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Da paixão ao amor

“Desci para o jardim de nogueiras,

para ver os brotos do vale,

para ver se minha vinha brotava,

se as romãs floresciam...

E sem perceber,

me vi com meu príncipe na carruagem”

(Cantar dos Cantares 6,11-12)

Alguns casamentos passam a impressão de que tudo está sempre bem, de que um nasceu para o outro, quase como se a estrela da manhã os guiasse durante toda a jornada. Esses casais estão em uma sinfonia muito afinada. Esses casos são excepcionais, mas não são a norma.

O comum é outra coisa. Tudo começa em um dia de primavera. Em uma simples caminhada algo estala e dali surge um fogo abrasador que os envolve. Os dois sonham juntos, se envolvem em uma dinâmica de trocas e partilha, começam a viver um amor apaixonado que navega por mares profundos ou que sobrevoa alturas incalculáveis.

Depois passa algum tempo, vem as bodas e outras mil coisas. Logo o esplendor das bodas dimi-nui e a lua de mel fica em algum álbum fotográfico como uma linda recordação, uma lembrança. Logo aparecem outras “luas”: reações estranhas, saídas inoportunas, as primeiras vozes que se levantam... coisas que nunca nenhum dos dois havia suspeitado antes. O amor entra em uma fase de desencanto.

Começa-se então a cruzar uma fase de riscos. Um deserto, um rio impetuoso. É preciso chegar ao outro lado, passar da paixão ao amor. Dito de outra maneira: passar do amor apaixonado, carregado de romantismo, ao amor que é doação, entrega, oferenda. Passar do “para mim” ao “para ti”, ou melhor dizendo, passar do ‘eu’ para o ‘nós’. Se este momento do casamento não chega, morre-se no deserto ou, ainda na imagem do rio, o amor se afoga. Construir a harmonia conjugal é uma grande decisão.

Diante da triste situação que muitas famílias vivem atualmente, vemos muitos casamentos morrerem de sede, afogados ou aos pedaços em seus primeiros anos. Frente a isso, nos perguntamos se o amor era falso ou muito pouco, mas o problema está no fato do casal não ter feito o salto do amor apaixonado ao amor doador, que se entrega totalmente. O casal ficou no romantismo e a paixão não teve força suficiente para sustentar uma relação que tem exigências maiores.

Em que consiste um amor de entrega e doação?

Podemos explicar da seguinte maneira: estar apaixonado é fácil. Como é simples e fácil sorrir para quem nos sorri, dialogar com quem nos escuta, cumprimentar quem nos cumprimenta, respeitar quem é respeitável.

Por outro lado, o amor é exigente. Para perdoar uma ofensa é preciso superar o orgulho. Dian-te do ataque do outro é preciso frear o desejo de vingança, calar-se diante de uma grosseria e contar até dez. Quando surge um comportamento estranho do esposo ou da esposa é preciso amenizar a vontade de descontar, de levantar a voz ou de responder com um grito.

Essa é uma forma de devolver o mal com o bem. Para isso é preciso sacrificar o orgulho, a vin-gança, a revanche, o tom de voz alto e, por fim, deixar o ‘eu’ morrer. É claro que o caminho para a construção de um ‘nós’ dói. Mas se há a renúncia e a morte do ‘eu’, pode-se apostar duplamente no amor um do outro, principalmente quando se vive uma crise ou uma situação não desejada. Hoje mesmo me chegou por correio uma carta de uma esposa da qual há tempos não tinha notícias e uma das coisas que me disse foi: “o casamento funciona mais ou menos... mas muitas vezes me lembro do conselho que o senhor me deu, que em certas circunstâncias devo de amar em dobro “. Isso custa, é um sacrifício, uma oferta, uma doação que se faz.

Quando o amor fica estagnado no emocional, a imaturidade se instaura. O casamento com cer-teza se fragmentará, pois o emocional não tem força suficiente para sustentar uma relação duradoura e satisfeita. O casamento será como um alimento insosso, como uma peça de teatro entediante. Em contrapartida, quando se consegue chegar ao amor de doação, ali está o encontro com um maravilhoso concerto, no qual as notas musicais se encadeiram numa bela e plena harmonia.

Para concluir, transcrevo uma resposta que uma jovem me deu quando perguntei-lhe se ela conhecia a diferença entre estar apaixonado e amar: “o amor dói, a paixão é mais suportável, mas o amor te leva à felicidade”.

Para dialogar em casal.

1.- Temos sido capazes de transpor a barreira do amor apaixonado a um amor de doação em nosso casamento?

2.- Elencar as características do amor apaixonado que vivemos entre nós.

3.- Elencar as características do amor de doação que estamos vivendo.

4.- No que ainda devemos trabalhar para conseguir trazer para nós um amor pleno de doação?

5.- Analisar: por que muitos casamentos novos não conseguem passar de um amor passional para um amor de entrega?

6.- Relacionar este fenômeno com o individualismo que impera em nossa sociedade.

7.- Como ajudar as jovens gerações a descobrir a importância de passar do amor apaixonado a um amor de entrega total?

Para orar juntos.

Senhor Jesus,

graças porque um dia acendeste em nós

a chama do amor,

que nos apaixonou e nos fez trilhar o caminho

sonhado, que nos conduziria à felicidade.

Depois nos demos conta de que

existia uma nova exigência

pra que não abandonássemos o caminho:

o amor entregue, de doação generosa,

capaz de gerar em nós a maravilha

da Harmonia Conjugal,

a mais bela das sinfonias do amor,

composta pelo concerto cotidiano do amor.

Quanto nos custa ser concertista!

Mas como vale a pena! Quanto!

Ajude-nos, Jesus, a aprender

a não desafinar diante dos ‘eus’ paralelos,

unidos em uma paixão rumo ao amor pleno.

Ajude-nos a entender Tua Crus,

renúncia, morte, e o nosso amor.

Amém.

O mistério do amor matrimonial

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