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Capítulo 2

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– Wolfe Talamantes é meio americano, meio mexicano.

– Ah, por isso tem um apelido tão esquisito.

– É um magnata da tecnologia e incrivelmente rico – explicou Bobo. – Imensamente rico, multimilionário.

– Segundo a informação económica, se é um magnata da tecnologia, rapidamente estará na falência – ironizou Rowan. – Vês? Afinal, leio os jornais.

– Este homem não. Os seus negócios são muito sólidos. Ergueu uma pequena empresa de electrónica aqui em Auckland e converteu-a numa multinacional que vende para todo o mundo.

Via-se pela sua cara, pensou Rowan. Traços arrogantes, nariz empinado, queixo quadrado, olhos cor de esmeralda, boca grande… tudo proclamava uma mistura de visionário e duro homem de negócios..

– Não sabia que na Nova Zelândia havia multimilionários.

– Pois surpreender-te-ias – Bobo sorriu. – Wolfe Talamantes é um homem duro… muito só, basta olhar para ele, nãe é? Não é casado, mas já teve muitas amantes.

– E tu estás a atirar-me para a boca do lobo? – perguntou Rowan, sentindo náuseas a percorrer-lhe o estômago.

– Sei que não é o tipo de homem que te fará sentir segura, mas, por que não provar? Ainda que devas ter presente, desde o princípio, que será apenas uma aventura.

– Não gosto de homens promíscuos – afirmou ela. – E vou apenas jantar com ele, não penso ter nenhuma aventura.

Tony não escondia que tinha ido para a cama com muitas mulheres. Parecia acreditar que esse facto o tornaria mais atractivo aos seus olhos.

Bobo encolheu os ombros.

– Ninguém de bom senso é promíscuo nos dias que correm. Pelos vistos é um monógamo «em série».

– Como?

– Significa que se cansa muito depressa das namoradas e rapidamente procura outra. Não tens de ir para a cama com ele, mas meia dúzia de jantares com Wolfe Talamantes seria uma publicidade estupenda. Já foi notícia o facto de coleccionar dinheiro e mulheres bonitas, mas seria estupendo se decidisse coleccionar as tuas obras.

– Esse tipo de publicidade não me interessa – respondeu Rowan irritada consigo própria.

Não gostava de se sentir atraída por um multimilionário que arranjava uma namorada nova todos os meses.

– Qualquer publicidade é boa publicidade… e não te atrevas a dizer-lhe que não agora.

– Ainda não lhe disse que sim.

– Não vai acontecer nada. É um homem muito sexy, mas não se contam histórias esquisitas sobre ele e não faltaria quem as contasse se ele tivesses hábitos preversos. É um homem com sangue nas veias, mas, segundo toda a gente, também é um cavalheiro. A proveita o jantar com ele, nada mais – aconselhou Bobo, olhando para o relógio. – Vamos, temos de sair daqui.

O rico e atractivo Wolfe Talamantes estava a falar com uma ruiva vestida de couro. Mas quando viu Rowan despediu-se dela, deixando-a praticamente a falar sozinha.

– Diverte-te no jantar – desejou-lhe Bobo.

– Igualmente para ti.

– Obrigado – murmurou ele, com ar de gozo.

Rowan ficou nervosa, tanto que teve de ordenar às suas pernas que se movimentassem por entre as pessoas. Tremia debaixo do escrutínio de muitos olhares, mas um desejo subversivo rompeu as suas defesas como lava ardente… bonita, perigosa e destrutiva.

Não eram só as suas feições que chamavam a atenção, nem a elegância do seu andar, nem o impacto da sua altura ou os ombros largos.

Às pessoas que o olhavam respondia instintivamente com um ar de superioridade, que era como uma capa invisível que Wolfe Talamantes vestia.

«E aos seus olhos», pensou, vendo que uma rapariga ficara corada ao olhá-lo. Uns olhos verdes enigmáticos, com aqueles reflexos dourados que pareciam aprisionar tudo. Os olhos daquele homem tinham o condão de fazer com que se perdessem neles… uns olhos que podiam incendiar-se e queimar a vontade.

– Pensei que talvez pudéssemos ir ao Olivier – sugeriu ele quando se aproximaram da porta.

– Ao Olivier?

– É um restaurante novo.

– Não conheço muitos restaurantes em Auckland. Vivo no campo – explicou ela.

