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CAPÍTULO DOIS
ОглавлениеAmsterdã
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No momento em que retornei a Nova Iorque pela primeira vez, um ano e seis meses antes da morte do Senhor Daan, Aidan e eu entramos em um acordo sobre o que fazer a partir dali. Na ocasião, disse a ele que precisava de um tempo para organizar minha cabeça, alegando que viajar seria algo importante para mim e me faria bem. Prometi que voltaria a Nova Iorque e o procuraria. Aidan não acreditou no que falei e não queria permitir que eu viajasse, alegando que eu já havia quebrado a promessa que fiz a ele uma vez, quando o convenci a me levar de Tijuana para Monte Carlo, para conversar com papai sobre tudo que Pablo me contou sobre sua mãe em troca de me separar de Maison para ficar com ele. Durante a discussão, ele relutava veementemente, argumentando que eu estava muito abalado por ter passado dois anos de país em país como um foragido. Mesmo depois de todas as minhas explicações, Aidan se mantinha inflexível em não me deixar viajar, reafirmando, por diversas vezes, que o que tinha aceitado fazer por mim era contra seus princípios e, também, que por causa daquilo, tinha a certeza de que perdeu a amizade de um amigo para sempre. Ele cobrava a minha presença como recompensa por aquilo que aceitou fazer por mim. De fato, sem ele, jamais teria conseguido o que queria naquele momento. Estávamos em um impasse, pois eu queria viajar, mas não podia romper com ele, visto que já tinha em mente o que faria em um futuro próximo. Só precisava encontrar uma maneira de convencê-lo a me deixar viajar. Então, comecei a chorar, dizendo coisas desencontradas, argumentando que não conseguia ficar em Nova Iorque naquele momento. Não demorou muito e, logo, vi o rosto dele se compadecer ao olhar para mim. Nisso, emocionado, abraçou-me e rendeu-se, afirmando que eu poderia viajar, mas que sabia que eu não o procuraria depois, pois já tinha mentido para ele uma vez. Apertei o corpo de Aidan contra o meu com força, solucei e afirmei que não se preocupasse, pois voltaria para ficar com ele sim. Ele beijou meus lábios castamente e, em sua pupila, vi que não acreditava no que eu dizia. Não tenho certeza, mas penso que quis me afastar de Aidan naquele momento por medo de não me controlar e estragar o plano que já arquitetava em minha mente.
No dia seguinte àquela conversa, em minha suíte no hotel, com minha mente agitada e inquieta, pensava em várias coisas. Uma delas era que não queria viajar com Rosa, Juanita e Arthur, que se tornaram a minha família e companhia. Queria viver a minha tristeza sozinho. E, assim, fiz. Onde vou deixá-los, meu Deus? Pensava, enquanto acendia um cigarro atrás do outro e secava, rapidamente, algumas taças de vinho.
Por mais que Arthur e eu ensinássemos algumas coisas do inglês para Rosa e Juanita, elas ainda não estavam preparadas para ficarem em um país onde precisassem falar somente em inglês, então, pensei que deveria deixá-los em uma cidade onde pudessem falar espanhol, enquanto eu faria uma viagem com o objetivo claro de chorar e viver a minha dor. Não tinha ideia de onde deixá-los. O que faço? Onde os deixo? Ajude-me, meu Deus! Estava muito abalado pelo que havia acontecido. Não sabia o que fazer e nem a quem pedir ajuda, visto que Aidan era totalmente contra tudo aquilo. Em um momento de claridade em minha mente, lembrei-me de Alyce, que, à época, ainda trabalhava para a House’s Barrys.
Recordo-me bem do momento em que ela entrou na suíte do hotel em que eu estava. Vendo-a, levei minha mão à boca e caí em um choro desesperado. Ela me abraçou, acalmou-me e pediu para eu contar tudo que aconteceu. Depois de duas garrafas de vinho e vários cigarros, ouvindo-me atentamente, horas depois, Alyce perguntou como poderia me ajudar.
— Não sei, Alyce. Não sei o que fazer. Estou confuso. Vi minha vida desmoronar em uma fração de segundos. Arthur, Rosa e Juanita são a minha família, e não consigo deixá-los com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Prometi a mim mesmo que cuidaria deles. Mas não consigo ficar aqui. Sinto-me asfixiado nesta cidade. Preciso sair daqui, se não enlouquecerei. Estou com medo de cometer uma loucura na minha vida. Preciso reorganizar minhas ideias e penso que ficar sozinho será bom para mim. Entende o que digo? Mas não sei o que fazer e nem para onde ir. Preciso deixá-los em um lugar seguro. Tenho medo do que possa acontecer com eles. Estou com medo. Por favor, ajude-me. Meu coração está cheio de dor e ódio — e levei minhas mãos ao rosto, tentando abafar aquele choro desesperado, que pulsava da minha face em meio a tantas frases desordenadas.
Alyce me abraçou, levou-me para a cama, deu-me um copo de água e pediu para eu dormir, afirmando que ficaria comigo na suíte até eu acordar, e, também, que pensaria em uma solução.
Horas depois, acordei mais relaxado. Abrindo os olhos, vi-a sentada em uma poltrona, com o celular na mão, digitando rapidamente. Parecia estar conversando com alguém por mensagens. Movendo-me na cama, os olhos dela voltaram-se para mim, e, logo, seu sorriso apareceu, acalmando-me. Ela pegou um copo de água, caminhou em minha direção e perguntou:
— Dormiu bem? — e estendeu o copo diante de mim.
— Sim. Onde eles estão? — respondi, dando um gole.
— Arthur e Juanita estão com Rosa na outra suíte. Estão brincando. Não se preocupe — e sentou-se na cama, olhando-me com ternura.
— Por favor, ajude-me, Alyce — e ameacei chorar novamente.
Ela me interrompeu, pedindo com a voz suave:
— Calma, Gaius. Vamos ter calma e pensar em alguma coisa juntos. Enquanto você dormia, tive uma ideia. Quero ver o que acha.
— Sou todo ouvidos — respondi, sentando-me na cama, atento, curioso e ansioso para ouvi-la.
— Você quer um tempo para ficar sozinho e pensar em tudo que aconteceu, certo? Para isso, precisa que Arthur, Rosa e Juanita fiquem em um lugar tranquilo com alguém de confiança, pois teme que alguma coisa aconteça a eles, certo?...
— Correto — afirmei, interrompendo-a.
— Desde que vim morar em Nova Iorque com minha tia, nunca mais voltei à minha cidade natal, nem mesmo depois que ela faleceu. Decidimos que ela seria cremada aqui. Faz muitos anos que não vejo minha mãe e irmão, Gaius. Meu pai faleceu quando ainda era criança. Recentemente, meu irmão vem relatando que tem sido cada vez mais difícil cuidar sozinho da minha mãe. Ela tem Alzheimer. Precisamos nos preparar para sua partida em breve. Imaginei que, se você concordasse, poderia me dar alguns meses de férias da empresa para visitar minha família. E Arthur, Rosa e Juanita poderiam ficar comigo lá pelo tempo em que você faz sua viagem. Garanto que eles ficariam seguros comigo e minha família. Na casa, só mora minha mãe e meu irmão. Ela é grande e tem vários quartos. Não faltaria conforto a eles. Assim, posso visitar minha mãe, que está no final da vida, e você pode fazer a sua viagem sem se preocupar com eles — falou com a voz branda, tentando não tremer o queixo ao mencionar a mãe doente, enquanto deixava transparecer a saudade que sentia dela e do irmão.
Senti uma faísca de esperança surgir dentro de mim, enquanto ouvia o que Alyce dizia.
— Sinto muito pela sua mãe, Alyce. Como é a cidade onde sua família mora? — perguntei.
— Minha mãe mora em uma cidade no interior de um estado brasileiro. Não passa de quarenta mil habitantes. É um lugar simples e seguro, com uma proposta cultural e de eventos que atrai turistas do mundo inteiro. É um bom lugar para se viver e descansar — afirmou ela.
A esperança dentro de mim só aumentava a cada palavra que ela proferia. Animado com a ideia, agradeci por fazer aquilo por mim e perguntei:
— Onde sua mãe mora?
— O nome da cidade é Gramado, no Brasil.
Depois que Alyce e eu nos entendemos sobre o tempo que eu precisava, e como as coisas deveriam funcionar na minha ausência, já entusiasmado por ela ter oferecido uma solução para aquela situação, tomei meu celular nas mãos e liguei para meu advogado. Enquanto Alexander não atendia, levantei-me da cama cheio de ímpeto, cobri meu corpo com o roupão e, logo, procurei uma taça de vinho para dar um gole.
— Gaius? — falou ele ao atender a ligação.
— Alexander, por favor, cuide para que a secretária do meu irmão, Alyce Stein, seja afastada de suas atividades na empresa. A partir de agora, ela não irá trabalhar mais no escritório, e isso será por tempo indeterminado. Ela enviará um e-mail a você com tudo que precisa para que transfira cem mil dólares para a conta pessoal dela. Ela passará alguns meses fazendo alguns trabalhos pessoais para mim, e o salário dela será mantido durante todo esse tempo. Alguma pergunta?
— Não, Gaius. Vou fazer o que pediu agora e aguardo o e-mail dela — e desligou.
Olhei para Alyce e sorri. Encontrei seu sorriso gentil de volta. Fui até ela e abracei-a, agradecendo por me ajudar.
— De quantos dias precisa para viajar? — perguntei.
— Você não quer ir conosco para conhecer? — respondeu ela, convidando-me.
— Não. Prefiro que vá sozinha com eles. Quero ficar comigo mesmo um tempo. Acredito que me fará bem. Tenho muito no que pensar — e afastei-me dela, acendendo um cigarro e caminhando para a varanda da suíte.
— Acho que, em três ou quatro dias, consigo resolver toda a papelada, pois são dois adolescentes. Isso demora um pouco.
— Entendo. Você já tem meu número de celular e e-mail, Alyce. Qualquer coisa que precisar, avise-me, por favor. Não deixe faltar nada a eles. Se precisar de mais dinheiro, não hesite em me avisar, pois falo com Alexander. Contrate pessoas para ajudá-la se achar necessário — e dei mais um trago no cigarro e um gole demorado no vinho.
— Não se preocupe com isso, Gaius. Não iremos gastar nem metade desse dinheiro que está disponibilizando. Tem certeza de que não quer ir conosco? — perguntou, insistindo.
— Agora, não. Mas prometo que, ao fim da minha viagem, vou passar um tempo com vocês em Gramado.
Depois de alguns dias, Alyce, Arthur, Rosa e Juanita embarcaram para Gramado, Brasil. Fiquei sozinho em Nova Iorque, cheio de lembranças e dores, mas animado por poder viajar tranquilo pelo mundo, sabendo que minha família estava segura. No segundo dia em que estive trancado e entediado naquela suíte de hotel, resolvi que era hora de sair dos Estados Unidos, e liguei para Alexander, pedindo para preparar o avião e fazer reserva em um hotel de Amsterdã, Holanda. Queria viajar no dia seguinte. Quando ele me perguntou o porquê de Amsterdã, quis dizer a verdade, mas não tinha certeza se deveria, então, limitei-me a responder que não conhecia a cidade, mas omiti dele a motivação principal. Ele não entenderia se comentasse que estava muito animado para conhecer as prostitutas do Bairro da Luz Vermelha da capital holandesa. Não sei explicar ao certo, mas, naquele instante, tive a impressão de que o que eu buscava, encontraria lá e com elas. Evitando mais perguntas, deixei ele pensando que iria viajar somente para vivenciar a tristeza pela qual já havia me visto chorar diversas vezes.
