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Segundo capítulo

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Ao alcançar o corredor, estava consciente da minha inevitável ignorância. Onde era o escritório? Como ia fazer para o encontrar, se mal consegui chegar até ali? Antes de me afundar na lama de desespero, fui resgatada pela intervenção providencial da senhora Mc Millian, um sorriso amplo sobre o vulto magro.

“Senhorita Bruno, estava a vir exatamente a chamá-la...” Lançou um rápido olhar ao relógio de pêndulo na parede. “Que pontualidade! A senhorita é realmente uma pérola rara! Tem certeza de ter origens italianas e não suíças?" Sorriu sozinha com a brincadeira.

Sorri educadamente, ao adequar o passo ao seu, enquanto subíamos as escadas. Ultrapassamos a porta do meu quarto, dirigindo-nos aparentemente ao fundo do corredor, por meio de uma porta pesada.

Sem cessar o seu falatório estridente, bateu levemente à porta, três vezes e a entreabriu.

Fiquei atrás dela, as pernas já trêmulas, enquanto ela espreitava no interior do quarto.

“Senhor Mc Laine... aqui está a senhorita Bruno”.

“Já era hora. Está atrasada”. A voz soou áspera, rude.

A governanta explodiu numa risada impetuosa, avessa ao mau humor do dono de casas.

“Só em um minuto, senhor. Não se esqueça que é nova na casa. Fui eu que a fiz demorar porque...”

“Deixe-a passar, Millicent”. A interrupção foi brusca, quase uma chicotada e eu pulei para o lugar da outra mulher que, com calma, se voltou para olhar-me.

“O senhor Mc Laine a aguarda, senhorita Bruno. Por favor, entre”.

A mulher recuou, ao fazer um sinal para eu entrar. Dirigi a ela um último olhar preocupado. Ela, para me encorajar, sussurrou "Boa sorte”.

Pronto, tinha surtido o efeito contrário. O meu cérebro tinha se reduzido a um purê liquefeito, sem lógica ou cognição do tempo e do espaço.

Arrisquei um tímido passo no interior do quarto. Antes de ver qualquer coisa, ouvi a voz de antes que estava a se despedir de alguém.

“Pode ir, Kyle. Iremos nos ver amanhã. Seja pontual, por favor. Não vou tolerar outros atrasos”.

Um homem estava de pé, a poucos passos de mim, alto e robusto. Fixou-me e acenou uma saudação com a cabeça, em seu olhar um brilho de apreciação enquanto passava por mim.

“Boa tarde”.

“Boa tarde”, respondi em seguida, fixando-o mais que o devido para atrasar o momento em que tinha me tornado ridícula, tinha ignorado as expectativas da senhora Mc Millian e as minhas esperanças tolas.

A porta se fechou às minhas costas e me lembrou as boas maneiras.

“Boa tarde, senhor Mc Laine, me chamo Melisande Bruno, venho de Londres e...”

“Poupe-me o relato das suas competências, senhorita Bruno. Modestas também”. A voz agora era entediada.

Os meus olhos se elevaram, prontos finalmente para encontrar aqueles do meu interlocutor. E quando o fizeram, agradeci aos céus de o ter saudado logo. Porque agora ia ter sérias dificuldades para lembrar até o meu nome.

Estava sentado do outro lado da escrivaninha, na cadeira de rodas, uma mão estendida na borda, a tocar a madeira, a outra a segurar uma caneta, os olhos escuros fixos nos meus, insondáveis. Ainda uma vez, a enésima, lamentei não poder ver as cores. Tinha dado de boa vontade um ano de vida para distinguir as cores de seu rosto e dos seus cabelos. Mas esta alegria me era impedida. Sem apelo. Em um clarão de lucidez pensei que era bonito assim: o rosto de uma palidez não natural, olhos pretos, sombreados por longos cílios, os cabelos pretos, ondulados e cheios.

“É muda, por acaso? Ou surda?”

Voltei ao chão, precipitando de alturas vertiginosas. Pareceu quase sentir a queda dos meus membros no piso. Um alto e sinistro rugido, seguido por um estalido amedrontador e devastante.

“Desculpe-me, fiquei distraída” murmurei, corando no mesmo instante.

