Читать книгу Para além da verdade - Robyn Donald - Страница 5

Capítulo 1

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– Então esta é Anne Corbett! – murmurou Wolfe Talamantes, observando a fotografia.

Era a mulher mais bela que tinha visto em toda a sua vida, incluindo a estrela de cinema com quem havia partilhado a cama durante uns meses.

– Rowan Corbett – corrigiu o homem que se encontrava do outro lado da secretária.

– Pedi-te que investigasses a Anne Corbett.

– O seu nome completo é Rowan Anne Corbett. Ao que parece chamavam-lhe Anne quando era pequena, mas agora chama-se Rowan Corbett.

Wolfe voltou a observar a fotografia. Não o surpreendia que fosse tão bela. Tony era famoso pelo bom gosto quanto a mulheres..

Tinha um pescoço alto e elegante e o cabelo negro com nuances avermelhadas estava apanhado num carrapito. As maçãs-do-rosto eram salientes, o queixo firme e os lábios, muito generosos, davam-lhe um aspecto ligeiramente exótico.

Apesar da serenidade dos seus olhos e da impressão que transmitia de ter tudo debaixo de controlo, pela primeira vez na vida Wolfe percebeu o encanto que tinha o proibido. E a mente trouxe-lhe a imagem de uma pele de seda e uma cama com lençóis amarrotados depois de uma noite de intensa paixão.

Tinha esperado precisamente isso: uma mulher tentadora que se destacasse de entre as outras mulheres belas, justamente porque imitia uma promessa ardente.

Mas aqueles olhos eram uma mistura de ouro e âmbar, bordejados por largas pestanas escuras. Uns olhos que levariam qualquer homem a perder a cabeça, que lhe incendiariam o sangue e o fariam esquecer qualquer outra mulher

Uns olhos que poderiam levar alguém a matar por eles.

A morrer por eles…

Wolfe, que era um homem equilibrado, experimentou um desejo quase primitivo ao confrontar-se com aqueles olhos.

Afastou o olhar da fotografia e dirigiu-se ao seu chefe de segurança.

– E agora trabalha como criada num café na baía de Kura, no norte do país.

– Das sete da manhã às duas da tarde, de segunda a sábado.

Wolfe ergueu uma sobrancelha. Se não se enganava, o seu experiente chefe de segurança sentia o mesmo fascínio que ele.

– Gostas dela, não é verdade?

O homem sorriu.

– É muito agradável à vista. Mas é muito jovem para mim, e a minha mulher cortava-me o pescoço se fizesse algo mais que olhar… como tu sabes muito bem.

Wolfe concordou.

– A menina Corbett sabe que lhe tiraste esta fotografia?

– Tenho quase a certeza que não.

– Quase?

O outro homem vacilou.

– Foi agradável, mas tão distante que me interroguei se teria suspeitado de alguma coisa… mas depois verifiquei que tem uma postura distante para toda a gente. E dedica-se à cerâmica.

– De que forma?

– Faz pratos e objectos de cerâmica. E, pelos vistos, é bastante habilidosa.

– Tem namorado? – perguntou Wolfe de forma que a pergunta revelasse desinteresse, mas não o conseguiu.

– Não. E também não tem amigas. É uma rapariga muito solitária.

– As pessoas de Kura têm conhecimento do seu passado?

– Têm, mas não falam dele. É a última descendente de uma família tradicional. Parece que a mãe morreu ao dá-la à luz e o pai, que era polícia, só a trazia ali durante as férias; conhecem-na desde pequena.

– E não conseguiste sacar-lhes nada?

– As aldeias pequenas são todas iguais…. as pessoas sabem todas as coscuvilhices sobre os vizinhos, mas não contam nada a estranhos. Por acaso, e só por acaso, soube que era uma especialista em artes marciais.

– Já sabes que gosto de combates limpos – sorriu Wolfe.

O chefe da segurança, que o tinha ajudado a livrar-se de três arruaceiros armados numa rua de subúrbio sul-americano, sorriu ironicamente.

– Porque és letal com os punhos – disse, abrindo a mão para pegar na fotografia.

Mas ele impediu-o.

– Fico com ela.

– Está bem. Mais alguma coisa?

– Não. Obrigado por tudo.

Quando ficou só, Wolfe, pensativo, levantou o seu metro e noventa da cadeira para se aproximar da janela.

