Читать книгу Mais do que uma dúvida - Sara Craven - Страница 6
Capítulo 2
Оглавление– O ogro convidou-te para jantar? – inquiriu Jenny, surpreendida. – E tu aceitaste? Meu Deus, Chessie, deves estar doida!
Chessie encolheu os ombros com um gesto defensivo.
– Não percebo porquê. Hoje teve um bom dia e apeteceu-lhe celebrar.
– Não me digas que inventaram uma máscara para ele – comentou, trocista.
Chessie ficou a olhar para a sua irmã com uma expressão de perplexidade.
– Como é que podes dizer uma coisa dessas? Miles é o meu patrão e estamos em dívida para com ele, no entanto, não és capaz de mostrar-te agradecida.
– Estamos em dívida para com ele? – o rosto de Jenny ficou vermelho. – O que é que lhe devemos? Tirou-nos a casa e trata-nos como empregadas.
– A sério? – inquiriu Chessie. – Não tenho visto nenhum servilismo da tua parte. E se Miles não tivesse comprado a casa, outra pessoa o teria feito e nós teríamos ficado na rua. Não podíamos ficar com a casa, quando é que vais compreender isso?
Jenny fitou-a furiosa.
– Poderíamos ter feito qualquer coisa. No outro dia, na televisão, vi um programa sobre casas de campo transformadas em hotéis. Era uma boa ideia. Poderíamos ter feito isso com a nossa casa.
– Sim, talvez dentro de vinte anos, mas os credores do pai não estavam dispostos a esperar todo esse tempo.
– Continuo a pensar que o poderíamos ter feito – insistiu Jenny, com teimosia.
Chessie, de repente, não soube se rir ou chorar. Era extraordinária a maneira como Jenny, que era tão inteligente nos estudos, tinha tão pouco sentido da realidade.
– E outra coisa, se vais sair para jantar fora esta noite, importavas-te de me dizer o que é que eu vou jantar? Aposto que o ogro não me convidou a mim.
– Não, não te convidou – replicou Chessie. – Mas não te preocupes que não vais morrer de fome. Há estufado de frango no frigorífico e a única coisa que tens que fazer é aquecê-lo no microondas.
– Isso não se pode comparar a um jantar fora – replicou Jenny, fazendo uma careta. – E mais uma coisa, desde quando é que o ogro é «Miles»? Pensei que fosse: «o senhor Hunter isto» e «o senhor Hunter aquilo».
– E talvez volte a sê-lo amanhã – replicou Chessie, com calma. – Isto é só um jantar e mais nada.
«Quantas vezes terei de o repetir para me convencer?», interrogou-se Chessie, enquanto examinava o seu escasso guarda-roupa.
A maioria das suas roupas entrava em duas categorias: a roupa de trabalho elegante e a roupa de trabalho quotidiana. Por fim, optou por uma saia preta lisa e uma blusa de cor creme. Os brincos dourados e um fio dourado no pescoço fizeram com que parecesse mais elegante.
Chessie tinha vinte e poucos anos, mas sentia-se uma anciã. Tinha rugas de preocupação na testa e a curva dos seus lábios já não tinha a frescura da juventude.
Normalmente, levava o seu cabelo castanho dourado apanhado num rabo-de-cavalo, mas desta vez decidiu deixá-lo solto. Pintou os lábios e colocou um pouco de cor no rosto. Como toque final, agarrou no seu frasco de L’Air du Temps e deitou umas gotas nos pulsos e no pescoço: «quando acabar não terei outro» e fechou o frasco com cuidado.
O salário que Miles pagava era bom, mas não sobrava para luxos como o perfume.
Jenny ganhara uma bolsa de estudo para estudar na escola da povoação vizinha. Por isso, ela não tinha que pagar as mensalidades. No entanto, tinha outros gastos, como o equipamento desportivo e a farda da escola. A farda era um pesadelo, tendo em conta como Jenny crescia rapidamente.
Chessie colocou-se diante do espelho e olhou-se com uma atitude crítica.