Passei o primeiro dia em Amsterdã tentando descansar o máximo que pude. Por que sofro tanto com fuso horário? Detesto-os! Por sorte ou competência de Alexander, cheguei ao hotel Waldorf Astoria Amsterdam por volta das 15h, o que facilitou para que dormisse durante a tarde, jantasse e voltasse para a cama novamente. No segundo dia, acordei por volta das 8h. Estava mais relaxado. Ainda não havia observado minha suíte, mas, depois de ligar para a recepção e pedir meu café da manhã no quarto, duas garrafas de vinho e um kir, passeando por ela, contemplei-a. Suas paredes brancas foscas com alto-relevo em formas geométricas tradicionais, milimetricamente ordenadas, mais os detalhes pintados de azul turquesa, com a técnica de grãos e listras horizontais, foram uma das primeiras coisas que meus olhos perceberam. Na sala de estar, dois sofás grandes e cinzas, dispostos um de frente para o outro, separados apenas por uma mesinha baixa, quadrada e de madeira, mais dois abajures em estilo clássico próximos às duas grandes e altas paredes de vidro transparentes, que mais pareciam portas, e duas prateleiras discretas com alguns vasos antique chamaram a minha atenção. E como me esquecer daquele lustre de doze pequenos abajures, que tinha a mesma cor de azul das paredes, das almofadas dos sofás e de um dos três tipos de tecido que formavam as cortinas, sofisticando o ambiente? Gosto da ideia de as cortinas terem três tipos de tecido com cores harmônicas. Pensei, enquanto deslizava meus dedos, sentindo-os melhor. No meio da parede, entre as duas prateleiras, havia uma TV preta, de tamanho proporcional, que ficou desligada na maioria dos dias em que estive lá. No chão, carpete, cerâmica em estilo moderno e madeira. Aproximando-me da minha cama, já no outro cômodo da suíte, percebi sua cabeceira acolchoada e em tom pastel, e, também, seus contornos e barras em madeira escura e envernizada nos quatro cantos. Ainda passeando meus olhos, vi uma mesinha ao lado da cama, um pequeno sofá de dois lugares na frente dela e mais cortinas, que impediam a entrada de iluminação por aquelas paredes de vidro, que ofereciam uma bela visão da cidade. E tudo isso conferia leveza e harmonia ao ambiente. Gostei do hotel. Pensei e fiquei imaginando o que poderia utilizar para me inspirar a decorar minha próxima casa.
Duas batidas na porta me desconcentraram. Depois que os dois garçons saíram, fui até à mesa próxima à parede de vidro, onde eles deixaram duas bandejas, e descobri uma delas. O cheiro do café me possuiu e, logo, verti-o em uma xícara, pingando-o com leite. Vi, em um prato, três torradas: uma com manteiga, outra com uma espécie de chocolate e granulado, e a última com uma pasta de amendoim. Em outro prato, pelo menos três tipos de queijos. Havia alguns recipientes com opções de chás e preparos para chocolate quente, frutas e cereais. E, também, meus vinhos e o drink que pedi. Rapidamente, levei a torrada de pasta de amendoim à boca e dei um gole no café. Caminhava pelo quarto, enquanto mastigava, logo querendo terminar para poder apreciar o drink e fumar um cigarro. Assim o fiz, depois de beliscar um dos tipos de queijo e secar a xícara de café. Dado o primeiro gole no kir, acendi o cigarro e fui até o outro cômodo, caminhando faceiramente pela suíte, contemplando aquele silêncio. Sobre a mesinha ao lado da cama, vi que uma luz vermelha piscava no visor do meu celular. Tomei-o à mão e constatei que eram e-mails publicitários. Por um instante, fiquei com os olhos fixos no visor. Nisso, pressionei o ícone da minha galeria de fotos e vídeos. Deslizando o dedo para cima, parei em um vídeo. Toquei a miniatura e senti meu coração disparar, quando meus olhos o viram, e meus ouvidos sentiram a quentura de sua voz novamente, mesmo que pelo som estéreo do meu celular:
“Você deveria ter vindo, meu amor! Olhe que coisa linda é essa cachoeira! Isso é a melhor coisa dessa cidade. Estamos nos divertindo muito. Daqui a pouco vamos para casa te ver. Eu amo você. Eu amo você.”
Uma mescla de sentimentos me invadiu naqueles poucos segundos. Senti meu queixo tremer e meus olhos marejarem. E, antes que uma lágrima escorresse pelo meu rosto, lembrei que precisava ser forte e aguentar, pois tinha uma promessa para cumprir e um plano para arquitetar. Engoli a emoção com a saliva, dei um gole no kir e um trago demorado no cigarro, enquanto desliguei o celular e decidi que precisava de um banho e sair da minha suíte suntuosa para conhecer Amsterdã. E que iria começar pelo pintor maldito, que cortou sua própria orelha em um surto psicótico.
Cansado de esperar na fila por quase quarenta minutos, bufava pela terceira vez, impaciente com aquela demora, quando uma moça liberou a entrada para o próximo grupo de pessoas. Entrei no Van Gogh Museum com turistas de diversos países para uma visita guiada. O ambiente era escuro e intimista, com focos de luz amarela que, do teto, iluminavam somente as paredes, onde as pinturas estavam dispostas, e as quadradas proteções de vidro, que abrigavam outras obras no meio do salão. O guia, especializado em história da arte, falava sobre a técnica e história de cada obra pintada por Van Gogh e, também, sobre algumas curiosidades de sua vida, como sua educação em um internato e seu estado psicológico antes de morrer. Conduzindo-nos ao autorretrato com a orelha cortada, disse o guia:
“E aqui temos uma das obras mais enigmáticas e sublimes de Van Gogh: o autorretrato com a orelha cortada. Pesquisadores divergem se ele cortou a orelha inteira ou somente o lóbulo. O fato é que, na noite de 23 de dezembro de 1888, depois de uma discussão com o pintor Gauguin, Van Gogh cortou sua orelha, embrulhou-a em um lenço e a levou a uma prostituta chamada Rachel, na cidade de Arles, França. Acredita-se que o pintor e a prostituta mantinham relações sexuais. Ao entregar-lhe o embrulho, ele teria pedido para que ela o guardasse com cuidado. Van Gogh, depois de sair do hospital em 6 de janeiro do 1889, quatorze dias depois de tal brutalidade, pintou essa obra de arte que vemos aqui. Depressivo, esquizofrênico e psicótico são adjetivos que os pesquisadores utilizam para tentar classificá-lo, que, após lesionar parte de sua carne, pintou seu autorretrato como se não fosse importante para ele o que lhe foi tirado...”
E continuou dando detalhes sobre aquela história, enquanto eu, atento ao que ouvia, percebia meus sentidos se aguçarem e minha mente se inquietar.
Ele cortou a própria orelha e deu de presente à sua namorada como gesto de amor? Foi isso que fez? Como teve coragem? Privar-se de parte do seu corpo em nome do amor? Por que ele precisaria fazer isso para ela? Um embrulho ensanguentado para uma prostituta. O que ela sentiu ao ver aquilo? Meu Deus, que loucura! E que Natal sangrento ele teve aquele ano, não? Pensava, ainda boquiaberto, tentando dar atenção ao que o guia continuava falando sobre o quadro depressivo e a morte de Van Gogh. Nisso, algo estranho aconteceu comigo. Depois de ouvir a história da orelha cortada e do autorretrato, não consegui manter minha concentração no que o guia explicava, e as imagens ficaram tremidas em minha visão. Por diversas vezes, pisquei os olhos, espremendo-os com força para tentar recuperar a nitidez que perdi. Foi inútil. Sacudi a cabeça discretamente e inspirei profundamente, procurando meu fôlego, que diminuía. Ao soltar o ar suavemente, mantendo meus olhos fixos na tela daquele homem que tinha uma faixa branca cobrindo sua orelha cortada, ouvi uma voz: Foram as mãos dele que seduziram seu irmão. Elas o roubaram de você. De supetão, olhei para trás, procurando quem havia dito aquilo. Um casal de turistas olhou-me com estranheza, franzindo as testas, como se perguntassem o porquê de eu encará-los. Virei meu pescoço para um lado e para o outro, depois para frente, retornando à posição que estava antes, tentado encontrar quem havia dito aquilo e o porquê. Percebi-me ansioso e amedrontado ao mesmo tempo, ao entender que aquilo era algo da minha cabeça. Sorri para mim mesmo, tentando relaxar e concentrar-me novamente. E, no mesmo instante, ouvi mais uma vez: As mãos dele, Gaius. Impulsivamente, gritei, olhando para trás:
— Quem é? — e obtive o silêncio e a atenção de todos que estavam ali.
Minha respiração ainda ofegava, e o meu semblante estava envergonhado por ter atrapalhado a explicação do guia, que perguntou gentilmente:
— O Senhor está bem? — e ficou aguardando minha resposta, olhando-me com atenção.
Nervoso, mas tentando me acalmar, pedi desculpas e respondi que havia me assustado com alguma coisa. E comecei a caminhar para a porta de saída do museu, deixando todos olhando para mim. Do lado de fora, respirando vagarosamente, senti algo entre as minhas pernas. Olhando para baixo, vi que meu pênis estava ereto. Por que estou excitado? Perguntei a mim mesmo e, logo, dei-me a resposta de que me excitei porque o museu estava frio e eu tinha vontade de urinar. E, assim, consegui enganar a mim mesmo naquele instante. Só lamento não ter conseguido me enganar por muito mais tempo a partir daquele dia. Teria sido melhor ou mais fácil se tivesse conseguido. Resolvi almoçar e voltar para o hotel. Queria descansar, pois já tinha em mente o que fazer naquela noite. E precisaria de toda a energia para conseguir.
Eram quase 22h. Caminhava pelas ruas de Amsterdã em direção ao Bairro da Luz Vermelha, que ficava a menos de quinze minutos do hotel. Era verão na cidade, mas durante a noite as temperaturas despencavam, o que exigia, no mínimo, um casaco e cachecol para quem quisesse se manter aquecido. As luzes vermelhas das ruelas e as bicicletas espalhadas pelos arredores do bairro foram avistados por mim. Acho que é ali. Pensei, e continuei caminhando, observando a movimentação de turistas, que eram abordados por vendedores de maconha. Curioso, passeava atento, procurando as famosas vitrines, onde as prostitutas se ofereciam a quem as visse da rua. Entrei em uma rua curta e, ao meu lado direito, vi várias vitrines, em que mulheres seminuas sensualizavam seus corpos com danças provocantes atrás de um vidro. Parei e observei-as com calma. Nisso, uma delas começou a bater no vidro fortemente, enquanto outras fechavam as cortinas rapidamente. Olhei para trás e vi um turista que segurava um celular e gravava imagens delas. Todos que passavam na rua falavam contra ele, pedindo que as respeitassem, pois estavam trabalhando, e não era permitido gravá-las. Um homem maduro, enraivecido, aproximou-se do turista, agarrou seu celular e jogou-o no rio que divide duas daquelas ruas. O homem esbravejava contra o turista, que ficou atônito com a reação, e saiu dali apressadamente. Achei aquilo tão instigante e pensei que iria passar uma madrugada interessante em um lugar onde as coisas acontecem. Continuei caminhando e observando os diversos bares, restaurantes e museus abertos naquele horário, enquanto acendi um cigarro. Eles ficavam na rua da frente à das vitrines. O excesso de pessoas andando, comendo, bebendo e tirando fotos era muito grande. Realmente, tudo que havia lido sobre o bairro, que é conhecido por sua lascívia, era verdade. Em pouco tempo que estive lá, pude constatar que aquela não seria a única noite que eu o visitaria. E não foi. As madrugadas aqui devem ser bem agitadas. Pensei e dei um sorrisinho safado para mim mesmo, já prevendo o que me aguardaria. Joguei o cigarro no lixo e voltei para as vitrines. Lá, havia quatro mulheres dentro delas. Observei que duas vitrines eram iluminadas com a luz vermelha, e as outras com uma roxa. Não entendi o porquê. Vendo-me, três delas faziam contato visual, tentando falar comigo, chamando-me com as mãos, para que me aproximasse. A outra, a que estava na ponta à minha direita, simplesmente repousou as duas mãos no quadril em um movimento leve e sexy, e fitou minha pupila demoradamente, enquanto erguia, vagarosamente, sua cabeça e sacudia seus cabelos longos e pretos para trás, deixando seus ombros à mostra e transparecendo sua altivez e soberba. O fato de ela não se oferecer para mim chamou minha atenção. Aproximei-me dela e pude contemplar suas pernas cobertas com uma cinta-liga, e seu tórax e seios presos a um espartilho. Ambos eram pretos. Sua calcinha minúscula era vermelha. Usava um sapato com salto alto. Com certeza, para valorizar seu corpo, visto que não era tão alta quanto parecia. Em seu rosto, havia um pouco de maquiagem e um batom vermelho escarlate. Cílios postiços exagerados valorizavam seus olhos pretos. O cabelo estava ressecado, o que não a impedia de exibi-lo com orgulho. Percorrendo seus braços e ombros nus, enxergando a flacidez da pele um pouco acima das axilas, tive a certeza de que aquela mulher já tinha passado dos quarenta anos. Meus olhos encontraram os seus, que não piscavam ao me fitar. Ela mantinha um olhar parado. Intriguei-me com a forma como ela me encarava. Por um instante, pensei que ela seria minha cliente, e não o contrário. Ela se mantinha imóvel, com as mãos no quadril e o pescoço arrogante. Então, pressionando minhas mãos contra a vitrine, falando baixo, perguntei:
— Quanto? — e vi seus lábios expressarem um sorrisinho de alguém que consegue o que quer.
