasse mais um buquê de flores que me trouxe, pedi:

— Deixe-as obre a mesa e feche as cortinas. Gosto de fazer no escuro — e virei-me na cama, ficando de ladinho, empinando minhas nádegas nuas, enquanto abraçava meu travesseiro, em um gesto infantil e manhoso.

Aidan obedeceu. Logo, deitou-se na cama, pressionando seu corpo contra o meu e começou a beijar minhas costas nuas, enquanto empurrava um dos seus sapatos contra o outro, livrando seus pés deles. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, colada em seu tórax, o que valorizava seus braços depilados e fortes. Roçando em meu corpo, de ladinho, como me prometeu na noite anterior, passou a mordiscar minha orelha com seus lábios. Sua mão passeava entre minha cintura e coxas, e eu gemia cada vez que sentia sua excitação pressionar minhas nádegas.

— Está lindo, meu amor. Adoro vê-lo sem roupa e manhoso na cama. Fico com mais tesão ainda — falou, virando meu rosto para me beijar.

Sua língua não conseguia se controlar dentro da minha boca e passeava de forma suave, explorando-a. Aidan gemia baixinho e melava meus lábios em um beijo molhado e romântico. Meus olhos estavam fechados e o tesão que sentia era tamanho, ao ponto de me fazer contorcer o corpo inteiro, enquanto ansiava o momento em que ele entraria inteiro em mim. Percebendo o quanto eu estava entregue àquele momento, ele deslizava as pontas dos dedos sobre meus braços e coxas, em um movimento de prazer torturante e angustiante para mim. Eu gemia, retorcia-me e extasiava-me com o que ele fazia. Nisso, sussurrou:

— Meu pau está molhado. Você quer chupar? — perguntou ele, quase que implorando para sentir novamente minha boca morna em seu pênis.

Arfei duas ou três vezes, quase que ao mesmo tempo. E respondi:

— Não. Por favor, coma-me. Enfie bem devagarinho. Está com muito tempo que eu não transo.

Ouvi a respiração dele estremecer. Abri meus olhos e fitei-o. Suas pupilas reluziam. Então, obediente, ele abriu o botão da calça, abaixou-a com a cueca até metade das coxas e pediu para eu levantar a perna. Em segundos, senti seus dedos gelados lubrificarem meu ânus de saliva. Ao dar o primeiro gemido, Aidan abriu a boca e franziu a testa, possuído de prazer. Retorci meu pescoço para trás e molhei meu lábio inferior, apertando-o com meus dentes. Ele me beijou e enfiou a ponta do dedo em meu ânus, mordiscando meus lábios com os seus, ainda com a respiração estremecida.

— Ai, meu amor. Devagar. Está doendo — pedi, manhosamente.

O corpo dele estremeceu.

— Não diga essas coisas, meu amor. Fico com mais tesão, se ficar falando.

— Por favor, coma-me. Enfie só a cabecinha. Tenho medo de doer.

— Não vou machucar você. Vou enfiar só a cabeça e bem devagar. Prometo — respondeu, sussurrando.

Ele molhou seu membro com saliva e mirou bem, até que foi enfiando com calma. Senti minhas carnes se alargarem, quando sua glande entrou. Gemi e pedi, provocando-o:

— Devagar. Por favor. Enfie devagar — em tom de súplica.

Aidan enlouquecia ao me ouvir falar e gemer. Percebi que ele mexia o quadril, enquanto levantava minha perna para facilitar a penetração. Ele me invadia com cuidado, suavemente, olhando para meu rosto. Comecei a gemer mais e mais e a pedir para ele não enfiar tudo. Fechei meus olhos e entreguei-me àquele prazer. Fazendo charme e manha para ele, repetia que estava doendo:

— Aidan, está doendo. Enfie devagar. Está doendo, meu amor...

Gemendo e falando, senti meu ânus ficar úmido quase que instantaneamente. Nisso, ouvi um grito demorado dele em meu ouvido, enquanto derreou sua cabeça sobre meu pescoço, explodindo de prazer.