Ele olhou para mim com uma atenção que me pareceu exagerada. Parecia memorizar cada uma das linhas do meu rosto, parando na minha garganta. Corei ainda mais. Pela primeira vez, desejei ardentemente que o meu defeito de nascença fosse compartilhado por um outro qualquer ser humano. Teria sido menos embaraçante pensar que o senhor Mc Laine, na sua aristocrática e triunfante beleza, não pudesse notar a vermelhidão afluir violentamente sobre cada centímetro de pele descoberta.

Balancei-me sobre os pés, incomodada sob aquele exame visual descaradamente descoberto. Ele continuou a sua análise, passando aos meus cabelos.

“Devia pintar os cabelos ou acabarão por confundi-los com o fogo. Não queria que acabasse sob a incursão de cem extintores”. A expressão inescrutável se animou um pouco e uma centelha de diversão brilhou nos seus olhos.

“Não fui eu a escolher esta cor” disse, recolhendo toda a dignidade da qual fui capaz. “Mas o senhor”.

Levantou uma sobrancelha. “É religiosa, senhorita Bruno?”

“E o senhor?”

Pousou a caneta sobre a escrivaninha, sem desgrudar os olhos de cima de mim. “Não há provas que Deus exista”.

“Nem que não exista” respondi em tom de desafio, surpreendendo a mim mesma pela veemência com a qual falei.

Os seus lábios se curvaram num sorriso zombeteiro, depois me indicou a pequena poltrona estofada. “Sente-se”. Deu-me uma ordem, mais do que efetuar-me um convite. No entanto, obedeci no instante.

“Não respondeu à minha pergunta, senhorita Bruno. É religiosa?”

“Sou crente, senhor Mc Laine” confirmei em voz baixa. “Porém não sou muito praticante. Aliás, não sou de forma alguma”.

“A Escócia é uma das poucas nações anglo-saxónica a praticar o catolicismo com um fervor e uma devoção incomparáveis”. A sua ironia era inequívoca. “Eu sou a exceção que confirma a regra... Não se diz assim? Digamos que acredito só em mim mesmo e naquilo que posso tocar”.

Apoiou-se largamente no encosto da cadeira de rodas, batendo com a ponta dos dedos nos seus braços. Mesmo assim, não pensei, nem por um milésimo de segundo, que era vulnerável ou frágil. A sua expressão era aquela de quem escapou das chamas e não tem medo de se lançar de novo nelas, se o considerar necessário. Ou simplesmente, se tem vontade. Afastei com dificuldade os olhos do seu rosto. Era reluzente, quase perolado, um branco brilhante e polido, diferente dos rostos comuns que me rodeavam. Era exaustivo olhar para ele e também ouvir a sua hipnótica voz. Uma serpente encantadora e qualquer mulher ia ficar muito feliz de sofrer seu feitiço, a secreta magia que emanava dele, daquele rosto perfeito, do seu olhar zombeteiro.

“Então, é a minha nova secretária, senhorita Bruno”.

“Se quiser confirmar me contratar, senhor Mc Laine” disse, elevando o olhar.

Ele sorriu, ambíguo. “Por que devo contratá-la? Porque não vai todos os domingos à igreja? Julga-me muito superficial se pensa que sou capaz agora de mandá-la embora ou... mantê-la aqui com base em algumas conversas”.

“Nem eu a conheço bastante para formular um juízo seu assim pouco lisonjeiro” concordou com um sorriso. “Estou consciente porém que uma profícua relação de trabalho nasce também de uma imediata simpatia, de uma primeira impressão favorável”.

A sua risada foi tão inesperada a ponto de fazer-me estremecer. Com a mesma rapidez com a qual surgiu, se apagou. Fixou-me gelidamente.

“Acredita realmente que é fácil encontrar empregados dispostos a se transferir para esta vila esquecida de Deus e do mundo, longe de qualquer diversão, de cada centro comercial ou discoteca? A senhorita foi a única a responder ao anúncio, senhorita Bruno”.

A diversão estava em espreita, por trás do gelo dos seus olhos. Uma placa de gelo preto, partida por uma fina fissura de bom humor que aqueceu-me a alma.

“Então não terei que preocupar-me com a concorrência” disse, ao cruzar nervosamente as mãos no colo.

Ele me examinou ainda, com a mesma curiosidade irritante com a qual se olha um animal raro.