Parecia o género de rapariga que um escritor famoso convidava para jantar? A resposta era negativa e perguntou-se porque é que Miles não teria arranjado uma companheira mais apropriada.
Porque para além dos comentários cruéis de Jenny, não duvidava das atracções de Miles Hunter, apesar da cicatriz do seu rosto. E Chessie perguntou a si mesma por que é que não tinha percebido isso antes.
Pensou na mulher que o tinha deixado ao ver as suas cicatrizes. Estaria amargurado por causa disso? Continuaria apaixonado por aquela mulher que o abandonara na altura em que ele mais precisara dela?
Seria esse o motivo pelo qual não havia amor nos seus romances?
Era um escritor extraordinário, no entanto, ela achava a sua obra escura e, inclusive, estéril.
«Mas essa é só a minha opinião», disse para si mesma, ao mesmo tempo que saía do quarto. O público comprava os seus romances sem mostrar as mesmas reservas.
Miles estava à sua espera ao lado do carro. Vestia umas calças de corte perfeito, que moldavam as suas pernas, e uma camisola de gola alta de caxemira. No ombro levava um casaco desportivo.
– Boa tarde – cumprimentou ela, timidamente.
Ele levantou o olhar e anuiu bruscamente.
– Tão pontual como sempre – comentou Miles, abrindo-lhe a porta do carro.
«O que é que esperava?», pensou Chessie, enquanto apertava o cinto de segurança. Não ia fazê-lo esperar.
Quando ele se sentou ao volante, Chessie sentiu o aroma de uma água de colónia cara.
– Pensei que poderíamos ir ao The White Hart – declarou Miles, ao mesmo tempo que ligava o motor do carro. – Disseram-me que a comida é boa. Isto é se não te importas por ser o pub da povoação.
– Não, não me importo – Chessie não tinha vontade de ir a um lugar mais elegante e a sua roupa também não era a apropriada para um restaurante mais elegante. – A senhora Fewston é uma boa cozinheira. Antes dela e o seu marido ficarem com o pub, ela costumava fazer comida para festas. Acho que ainda o faz.
– Terei isso em conta no futuro. Acho que já está na hora de dar alguma festa – Miles olhou para ela de relance. – Não posso continuar a aceitar convites sem os retribuir.
– Não… suponho que não. Silvertrees é uma boa casa para dar festas.
– E como a minha irmã não pára de me dizer, também o é para uma família – Miles fez uma pausa. – Acho que isso deve ser uma indirecta para a convidar a ela e aos seus filhos endiabrados.
– Não gostas de crianças?
Miles encolheu os ombros.
– Nunca lidei muito com crianças. Mas a verdade é que os filhos de Steffie são adoráveis, apesar dela os chamar monstros.
«Se não fosse pela mina, Miles teria filhos», pensou Chessie. Tentou imaginá-lo como pai, mas não conseguiu.
The White Hart era uma bonita construção de madeira que ficava nos arredores da povoação e estava sempre muito concorrida. Jim Fewston sabia de vinhos tanto como a sua esposa de cozinha e o pub estava sempre cheio. Aquela noite não era excepção e o estacionamento estava quase cheio quando chegaram.
– Fico contente por ter reservado uma mesa – comentou Miles, enquanto estacionava o carro. – No entanto, não me parece que todos os que estão aqui tenham vindo pela comida – acrescentou, com ironia.
Chessie seguiu o seu olhar e viu movimento dentro de um carro estacionado sob umas árvores. Viu as figuras de duas pessoas abraçadas apaixonadamente e desviou o olhar.
– Não é o lugar apropriado – comentou ela.
– Não, se se tratar de uma relação ilícita – Miles encolheu os ombros.
No bar, Chessie bebeu um excelente xerez e Miles um gin tónico, enquanto examinavam o menu.
Muitas das pessoas presentes conheciam Chessie e cumprimentaram-na cordialmente, no entanto, alguns lançaram-lhe olhares interrogatórios ao vê-la na companhia de Miles.