— Cinquenta euros a cada vinte minutos. O que quer fazer? — e, mais uma vez, jogou o cabelo para trás sensualmente, provocando-me.
Fiquei em silêncio por alguns instantes pensando em o que responder. Desviei os olhos dela algumas vezes e retirei minha mão da vitrine, como se demonstrasse que iria embora. Dei dois passos para trás cautelosamente e encarei-a. Procurei no bolso do casaco mais um cigarro e, logo, acendi-o. Virei-me para sair dali e pus-me a caminhar. Depois, parei e voltei. Ela continuava na mesma posição, como se tivesse a certeza de que eu voltaria. Nisso, perguntei:
— Quanto você ganha em uma noite inteira aqui?
— Passo a noite com você por mil euros, rapaz — respondeu, à queima-roupa.
Dei um trago no cigarro e soltei a fumaça suavemente, pensando em o que dizer. Então, propus:
— Dou-te dois mil euros pela noite inteira — e vi-a arquear uma das sobrancelhas, demonstrando interesse.
— O que quer fazer? — indagou novamente, querendo fechar o negócio.
— Que vista uma roupa e venha jantar. Estou com fome.
Ela pareceu surpresa com a proposta, mas balançou a cabeça afirmando que sim, e, logo, mostrou seu profissionalismo, esclarecendo que eu precisava entrar nas regras.
— Precisa pagar antes, rapaz — e abriu a porta da vitrine, convidando-me para entrar.
— É claro. Desculpe — e, logo, retirei do bolso da calça quatro notas de quinhentos euros, aproximei-me e entreguei-as, ainda do lado de fora da vitrine.
Ela deslizou os dedos pelas cédulas, verificando se eram verdadeiras, cheirou-as, deliciando-se com a certeza de que eram novas e autênticas. E comentou:
— Há tempos não via uma destas — e deu um sorriso para mim.
Sorri de volta e afastei-me, dando mais um trago.
— Aviso que não faço nada sem preservativo, e que não sairei do bairro. E, também, que há policiais que nos conhecem e nos protegem. Basta uma ligação, e eles irão até onde estou. Encerro com você às 5h. Entendido? — e fechou a cara, esperando minha resposta.
— Entendido. Não se preocupe com isso. Ficaremos aqui no bairro.
— Não quer entrar, enquanto troco de roupa? — convidou ela.
— Acho melhor esperar você aqui — respondi gentilmente e, depois, vi-a fechar a cortina.
A prostituta e eu caminhávamos até uma das ruas que ficava do outro lado da que estávamos. Para quebrar o silêncio entre nós, pediu-me um cigarro. Parei, abri a cigarreira e deixei-a retirar um. Depois, levei meu isqueiro até seu rosto, acendendo-o, e, logo, vi suas bochechas secarem, enquanto ela dava o primeiro trago. Foi impossível não perceber que ela admirava meu isqueiro e cigarreira com atenção. Será que ela vai me roubar? Pensei. E continuamos até o momento em que ela sugeriu que entrássemos em um dos diversos bares daquela rua. Por sorte, não havia fila de pessoas, e, logo, pudemos entrar e sentar-nos em uma mesa intimista e aconchegante. As cores das paredes do bar eram vibrantes. Todo o ambiente era meio escuro, e a música que embalava a conversa de dezenas de pessoas que ali estavam era provocadora e sensual. Enquanto retirava meu cachecol e abria o casaco tentando não sentir calor, visto que a temperatura lá dentro estava mais alta que lá fora, pensei: Tudo aqui respira a sexo. É por isso que chamam Amsterdã de a capital da liberdade. Após ela retirar seu cachecol e desabotoar seu casaco também, perguntou a mim:
— De onde você é? — e pôs um cotovelo sobre a mesa, apoiando o queixo em uma das mãos, como se estivesse se preparando para um cliente que passaria a noite inteira falando sobre seus problemas pessoais, o que, certamente, estava acostumada a fazer.
Titubeei nas palavras, ora hesitando, ora falando coisas que não diziam nada. Estava nervoso. Nunca havia estado com uma prostituta antes, e existia algo nela que me desconcertava. É como se ela me enfrentasse e me provocasse. Não sei explicar ao certo, mas, em um primeiro momento naquele bar, senti um desconforto enorme.
— Entendi. Não quer dizer de onde é? Tudo bem. O que faz em Amsterdã? — e, antes que pudesse responder, um garçom tagarela aproximou-se dela, cumprimentando-a, desejando-nos uma boa-noite e perguntando o que queríamos pedir.
Ela o saudou, falando sensualmente, desejando-lhe uma boa-noite, enquanto deslizou suas unhas vermelhas sobre as costas de uma das coxas do garçom, fitando bem em seus olhos e molhando o lábio inferior. Em uma fração de segundos, ela lançou sobre ele seu desejo, como uma feiticeira que não faz esforço para conseguir o que quer com a sua magia. O rapaz a encarou e, logo, deu uma olhada em seu par de seios, abrindo um sorrisinho de boca fechada, com certeza, entusiasmado. Nisso, ela virou-se para mim, que estava concentrado no que via, e perguntou o que queria comer. Respondi que ela poderia escolher para nós, tentando ser gentil, e deixá-la confortável, enquanto assimilava tudo que via e relaxava.
— Finn, vamos querer dois cones de batatas fritas para começar. E uma água, por favor. Quer algo mais forte? — perguntou, olhando para mim.
Balancei a cabeça que não, e vi o garçom sair com nosso pedido. Nisso, os olhos dela se voltaram para mim novamente.
— Então, por que não me fala de você — sugeriu.
— Confesso que não sei o que dizer. Estou um pouco nervoso — e sorri para que minha frase não soasse em tom desagradável a ela.
— Nervoso, por quê? Não é a primeira vez que você sai com uma mulher, é?
— Não. Já saí com mulheres, sim. Mas é a primeira vez que... — e não consegui terminar a frase, pondo-me imediatamente a caçar palavras para continuar, quando fui interrompido por ela.
— Com uma puta?
— Sim. É a primeira vez que estou com uma prostituta. É isso.
— Relaxa. Logo você se acostuma. Com esse rosto lindo que tem, quase não entendo porque está me pagando. As meninas devem se jogar em seus braços, não? — e deu uma gargalhada.
— Digamos que não tenho do que reclamar — respondi.
— Então, fale-me um pouco de você. Quero ouvir o que tem a me dizer — e, novamente, fez aquele gesto com o cotovelo sobre a mesa, repousando a mão no rosto.
Ela fica tão sexy ao jogar seu corpo para frente dessa forma. É como se estivesse tão disponível, tão entregue. Pisquei os olhos, tentando me concentrar. Respondi.
— Por que não começamos com você? Fale-me um pouco sobre si — e, quase que instintivamente, imitei seu gesto, repousando meu cotovelo sobre a mesa, apoiando meu rosto com a mão.
E, então, ela começou a falar. Disse-me que havia nascido em Marken, Holanda, e aos dezesseis anos resolveu sair de lá e morar em Amsterdã, pois achava que sua cidade natal havia parado no tempo, e seus desejos e ambições jamais iriam se realizar morando lá. Na capital, tentou conseguir trabalhar e estudar, mas não obteve sucesso, e a prostituição se apresentou como uma opção rápida e fácil a alguém que, como mesmo disse, tinha fome e precisava pagar o aluguel. Contou, ainda, que se apaixonou por um cliente aos dezessete anos, que, à época, era casado com uma mulher. E, dele, engravidou aos dezenove, dando à luz à menina Carolien, com quem morava em uma casa alugada. Acrescentou que a filha sempre soube que ela era prostituta e valorizava-a por sua coragem, mas optou por se dedicar aos estudos, pois pretendia trabalhar como veterinária. Ela afirmou que a única fonte de renda da família provinha dos programas que fazia, e que, além de não poder parar por precisar sustentar a casa, gostava de sexo. Lamentou ter passado algumas situações desagradáveis com clientes que a destrataram, foram rudes com ela e agrediram-na, mas não se arrependia de ter entrado naquele caminho, pois a prostituição, segundo ela, tornou-a uma mulher mais forte e livre, inclusive na cama.
No meio da conversa, Finn nos levou os cones com batatas fritas e diversos molhos esparramados sobre elas. Ouvindo atentamente o que a prostituta contava sobre sua vida, entre uma mordida e outra naquelas batatas grossas e crocantes, pensava em quão excitante devem ter sido as experiências que ela já teve na cama. Deixando-a à vontade, eu ficava em silêncio, mantendo meus olhos fixos nos dela, enquanto sua boca se mexia sem parar, narrando um pouco da sua história para mim. Percebendo que não tinha mais o que contar sobre sua trajetória de vida, brevemente resumida por ela, perguntei:
— Deve ser instigante estar todos os dias na cama de vários homens em uma única noite, não? — e dei um sorrisinho para ela, enquanto lancei um olhar lascivo e curioso sobre seu rosto.
Ela entendeu o que eu queria saber, e não hesitou em falar:
— E de mulheres também — e deu mais uma gargalhada com a boca cheia de batatas.
— Muitas mulheres a procuram? — perguntei, entusiasmado.
— Muitas. Algumas para satisfazerem seus maridos. Outras para se satisfazerem. São dois tipos de sexo muito diferentes. O tempo me levou a entender que a dinâmica e a energia de um homem são diferentes das de uma mulher. Adaptei-me aos gostos de cada um, e, hoje, é mais fácil para agradá-los, sejam juntos ou separados — e terminou a frase quase sussurrando, sugerindo que gostava de transar com ambos os sexos, dando mais uma gargalhada ao final.
Suas risadas vulgares e escandalosas chamavam a atenção de alguns clientes do bar, e isso imprimia, em mim, uma sensação de liberdade, ao saber que tinha em minha mesa uma mulher que não se importava com convenções e reputações, mas que mostrava o que era, sem máscaras ou dissimulações. Adoro vê-la sorrir dessa forma tão estapafúrdia!
Nossas batatas acabaram, e, então, ela limpou seus dedos em um guardanapo, enquanto falou:
— Mas não seja mal-educado comigo. Não me deixe aqui falando sozinha. Conte-me um pouco de você também.
Balancei a cabeça em negativa, sorrindo para não parecer rude com ela, já sentindo algumas emoções pulsarem dentro de mim.