Engoli a saliva, ostentando uma desenvoltura fictícia e perigosamente precária. Por um instante, exatamente o tempo de formular um pensamento, disse a mim mesma que devia fugir daquela casa, daquele quarto transbordante de livros, daquele homem inquietante e belíssimo. Sentia-me como um gatinho indefeso, a poucos centímetros das garras de um leão. Predador cruel, presa impotente. Depois, a sensação esvaneceu e me considerei uma boba. Diante a mim estava um homem de personalidade exuberante, arrogante e prepotente, mas obrigado há tempo a ficar numa cadeira de rodas. Eu era a presa da vez, uma garota tímida, medrosa e relutante às mudanças. Por que não deixá-lo fazer? Se o divertia brincar comigo, por que impedir a única ocasião de diversão, de passatempo que tinha? Era quase nobre da minha parte, num certo sentido.

“O que pensa de mim, senhorita Bruno?”

Ainda uma vez o forcei a repetir a pergunta e mais uma vez o peguei de surpresa.

“Não pensava que era tão jovem”.

Endureci no momento e fiquei sem fala, com medo de machucá-lo de algum modo. Ele se recompôs e me gelou com outro dos seus sorrisos emocionantes. “Mesmo?”

Agitei-me na cadeira, indecisa sobre como prosseguir. Depois me decidi, ao recolher toda a minha coragem e estimulada pelo seu olhar preso ao meu, numa dança muda e não por isso menos emocionante, voltei a falar.

“Bem... escreveu o seu primeiro livro vinte e cinco, quinze anos atrás, pelo que me resulta. E mesmo assim, parece um pouco mais velho que eu” considerei quase como distraidamente.

“Quantos anos tem, senhorita Bruno?”

“Vinte e dois, senhor” respondi, envolvida novamente pela profundidade dos seus olhos.

“Sou muito velho para si, senhorita Bruno” disse com um riso silencioso. Depois abaixou o olhar e a fria noite invernal voltou a envolvê-lo entre as suas espirais, mais cruel que uma serpente. Cada vestígio de calor desapareceu. “Assim, pode ficar tranquila, Não deverá temer por assédio sexual enquanto dorme na sua cama. Como vê, sou condenado à imobilidade”.

Calei-me porque não sabia o que responder. O seu tom era amargurado e sem esperança, o rosto esculpido na pedra.

Os seus olhos sondaram os meus, a procura de algo que parecia não encontrar. Concedeu-se um pequeno sorriso. “Ao menos, não há piedade nela. Isto me alegra. Não a quero, não preciso disso. Sou mais feliz que muitos outros, senhorita Bruno porque sou livre, completamente, do modo mais absoluto”. Franziu as sobrancelhas. “O que está a fazer aqui ainda? Pode ir”.

O tom seco me deixou perplexa. Levantei-me incerta e ele aproveitou para desafogar sobre mim a sua cólera.

“Ainda aqui? O que deseja? Já o seu salário? Ou quer falar do seu dia de folga?” acusou-me irado.

“Não, senhor Mc Laine”. Desajeitadamente, dirigi-me à porta. A minha mão já estava sobre a maçaneta, quando me parou.

“Às nove da manhã, senhorita Bruno. Estou a escrever um novo livro, o título é mortos sem sepultura. Acha muito macabro?” O seu sorriso se tornou bem mais intenso.

A brusca mudança de humor devia ser um traço dominante do seu caráter. Esforcei-me para lembrar no futuro ou arriscava a ter uma crise histérica ao menos vinte vezes ao dia. “Parece interessante, senhor” respondi com cautela.

Virou a cabeça para trás e explodiu numa grande risada. “Interessante! Aposto que nunca leu um dos meus livros, senhorita Parece-me de estômago delicado... Não ia dormir à noite, atormentada pelos pesadelos...” Riu de novo, passando a tratá-la com mais intimidade com a mesma rapidez com a qual mudava de humor.

“Não sou tão sensível como parece, senhor” respondi modestamente, desencadeando uma outra onda de risadas.

Com as mãos manobrou a cadeira de rodas com uma habilidade felina e admirável, nascida a anos e anos de hábito e veio numa velocidade extraordinária ao meu lado. Tão próximo a tornar inútil qualquer minha tentativa de formular um pensamento racional. Instintivamente, recuei um passo. Ele fingiu não notar o meu movimento e indicou a biblioteca à minha direita.