De novo? Não acredito que ele já gozou! Encarei-o com cara de ódio. E, antes que eu esbravejasse, ele falou:

— Por favor, perdoe-me. Eu não aguentei. Desculpe. Desculpe...

Afastei-me dele, levantei-me da cama e gritei:

— Você não é homem nem para me comer direito, Aidan? Saia do meu quarto! Agora! — e apontei o dedo para a porta.

A decepção em seu rosto era visível. Aidan tinha um problema de ejaculação precoce. Depois da segunda vez que gozou rapidamente comigo tonou-se impossível não admitir isso. Jogando seus sapatos sobre ele, agarrei sua camisa e empurrei-o para fora do meu quarto violentamente, xingando-o de molenga e frouxo. Ele só se defendia dos meus tapas em seus ombros e peito, tentando guardar seu membro na cueca e subir as calças apressadamente. Ao apanhar de mim, desculpava-se e pedia mais uma chance para tentar de novo. O ódio se apossou do meu ser, e eu não ouvia o que ele dizia. Só queria me livrar dele o mais rápido possível. Depois de bater a porta com força, dei um grito de raiva. E, ainda bufando, liguei para Ryder e ordenei-lhe que fosse à minha suíte urgentemente.

Os dias que seguiram àquele foram de planejamento e preparação. Ignorei Aidan, suas flores e ligações por quase quatro dias, mas, depois, procurei-o e convenci-o a ir ao médico e investigar o que acontecia para que gozasse tão rápido comigo, visto que aquilo não era comum nele. Precisava estar com Aidan, mas na situação em que ele se encontrava, seria difícil para mim. Alexander me recomendou, veementemente, que não visitasse o clube de sexo próximo ao Rio Hudson, pois isso poderia contribuir para que a minha imagem ficasse comprometida. Desobedeci-o e fui conhecer aquele lugar instigante na sexta-feira daquela mesma semana sem ele saber. No outro dia, informei a ele que não tinha interesse em comprar o clube do sexo, e pedi que procurasse outra empresa para compor o projeto dos próximos três investimentos. Alyce contratou George para preparar meus drinks, Peter, como cozinheiro, e Max, como meu relações públicas. Precisava de alguém que entendesse a forma como me comunicava com as roupas, então, tive a ideia de chamar um velho amigo para cuidar disso. Desiludido por não ter conseguido ingressar na Gucci de Florença, e abandonado por Aidan durante o meu sequestro, Richard sobrevivia como freelancer da Vogue, que não pagava tão bem para manter o estilo de vida com que havia se acostumado quando ainda estudava e era sustentado pelos pais ricos. Richard não pensou duas vezes em aceitar a generosa quantia que propus a ele para me manter antenado com o mundo da moda e cuidar do meu visual e roupas, trabalhando duas ou três vezes por semana mais os dias em que eu tivesse eventos para ir. Os dias em que estive brigado com Aidan, Ryder dormiu todas as noites em minha suíte. E Juanita e Rosa avançavam no aprendizado do inglês com as aulas de James. Arthur, assim como eu, consolava-se nas fotografias e alimentava a saudade que não parava de machucar.

Peter, Max, Richard, George e Alyce aguardavam o momento em que compraria meu apartamento em Nova Iorque, e, assim, pudessem começar a trabalhar para mim. Para que isso acontecesse, precisava de Aidan, pois já tinha escolhido onde queria morar. Quando disse qual apartamento queria comprar a Aidan, ele hesitou e considerou o valor exorbitante. Mas depois que comentei que pagaria a metade e que lá seria o lugar onde nós dois moraríamos, vi um sorriso surgir em seu rosto. Em seguida, a preocupação dele ao saber que a cobertura ficava na Park South 220, que custaria mais de duzentos e trinta milhões de dólares e, também, que ele teria que desembolsar mais de cento e quinze milhões, caso quisesse me ter em casa todas as noites quando chegasse do trabalho. Aidan coçou a nuca discretamente como se estivesse temeroso ao gastar tanto dinheiro em um apartamento, mas, logo em seguida, deu um sorrisinho e balançou a cabeça, dizendo sim. Eu o beijei e pedi um champanhe ao garçom para comemorar. Na noite daquele almoço com ele, transamos em minha suíte no The Plaza, e mais uma vez ele teve uma ejaculação precoce durante o sexo. Mas, dessa vez, não briguei com ele e dormi em seu peito durante toda a noite, como ele mesmo pediu.