– Onde? – perguntou Wolfe, abrindo a porta de vidro e olhando para os dois lados da rua.

Rowan interrogou-se porque teria ele tido aquela preocupação, como se estivesse a vigiar. Mas era normal se se tivesse em conta que na Nova Zelândia a vida podia ser perigosa para alguém tão rico como ele.

– Vivo no norte – respondeu ela sem dar mais explicações.

Um homem com aspecto de pugilista saiu de um Mercedes estacionado em frente da galeria e abriu a porta.

Rowan deixou-se cair no banco de pele, infinitamente mais cómodo que os bancos do descapotável de Tony.

Mas tinha de se lembrar daquilo que o dinheiro tinha feito a Tony.

«Ele era um fraco e Wolfe Talamantes não o é», respondeu-lhe uma vozinha lá do fundo da sua consciência.

E, portanto, era muito mais perigoso. Incomodada, observou o duro perfil de Wolfe, mas teve de afastar o olhar imediatamente.

– Uma mulher misteriosa – disse ele por fim.

Rowan imaginou que, provavelmente, estava tão seguro de si mesmo que já estaria a imaginar ter a sua morada e telefone depois do primeiro prato.

E decidiu que não lho diria, por muito que o seu corpo respondesse à sensualidade daquele homem.

O Oliver ficava no primeiro andar de uma torre de luxuosos apartamentos.

– É um restaurante muito discreto – explicou Wolfe quando entraram no enorme vestíbulo, uma espécie de templo com sofás desenhados especificamente para aquele local e chão de mármore. – Suponho que te chocará depois da discrição japonesa, mas a comida é muito boa.

O chefe de mesa, que parecia estar à espera deles, conduziu-os a uma mesa afastada das demais. Ao fundo ficava a pista de dança onde uma orquestra de jazz tocava um ritmo suave e sensual.

Wolfe pediu uma garrafa de champanhe francês, daquelas que Rowan somente vira em filmes.

– Que quer tomar?

Ela ficou paralisada ao sentir o impacto do seu olhar. Sabia-o, sabia o que sentia porque ele sentia a mesma coisa. A intuição advertiu-o que gostava tanto como ela… e que, como ela, era incapaz de o controlar.

O seu apetite desapareceu para dar lugar a outro apetite mais exigente e escolheu o primeiro prato que vinha no menu.

– Cogumelos. Depois, peixe… salmão grelhado, por favor.

Wolfe pediu salada e escalope de vitela. Um carnívero convicto, concluiu Rowan, tentando incluí-lo nessa categoria para enfraquecer o fascínio que exercia sobre ela.

Mas não funcionou.

O primitivo atractivo de Wolfe Talamantes era um desafio à sua condição de mulher. Algo novo para ela.

O empregado trouxe a garrafa de champanhe francês e o ritual de abrir a garrafa e servir as taças fez com que a tensão aumentasse.

Quando o empregado se afastou, Wolfe levantou a taça.

– Ao futuro.

– Ao futuro – sorriu Rowan, tomando um gole. Era delicioso. Sabia a felicidade, a sonhos, a sorrisos e a luz do Sol. – Lamento ter-me rido do seu nome. É que achei graça.

– E de onde saiu o seu?

– Rowan? É o nome de uma planta, como rosa e violeta.

Wolfe concordou, pensativo.

– Eu sei. Também se chama sorveira. Uma árvore que dá bagas e flores em todas as estações.

Olhava-lhe para os seios, marcando-os com o calor dos seus olhos. Não era um olhar lascivo, mas sim impessoal. A sua indiferença confortava-a e decepcionava-a em partes iguais, confundindo-a ainda mais.

– A minha mãe apaixonou-se por essa árvore durante a lua-de-mel.

– Em Inglaterra plantam-nas para se protegerem das bruxas – Wolfe sorriu.

– Deve lá haver muitas bruxas. Aqui faz tanto calor, que não podem crescer.

– Que fazem às bruxas no norte?

Rowan julgou ter detectado qualquer coisa nas suas palavras, algo tão perturbador como o calor dos seus olhos.

Então assustou-se. Mas o senso comum disse-lhe que Wolfe Talamantes não era o tipo de homem que ficasse obcecado fosse pelo que fosse. A autoridade natural que emanava dele era aquilo que Tony não tinha e tentava imitar com um comportamento alucinado.