“Pegue o quarto livro à esquerda, terceira prateleira”.

Obediente, peguei o livro que me indicava. O título me era familiar porque tinha feito uma busca sobre ele na Internet antes de partir, porém efetivamente nunca tinha lido nada dele. Terror não era o meu género, decididamente mais adequado a paladares fortes e inadequado ao meu, delicado e romântico.

“Zumbis a caminho” li em voz alta.

“É o mais adequado para começar. É o menos... como dizer? Menos assustador?” Riu com gosto, claramente de mim e pelo desconforto decididamente pouco velado que transparecia de cada poro do meu corpo.

“Por que não o começa esta noite? Só para se preparar no seu novo trabalho” ele sugeriu, os olhos risonhos.

“Ok, vou fazê-lo” respondi com muito pouco entusiasmo.

“Até amanhã de manhã, senhorita Bruno” disse ele, o ar de novo grave. “Feche-se no quarto, não queria que os espíritos do palácio fossem fazer-lhe uma visita esta noite ou qualquer outra temível criatura noturna. Sabe como é...” Fez uma pausa, um raio de hilaridade no escuro dos seus olhos. “Como falei antes, é duro encontrar empregados por estes lados”.

Tentei um sorriso, pouco convincente tudo junto.

“Boa noite, senhor Mc Laine”. Antes de fechar a porta a vontade de dizer algo saía pelos lábios, sem poder segurar. "Não acredito nos espíritos ou nas criaturas noturnas”.

“Está certa disso?”

“Não há provas da sua existência, senhor” respondeu, fazendo-lhe involuntariamente o sentido.

“Nem do fato que não existem” rebateu ele. Rodou a cadeira de rodas e voltou por trás da escrivaninha.

Fechou delicadamente a porta, o coração sob a terra. Talvez ele tinha razão e os zumbis existem. Porque naquele momento, eu me sentia um deles. Transtornada, o cérebro perdeu a lucidez, suspensa em um limbo no qual não sabia mais distinguir entre o real e o irreal. Pior que não saber distinguir as cores.

Jantou sem vontade em companhia da senhora Mc Millian, a cabeça longe, em bem outra companhia. Temia que ia recuperá-la só no dia seguinte pela manhã, ao voltar para aquele onde a tinha deixado. Algo me dizia que não eram boas mãos aquelas as quais o meu coração certo o tinha confiado.

Da conversa daquela noite com a governanta, lembro muito pouco. Ela falou sozinha, sem parar. Parecia estar no sétimo céu por ter finalmente alguém para com quem falar. Ou melhor, que para escutá-la. Eu era perfeito nesse sentido. Muito educado para interrompê-la, muito respeitosa para mostrar meu desinteresse, muito ocupada para pensar em algo mais para mostrar a necessidade de ficar sozinha. Assim, eu podia pensar nele.

No meu quarto, uma hora depois, sentada confortavelmente na cama, com a cabeça apoiada nos travesseiros, abri o livro e mergulhei na leitura. Na segunda página, eu já estava aterrorizada e de modo reprovável, considerando que era simplesmente um livro.

Apesar do bom senso de que, teoricamente, eu era bem provida, a atmosfera na sala parecia sufocante e o desejo de um sopro de ar fresco se fez inevitável.

Descalça, atravessei a sala escura na penumbra e escancarei a janela. Sentei-me no peitoril da janela, imergindo-me na quente noite de início de verão, o silêncio quebrado apenas pelo disparo dos grilos e pelo som de uma coruja. Era bom estar lá, longe anos luz do frenesi de Londres, de seus implacáveis ritmos, sempre no fio da histeria. A noite era uma colcha preta, a parte o branco de alguma estrela aqui e ali. Eu gostava da noite e pensei ociosamente que teria gostado de ser uma criatura noturna. A escuridão era minha aliada. Sem luz tudo é preto e a minha incapacidade genética de distinguir as cores diminuía, perdia importância. À noite, meus olhos eram idênticos aos de outra pessoa. Por algumas horas, eu não me sentia diferente. Um alívio momentâneo claro, mas refrescante como a água sobre a pele aquecida.