A paisagem que dali se podia observar era uma rua degradada, numa cidade degradada, uma mistura de peões, carros e motorizadas ruidosas… Fixou-se então num grupo de pessoas que calçavam sandálias e vestiam camisas de cores berrantes.

Degradada? Não, não podia haver outro sítio mais degradado que Auckland.

Normalmente, gostava de viver na Nova Zelândia, mas desde a chamada telefónica da sua mãe tinha ficado nervoso e agressivo.

Durante seis anos tinha-se esquecido de Rowan Anne Corbett, mas não podia ignorar a sua mãe.

– Encontrei a Anne Corbett – dissera-lhe com aquela voz sumida e adoentada que lhe recordava aquilo que não queria recordar.

Um ano depois da morte do filho ainda tão jovem, Laura Simpson tinha sucumbido a uma depressão que a deixou sem forças e sem vontade de viver. Nem os melhores médicos do mundo conseguiram fazer nada até que um deles, mais honesto, lhe explicou que simplesmente tinha o coração despedaçado e não havia cura para isso.

– Onde a encontrou? – perguntou Wolfe.

– Foi uma coincidência. A minha amiga Moira viu-a a trabalhar num café na baía de Kura e perguntou-lhe o nome.

– Como é que desconfiou que era ela?

– Estava comigo durante a audiência no tribunal e reconheceu-a.

– Contactou-a?

– Escrevi-lhe uma carta e ela respondeu-me afirmando que há seis anos tinha dito em tribunal tudo o que sabia sobre a morte de Tony. Quis telefonar-lhe, mas não encontrei o seu nome na lista telefónica – suspirou a mãe. – Deixei-lhe um recado no café, mas como não me telefonou, estou a pensar ir lá daqui a alguns dias.

– Não quero que vá, mãe – disse Wolfe, furioso com Rowan Anne Corbett por se recusar a falar com uma mulher doente. Depois, viajar de avião deixá-la-ia exausta. – Vou lá eu.

– Obrigada. E quando o fizeres, quando a vires, diz-lhe que não a culpo pelo que aconteceu. Usei-a como bode expiatório e lamento tê-lo feito. Tony só tinha vinte e um anos… Mas preciso de saber o que se passou naquela tarde.

A sua mãe podia já ter perdoado a Rowan Anne Corbett, mas ele não. Com aquele cabelo preto e rosto de sereia tinha sido a responsável directa pela morte do seu meio-irmão.

Laura Simpson hesitou um segundo antes de perguntar:

– Wolfe, notaste alguma mudança em Tony depois do acidente?

– Refere-se a quê exactamente?

– Pareceu-me que tinha um comportamento mais responsável. Mas… pode ser apenas impressão minha.

– É normal depois de um acidente tão grave. Essas coisas fazem pensar.

– Sim, é verdade.

Antes de desligar, Wolfe prometeu ir almoçar com ela na semana seguinte. Depois observou novamente a fotografia com um sorriso ameaçador. Agora Rowan não poderia escapar com mentiras e subterfúgios. Há seis anos atrás, uma pneumonia reteve-o num hospital do outro lado do mundo, obrigando a sua mãe a lidar sozinha com a investigação sobre a morte de Tony.

A sua incapacidade de protegê-la deixou-lhe uma ferida que se tornou mais profunda ao saber que Rowan Corbett tinha desaparecido sem deixar rasto.

Mas obrigá-la-ia… ou talvez a seduzisse para lhe sacar a verdade. Há dez anos que as coisas tinham acontecido e tiraria partido disso.

Anne… Rowan Corbett tinha levado Tony à loucura, mas ele era mais duro que o seu ingénuo e mimado irmão. Wolfe pegou na fotografia e guardou-a numa caixa que fechou com uma pancada seca, gesto que reflectia o desprezo que sentia por ela.

Meia hora depois, sem conseguir deixar de pensar naquele rosto grave e eroticamente intrigante, proferiu uma maldição. Sem pensar abriu a página da internet do jornal local e, ao fazê-lo, a palavra «Rowan» chamou a sua atenção.

Incrédulo, procurou o artigo. Pelos vistos, uma galeria de arte expunha naquela mesma noite uma colecção de cerâmica, pintura e vidro trabalhado. Segundo o jornal, todos os trabalhos eram muito bons, mas reservava os melhores elogios para a cerâmica de alguém chamado Rowan.

Nada mais, nada menos que Rowan.

E o jornalista elogiava-o com adjectivos como «esmaltes de brilho extraordinário», forma soberba, «uma nova estrela na constelação artística da Nova Zelândia».