— Tenho certeza de que um homem belo como você deve ter histórias interessantes para contar, não é? Algo que aconteceu no colégio, talvez? Uma mulher por quem se apaixonou? Ou um homem? Fale-me alguma coisa. Contei quase a minha vida inteira para você. Tenho certeza de que...
— Você não entenderia o que fiz — disse, interrompendo-a com uma única frase, percebendo seus olhos apertarem-se e sua cabeça mover-se para o lado, analisando-me melhor.
Instantes depois, com a voz suave e maternal, comentou:
— Por que não tenta me contar e me deixa decidir se entendo ou não?
Balançava minha cabeça, tentando controlar minha emoção, buscando forças para sorrir, quando me percebi desabar em um choro. Logo, solucei e cobri meu rosto com as mãos, evitando minha vergonha. Ela ficou em silêncio até que eu conseguisse controlar minhas lágrimas e limpá-las de minhas bochechas. Então, sorriu para mim e disse:
— Acho que sei o que quer de mim esta noite. E por mais que pense que não vou conseguir entender, quero ouvir o que está preso aí dentro do seu coração.
Eu sorri para ela, como se dissesse que iria contar o que aconteceu. Nisso, fiz força para controlar a gargalhada que quis dar, quando a vi gritar para o garçom, chamando a atenção de todos que estavam no bar:
— Finn, traga-me dois jenevers! — e, mais uma vez, repousou seu cotovelo sobre a mesa, batendo levemente os dedos sobre as bochechas, aguardando que eu começasse a falar.
Respirei fundo e contei minha história a ela. Naquele momento, tive vontade de revelar um segredo que somente eu sabia. Uma realidade aparentemente inofensiva, mas que, por trás dela, escondia o quão complexa e nebulosa minha mente havia se tornado. Evitava pensar sobre aquilo em lugares não administrados. Era perigoso e fatal acessar esses quartos escuros da minha mente, principalmente com pessoas que não poderiam oferecer a dose de compaixão e empatia que tal ação exigia. Decidi não falar e manter a farsa que propaguei no passado.
Após me ouvir atentamente, aquela mulher, ainda tentando se recuperar do choque, fez-me apenas uma pergunta:
— Quanto tempo precisará esperar?
— Não sei. Os advogados acham que conseguem fazer um acordo com a promotoria e tentar baixar a quantidade de anos. O julgamento ainda não aconteceu. Tudo é muito incerto — e tentei me controlar para não chorar novamente.
— Sinto muito. Lamento que tenha passado por tudo isso. Mas veja pelo lado positivo. Depois que tudo isso acabar, poderá ter sua vida de volta — e sorriu com a boca e com os olhos, tentando me consolar.
— É verdade. Mas eu estou organizando um plano para executá-lo ao longo desse tempo de espera. Não sei ao certo por que vim a Amsterdã, mas, pelo que já pensei em fazer, precisarei de alguém como você. No momento certo, vou procurá-la — e vi seu rosto se encher de curiosidade.
— Pode contar comigo. Ficarei feliz em ajudar — e piscou os olhos para mim.
Mais aliviado e calmo, depois de ter chorado e contado minha história para ela, tentando harmonizar a conversa novamente, comentei:
— Você ainda não me disse seu nome.
Ela repetiu aquele gesto de rebolar o pescoço para trás, sacudindo levemente o cabelo, exibindo seus ombros, tentando sensualizar para mim. Nisso, meus olhos encontraram suas orelhas, que prendiam um par de brincos discretos. Eles tinham uma espessura fina, em forma de espiral, com detalhes de pequenos círculos indianos dourados. Vendo-os, paralisei meu rosto e pus-me a observá-los com mais atenção, enquanto ela me encarava curiosa, sem nada dizer, tentando entender o motivo da mudança das feições e da minha testa franzida. Percebendo que eu observava sua orelha esquerda, virou levemente à cabeça para a direita, a fim de facilitar minha visão. Ela e eu estávamos próximos. Então, pude levar minha mão até o brinco e tocá-lo. Contemplando o lóbulo da orelha e aquele acessório pendido, ouvi dela:
— São lindos, não? Quer usá-los? — perguntou e, logo, deu um sorrisinho de boca fechada para mim.
Ainda com os olhos fixos em suas orelhas, acariciando o lóbulo e o brinco, respondi.
— Rachel. Todo o tempo em que estiver comigo, seu nome será Rachel — e pisquei meus olhos, já com minha pupila fixa na dela, ao abri-los.
Ela não entendeu nada, mas achou interessante poder usar outro nome pelo tempo que estivesse comigo. As expressões de seu rosto confirmaram isso para mim. Então, comentou e perguntou, de forma sugestiva:
— Você que manda. Qual o seu nome? Quer ir para um lugar mais íntimo? — e lançou um olhar de luxúria sobre mim, demonstrando claramente que desejava me levar para a cama.
Encarei-a, depois de afastar minhas mãos de sua orelha, retornando meu corpo para a posição que estava antes, e respondi:
— Meu nome é Gaius. Iremos, sim. Quero você e Finn na minha cama hoje.
Ela moveu sua cabeça para baixo, quase encostando o queixo no ombro, expressando seu semblante de surpresa e admiração por eu estar dizendo o que queria para aquela noite, e falou:
— Acho que os jenevers estão começando a fazer efeito — e fez cara de safada para mim.
— Parece que sim — respondi e devolvi o semblante de lascívia para ela.
— Preciso falar com ele antes. Não sei se vai querer — e levantou-se da mesa para tentar realizar o meu desejo.
Nisso, eu disse:
— Ofereça dois mil euros. Se ele recusar, mande-o à merda, pois ele não vale tudo isso — e, logo, ouvi-a gargalhar escandalosamente.
Instantes depois, ela voltou e confirmou:
— Ele topou por mil e quinhentos. Os outros quinhentos, você paga para mim — e piscou os olhos, achando-se esperta demais por ganhar mais do meu dinheiro em tão pouco tempo.
— Você merece! — e dei três batinhas com as palmas das mãos, aplaudindo-a pela proeza em convencer um garçom holandês a fazer sexo comigo e com ela ao final do expediente.
— Vou pedir algo para comermos e um pouco mais de... — falava, quando a interrompi, dando o último gole no gin holandês, logo batendo a pequena taça na mesa com força.
— Rachel, pergunte a Finn a que horas devemos vir buscá-lo aqui. E leve-me a algum lugar para dançar. Agora.
Do lado de fora do bar, enquanto caminhávamos para um clube erótico de dança, Rachel e eu gargalhávamos ao tentarmos adivinhar qual o tamanho do pênis de Finn. O clima que se instalou entre nós era agradável e leve. Ela não estava bêbada, e eu consegui sentir que sua alegria era espontânea. Sem motivação nenhuma, de supetão, ela parou no meio da rua, encarou-me e perguntou:
— Espere aí. Uma coisa não ficou clara na história que você contou lá dentro. O que aconteceu com a cadela Helena?
Estava alguns passos à frente dela. Parei, encarei-a, enquanto me aproximava, e já com meus lábios tocando aqueles brincos baratos, sussurrei em seu ouvindo:
— Em uma das brigas, tomei a arma, enfiei no cu da cadela e atirei. A bala saiu pela boca dela. Mesmo morta ao chão e sangrando pela boca e pelo cu, fiz questão de dar mais dezessete tiros na cabeça. E, antes de sair, chutei com força sua barriga e vi mais sangue espirrar de sua boca — e afastei meu rosto do dela, encarando seus olhos com satisfação, aguardando sua reação ao que tinha ouvido.
Rachel me olhou sério, e, instantes depois, comentou:
— Eu não teria feito nada diferente do que fez — e deu uma gargalhada, novamente repousando suas mãos em seu quadril.
Nisso, percebendo que o gin já tomava conta do meu corpo e mente, pensei: A bebida afrouxa sua boca, Gaius. Cuidado com ela. Não esqueça que não deve confiar em ninguém, muito menos em uma puta.
Rachel e eu entramos no Bananen bar, um clube erótico de stripers do Bairro da Luz Vermelha, que carrega em sua história a audácia de Maarten Lamers, ao driblar as autoridades locais na década de 1970. À época, diversas licenças de bebidas foram negadas ao pequeno estabelecimento, onde cafés eram servidos por mulheres nuas aos clientes. Engenhoso, Maarten procurou o chefe de polícia e afirmou que tinha fundado uma igreja para satanás dentro do clube, o que conferia a ele a partir daquele momento o direito de ser chamado de Monsenhor Lamers. E, ainda, que as bartenders eram irmãs da ordem de Wallburga, e os seguranças na porta eram colecionadores. O atrevimento de Lamers excedeu todos os limites ao impor o ato de morder a banana como um ritual religioso. Arrogando-se o direito de liberdade religiosa, o empresário conseguiu manter o clube de sexo aberto e funcionando. Suas moças serviam cafés e bebidas totalmente peladas, e, ainda, dançavam sobre os homens, enquanto descascavam bananas e as chupavam e mordiam de forma provocante, característica essa que conferiu sucesso ao local desde o seu início. O ápice dos shows das stripers ocorria quando elas retiravam as bananas das cascas e enfiavam em sua vagina, arreganhando suas pernas sobre as mesas dos homens e fazendo-os mordê-las até que os lábios deles tocassem e lambessem seus clitóris. A intitulada igreja ganhou notoriedade e publicidade com o tempo, chegando à marca de mais de quarenta mil fiéis, o que despertou a atenção do Departamento de Justiça e de Impostos da Holanda, visto que igrejas são isentas de pagamentos de tributos ao Governo. Depois de uma cautelosa investigação, descobriu-se que Lamers já havia faturado milhões de euros com o clube de sexo disfarçado de igreja de satanás e que vivia viajando de país em país, sendo capturado em um castelo na França anos depois. Para evitar ficar preso, um acordo de milhões de euros foi feito com o Departamento de Justiça holandês, o que incentivou Maarten a continuar seus investimentos no mundo do sexo, tornando-se, depois, proprietário do teatro erótico Casa Rosso, onde começou a trabalhar como guarda antes de adquirir fortuna, o Hospital Bar, o Museu erótico e, finalmente, um peep show, compondo assim o Grupo Otten, um dos mais influentes do entretenimento adulto. O homem que driblou o Governo holandês por anos enricou incentivando e alimentando o desejo de sexo das pessoas.
É claro que eu não sabia dessa história na noite em que entrei no clube de streepers com Rachel, pois, além de estar começando a ficar bêbado, queria mesmo era dançar e preparar-me para o sexo que teria com Finn e Rachel depois daquela balada. Mesmo não sabendo da história das bananas nas vaginas, isso não me impediu de, naquela noite, comê-las e lamber o clitóris daquela moça que abriu as pernas para mim sobre uma mesa. Uau! Que lambida gostosa. Gostei de fazer isso em público. Ela pareceu não se importar com o que fiz, embora tenha olhado para o segurança do clube, ao perceber que eu a lambi rapidamente. Com certeza, aquela moça era novata por lá, pois não era permitido fazer sexo durante a performance das streepers, e era papel delas não deixar que os clientes se empolgassem demais. Se pudesse, comeria você aqui na frente de todos e gozaria em seus seios caídos, sua vadia! Pensei, enquanto encarava os olhos castanhos daquela moça, pintados com um delineador barato e vulgar, vendo-a sair da minha mesa e caminhar para rebolar suas nádegas flácidas sobre outros homens.
O clube era escuro, e o jogo de luzes conferia uma sensação quase psicodélica a quem estava lá. Suas paredes de tijolos, cuidadosamente decoradas com compridas mangueiras de luz em cores alaranjadas, as mesas redondas e pequenas, as áreas com pequenos sofás, as moças quase nuas transitando pelo salão, e a música eletrônica, quase ensurdecedora, explicitavam a proposta do ambiente. Tudo, até mesmo os mínimos detalhes do Bananen bar, tinha o propósito de fazer seus clientes respirarem sexo a todo instante. E isso foi o suficiente para eu entender que aquele lugar seria visitado por mim várias vezes durante o tempo em que ficaria em Amsterdã. E eu estava certo.