Na manhã seguinte, acordei ao som do despertador e fiquei alguns minutos na cama, aturdida. Depois de um atordoamento inicial, lembrei do que tinha acontecido no dia anterior e reconheci o quarto.

Após me vestir, desci as escadas, quase assustada com o profundo silêncio que me rodeava. A visão de Millicent Mc Millian, alegre e falador como sempre, dissolveu o nevoeiro e trouxe o sereno para minha mente turbulenta.

"Dormiu bem, senhorita Bruno?" disse.

"Nunca melhor", falei, surpresa eu mesma com aquela novidade. Há anos que não me abandonava assim serenamente ao sono, os pensamentos negativos afastados por ao menos algumas horas.

“"Quer um café ou um chá?"

"Chá, por favor", implorei, sentada na mesa da cozinha.

"Vá para a sala de estar, vou servi-lo lá".

"Eu prefiro tomar café da manhã consigo", eu disse, sufocando um bocejo.

A mulher parecia satisfeita e começou a andar em torno ao fogão. Ela retomou a conversa habitual e eu estava livre para pensar em Monique. O que estava fazendo àquela hora? Já tinha preparado o café da manhã? O pensamento da minha irmã recolocou o peso sobre meus ombros delgados e, com prazer, acolhi com alegria chegada da xícara de chá.

"Obrigado, Sra. Mc Millian". Degustei com prazer o líquido quente e agradavelmente perfumado, enquanto a governanta servia o pão tostado e uma série de tigelas cheias com várias geléias convidativos.

"Pegue a de framboesas. É fabulosa. "

Eu peguei a bandeja, meu coração já estava em fibrilação. Minha diversidade voltou ao salmão, escuro e mal cheiro. Por que eu sou? E em todo o mundo havia outros como eu? Ou eu era uma anomalia isolada, uma brincadeira maluca da natureza?

Peguei uma tigela ao acaso, esperando que a velha estivesse muito focada para falar sobre meu erro. Os engarrafamentos eram cinco, então eu tive uma chance em cinco, dois em dez, vinte por cento para escolher o caminho certo na primeira tentativa.

Ela correu para me consertar, menos distraída do que eu pensava. "Não, senhorita. Isso é laranja.” Ele sorriu, sem consciência a agitação que me montou e meu rosto suado de suor. Ele passou por uma tigela. "Aqui, é fácil confundi-lo com os morangos".

Ela não notou meu sorriso forçado e retomou a história de suas aventuras amorosas com um jovem florentino que terminou de plantá-la para uma América do Sul.

Lamentava mal, ainda esticado pelo acidente antes, e já me arrependi de não ter aceitado a proposta de comer sozinha. Nesse caso, não haveria problemas. Evite situações potencialmente críticas: foi meu mantra. Desde então. Eu não tive que deixar a atmosfera deliciosa daquela casa me empurrar em atos ávidos, esquecendo a necessária prudência. Mc Millian parecia uma mulher inteligente, inteligente e pensativa, mas ela estava exagerada conversando. Eu não podia contar com o seu critério.

Ela fez uma pausa para o chá e aproveitou para lhe fazer algumas perguntas. "Trabalha para o Sr. Mc Laine por muitos anos?"

Ela se alegrou, feliz por poder dar à luz novas anedotas. "Eu estive aqui por quinze anos. Cheguei alguns meses depois do acidente acontecer com o Sr. Mc Laine. Aquele em que... bem, entendeu, não?. Todos os empregados anteriores foram mandados embora. Parece que o Sr. Mc Laine era um homem muito alegre, cheio de vontade de viver, sempre contente. Agora, infelizmente, as coisas mudaram. "

"Como aconteceu? Quero dizer... O acidente? Isto é... perdoa a minha curiosidade, é imperdoável. " Mordi meu lábio, com medo de ser mal interpretada.

Ela balançou a cabeça. "É normal fazer perguntas, faz parte da natureza humana. Eu realmente não sei o que aconteceu exatamente. Na aldeia, eles me disseram que o Sr. Mc Laine ia se casar no dia seguinte após o acidente de carro e, claro, não foi feito mais nada. Alguns dizem que estava bêbado, mas são notícias sem fundamento, na minha opinião. O que sabes com certeza é que ele saiu da estrada para evitar uma criança ".

