Читать книгу O mistério do amor matrimonial - Ricardo E. Facci - Страница 11
Оглавление‘Eu’ e ‘Você’: a dinâmica do amor
“E Deus criou o homem a sua imagem;
à imagem de Deus o criou;
homem e mulher”
(Gênesis 1,27)
O ser humano foi feito para o encontro. Ele precisa do outro, deseja doar, principalmente doar a si mesmo. “Suas afeições moveriam minha demanda, se elas fossem para mim, e você, minha”1 . Dante, em uma expressão ousada, nos revela a dinâmica do ‘eu’ e ‘você’, a capacidade de sair de si mesmo e ir de encontro ao outro, que se revela decisiva para o amadurecimento de uma pessoa e da sua saúde psicológica. Os afetos do outro são exigidos e, ao mesmo tempo, oferecidos.
Durante a paixão, a aparição surpreendente do “outro” desperta o ‘eu’, sem com isso reduzir a sua personalidade. Pelo contrário, o encontro com o “outro” potencializa a própria identidade e realça o ‘eu’.
Desde o começo da própria existência, em todas as culturas e latitudes o ‘eu’ sente uma motivação e um chamado que o empurra ao encontro com do ‘eu’ com o “outro”, o que se acentua com a paixão. Essa busca é um traço marcante da natureza humana.
A Palavra de Deus nos mostra que nos primórdios houve uma definição inconfundível: um ‘eu’ é o homem e o outro ‘eu’ é a mulher. Os dois são chamados a viver um encontro profundo que transcende todos os sonhos e ilusões que alguém poderia imaginar. O amor que surge deste encontro gera um novo amor maravilhoso. Gera o “outro”, o filho.
O ‘eu’ nasce sempre de uma relação. Ninguém pode criar a si mesmo. Cada um deve sua origem a “outros”, ao pai, à mãe e a “Outro”, que é Deus.
Para que haja realização pessoal também é preciso que haja um “outro”. Ninguém é uma ilha e não existe ‘eu’ sem que haja uma relação com o “outro”. Ninguém pode ser feliz sendo sozinho e ilhado.
Lembro que certa vez, há alguns anos, fui a uma exposição de máquinas e eletrônicos e, em meio a tudo isso, havia uma jovem dentro de uma vitrine, que simulava uma casa. Lá havia uma cadeira, um banheiro e um computador mas ela estava incomunicável com tudo ao seu redor. Quando alguém se aproximava do seu stand, essa pessoa mal sorria, mas demonstrava aos outros que conseguia resolver “todas” as suas necessidades com um computador. Essa jovem estava “encapsulada”. Ou melhor, ela procurava demonstrar que com um computador era possível resolver tudo, mas não havia realmente uma interação entre as pessoas e ela. A vida não pode ser resolvida “à distância”. É muito diferente buscar o pãozinho na padaria, escolhê-lo e ao final ser atendido pelo próprio padeiro que o amassou, sovou e serviu. Sair de casa e se relacionar implica em muitas coisas, como encontrar as pessoas na rua e comentar “que calor”, “como choveu”, “como estão seus filhos?”, “você superou aquele problema de saúde?”, “que bom te ver”... enfim, temas que fazem parte do dia a dia e que possibilitam relações entre as pessoas. O individualismo convida cada um a ter a sua própria vitrine, mas nós somos pessoas capazes de se relacionar, de abrir o coração e a mente, de nos comunicar uns com os outros.
Como vemos, a experiência com o outro nos relembra constantemente da vida em si. Pensemos em um bebê, quando ele olha fixamente o rosto de sua mãe ao descobrir que ela está sorrindo; no alívio de uma criança que diante de um medo encontra conforto na mão do próprio pai; na sensação do adolescente que troca um olhar de cumplicidade com quem está apaixonado; na companhia de amigos que se sentam e contemplam juntos uma bela paisagem; no milagre daquele homem chileno que foi “esmagado” contra um caminhão e que foi dado como morto, mas sua esposa, vendo um pouco de sangue escorrer no acidente, insistiu que estaria vivo e depois de seis meses de terapia intensiva ele abriu os olhos, encontrando-a ao seu lado, incondicionalmente, pois havia vendido todos os bens que tinham para poder pagar os seis meses de hospital e de esperança que ela tivera; na última frase que meu pai me disse ao ouvido; no olhar e no sorriso da minha mãe antes de partir... enfim, o outro é incondicionalmente necessário em nossas vidas.