– Bruxas? Ah, no norte aprendemos a viver com elas. Qual é a origem do seu nome?

– Já tem várias gerações na minha família. A minha mãe esperava que acrescentando-lhe um «e» aparentasse ser mais nobre…

– De facto, imprime-lhe mais personalidade – Rowan sorriu.

Lobo era sinónimo de ferocidade e violência. E Wolfe Talamantes, apesar do seu elegantíssimo fato e maneiras requintadas, era mais parecido com um lobo.

Ninguém consegue ter êxito no mundo dos negócios sem usar métodos pouco civilizados. Para o conseguir não podia ter escrúpulos, havia que ser implacável. A sua experiência, ainda que limitada, com homens ricos tinha-a ensinado que usavam sempre o dinheiro como uma arma.

Sentiu novamente um arrepio. Mas ignorou-o porque, que podia fazer Wolfe Talamantes?

Nada.

Depois de terminado o jantar, despedir-se-ia e voltaria para o apartamento de Bobo. No dia seguinte regressaria à baía de Kura e nunca mais o veria. Rowan bebeu um pouco mais de champanhe e fez um brinde silencioso à sua liberdade.

– Gosta do champanhe?

– É muito bom.

Por que não aproveitar aquela noite? Quem a impediria? Não era culpa de Wolfe que lhe recordasse Tony.

Ele sorriu também. Um sorriso enigmático.

Por fim chegaram os pratos. Tinham um aspecto delicioso e um sabor divinal também. Enquanto comiam, falaram sobre teatro, cinema, literatura e até acerca das suas vivências no Japão.

Wolfe tinha viajado muito. Tibete, Europa, México, onde ia visitar a avó. Falava com carinho e respeito acerca do país e de como era interessante conhecer outras culturas. Por baixo do seu sarcástico sentido de humor e do seu jeito para contar histórias, Rowan apercebeu-se de que ele possuía uma formidável formação intelectual. Não era um homem a quem se pudesse desafiar. Se bem que ela não pensasse desafiá-lo. Só queria afastar-se do seu caminho.

– Eu também gosto de viajar. Mas mal saí da Nova Zelândia.

– Teve a rara experiência de viver vários anos noutro país. Nem toda a gente tem essa sorte.

– Bom, é verdade. Foi um privilégio.

– Quando tempo demorou a aprender japonês?

– O meu mestre não sabia uma palavrinha em inglês e, por isso tive de aprender rapidamente. Passado um ano já conseguíamos comunicar. Fala espanhol?

– O meu pai falava espanhol connosco, cresci numa família bilingue.

– Mas a sua mãe era americana, não?

– Sim. Ela aprendeu espanhol para agradar ao meu pai – explicou ele, com um olhar estranhamente frio. – Quando volta para casa?

– Amanhã.

Wolfe assentiu com a cabeça.

Rowan tentou sorrir, mas sentiu-se estúpida por ter ficado tragicamente decepcionada pelo desinteresse do homem.

– Agora percebo porque é que este restaurante está na moda. A comida é deliciosa.

– Formidável – respondeu ele, em tom irónico. A orquestra de jazz começou a tocar uma melodia suave, muito sensual. – Quer dançar?

– Não, obrigada – recusou ela.

Sem contar com o aperto de mão, não lhe tinha tocado… e pretendia continuar assim, ou talvez não quisesse, mas teria de ser assim. Aquele estranho canto de sereia estava a transformá-la numa mulher tão consciente do seu corpo, que quase vibrava de desejo.

Dançar com Wolfe Talamantes seria demasiado perigoso.

Munindo-se de toda a sua força de vontade, Rowan conseguiu manter a compostura. Além disso, era agradável, ocasionalmente cáustico, mas sempre muito educado. E se notava a química feroz que havia entre eles os dois, ignorava-a. Como ela tentava fazer.

Mas não foi por acaso que declinou uma segunda taça de champanhe. Precisava que todos os seus neurónios estivessem a funcionar para continuar com aquela fantochada.

Terminado o jantar, levantaram-se. Wolfe tomou-lhe o braço e esse toque teve o efeito de uma queimadura. Mas tentou dissimular.

Quando saíram do vestíbulo, fixou-se numa mulher alta que falava com um grupo de pessoas. Era magra, tinha cabelo branco e perfil aristocrático…

Rowan ficou paralisada.