A minha curiosidade foi reorientada, alimentada pelas suas palavras. "Criança? Eu tinha lido na internet que o acidente aconteceu à noite. "

Ela encolheu os ombros. "Sim, parece que era o filho do farmacêutico. Tinha fugido de casa porque tinha colocado na cabeça de se juntar à companhia de circo, em turnê na área ".

Remoí aquela notícia. Isso explicava as bruscas mudanças de humor do Sr. Mc Laine, seu perene mau humor, a sua infelicidade. Como não entender isso? O seu mundo tinha desmoronado, partido em pedaços, como resultado de um destino miserável. Um homem jovem, rico e bonito, um escritor bem-sucedido, prestes a coroar seu sonho de amor... E em questão de poucos segundos perdeu grande parte do que tinha. Eu nunca tinha passado por tal desventura, podia só imaginá-la. Não se pode perder o que não se tem. A minha única companheira sempre foi Nada.

Um rápido olhar para o relógio de pulso confirmou que era hora de ir. Meu primeiro dia de trabalho. Meu coração acelerou e em um vislumbre de lucidez eu me perguntei se dependia do novo emprego ou do misterioso dono daquela casa.

Subi as escadas de dois em dois degraus com o medo irracional de chegar atrasada. No corredor cruzei com Kyle, a enfermeira que fazia de tudo. "Bom dia."

Desacelerei, com vergonha da minha pressa. Eu devia parecer uma insegura ou pior uma exaltada.

"Bom dia."

"Senhorita Bruno, não é? Posso tratá-la sem tanta cerimônia? No fundo, estamos no mesmo barco, à mercê de um louco louco. " A aspereza brutal de suas palavras deixou-me espantada.

"Eu sei, sou desrespeitoso para com o meu empregador, etc., e assim por diante. Logo, aprenderás a me dar razão. Como te chamas? "

"Melisande".

Ele insinuou uma reverência desajeitado. "Encantado em conhecer-te, Melisande de cabelos ruivos. Seu nome é realmente estranho, não é escocês... Mesmo se pareces mais escocesa do que eu. "

Eu dei um sorriso de pura cortesia e tentei ultrapassá-lo, ainda com medo de me atrasar. Mas ele bloqueava meu caminho, parado com as pernas esticadas no patamar. Foi a intervenção oportuna de uma terceira pessoa a quebrar o fio.

"Senhorita Bruno! Não suporto os atrasos! "O grito veio indubitavelmente do meu novo empregador, e fez meu cabelo se arrepiar na nuca.

Kyle se deslocou imediatamente, deixando que eu passasse. "Boa sorte, Melisande de cabelos ruivos. Irás precisar disso. "

Lancei-lhe um olhar feroz e corri para a porta no fundo do corredor. Estava entreaberta e um anel de fumaça saia dela.

Sebastian Mc Laine estava sentado atrás da escrivaninha como no dia anterior, um cigarro entre os dedos, o rosto inflexível.

"Feche a porta, por favor. E então sente-se. Perdemos tempo suficiente enquanto confraternizava com o resto do pessoal". O tom era duro, insultante.

Um movimento rebelde me levou a replicar, um cordeiro temerário diante de um cutelo.

"Era só cortesia normal. Ou prefere uma secretária mal educada? Nesse caso, eu também posso remover as tendas. De agora em diante. "

Minha resposta impulsiva o pegou de surpresa. Seu rosto iluminou-se com espanto, o mesmo que eu provavelmente refleti sobre isso. Nunca tinha sido tão audacioso.

"E eu que já a tinha rotulado isso como um cachorro sem dentes ... Fui apressado ... Realmente apressado".

Eu me sentei na frente dele, minhas pernas que não estavam mais me segurando, esmagada por minha frenética franqueza. E aterrorizada com as potenciais, explosivas consequências.

Meu empregador não parecia ofendido, na verdade. Ele sorria. "Qual é o seu nome de batismo, senhorita Bruno?"

"Melisande", respondi automaticamente.

"De Debussy, eu acho. Os seus pais gostavam de música? Concertos, talvez? "

"Meu pai era um mineiro", confessei com relutância.

"Melisande ... Um nome altissonante para a filha de um mineiro", ele observou, a voz vibrante de uma risada reprimida. Ele estava a brincar comigo e, apesar das intenções do dia anterior, não tinha certeza de que ele queria deixar de fazer isso. Ou teria se tornado a sua atividade preferida.