Rachel quis continuar bebendo jenever. Ela parece ser nacionalista. Só vai beber esse gin a noite inteira? Pensei, mas não disse nada. Eu precisava de algo mais exótico, então, imaginei que a mistura de molho inglês, suco de tomate e pitadas de pimenta cairiam bem àquele momento.
— Minha amiga precisa de uma garrafa de jenever. Para mim, um bloody Mary. Sei que a casa está lotada, mas aqui tem um incentivo para você não demorar a trazer minhas bebidas — disse eu ao garçom, quase gritando em seu ouvido, enquanto enfiei no bolso de sua calça uma cédula de cem euros, corrompendo-o.
Ele mirou bem em meus olhos e sorriu para mim, balançando a cabeça que sim, enquanto terminou de enfiar a cédula em seu bolso com a mão, saindo rapidamente para pegar nossas bebidas. O que o dinheiro não faz, não é?
A garrafa de gin tinha menos da metade da capacidade. Eu já devia ter tomado uns cinco ou seis drinks. Passaram-se algumas horas desde que chegamos ao clube. Quase não sentia meu corpo, mas, mesmo assim, Rachel e eu não parávamos de dançar. Em um determinado momento, ela sensualizou para mim e simulou um streap-tease, o que chamou a atenção de vários homens ao nosso redor. Deslizando suas mãos pelo meu corpo, enquanto abaixava-se, simulando sexo oral em mim, ouvíamos os gritos dos homens, que sacudiam seus punhos fechados em círculos pelo ar e gritavam, sincronicamente:
— Chupa! Chupa! Chupa...
Que lugar exótico! Quero transar aqui no meio de todos. E com todos também. Pensei e senti um ser dentro de mim ficar eufórico. Nisso, olhei para baixo e encontrei os olhos pretos de Raquel, fitando-me, provocando-me, simulando que chupava meu pênis, enquanto todos aqueles homens continuavam gritando para que ela baixasse minha calça e abocanhasse meu membro. Em um movimento natural, mais uma vez, Raquel sacudiu vagarosamente seu cabelo para trás, o que me permitiu ver suas orelhas e aqueles brincos cafonas. Senti minha pupila dilatar e meus dentes se apertarem. No impulso, agarrei os dois braços de Raquel com as mãos firmemente, levantei-a e pressionei minha boca contra a dela, explorando-a com minha língua. Era impetuosa a forma como eu a beijava, e, com o mesmo ímpeto e tesão, ela respondeu. Os homens que gritavam enlouqueceram ao ver aquele beijo, e, também, quando puxei o corpo dela para o meu e dei um tapa em suas nádegas, apertando-as. Que gosto maravilhoso essa mescla de gin e suco de tomate. Pensei.
Dançava distraidamente no meio do salão do clube, que, horas depois, não tinha tantas pessoas, quando Rachel me puxou pelo braço e disse:
— Está na hora. Vamos? — e fez sinal para que eu pagasse a conta e fôssemos encontrar o garçom holandês.
Na porta de saída do bar onde Finn trabalhava, eu fumava um cigarro, enquanto esperava Rachel trazê-lo. Instantes depois, vi-o chegar com ela.
— Oi! — disse ele, timidamente.
— Oi! — respondi com a voz meio embargada.
— Tem um lugar aqui que podemos ficar mais à vontade — sugeriu Rachel, enquanto Finn me olhava, analisando-me, esperando para saber onde iríamos transar.
— Estou hospedado no Waldorf Astoria Amsterdam. É próximo daqui. Vim andando. Podemos ficar lá. Teremos mais conforto — comentei, dei mais um trago no cigarro e vi-os se olharem.
Rachel torceu os lábios e falou:
— Combinamos que não sairíamos do bairro...
— Para com isso, Rachel. Você não quis sair daqui porque tinha medo de eu lhe fazer algum mal. Finn vai conosco. Você estará segura com ele. Garanto que não faremos nada que já não tenha feito na vida. Não quero ficar aqui. Quero ir para a minha suíte. Lá, terei mais conforto, além de tudo que preciso para fazer sexo como gosto. E será uma oportunidade para vocês conhecerem uma suíte de luxo de um dos hotéis mais ricos de Amsterdã. Tenho certeza de que clientes como eu não aparecem para vocês todos os dias, não é? — expus, de forma firme, deixando claro quem estava no controle ali.
Finn e Rachel se olharam novamente, buscando um no outro a aprovação mútua. Então, o garçom falou, quase com indiferença:
— Por mim, tudo bem.
Olhei para Rachel, enquanto dei o último trago daquele cigarro, esperando sua resposta.
— Tudo bem. Vamos lá.
Abrindo a porta da minha suíte, fiz sinal com a mão para que Finn e Rachel entrassem primeiro. Foi impossível não perceber o espanto no rosto deles por estarem um hotel de luxo. A imponência e beleza do quarto era admirável. Até eu, já acostumado com esses lugares, quando vi, encantei-me. Passeando cuidadosamente, os dois observavam a sala de estar e moviam o pescoço para tentar ver o segundo cômodo, onde estava a minha cama. Finn, visivelmente nervoso e tímido, retirou o casaco e perguntou:
— Posso tomar um banho antes?
— Não. Quero sentir o cheiro sujo do seu corpo. Rachel, ponha uma música para nós — respondi a ele, e retirei meu casaco e cachecol rapidamente, jogando-os sobre o sofá e aproximando-me dele.
Finn tinha a mesma altura que eu. Era branco, ruivo e seu corpo parecia o de um adolescente, assim como o meu. Devia ter vinte e cinco anos, no máximo, embora seu aspecto fosse de um menino raquítico. Os poucos pelos ruivos que nasciam em sua barba conferiam um pouco de charme ao seu rosto, mas não o suficiente para que fosse considerado, por mim, um homem belo. Ele não era feio e nem belo. Era comum, o que, em certos casos, é pior que ser feio. Não sei por que me interessei por ele. Será que estou cansado de homens belos em minha cama? Perguntei a mim mesmo, ainda caminhando em sua direção, contemplando seu rosto assustado, depois que o proibi de tomar banho. Próximo a ele, perguntei, deslizando minhas mãos em seus braços magros:
— Os cabelos do pau também são ruivos? — e encarei-o.
Ele ficou desconcertado e suas bochechas, logo, enrubesceram. Depois de engolir em seco, respondeu, quase gaguejando:
— São. Eu não sabia que iríamos fazer isso hoje, então não me preparei direito, se é que me entende — já deixando claro que não havia feito depilação e higienizado seu membro.
— Não se preocupe, Finn. Gosto de cheiro natural — e desci minha mão por seu abdome até o meio das calças, apertando levemente seu membro.
Finn me olhou como se respondesse positivamente ao meu toque. Nisso, sussurrei, fitando seus olhos claros:
— Ponha para fora. Quero chupar — e me ajoelhei diante dele, vendo-o abrir a calça e abaixá-la com a cueca, que mais parecia um pijama.
Meus olhos viram seus pelos ruivos. Eles eram grandes e cobriam parte do pênis mole e enrugado dele. Sua glande estava coberta pela pele, então, segurei-a com um movimento leve e a fiz aparecer, deixando-a à mostra. Nisso, senti o cheiro de sujeira de imediato, e, logo, percebi que entre o prepúcio e a glande havia um pouco de esmegma. O cheiro fedido daquele sebo grudado na cabeça do pênis dele me fez arfar. A sensação foi maravilhosa. Em segundos, percebi-me excitado e, sem resistir, molhei meus lábios e pus somente a cabeça do pênis dele em minha boca, lambendo e engolindo aquela sujeira compassadamente. Que coisa maravilhosa! Adoro isso! Repetia para mim mesmo, controlando-me para não gozar de tanto tesão que senti ao misturar minha língua àquele sabor amargo. Ainda fazendo movimentos circulares com a língua, tentando extrair todo o sebo da glande, percebi seu membro crescer em minha boca, enquanto liberava pequenas poluções, com certeza, resultado do seu tesão. O garoto está gostando do boquete, Gaius! Disse para mim mesmo. Quase que em uma fração de segundos, minha boca testemunhou a espessura do pênis dele, que a preencheu completamente, quase me forçando a erguer minha cabeça, pois seu pênis era levemente inclinado para cima. Minha boca estava mais úmida que minha cueca. Então, engoli aquela baba vagarosamente, enquanto abocanhava seu membro inteiro até que meu nariz encostou naqueles pelos ruivos e desordenados. Uau! Não sei como conseguiu entrar inteiro em minha boca. A cabeça do pau dele está encostando em minha úvula. Que delícia! Pensava, enquanto ouvi os primeiros gemidos de Finn. Ele flexionou os joelhos para ajustar seu membro em minha boca e começou a mexer o quadril vagarosamente, deslizando-o para dentro e para fora, comprazendo-se. Abrindo os olhos, vi seu rosto flamejar de tesão. Ele arfava toda vez que conseguia socar seu pênis inteiro em minha boca e continuou com pequenas e suaves estocadas. Percebendo a dinâmica do prazer que Finn sentia, pressionei meus lábios, esfregando-os mais intensamente naquela pele, e acelerei os movimentos a fim de ouvi-lo gemer mais alto. Funcionou. Em minutos, Finn e eu estabelecemos uma conexão a partir daquele sexo oral. E, enquanto eu me deliciava com aquilo, o ritmo dançante e crescente de uma música eletrônica invadiu o ambiente da minha suíte. Rachel aumentou o volume do som dançante do DJ Martin Garrix, e, depois de pegar a cigarreira e o isqueiro no bolso do meu casaco, verteu vinho em uma taça e deu o primeiro gole, seguido de um trago, mantendo seus olhos fixos em nós dois, enquanto fazia tudo isso. A sensação de ter alguém me assistindo chupar o pênis de Finn era intensa. Senti-me poderoso naquele momento. Não sei explicar, mas por um instante comecei a pensar que, por mais que tenha vivido dois anos em um relacionamento totalmente exótico, ainda havia muito o que explorar no mundo do sexo. Sentia que cabiam mais coisas em minha cama. Chega de pensar, Gaius! Agora, abra as pernas e deixe ele meter em seu cu! E assim meus lábios soltaram a cabeça do pênis dele, emitindo aquele barulho que as crianças fazem, quando um adulto lhe rouba a chupeta da boca contra a sua vontade. Levantei e ordenei a ele:
— Vamos para a cama — e depois de encontrar os olhos de Rachel, comecei a caminhar para o outro cômodo da suíte.
Finn levantou as calças suavemente e me seguiu. Nisso, a voz dela nos fez parar:
— Fiquem aqui. Eu quero ver — e deu mais um trago no cigarro, expressando que gostaria de me ver transar com o garçom ali mesmo.