Wolfe observou a fotografia de um jarrão. Elegante de forma, era um desenho muito original, muito bonito.

Talvez fosse demasiada coincidência, mas ele era um homem habituado a deixar que a intuição ditasse as suas decisões. Nem por um momento aquele misterioso instinto o tinha decepcionado, bem pelo contrário; foi assim que converteu a pequena empresa de electrónica que lhe tinha deixado o padrasto numa multinacional de informação tecnológica.

Uma inteligência formidável e uma grande habilidade para saber aquilo que os consumidores queriam tinham-no ajudado nessa subida meteórica. E também a sua forma determinada. Por isso a concorrência respeitava-o e os funcionários eram absolutamente fiéis.

Wolfe esperava ser o melhor deles, mas oferecia sempre as melhores condições de trabalho.

– Menina Forrest – disse pressionando o intercomunicador. – Arranje uma entrada para a exposição desta noite na galeria Working Life.

Rowan tentava controlar um ataque de nervos que começava a assumir a forma de um humilhante ataque de pânico.

– Não vou– murmurou, olhando-se no espelho. A imagem que via reflectida era a de uma completa estranha. Era assombroso aquilo que podia fazer uma maquilhagem bem feita.

Bobo Link, a sua marchant, deixou escapar um suspiro.

– Não podes ficar toda a vida escondida.

– Não estou a esconder-me – replicou Rowan.

– Viver como uma eremita em Kura, trabalhando como uma escrava num café deprimente, recusando-te a sair ou a ver alguém… Não se chama a isso esconder?

– Tenho muito trabalho. Queres vender os meus trabalhos de cerâmica e…

– Então sai e vende – interrompeu-a Bobo, a sua sincera e brutalmente honesta representante artística. – Estás linda… os olhos e a boca ficaram estupendos. Se bem que ainda há bom material para trabalhar, é verdade.

– A verdade é que não me reconheço… A mim não me fica bem vendê-lo, tu é que deves fazer isso.

– Parvoíces. Toda a gente quer conhecer o autor das obras que compra e tu és um presente do céu, Rowan. Além de uma grande artista, és linda e ficas genial nas fotografias.

– Não sou uma top model – protestou ela.

Bobo suspirou de novo.

– Não te preocupes, o teu trabalho destaca-se por si mesmo. Mas Frank fez uma crítica fantástica no jornal, que seria um verdadeiro desperdício não explorar… não a usar. És um génio, mas os jarrões não se comem. E se não queres continuar a ser criada toda a vida, será melhor que apareças esta noite na exposição.

Rowan olhou-se no espelho, pensativa. Vestia uma blusa de seda preta e uma saia comprida de cabedal que lhe tinha emprestado a sua agente. Tinha de reconhecer que estava muito bonita, mas…

– Está bem, vou. Mas não posso vestir esta blusa tão transparente… o meu peito não está à venda!

Bobo ergueu os olhos ao céu.

– O teu pai tem de responder a muitas coisas. Não se vê nada…

– Claro que vê! Aliás, está tudo à mostra!

– Bem, só se alguém olhar muito de perto… Mas agora usa-se assim. Eu visto essa blusa muitas noites.

– Tu irias para a rua nu, se te deixassem – riu-se Rowan. – E se vestisse um sutiã?

– Ridículo. Parecerias uma sopeira.

– Pois assim vestida não vou.

Lamentando-se, Bobo tirou uma camisola de seda preta do guarda-roupa.

– Os sacrifícos que tenho de fazer… Veste isto por baixo.

– O que é?

– Uma camisola, parva. Assim não se verá nada.

– Não te mereço – sorriu Rowan, vestindo a camisola. Depois voltou a olhar-se ao espelho. – Ah, agora sim.

– É verdade, não me mereces. Mas ficarás linda assim que deixares de te lamuriar.

– Não me estou a lamuriar.

– Claro que estás! O teu pai devia ser uma pessoa maravilhosa, mas educou-te como uma freira. Era demasiado conservador… não te aborreças, mas tenho de te dizer isto. Tens um aspecto tão sexy, tão perverso… e mais pareces o capuchinho vermelho.

– O capuchinho vermelho?

– Sim, isso mesmo. E como vais reconhecer o lobo se não espevitares? – suspirou Bobo, abraçando-a.

– Como? – questionou-se Rowan.