Depois daquela semana em que tudo se organizou e nós compramos o apartamento até o momento em que o pai de Aidan, o Senhor Daan, morreu, passou-se um ano. Há um ano, Aidan e eu morávamos juntos e tínhamos uma relação. E, durante esse tempo, estive orquestrando minunciosamente o que faria e como distribuiria as ações desse plano. Estabeleci uma linha do tempo para que as coisas acontecessem de forma gradual. E com a morte do pai dele, imaginei que fosse interessante começar a pôr em prática o que pensei.

Na manhã em que Alyce me contou sobre a morte do Senhor Daan, ainda no banho, relaxado sob aquela água que limpava e organizava meus pensamentos, lembrei-me de algumas coisas que aconteceram desde o momento em que voltei a Nova Iorque pela segunda vez até aquele dia fatídico, conforme descrevi. E resolvi que não poderia desperdiçar aquela oportunidade. Era o momento perfeito. Alyce e os seguranças me esperavam na sala de estar do meu apartamento e, juntos, iríamos pegar o avião que me levaria ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Depois de vestir a roupa, encarando meu rosto levemente maquiado no espelho do banheiro, Rosa entrou em meu quarto e perguntou, solícita:

— Quer comer alguma coisa antes de sair?

— Não, Rosa. Obrigado. Arthur está no colégio? — perguntei, deslizando o pincel com um pouco de pó em minhas bochechas e testa.

— Sim. Ele e Juanita estão animados com o retorno das aulas agora no fim do verão — e passou a juntar os lençóis da minha cama para lavá-los.

— Por favor, diga que precisei viajar e não estarei em casa para jantar com ele. Dê-lhe um pouco de atenção e não o deixe assistir à TV de forma nenhuma. Não quero que ele saiba da morte do Senhor Daan e de outras coisas pela imprensa. Melhor, mande retirar a TV do quarto dele e desligue a da sala. Se ele perguntar, invente que a empresa informou que fará uma manutenção pelos próximos dias. Invente alguma coisa, mas não o deixe assistir à TV pelos próximos dias. Entendeu, Rosa? — e larguei o pincel, procurando com os olhos um brilho labial incolor que hidratasse meus lábios.

— Pode deixar.

— São quase 17h. Devo chegar no Havaí de madrugada ou no início da manhã. Não sei quando conseguiremos retornar. Peço a Alyce para ligar com notícias — e, depois, fui até ela, encostei minha bochecha em seu rosto, carinhosamente, fazendo som de um beijinho, despedindo-me.

Enquanto caminhava pelo corredor dos quartos até a sala, liguei para meu relações públicas, Max:

— Precisamos antecipar a publicação do vídeo. Faça isso agora mesmo. E se certifique de que o estrago seja grande nos tabloides e internet. Estou falando em nível internacional. Entendeu, Max? — e desliguei, depois que ele afirmou que faria o que pedi imediatamente.

Ordenei a Max para enviar anonimamente aos tabloides norte-americanos um vídeo meu de dezessete minutos, onde estou transando com dois homens negros e bem-dotados. Na cena, um está embaixo de mim e o outro sobre mim. Estou recebendo uma dupla penetração anal, e fiz questão de, antes de iniciar a gravação, pedir ao cinegrafista para focar bem em meu rosto e em meu ânus, principalmente quando o sangue estivesse escorrendo. Considerando a situação e os meus propósitos, imaginei que o funeral do pai de Aidan fosse um momento bom para ele lidar com uma traição pública e uma exposição dessa natureza. Confesso que, depois que encerrei a ligação com Max, não me contive e dei um sorrisinho malvado, ansioso para que o escândalo explodisse o mais rápido possível. Não sei explicar o porquê, mas, naquele instante, lembrei do Grande dragão vermelho, de Blake, e, em uma fração de segundos, tive a certeza de que o placar entre nós dois era de um para mim e zero para o dragão.

***

Castrado

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