Ergui minha cabeça e aceitei o desafio. Livrei-me do par de tênis que cobriam meus pés, empurrando-os um contra o outro. Desabotoei a calça, abaixei-a com a cueca branca, já encharcada de prazer, e fiquei de quatro no sofá, esperando que o garçom me comesse. Empinei minhas nádegas, rocei meu rosto no tecido do sofá, virei minha cabeça e, mais uma vez, olhei para Rachel, que logo retirou do seu casaco um preservativo e levou para Finn. Ele rasgou o papel laminado, desenrolou-o no membro, salivou os dedos, lubrificou meu ânus, aproximou-se, mirou bem e enfiou de uma vez. A primeira dor que senti não foi de prazer. Foi aguda e cortante. Puta que pariu! É grossa demais! Parece o pau de Marcus. E, tentando aguentar aquele membro grosso que dilacerava minhas carnes, lembrei do meu irmão. Em instantes, minha boca ganhou vida própria e meus lábios começaram a se contorcer, um contra o outro, em meio aos gemidos que escapavam das minhas narinas. Ai! Que gostoso! Repetia para mim mesmo, domando meu corpo ao prazer da minha mente. Finn estocava minha bunda com força, enfiando-o inteiro, desordenadamente, sem ritmo algum. Seus movimentos aceleravam mais e mais, e os meus gemidos também. Nisso, percebi-me gritando de prazer e dor, em um crescente compasso de gemidos intermináveis, que não se contentavam em ficar presos dentro de mim. Gritar me conferiu uma sensação de liberdade e transcendência. Então, fechei meus olhos, entreguei-me àquele pequeno transe sexual e passei a gritar cada vez mais alto. Não demorou, e percebi que Finn diminuiu o ritmo das estocadas. Nisso, ouvi sua respiração descompassada, acompanhada de pequenos tremores em suas coxas, que estavam coladas nas minhas. Ele soltou o ar de seus pulmões, expulsando-o de uma vez. E, logo, senti seu pênis sair de dentro de mim. Ele goza com muita educação. Pensei, e procurei o rosto de Rachel com meus olhos, ainda de quatro no sofá. Levei minha mão ao meu membro e me masturbei. Rapidamente, senti aquela coceira gostosa possuir meu corpo. Gozei e esporrei no sofá abundantemente, enquanto gritava para Rachel, mirando bem em seus olhos pretos. Soltei o ar dos pulmões e derreei meu corpo sobre meu próprio sêmen. Totalmente relaxado, tentava equilibrar minha respiração, entre um abrir e um fechar de olhos, encarando o lustre da sala da suíte, ainda me deliciando com aquele sexo. Alguns instantes em silêncio e vi Finn voltar do banheiro, que ficava no outro cômodo, tomar seu casaco e cobrir seu corpo. Ele parecia envergonhado. Olhei-o e, em seguida, para Rachel, que mantinha um semblante misterioso sobre tudo que viu. Ela deu mais um gole no vinho e, depois que repousou a taça sobre a mesa, falou:
— Estamos indo embora — e começou a caminhar em direção a Finn, que a aguardava para saírem juntos.
Levantei-me do sofá e, enquanto subia a cueca e a calça, comentei:
— Rachel, deveria dormir aqui. Podemos tomar um bom café da manhã ao acordarmos — e abotoei a calça, logo depois de fechar o zíper.
Rachel parou de andar, virou-se para mim e moveu o pescoço, tentando descobrir qual era a minha intenção com aquele pedido. Então, respondeu profissionalmente:
— Quinhentos a mais.
— No meu casaco tem uma bolsa. Pode pegar.
Ela arregalou os olhos, abrindo levemente a boca, espantada com a minha ordem:
— Não tem medo de eu roubar você? — e deu um sorrisinho provocador.
Caminhei até ela e, em um movimento sensual, sugerindo que iria beijar seus lábios, sussurrei próximo à sua boca, intercalando minha pupila entre seus olhos e lábios:
— Não. Você não é uma ladra. É só uma puta. E eu gosto disso — e me afastei, esperando sua reação.
Vi aqueles lábios cobertos pelo batom vermelho escarlate formarem um sorriso para mim.
Finn nos interrompeu, oferecendo-se:
— Se quiser, posso ficar também...
— Rachel, pague a ele. Finn, antes de sair, passe na recepção e avise que quero mais duas garrafas de vinho. Informe que estou bebendo os da Château Lafite Rothscild. E deixe seu número de celular com Rachel para o caso de eu querer encontrar você de novo — ordenei, ainda preso nos olhos dela, deixando claro que ele deveria ir embora.
Ao ouvir o barulho da porta fechando, depois que Finn saiu, comentei com ela:
— Pegue seu dinheiro e fique à vontade. Vou tomar banho — dando-lhe as costas.
Sentia um desconforto em meu corpo. Não sabia ao certo onde nem o porquê. Virei-me para o outro lado da cama, agarrando-me aos travesseiros, não querendo acordar. Foi inútil. Abri meus olhos e, logo, lembrei-me que Rachel havia dormido na suíte. Movi meu rosto e procurei-a na cama. Onde ela está? Levantei-me, fui até a sala e vi-a deitada no sofá, dormindo com a boca aberta, ressonando profundamente. Passeei meus olhos pelo seu corpo coberto com as mesmas roupas da noite anterior e parei em seu rosto ao percebê-la se mover. Suas orelhas eram tão lindas, mesmo com aqueles brincos baratos e cafonas. Vou tomar banho. Estou com fome. Disse a mim mesmo, enquanto saía da sala. Tomei o telefone, liguei para a recepção, e pedi café para dois.
Ainda de toalha, saindo do banho, ouvi alguém bater na porta. Cobri meu corpo com um roupão e fui receber o café. Enquanto dois garçons empurravam duas mesinhas com diversas bandejas cobertas, Rachel acordou e se sentou no sofá. Fechei a porta e perguntei a ela:
— Por que não dormiu na cama comigo? — e fui descobrindo as bandejas para ver o que queria comer.
— Você se mexia demais na cama. A todo instante batia em mim. Tem um sono inquieto e fala durante a noite — respondeu, coçando os olhos e bocejando.
Eu falo durante a noite? Ninguém nunca reclamou. Pensava, enquanto me servia de café. Levei até ela e respondi:
— Desculpe se não a deixei dormir.
— Não tem problema. O sofá é igualmente confortável. Que horas são? — e levantou-se, dando um gole no café.
— Não sei. Deve passar das 15h.
Ela esbugalhou os olhos.
— Meu Deus! Preciso ir embora. Minha filha tem compromisso à tarde com os estudos. Tenho muita coisa para fazer...
— Calma, Rachel. Tome o seu café com calma. Sua filha sabe que está trabalhando — comentei, interrompendo-a, tentando tranquilizá-la.
— Não podia ter dormido aqui. Estou atrasada — e, logo, soltou a xícara de café na mesa e tomou seu casaco para vestir.
Fiquei alguns instantes observando seu nervosismo e pressa. Depois, comentei:
— Pensei que podíamos passar o dia juntos hoje. O que acha?
Ela parou, moveu o pescoço em desconfiança, tentando descobrir por que queria passar o dia com ela. E, em uma frase quase grosseira, questionou:
— O que você quer comigo, garoto? Pagou-me dois mil por uma noite. No momento em que ia embora, pediu-me para ficar. E, agora, quer passar o dia inteiro comigo? A gente nem transou, cara. O que está rolando aqui? Está se apaixonando por mim, é? — e pôs as mãos na cintura, esperando minha resposta.
— Calma. Não sei porque ficou nervosa. Foi só uma ideia. Pensei em sairmos, visitar algumas lojas, comprar algumas coisas, almoçarmos em um bom restaurante, conversarmos... Essas coisas, entende? Imaginei que pudesse gostar — e mordisquei um morango, encarando-a, esperando sua resposta.
Seu semblante, antes de indagação e dúvida, transfigurou-se em alegria e prazer. Suas feições demonstravam isso.
— Fazer compras? — perguntou com o tom de voz baixo e suave, sugerindo que eu continuasse falando.
— Sim. Comprar roupas. Sabe que tenho sentido muito interesse em joias essas últimas semanas. Anéis, colares, brincos, pulseiras, tiaras... Quem sabe, não encontro algo que me agrade? Ou que fique bem em você também? — dei uma última mordiscada no morango e um gole no café, percebendo seus olhos brilharem ao me ouvir falar de roupas e joias.
Rachel permaneceu em silêncio, pensando e me encarando. Depois de desviar seus olhos dos meus, algumas vezes, caçando palavras para aceitar, falou:
— Quinhentos a mais. E já vou avisando que não posso dormir com você hoje à noite...
— Rachel, não precisamos ficar falando de dinheiro a todo instante. Isso é tão chato. Por que não fazemos assim? Todas as vezes que você estiver comigo, pago-te dois mil euros, seja para um turno ou para o dia inteiro? Fica bom assim para você? Se nos virmos todos os dias, poderá passar mais tempo com a sua filha e não terá de ir para a vitrine à noite, pois sei que você não ganha esse valor trabalhando a noite inteira, não é? O que acha? — explanei, suavemente, induzindo-a a aceitar a me fazer companhia durante o passeio.
Depois de mais alguns instantes em silêncio, Rachel perguntou:
— Tem algum telefone aqui para eu ligar para minha filha? — e abriu um sorriso para mim, confirmando que passearia comigo.
— Tem, sim. Ligue e tome seu café. Vou tomar meu drink e me arrumar — e sorri para ela, saindo com minha taça na mão.
Caminhava para o outro cômodo, quando a ouvi perguntar, ansiosa:
— O que é isso? Por que tem tanta comida aqui? Onde vamos comprar as joias?
— Passo o dia beliscando um pouco de cada coisa. Por isso, peço um café completo. Tome seu champanhe e coma o que quiser. Alimente-se bem, pois hoje iremos às compras e não sabemos a que horas voltaremos. Vamos começar com a Tiffany. E, depois, sabe-se lá Deus o que mais — respondi, já dentro do banheiro, tirando a roupa, depois de ligar o chuveiro, aumentando o volume da voz a cada frase.
Era fim de tarde e Rachel e eu estávamos animados. Como estava quente e abafado, optamos por ir andando do hotel até a loja, e, durante todo o caminho, tive que me controlar para não parecer chato, pois ela não parou de falar por um instante sobre como aquele era um dos dias mais importantes em sua vida. O ímpeto dela era visível, e sua ansiedade era enorme. Sorria algumas vezes para ela, tentando compartilhar aquele momento único em sua vida, mas confesso que meus pensamentos eram bem diferentes do que meus lábios transmitiam. Nada agrada mais uma puta que um homem que gaste dinheiro com ela. Pensava, todas as vezes que a ouvia comentar, animadamente, que iria visitar uma das grifes de joias mais caras do mundo, e como cliente, o que a deslumbrava mais ainda. Pelo amor de Deus! É só uma loja! Pare de falar sobre isso! Repetia a mim mesmo, esforçando-me para não deixar escapar o que pensava pela minha boca. É ali, finalmente.
Ao entrarmos, um homem magro, careca e de barba aparada, recepcionou-nos com os olhos. Duas atendentes logo sorriram para nós, ao mesmo tempo em que um garçom se afastou, certamente, para buscar aquele champanhe barato que eles costumam servir para persuadirem os clientes a comprar. Rachel estava nervosa e deslumbrada por entrar na Tiffany. Considerando as poucas gafes que cometeu, posso afirmar que ela se saiu bem. Nem parecia aquela prostituta que conheci na noite anterior, vendendo seu corpo em uma vitrine por cinquenta euros. Ela observava o ambiente com os olhos brilhantes, enquanto caminhávamos despretensiosamente pelas ilhas de vidro espalhadas pelo salão da loja. Não demorou e, logo, o homem careca se aproximou de nós. Ele vestia calça, sapatos e camiseta preta, e, sobre seus ombros, repousava um paletó de veludo azul-marinho. Usava óculos quadrados com armação grafite, o que realçava seu tom de pele claro.
— Boa tarde! Sejam bem-vindos! Posso ajudá-los em algo que desejem? — perguntou, parcimoniosamente, explicando bem cada palavra, tentando ser o mais atencioso possível.
Revirei meus olhos em desagrado àquele atendimento falso. Depois de um sorrisinho forçado, dei as costas para ele, continuando observando uma ilha de colares próximo a mim. Sem resposta, o homem abriu a boca para falar novamente. Nisso, interrompi-o:
— Acho que minha amiga quer ver alguns brincos. Por que não os mostra para ela? — sugeri, ainda contemplando aqueles colares singelos, quase pedindo para que me deixassem sozinho.
— É claro. A senhora pode me acompanhar, por favor? — disse ele a Rachel — levando-a consigo.