Tony tinha sido o único homem da sua vida e depois, traumatizada pelo caos que aquela relação tinha gerado, decidiu concentrar-se no seu trabalho, para o qual canalizava toda a sua energia criadora.

– Esta noite não és Rowan Corbett, artista eremita. És Rowan, uma mulher misteriosa e sofisticada cujos trabalhos dentro de pouco tempo serão comprados a peso de ouro… e eu levarei dez por cento! Por isso vamos, temos muito para vender!

Meia hora mais tarde, com uma taça de champanhe na mão, Rowan olhava à sua volta procurando ver todos os convidados em roupa interior.

Mas não a ajudou nada. Continuava assustada. Não deveria ter deixado que Bobo a convencesse. Todas aquelas pessoas vestidas com roupa desenhada por estilistas da moda, tão sofisticadas, tão risonhas… punham-na nervosa.

Quando olhou para a taça de champanhe vazia, apercebeu-se de que tinha bebido mais que o suficiente para se poder comportar como deveria. Além disso, tinha vinte e sete anos e deveria ter uma atitude de mulher adulta. E, se não sabia fazê-lo, já estava na hora de aprender.

– Querida, quero apresentar-te a alguém – ouviu a voz de Bobo atrás dela.

Pelo tom, percebeu que esse «alguém» deveria ser um comprador e voltou-se com um sorriso nos lábios.

– Sim…

– Rowan, apresento-te Wolfe Talamantes.

Como se estivesse suspenso por qualquer coisa, Rowan deparou-se com um homem altissímo… perigoso. Era muito bonito, com feições de pirata, mas o seu potente magnetismo vinha de dentro, não era causado por uma herança genética fortuita.

O pânico aumentou então, mas sorriu nervosamente ao recordar a sua conversa com Bobo. Wolfe. Lobo em inglês… sem o «e», obviamente.

Ele franziu o rosto ao vê-la sorrir. Tinha o nariz em forma de linha recta… ou devia tê-lo tido antes de lho partirem. Mas em vez de o desfear, aquilo tornavo-o mais atractivo.

– Sim, eu sei. É um nome raro.

Tinha uma voz rouca, muito masculinizada. Uma voz que a fazia sentir um calafrio. À partida, era a voz do lobo.

– Não, não, desculpe. É que tenho um cão que se chama Lobo.

– Um caniche?

– Não, um pastor-alemão.

– Rowan, o senhor Talamantes está interessado no número quarenta e sete. O jarrão verde.

– Ah, fico muito contente.

– Tem muito talento, Rowan – disse ele, apertando-lhe a mão.

Era absurdo, mas tinha a sensação de que estava a fazer amor… contra a sua vontade, forçada por um desejo maior que a formidável vontade do homem.

– Obrigada – murmurou, engolindo a saliva.

Aquele homem tinha um enigma masculino, uma força que a envolvia como se quisesse engoli-la. A arrogância, o tamanho, a força dos seus músculos, faziam-na sentir receio e curiosidade ao mesmo tempo.

– Desculpem-me! Tenho de ir falar com outra pessoa – disse Bobo, retirando-se.

Wolfe sorriu.

– Incomoda-a que fiquemos sós, Rowan?

Os seus olhos eram verde-esmeralda, com reflexos dourados, como pepitas de ouro a brilhar dentro de um rio. E ao olhá-los, o instinto avisou-a de que deveria fugir porque aquele Wolfe Talamantes tinha o poder de pôr o mundo de pernas para o ar.

– Claro que não – murmurou, afastando o olhar. – Gosta, então, do número quarenta e sete? – perguntou, tentando desesperadamente parecer uma artista sofisticada a vender o seu produto. – De facto, é uma peça interessante.

Não pôde dizer mais nada sobre a peça ainda que tivesse dado a vida por ela. Excepto talvez que era da mesma cor que os seus olhos.

– Uma peça lindíssima – respondeu ele, olhando para os seus lábios.

O coração de Rowan deu uma volta. Era tão subtil como um martelo, mas o facto de ser tão directo despertou uma resposta imediata em todas as células do seu corpo.

«Magia negra», pensou, procurando o número quarenta e sete. Tinha bom gosto, era uma das melhores peças.

– Gostei muito de fazer aquele jarrão – disse, sentindo mais uma vez um nó na garganta.

– Onde aprendeu a trabalhar com a cerâmica?

– No Japão.

– No Japão?

Ela encolheu os ombros, mas satisfez a curiosidade dele.