Ninguém pode ser autossuficiente e viver preso em si mesmo. O ‘eu’ abre os olhos da vida e se realiza por meio de uma atração pelo “outro” de uma maneira impressionante e irresistível. O amor em todas as suas dimensões fala desta experiência universal que afeta todos os seres humanos, de diferentes latitudes e culturas, através dos tempos. Embora a palavra amor tenha sido banalizada, no fundo ela faz parte de uma experiência invencível.
Um encontro atende à criação, na qual Deus fez o ser humano, o homem e a mulher, dando-lhes a oportunidade de se relacionarem, comunicarem, amarem, atendendo assim ao propósito pelo qual foram criados à Sua imagem e semelhança. Ser homem e ser mulher é uma das manifestações mais importantes da criação, uma oportunidade muito especial, assim como viver o amor entre ambos é um presente, um dom que se coroa com a fecundidade. O sexo “desconectado” da fecundidade e da paternidade nos levou ao problema fictício do gênero. Ao subtrair o amor do sexo e a continuação da vida, qualquer “prazer” se torna válido, levando as pessoas a se fecharem cada vez mais em si mesmas. Deus fez o ser humano como alguém capaz de se abrir e ir de encontro ao outro, de tecer sua vida através de uma maravilha que transcende as próprias vidas, fazendo-se filho.
“E Deus disse: não é bom que o homem esteja só, farei para ele alguém que o auxilie e corresponda” (Gênesis, 2, 18). Todas as células partem daí, masculinas e femininas, complementando-se para que os grandes projetos de vida e o fruto se realizem e sejam felizes.
A dinâmica do amor matrimonial se dá necessariamente no encontro do ‘eu’ pessoal e do ‘outro’. Não se pode viver um casamento por meio de um computador, de redes sociais ou do celular... Mesmo a sociedade atual tendo chegado a esse ponto... Alguns parceiros tem até que disputar a atenção do próprio cônjuge frente ao desejo de estar em uma vitrine virtual, conectado anonimamente com muitas pessoas e, por conta disso, muitos se esquecem do carinho, da escuta e da atenção que seu verdadeiro esposo ou esposa precisa.
Deixo aqui algumas palavras para finalizar esta reflexão que sugiro ser feita de mãos dadas: “Eu sou porque ‘você’ é e você é para mim porque ‘eu’ sou para ti. Dizer ‘você’ aqui significa erguer uma ponte infinita, uma ponte de luz que tem a força a sustentar ‘você’ e ‘eu’. Eu vou até você e você vem até mim.” (Lippert).
Para conversar em casal.
1.- ¿Recordamos el momento en el cual el otro comenzó a ser un ‘tú’ que sorprendió al ‘yo’? Narrarlo mutuamente.
2.- ¿Nos regalamos el suficiente tiempo para el encuentro de nuestros ‘yo’ y ‘tú’?
3.- ¿Existe algún aspecto en los que nuestros ‘yo’ viven en vitrina? ¿Cómo mejorar en este sentido?
4.- El individualismo que quiere imponer nuestra sociedad, ¿permite descubrir al ‘tú’? Los jóvenes, ¿tienen posibilidades de salir de su ‘yo’ frente a las propuestas sociales?
5.- ¿Cómo trabajar en la educación de las nuevas generaciones para que puedan descubrir el ‘tú’ del otro?
Para orar juntos.
Senhor Jesus,
em Tua própria experiência do mistério da Trindade
se encontra a dinâmica do ‘EU’ e do ‘VOCÊ’,
por isso, te pedimos que nos ajude
a fortalecer nosso encontro,
que aquela primeira vez em que começamos
a sentir o outro dentro de nós,
seja uma constante motivação para crescer
e ir entrelaçando nossos ‘eus’,
formando assim um maravilhoso ‘nós’.
Também desejamos aprofundar
a busca por ‘Você’, Senhor,
que está no meio de nós,
para que nós dois
nos entreguemos plenamente a Ti.
Amém.
1. Dante Alighieri, Divina Comédia, Paraíso IX, Losada Buenos Aires 2004, pág. 414