Graças a Deus que ela saiu de perto de mim! Não suporto pessoas pobres e deslumbradas! Pensei e tentei acalmar minha irritação, observando aqueles colares tão finos e singelos. Espremia meus olhos e inclinava meu rosto a fim de vê-los melhor. A variedade era enorme, de todos os tipos, estruturas e formatos. Um deles chamou a minha atenção. Suas argolas eram minúsculas, quase imperceptíveis a olhos nus, e seu pendente tinha o formato de um ramo de oliveira, com sete folhas, três em cada lado e uma na ponta. O pendente era preso ao colar por suas pontas, o que o evidenciava ao estar sobre a pele. Que lindo! Por um instante, o passado invadiu meu presente e, logo, imaginei como aquela joia cairia bem naquele peito rígido e peludo do meu irmão. Distraído entre lembranças, ouvi uma voz. Era uma das atendentes que se aproximava e perguntava calmamente se poderia me ajudar. Respondi, pedindo para ver o colar com ramo de oliveira. Enquanto ela dava a volta para o outro lado da ilha de vidro, um garçom se aproximou. Ele carregava em sua mão duas taças de champanhe. E, antes que dissesse alguma coisa, irritando-me, antecipei-me e falei:
— Ela quer champanhe. Por favor, traga-me um pouco de água — e apontei para Rachel com os olhos e, logo, vi o garçom dar as costas para mim, indo em direção a ela, que não parava de falar com o homem careca sobre todos os brincos que tinha gostado de experimentar.
Voltei meus olhos para a atendente, e vi-a vestir uma luva preta em uma mão, abrir a vitrine e retirar cuidadosamente o colar. Foi um verdadeiro espetáculo de beleza, vê-lo sair da vitrine sobre aquele tecido, que cobria a mão da atendente. Estonteante! Estendendo-o diante de mim, ela disse:
— Não é lindo? Essa é uma bela homenagem ao ramo de oliveira, que é símbolo da paz e da abundância. O colar e o pendente são de ouro vinte e quatro quilates e tem 45,75 centímetros. Caso seja necessário, se for da vontade do Senhor, podemos ajustá-lo para que fique perfeito em seu corpo. Deseja experimentar?
— Sim, por favor — respondi.
Então, ela me conduziu para a frente de um grande espelho vertical, onde pude ver meu corpo inteiro, e, suavemente, posicionou-se atrás de mim, pedindo licença, enquanto repousava suas mãos em meu pescoço. Em instantes, aquela preciosidade reluziu sobre o blazer branco que cobria meus ombros.
— O Senhor não deseja retirar o blazer? Poderá vê-lo melhor em seu corpo — perguntou, sugerindo.
— Não é necessário — e, logo, afastei-me dela, aproximando-me do espelho, ajustando aquela joia pendida em meu pescoço, a fim de que ficasse no centro do meu peito, sobre a camiseta verde escuro que vestia.
Movendo meu corpo para a direita e esquerda, tentando vê-lo sob diferentes ângulos, perguntei a ela:
— De quem é o designer? — e fiquei meio de perfil diante do espelho, encantado com a joia.
— É de Paloma Picasso. O Senhor conhece o trabalho dela?
— Sei que assinou uma fragrância para a L’Oréal no passado. Não sabia que era designer de joias.
— Ela projeta para a Tiffany desde 1980. Essa é uma de suas peças mais belas — comentou.
Preciso ler mais sobre joias. Pensei e, logo, pedi para que ela a retirasse do meu pescoço. Em seguida, comuniquei que queria duas unidades daquele colar. O garçom se aproximou com a minha taça de água. Depois de dar o primeiro gole, ouvi o estalo de um cristal no chão. No mesmo instante, pensei que Rachel deveria ter feito algo de errado. Procurei-a com os olhos pela loja e vi-a pedindo desculpas ao homem careca por ter deixado cair a taça de champanhe no chão, sujando a calça dele. Ela se desculpava repetidamente e tentava limpá-lo com um lenço branco que havia retirado da bolsa, completamente atrapalhada. O homem, delicadamente, tentava impedi-la de tocar nele, falando que não havia motivos para que se desculpasse. Olhei aquela cena e vi minha irritação ir embora, dando lugar à enorme vontade que tive de rir. Oh, meu Deus! Sinto que os dias que passarei aqui em Amsterdã serão animados com ela. A atendente me olhou com um sorrisinho no rosto, controlando-se. Então, comentei:
— Estou hospedado no Waldorf Astoria Amsterdam. Peça para entregarem na suíte de Gaius Barrys. Ela vai escolher um par de brincos. Eu pagarei. E é melhor eu levá-la daqui antes que quebre mais alguma coisa — e dei um sorrisinho para a atendente, estendendo meu cartão de crédito para ela, enquanto a vi me olhar como se o meu nome a tivesse feito lembrar-se de algo.
Será que ela me conhece? Pensei. A atendente saiu e deixou-me sozinho. Próximo a mim, o garçom observava a cena de Rachel com o homem careca, controlando-se para não rir. Então, chamei-o e pedi sussurrando:
— Sei que o champanhe que vocês servem aqui não é bom, mas fiquei mais animadinho agora. Traga-me uma taça, por favor — e pisquei o olho para ele, que sorriu para mim como se confirmasse o que disse.
E, em uma fração de segundos, minha irritação passou, e meu humor voltou. Então, salvei o homem careca de um constrangimento maior:
— Rachel! Escolha seus brincos e vamos embora. Temos que almoçar — e tentei não gargalhar ao lembrar dela limpando as calças do homem careca.
Acho que vou passar mais tempo com ela. Será divertido! Pensei.
Naquele mesmo dia, por volta das 21h, retornei para a suíte, pedi algo para comer e, depois de um longo e demorado banho, cobri meu corpo com o roupão, acendi um cigarro e dei um gole no vinho. Lembrei-me de Alyce. Tomei o celular na mão e vi dezenas de e-mails não lidos e algumas mensagens também. Abri a conversa com Alyce e li novamente a última mensagem que ela me enviou:
“Já estamos em Gramado. A viagem foi um pouco cansativa. Todos estão bem. Sinto que Arthur está tímido. Ele comenta que tem saudade do pai. Já o vi chorando em alguns momentos. Tento distraí-lo. Às vezes, consigo. Não se preocupe conosco. Descanse e aproveite sua viagem. Se precisar de algo, não hesite em me avisar”.
Quis enviar uma mensagem para ela, mas desisti. Tive a sensação de que iria atrapalhar e, também, que não seria bom para mim, pois precisava ficar sozinho para poder organizar minha cabeça. Ela tem dinheiro e está com sua família no Brasil. Não há com que se preocupar. Como pretende ficar sozinho se no segundo dia em Amsterdã fez amizade com uma puta e já planejou encontrá-la outras vezes, Gaius? Não entendo você! E, assim, continuava brigando com minhas incoerências mentais. Deslizando o polegar entre as mensagens, vi uma de Jean Paul, meu terapeuta:
“Gaius, perdeu o horário da nossa última sessão. Precisamos agendar um novo horário”.
Puta que pariu! Esqueci completamente. Precisava mais de Jean Paul que ele de mim. Liguei para ele no mesmo instante.
— Gaius? — disse com a voz indiferente.
— Desculpe, Jean Paul. Sei que não gosta que me atrase ou perca as sessões. Aconteceram algumas coisas, e eu me perdi nos horários — e dei um trago no cigarro, caminhando pela suíte, esperando a bronca que ele sempre me dava todas as vezes que aquilo acontecia.
— Gaius, já conversamos sobre isso. Preciso lembrá-lo de que meu tempo para nossa terapia é valioso. Aceitei sua proposta de continuarmos fazendo terapia online por causa de tudo que estava acontecendo, mas não me sinto confortável todas as vezes que você se atrasa ou falta às sessões. Essa ferramenta tecnológica impõe diversas fragilidades em minha abordagem psicanalítica. Não quero ter que lidar com problemas que podem ser evitados. Preciso que se discipline e marque horários comigo que possa cumprir. Essa não é a primeira vez que temos essa conversa. Não gostaria de ter que mencionar esse assunto novamente com você — disse ele, educadamente, surrando-me com a língua mais uma vez por causa das remarcações das sessões de terapia.
— Desculpe, Jean Paul. Prometo que irei me organizar melhor. Podemos recuperar a sessão perdida agora? — e espremi meus dentes uns contra os outros, sorrindo silenciosamente, enquanto torcia que, mais uma vez, ele se adaptasse ao meu horário.
Ouvi-o respirar, quase que bufando. Então, respondeu:
— Ainda não consegui jantar. Houve imprevisto aqui no hospital. Vou comer alguma coisa e ligo a câmera em quarenta e cinco minutos. Aí em Nova Iorque são quase 16h, não?
— Estou em Amsterdã. É o mesmo horário de Mônaco. São quase 22h. Vou jantar e aguardo você ligar a câmera — e desliguei.
As sessões com Jean Paul me ajudavam a organizar meus pensamentos e sentimentos, além de conferir clareza sobre os passos que dei e os que estava propenso a dar. Ele era um porto seguro para mim e para minhas instabilidades mentais. Não foi à toa que, depois da quarta sessão com meu antigo psicólogo, quando ainda estava na Suécia, resolvi encerrar aquela terapia e pedir a Jean Paul que me atendesse de forma virtual, visto que estávamos em países diferentes: ele, em Mônaco, e eu, à época, na Suécia. Desde aquele momento, ele voltou a ser meu terapeuta, e pude continuar o tratamento que iniciei no Center Hospitalier Princesse Grace, em Mônaco, anos atrás. Desde que retomamos, tínhamos o compromisso de conversar por cinquenta minutos uma vez por semana. Algumas vezes, perdi as sessões e me atrasei em outras, o que lhe causava irritação e conferia a ele o direito de me dar uma bronca na sessão seguinte. Ele e eu estabelecemos uma dinâmica razoável a partir dos atendimentos via internet, visto que me convenci de que precisava fazer terapia somente com ele. Aquele meio era a única opção de tornar as sessões possíveis de se realizarem. Tive que me adaptar às suas exigências: uma sessão por semana, no mínimo; se julgasse necessário, teríamos duas ou até mesmo três; precisaria estar um local sozinho e sem interferências de outras pessoas; não poderia beber ou fumar durante a sessão; a câmera do meu celular precisava estar ligada para que pudesse me ver e conversar comigo. Além disso, tive que pagar quase o triplo do que se paga normalmente por uma sessão de terapia em Mônaco. Com o valor que pago a ele por sessão, quase posso faltar, quando quiser. E assim, passaram-se mais de dois anos em que nossas sessões ocorriam. E, ao longo desse tempo, nunca tive dúvidas de que Jean Paul me conhecia muito melhor que eu mesmo, embora, às vezes, discordasse dele, principalmente quando me era conveniente. Sempre confiei muito mais no que ele me dizia do que eu mesmo pensava sobre mim. A psicanálise chamaria isso de transferência. Eu chamo de sensatez. Dava-me muito bem com ele. Só lamentei bastante que as coisas mudaram entre nós no futuro.
Ainda de roupão, sentado à mesa, tendo o celular à minha frente, no horário estabelecido, a foto dele surgiu no visor.
— Boa noite, Gaius! — e logo deitou suas costas em sua cadeira de trabalho daquela mesma sala onde nos encontramos diversas vezes anos atrás, tentando encontrar uma posição confortável para iniciar a sessão comigo.
— Boa noite, Jean Paul! Resolvi sair de Nova Iorque. Estou em Amsterdã. Queria ficar um tempo sozinho depois de toda aquela loucura, e imaginei que aqui fosse um lugar bom para isso. Mas não foi bem assim. No segundo dia conheci uma prostituta, e ela já dormiu em minha suíte com um garçom que me interessei no Bairro da Luz Vermelha. Mas, antes disso, fui ao Van Gogh Museum. Você sabia que lá tem uma pintura dele com a orelha cortada? É um autorretrato. Ele cortou a orelha como gesto de amor a uma prostituta chamada Rachel, que morava em Arles, na França... — e continuei contando a ele todas as coisas que estavam acontecendo em Amsterdã, desde o prazer pelo sebo no pênis de Finn até mesmo o vexame que Rachel deu na Tiffany, quebrando uma taça de champanhe.