– O artista que mais admiro no mundo vive numa aldeiazinha próximo de Nara, por isso fui aprender com ele.

Sentia-se como se estivesse debaixo de um potente foco de luz. Pesavam-lhe as pernas e tinha a pele tão sensível que a seda da camisola quase a queimava.

– Foi assim, tão simples?

– Bem, não foi simples… No princípio, ele recusou-se a receber-me. Era natural. É um dos ídolos do Japão enquanto eu era uma estranha sem credenciais, uma mulher ocidental de vinte anos.

– Como o convenceu a dar-lhe aulas? – perguntou Wolfe.

A frieza do seu tom de voz transmitiu-lhe um calafrio de apreensão pela espinha acima.

– Acampei na frente da sua casa e, por fim, aceitou ver alguns dos meus trabalhos. Mas achou-os horrorosos, e estive um mês a fazer peças até que me aceitasse como aluna.

– Reconheceu a sua persistência. E reconheceu o seu talento, de contrário não a teria deixado acampar em frente da sua casa.

– Era um homem exigente – ela sorriu. – E exigia absoluta obediência.

– E isso pareceu-lhe difícil?

O tom rouco da voz dele fê-la estremecer. Só podia compará-lo ao prazer que sentia quando trabalhava com a argila.

– Muito.

– Mas conseguiu domar o seu espírito independente.

– Ou conseguia ou vinha-me embora. Ensinou-me como lhe tinham ensinado a ele. No dia em que me recusei a fazer o que ele queria, disse-me que tinha chegado a hora de me vir embora. Despedimo-nos muito formalmente, mas escrevi-lhe todas as semanas até à sua morte.

– Quantos anos esteve com ele?

– Cinco.

Wolfe Talamantes estava demasiado perto. Com outro homem não tinha tido aquela sensação, mas era demasiado alto, demasiado imponente.

– Quanto tempo tem de ficar aqui? – perguntou então.

– O quê?

– Quanto tempo tem de ficar nesta ínsipida recepção. E não me diga que lhe parece maravilhosa. Estou a observá-la há um bocado e está aborrecida. Já jantou?

– Não, mas…

– Então venha jantar comigo.

Rowan olhou-o sentindo o pulso acelerado. O seu instinto feminino advertia-a para que recusasse, uma vez que se apercebia do seu aspecto de pirata… e os piratas não aceitavam um não como resposta.

Uma convicção mais escondida dizia-lhe que não era só o interesse sexual de um homem por uma mulher, mas sim algo mais profundo. Apesar da atracção que havia entre eles, intuía uma obscura contradição.

Talvez fosse impressão sua…

– Não me olhe com essa cara. Suponho que já a terão convidado para jantar outras vezes. Inclusive, no Japão.

– Nunca nenhum desconhecido me convidou.

Wolfe sorriu. Um sorriso despreocupado de um homem seguro de si mesmo.

– Apresentou-nos uma amiga comum!

Rowan tentou desculpar-se.

– Vou jantar com Bobo. Pode vir connosco, se quiser…

– Vamos perguntar-lhe – interrompeu-a ele, procurando Bobo com o olhar.

A sua marchant falava com um grupo de pessoas, mas aproximou-se deles quando Rowan lhe fez um sinal.

– Aconteceu alguma coisa?

– Acabo de convidar Rowan para jantar, mas ela diz que não pode porque tem de jantar contigo – e Wolfe sorriu.

Bobo também esboçou um sorriso de orelha a orelha.

– Acontece que a mim também acabam de me convidar, por isso ela pode ir contigo. Mas antes de te ires embora, Rowan, vem cumprimentar Georgie.

Entretanto aproximara-se da proprietária da galeria, que estava a partilhar os seus conhecimentos artísticos com vários convidados. Rowan sentiu os olhos verdes do homem cravados nas suas costas.

Georgie cumprimentou-a efusivamente, anunciando que metade das peças já tinham sido vendidas e apresentou-a à sua corte de admiradores.

Afastando-a pouco depois de forma profissional, Bobo conduziu-a a um gabinete privado.

– Sabes quem é Wolfe Talamantes?

– Não – admitiu Rowan. – O nome não me diz nada…

– Claro, tu não lês os jornais – suspirou a sua agente.

– Leio os títulos no café – discordou ela.

– Estes artistas… Toda a gente na Nova Zelândia conhece Wolfe Talamantes.

– Quem é? Uma estrela de rock, um actor de cinema?

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