Endireitei meus ombros, tentando recuperar a compostura perdida. "E Sebastian, por quê? De San Sebastian, talvez? Realmente incongruente como escolha ".

Tinha sido certeira, ele encrespou o nariz por um momento infinitesimal. "Guarde as garras, Melisande Bruno. Não estou em guerra contigo. Se assim o fosse, tu não terias esperanças de ganhar. Nunca. Nem nos teus mais ousados ​​sonhos.

"Eu nunca sonho, senhor", respondi o mais dignamente possível.

Ele parecia impressionado com a minha resposta, com tal sinceridade. "Tu és afortunada então. Os sonhos são sempre um embuste. Se são pesadelos, perturbam o teu sono. Se são belos, o despertar será duplamente amargo. É melhor não sonhar, afinal. " Seus olhos não se separaram dos meus, encantadores. "Tu és um personagem interessante, Melisande. Um passarinho, mas engraçado ", acrescentou em tom melancólico.

"Que bom que eu tenha os requisitos para esse trabalho, então", eu disse ironicamente.

Torturei meu lábio inferior com os dentes, dominados pelo arrependimento. O que estava a acontecer comigo? Nunca reagi com um impulso tão deplorável. Tive que dar um corte antes de perder o controle completamente.

O seu sorriso agora ia de uma orelha para outra, divertido além das palavras. "Tu as tens realmente. Tenho certeza que nos acertaremos. Uma secretária que não sabe sonhar, como seu chefe. Há uma afinidade eletiva entre nós, Melisande. De almas, em certo sentido. Se não fosse que um de nós tem mais de uma e por muito tempo afinal... "

Antes que pudesse dar um sentido às suas palavras obscuras, ele voltou a ficar sério, seus olhos novamente destacados, a expressão inescrutável, distante e sem vida.

"Deves enviar o fax dos primeiros capítulos do livro para o meu editor. Sabes como fazê-lo? "

Concordei e de repente percebi que eu já sentia a falta de nosso duelo verbal. Eu queria que fosse infinito. Eu tirei dessa troca como uma fonte milagrosa, a me preencher com uma vitalidade exuberante, uma energia sem precedentes para mim.

As duas horas seguintes voaram. Enviei vários faxes, abri o correio, escrevi cartas de recusa a vários convites e reorganizei minha mesa. Ele, em silêncio, escrevia no computador, a fronte enrugada, os lábios estreitos, suas mãos brancas e elegantes que voavam no teclado. Lá pela hora do almoço, chamou a minha atenção com um aceno da mão.

"Podes fazer uma pausa, Melisande. Quem sabe comer algo ou dar uma volta ".

"Obrigada, senhor".

"Começou a ler meu livro, aquele que eu te dei?" Seu rosto ainda estava longe, imóvel, mas achei um brilho de bom humor naqueles olhos negros.

"Estava certo, senhor. Não é exatamente o meu género", confiei com toda sinceridade.

Os seus lábios se curvaram levemente, com um sorriso oblíquo, capaz de penetrar na armadura das minhas defesas. Armadura que eu pensava era mais forte do que o aço.

"Eu não duvidei disso. Aposto que tu és mais um tipo de Romeu e Julieta". Não houve ironia em sua voz, apenas se limitou a fazer uma declaração.

"Não, senhor". A controvérsia tornou-se natural para mim, como se nos conhecêssemos desde sempre, e eu podia ser eu mesma, totalmente, sem subterfúgios ou máscaras. "Eu amo histórias com final feliz. A vida já é muito amarga, para aumentar a dose com um livro. Se eu não tenho permissão para sonhar à noite, quero fazê-lo ao menos de dia. Se eu não tenho permissão para sonhar na vida, eu quero fazê-lo ao menos com um livro ".

Ele considerou atentamente minhas palavras, por tanto tempo, pensei que ele não ia me responder. Quando eu estava prestes a fazer uma pausa, ele me parou.

"A Sra. Mc Millian explicou o nome desta casa?"

"Ela pode até ter feito isso", admiti com um meio sorriso. "Tenho medo de ter prestado atenção só à metade".

"Sim, eu me perco após a décima palavra", ele elogiou sem ironia. "Nunca tive um espírito de sacrifício. Sou egoísta e pronto".