Com o tempo, considerando todas as situações que já haviam sido apresentadas a Jean Paul, ele passou a fazer algumas perguntas a mim no fim de cada sessão. Não eram muitas. Duas ou três, no máximo. Às vezes, somente uma. Mas sempre me perguntava algo. E elas me deixavam pensativo durante toda a semana que antecedia a próxima sessão com ele. Naquela, perguntou-me ele:
— Gaius, que tipo de joia você comprou para sua amiga prostituta?
— Comprei um par de brincos.
— Comprou um enfeite para as orelhas dela... — comentou, tentando me fazer pensar.
— E qual o nome da sua amiga prostituta? — e arqueou as sobrancelhas, esperando minha resposta.
Parei por um instante e pensei que não sabia o nome da prostituta. Então, lembrei-me de que a tinha batizado. Nisso, respondi:
— Não sei o nome dela. Não perguntei.
— E como você a chama?
— Chamo-a de Rachel — e senti um tremor dentro de mim.
— Entendi, Gaius. Está na hora de encerrarmos. Vemo-nos na próxima sessão. Boa noite! — e desligou a câmera, encerrando nossa terapia, deixando-me angustiado.
Naquela noite fui dormir pensativo, mas acordei no dia seguinte disposto a explorar um pouco mais do Bairro da Luz Vermelha. Almoçando com Rachel, compartilhei alguns motivos que me faziam estar em Amsterdã e, também, meus planos para um futuro breve. Depois de me ouvir atentamente, senti em seus olhos o apoio que precisava para conseguir fazer o que queria naquela cidade e, ainda, que podia contar com ela para trabalhos futuros. E assim aconteceu. Ela me iniciou em um mundo que eu estava ávido por conhecer, mesmo já tendo sentido um gostinho no passado. Naquele momento, precisava de mais, e somente uma profissional do sexo poderia me dar as unhas certas para que eu pudesse coçar aquela micose que pinicava minha mente como uma comichão. Os quatro meses que passei em Amsterdã ao lado de Rachel foram o suficiente para que pudesse saber que havia muito a ser explorado dentro de mim e na minha cama também. Recordo-me bem de, naquele almoço, ter dado um passo importante rumo à minha descoberta e liberdade. Enquanto comíamos uma sobremesa, Rachel perguntou:
— Quanto tempo pretende ficar aqui? — e deu mais uma garfada na poffertjes.
— Vou passar quatro meses aqui em Amsterdã. Depois, irei a Gramado, no Brasil. Fico dois meses lá com Alyce e minha família. Retorno para Nova Iorque e vou começar a pôr em prática meu plano.
— Então, temos tempo para explorar bem o que pretende, não? — perguntou ela, tranquilizando-se de que conseguiria se organizar para fazer o que pedi a ela.
— Temos sim. Mas já quero duas coisas com urgência — e encarei-a com a cabeça meio baixa, enquanto ela se deliciava com aquele doce.
— Você quem manda. O que quer? — perguntou.
— Preciso de dois homens negros e bem-dotados para fazer uma dupla penetração anal em mim. E quero que seja gravado. Mas isso pode esperar para os próximos dias. Para hoje, quero me vestir de mulher e ficar na vitrine do Bairro da Luz Vermelha a noite inteira. Hoje, quero ser um travesti de programa — e passei a língua em meus lábios, tentando absorver mais o sabor do recheio de poffertjes, sentindo a luxúria se agitar dentro de mim.
Como em um lampejo, percebi-me dentro do avião que me levava ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Passei a madrugada inteira pensando e lembrando o que aconteceu em Amsterdã. Recordei o momento em que retornei à Nova Iorque pela primeira vez, de como foi difícil convencer Aidan que precisava de um tempo a sós comigo mesmo, da ajuda que Alyce me deu ao levar minha família para o Brasil e ficar com eles durante minha viagem à Holanda e, ainda, de tudo que vivi com Rachel em Amsterdã durante aqueles meses. Tudo isso me veio à mente durante aquele voo. Horas depois, pisquei os olhos novamente, tentando me certificar de que não havia ficado preso no passado e pude enxergar nitidamente Alyce, que cochilava em uma poltrona no avião à minha frente. Gaius, o avião já vai aterrizar. Alyce precisa saber o que vai acontecer. Pensei e, logo, chamei-a baixinho, tentando acordá-la. Ela e eu conversávamos quase sussurrando para que os seguranças não ouvissem o que falávamos. Disse a ela que um vídeo meu havia sido divulgado na internet na noite anterior. Depois de explicar a natureza do vídeo e deixar claro qual seria a minha resposta à imprensa, preparei-a, afirmando que tudo que havíamos planejado iria acontecer a partir daquele dia. E, também, que era o momento de ela e Max, meu relações públicas, alinharem as ideias e estratégias mais ainda. Pedi que ela deixasse de lado as diferenças que existiam entre eles e focassem no trabalho. E, ainda, que ficasse calma e não demonstrasse nenhum tipo de vulnerabilidade, principalmente na frente de Aidan, pois era necessário que ela confirmasse sempre as mentiras que eu contaria a ele para justificar tudo que estaria por vir. Alyce não se sentia confortável em mentir ou executar o que tínhamos planejado, mas, como profissional que sempre foi, assentiu com a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e que faria o que pedi. Ainda sussurrando, ela fez uma última pergunta:
— Doeu? — e fez cara de nojo para mim.
— Sim. E muito. Senti as carnes rasgarem quando o homem enfiou o segundo pau no meu cu. Mas foi maravilhosa aquela dor — respondi.
Após aterrizarmos, pouco tempo depois chegamos ao resort onde o Sr. Daan morreu. Fomos levados pelos funcionários até a suíte em que Aidan estava. Conhecendo-o bem, não foi surpresa encontrá-lo como o encontrei. Ao abrir a porta da suíte, vi Aidan em pé na varanda, olhando para o horizonte, de costas para mim. Com certeza, passou a madrugada inteira sem dormir, visto que chegou ao hotel algumas horas antes de mim. Em uma mão ele segurava um copo de uísque. Entre os dedos da outra, um cigarro. Ele só fumava quando estava nervoso ou muito feliz. Percebendo que havíamos chegado, Aidan virou o rosto e me viu. Seus olhos cor de âmbar não podiam ser percebidos naquele momento. Lá, havia apenas a vermelhidão de alguém que chorou a madrugada inteira, coçando os olhos com as mãos. De frente para ele, contemplando-o em silêncio, vi-o soltar o cigarro e o copo de uísque no chão e cobrir o rosto com as duas mãos, chorando desesperadamente, entre gritos contidos e lágrimas. Naquele instante, percebi-o frágil e, ao mesmo tempo, sexy. Por que sinto tanto tesão ao vê-lo assim, belo, gostoso e necessitado de carinho e colo? Pensei e corri ao encontro dele, abraçando-o.
— Sinto muito, meu amor. Sinto muito pelo seu pai — e apertava seu peito contra o meu em um abraço demorado, enquanto ele, aos prantos, gritava em meu ouvido.
Aidan estava muito nervoso e agitado, então, resolvi levá-lo para a cama. Ajudei-o a se deitar, deixando-o confortável. Depois, retirei seus sapatos e deitei-me ao seu lado. Ele chorava feito uma criança com fome e tentava se aninhar em meu colo, como se aquilo pudesse fazer diminuir a dor que sentia pela morte do pai. Repousei sua cabeça entre minhas pernas e comecei a acarinhar seus cabelos. Lentamente, vi-o se acalmar e controlar sua respiração. Nisso, puxei seu corpo, fazendo-o se deitar sobre a cama e descansar sua cabeça no travesseiro. Seus olhos encontraram os meus.
Ele fica mais lindo ainda, enquanto chora. E tentei parar de ter aqueles pensamentos sexuais naquele momento.
— Obrigado por ter vindo, meu amor — disse ele com a voz embargada.
— Desculpe não ter vindo antes, meu amor. Alyce não me acordou. Não sabia de nada. Gostaria de ter vindo com você para lhe dar apoio — respondi, deslizando meus dedos em seu rosto molhado.
— Você me ama? — perguntou ele, já fazendo cara de choro novamente.
— Claro que o amo. Você é a coisa que mais amo em minha vida. Você é o meu homem — e levei meus lábios aos dele, tocando-os castamente em um beijo singelo.
— Quero fazer você feliz em todos os dias da sua vida. Todos os dias da sua vida quero fazer você feliz — e ficou repetindo várias vezes.
Ele está bêbado. Ótimo! Pensei e, logo, respondi:
— Eu sei, meu amor. Olhe! Sei que não é o momento, mas prometi a mim mesmo que de hoje não passaria. Depois do que vivemos na nossa cama ontem, e de tudo que já passamos juntos, não tenho mais motivos para hesitar em responder a você — e acarinhei seu rosto novamente, vendo seu semblante assumir um aspecto de medo e dúvida.
— Eu fiz alguma coisa errada com você? — perguntou ele, ansioso para saber o que eu tinha para lhe contar.
— Não, meu amor. Você não fez nada de errado. Eu só quero dizer que eu aceito. Aceito o seu pedido. Quero casar com você — e sorri delicadamente para ele.
O queixo de Aidan tremeu e ele, logo, derramou uma lágrima. Depois, descontrolou-se novamente, mas de felicidade. Abracei-o e sussurrei em seu ouvido:
— Eu amo você. Sempre vou amar — e ouvi-o soluçar novamente, apertando-me contra seu peito com força e intensidade.
Depois de cantar para ele, vi-o se acalmar e adormecer.
— Procure dormir um pouco, meu amor. Vou ficar aqui com você. Descanse — repetia a ele com a voz mansa, acarinhando seu rosto e pescoço, induzindo-o a fechar os olhos e se entregar ao sono.
Não demorou e, logo, vi-o ressonar. Então, levantei-me da cama, cobri-o, fechei as cortinas e saí da suíte em busca de Alyce.
No corredor do resort, um pouco distante dos seguranças, Alyce olhava a tela do seu celular. Percebendo que eu me aproximava, ergueu a cabeça, engoliu em seco, constrangida, e estendeu o visor para mim, mostrando-me que o vídeo já estava disponível na internet. E comentou, quase em tom de reprovação:
— Max fez um bom trabalho. Está em todos os sites de fofocas. Hoje ou amanhã estará nas primeiras páginas dos tabloides.
Encarei aquela cena no celular dela e respondi com o rosto impassível, sentindo o ódio vibrar dentro de mim:
— Ótimo! Aidan está dormindo. Agora, está bêbado. Quando acordar, vou fazê-lo tomar banho e comer alguma coisa. Então, você entra na suíte e dá a notícia a nós dois juntos do meu vídeo pornô que vazou na internet. Quero que ele esteja sóbrio ao saber do vídeo. Assim, será melhor — e senti meus lábios se apertarem de raiva ao terminar de falar.
— Gaius, você tem certeza de que... — falava ela, quando a interrompi.
— Tenho sim, Alyce.
E, depois, virei-me para um dos seguranças e ordenei, arrogantemente, mas feliz:
— Ethan, vá até a recepção e peça para separarem o melhor champanhe que eles tiverem aqui. Na hora certa, aviso para trazer. Precisamos comemorar.
E voltei a encarar os olhos de Alyce, ansioso para que Aidan acordasse logo. Recordo-me bem de que meu sentimento, naquele instante, era somente um. Queria destruir a vida de Aidan. E aquilo era só o começo do escândalo que estava por vir.
***