E quando a mulher começou a voltar-se para eles, desatou a correr, aterrorizada.

Era a mãe de Tony.

– Onde vai? – perguntou Wolfe, surpreendido.

– Tenho de ir à casa de banho – explicou, procurando controlar os nervos. Mas a mãe de Tony poderia segui-la até ali…

– O elevador – disse por fim.

Levou-a pelo braço até outro vestíbulo e tirou do bolso um cartão magnético que abria as portas de um elevador privado.

Rowan entrou apressadamente, esperando que a senhora Simpson entrasse atrás dela e a amaldiçoasse como a fada má no baptizado da Bela Adormecida.

Mas as portas fecharam-se e não aconteceu nada.

– Obrigada – murmurou então a tremer.

Wolfe passou-lhe um braço pelos ombros e foi como meter-se num forno, como se uma violenta deflagração tivesse explodido no seu interior.

Nervosa, baixou a cabeça para que o homem não se apercebesse da sua inquietação.

– Não aconteceu nada.

– Eu sei – respondeu Rowan, procurando afastar-se. Mas as suas pernas negavam-se a obedecer.

Fechou os olhos, completamente aturdida por uma paixão intensa que a deixava completamente muda. Tinha a certeza que essa paixão estava associada a uma segurança, o que a assustava ainda mais. Nos braços de Wolfe Talamantes sentia-se segura e protegida.

– O que é que aconteceu?

– Vi alguém… alguém que não queria ver – explicou ela, fazendo um esforço para olhar para ele. – Desculpe, teria sido muito embaraçoso. Obrigada por me ter poupado a uma cena..

– Como todos os homens, odeio cenas.

– E como a maioria das mulheres.

– O que foi que aconteceu?

Rowan procurou uma resposta que não a comprometesse.

– Nada importante. Um mal-entendido.

– Um mal-entendido? – repetiu Wolfe com sarcástica desconfiança.

– Sim.

Encontravam-se em frente de um espelho que devolvia a imagem de um homem muito alto e dominador e uma mulher magra, que lhe chegava apenas ao ombro. Sentindo-se frágil e vulnerável, Rowan olhou para o chão. Mas antes de conseguir perguntar-lhe para onde se dirigiam, as portas do elevador abriram-se.

– Onde estamos?

– No meu apartamento. O mínimo que pode fazer é tomar um café comigo e falar-me desse… mal-entendido. Depois levá-la-ei a casa.

– Não, prefiro apanhar um táxi.

Wolfe encolheu os ombros.

– A única alternativa é descer novamente no elevador e encontrar-se com… essa pessoa outra vez.

– É uma mulher. E não tenho medo dela.

– Quer entrar ou não?

Era um convite muito perigoso.

– Não me parece boa ideia…

– Não lhe vou fazer nada, Rowan.

Wolfe abriu a porta e ficou à espera.

– Está bem, de acordo – suspirou ela.

Estaria a meter-se na boca do lobo?

No corredor, Rowan reconheceu um quadro que, segundo os jornais, tinha sido vendido por um preço astronómico e concluiu que ele era um verdadeiro amante da arte… Por alguma razão, aquilo dissipou o seu nervosismo.

Nunca tinha entrado num duplex tão luxuoso como aquele. O salão era muito grande, decorado com extremo bom gosto. Havia muitos quadros, livros e flores, mas não era ostensivo.

– Sente-se. Vou fazer um café.

– Obrigada.

O facto de ter visto a mãe de Tony tinha-lhe posto os nervos em franja e precisava de fazer qualquer coisa. Entretanto, Wolfe foi fazer o café e Rowan aproximou-se da janela, afastando os cortinados.

Uma chuva de Primavera tinha limpo as ruas e as luzes do porto de Auckland brilhavam tanto como a Via Láctea sobre a sua casa em Kura. Estar de regresso a casa era aquilo que mais desejava, voltar a brincar com o cão e trabalhar na sua argila.

Wolfe voltou pouco depois com uma bandeja.

– Quer ir até ao terraço? Acho, no entanto, que está frio.

– Não, estava apenas a observar. Tem uma vista espectacular.

– Venha, sente-se. Está muito pálida. Esse mal-entendido deve ter sido traumático, não?

Rowan encolheu os ombros.

– Aconteceu há muito tempo.

– Ah, sim? A julgar pela sua reacção, continua muito presente?

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