"Às vezes tu tens de ser" eu disse. "Ou serás triturado pelas expectativas dos outros. E acabarás vivendo uma vida não tua, mas aquela que outros decidiram para ti".

"Muito sábia, Melisande Bruno. Encontraste, só com vinte e dois anos, a chave da serenidade do espírito. Não é para todos ".

"Serenidade?" repeti amarga. "Não, a sabedoria de entender algo não significa necessariamente aceitá-lo. A sabedoria nasce na cabeça, o coração segue seus caminhos, independentes e perigosos. E tende a fazer desvios fatais ".

Ele moveu a cadeira de rodas, vindo para o meu lado na escrivaninha, os olhos penetrantes. "Então? Estás curiosa de saber o motivo do nome Midnight Rose? Ou não? "

"Rosa da meia-noite" traduziu, lutando com a emoção de tê-lo tão perto. Fugi por muito tempo da companhia masculina, desde o dia do meu primeiro e único compromisso. Tão desastroso que me marcou para sempre.

"Exatamente. Nesta área há uma lenda, antiga há séculos, talvez por milênios, segundo a qual, se assistimos o florescer de uma rosa à meia-noite, o nosso maior e secreto desejo será realizado por magia. Mesmo se for um desejo sombrio e maldito ".

Apertou as mãos em punho, quase que desafiando-me com o olhar.

"Se um desejo é aquele de nos deixar felizes, nunca é obscuro e maldito", eu disse com calma.

Ele olhou para mim com atenção, como se não acreditasse em seus ouvidos. Um riso demoníaco escapou dele. Um tremor me serpenteei ao longo das minhas costas.

"Muito sábia, Melisande Bruno. Eu tê-lo concedo. Palavras escandalosas para uma menina que não mataria um mosquito sem chorar ".

"Uma mosca, talvez. Com um mosquito, eu não teria problemas ", disse lapidária.

Novamente, ele ficou atento, uma chama longe a aquecer o gelo daqueles olhos escuros. "Quanta informação preciosas sobre ti, senhorita Bruno. Descobri em poucas horas que és filha de um antigo mineiro apaixonado por Debussy, que não consegues sonhar e odeia mosquitos. Por que, eu me pergunto. O que te fizeram aquelas pobres criaturas? "O escárnio era evidente em sua voz.

"Pobres nada", respondi prontamente. "Elas são parasitas, se alimentam do sangue dos outros. São insetos inúteis, ao contrário das abelhas e nem são tão simpáticas como as moscas".

Ele bateu a mão sobre a coxa, explodindo de rir. "Simpáticas, as moscas? És muito estranha Melisande e muito, muito engraçada. "

Mais caprichoso que o tempo de março, o seu humor mudou bruscamente. O riso se apagou em um acesso de tosse e voltou a fixar-me. "Os mosquitos sugam sangue porque não têm outra escolha, minha cara. É a sua única fonte de sustento, podes culpá-los? Eles têm gostos refinados, ao contrário das muitas moscas decantadas, acostumadas a viver entre os dejetos humanos".

Fixei a prateleira de mesa cheia de papéis, desconfortável sob seus olhos frios.

"O que farias no lugar de um mosquito, Melisande? Tu ias renunciar a nutrir-te? Morrerias de fome para não ser rotulada como um parasita? "Seu tom era de pressão, como se exigisse uma resposta.

Eu o satisfiz. "Provavelmente não. Mas não tenho certeza. Eu devia estar no lugar de um mosquito, para ter certeza. Gosto de acreditar que poderia encontrar uma "alternativa". Mantive o olhar cuidadosamente separado dele.

"Nem sempre há alternativas, Melisande". Por um momento, sua voz tremeu, sob o fardo de um sofrimento que eu não tinha idéia, com o qual ia chegava ao fim em partes todos os dias por longos quinze anos. "Nós nos veremos as duas, senhorita Bruno. Seja pontual ".

Quando me voltei para ele, ele já havia rodado a cadeira de rodas, escondendo o rosto.

A consciência de ter cometido uma gafe esmagou meu coração como uma mordida, mas não podia remediar isso de forma alguma.

Em silêncio, deixei o quarto.

A Garota Dos Arco-Íris Proibidos

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