Chessie escolheu sopa de agriões e um guisado de faisão; Miles optou pelo patê e pelo bife com molho de cerveja e ostras.
– O que se costuma perguntar nestes casos é… «Costumas vir aqui com frequência?» – comentou Miles, trocista, quando a empregada se foi embora. – Mas como sei que isso não é verdade, que tema sugeres para a conversa?
– Não sei. Há muito tempo que não vou jantar fora.
– Nesse caso, suponho que vai ser um serão um tanto silencioso – declarou ele, a sorrir.
– Estou habituada ao silêncio – replicou ela, devolvendo-lhe o sorriso. – Jenny passa a maior parte do tempo no quarto a estudar, por isso… estou habituada a estar sozinha.
– Muita gente considera a solidão um luxo – comentou Miles. – No entanto, não acho que seja um bom estilo de vida. Diz-me, o que é que a tua irmã quer fazer quando acabar o liceu?
– Gostaria de estudar Ciências Naturais, mas não me parece que saiba bem o que é que quer fazer. Bom, ainda é cedo e não precisa de tomar nenhuma decisão definitiva.
Chessie reclinou-se contra o confortável respaldo da cadeira estofada e acrescentou:
– A mim custou-me muito fazer o bacharelato, mas Jenny aprende sem fazer esforço.
– Fico contente por ouvir isso – declarou Miles, educadamente. – Vi um Saint Emilion muito bom na lista dos vinhos ou preferes vinho de Borgonha?
– Não, eu gosto de Bordéus – Chessie lembrou-se de umas férias que fizera com o seu pai no Sudoeste de França. Aquele tinha sido um tempo mágico para ela, apesar da preocupação constante do seu pai por Jenny, que tinha ficado em Inglaterra com uma tia.
– Voltámos ao mesmo – comentou Miles, em voz baixa.
Chessie fitou-o surpreendida.
– O que é?
– Fizeste a mesma expressão que uma criança faria se lhe dissessem que não vai ter férias de Natal.
– Desculpa, de agora em diante, vou esforçar-me por parecer animada – replicou ela, ironicamente.
– São assim tão terríveis as tuas lembranças?
– Como é que sabes que estava… a lembrar-me de qualquer coisa?
– Imaginei que assim fosse, dado que a mim acontece-me algo parecido – Miles acabou de beber o seu gin tónico. – Queres falar sobre isso?
Chessie abanou a cabeça.
– O que é que poderia dizer? Estás no topo do mundo e, de repente, num abrir e fechar de olhos, encontras-te num poço escuro do qual não sabes se conseguirás sair algum dia.
– Bom, não vais dizê-lo? – inquiriu Miles, com suavidade.
– Dizer o quê?
– Que o teu pai era completamente inocente e que, se não tivesse sido pela sua repentina morte, teria demonstrado a sua inocência.
Chessie abanou lentamente a cabeça.
– Se não tivesse morrido, acho que agora estaria na prisão. De certa maneira, a morte foi o melhor que lhe poderia ter acontecido. Ele não teria suportado…
Chessie mordeu os lábios e fez uma pausa. Depois acrescentou:
– Lamento muito, supõe-se que isto é uma celebração e não um funeral.
– Não to teria perguntado se não tivesse querido saber, Francesca – replicou, em voz baixa.
Porque é que quereria saber?
Chessie bebeu um gole de xerez. Fosse como fosse, teria gostado de falar sobre algo menos pessoal, como de cinema ou de literatura.
De que é que um homem e uma mulher falavam quando iam jantar fora e bebiam vinho? Ela não tinha a menor ideia e sentia-se nervosa.
Não saíra com nenhum homem desde que estivera com Alastair. Até àquela noite. Embora isso não contasse.
Sentiu-se aliviada quando a empregada se aproximou para lhe dizer que a sua mesa estava pronta. A sopa e o patê estavam tão bons que se limitaram a comer e a comentar a excelência da cozinha.
Enquanto esperavam pelo segundo prato, Chessie perguntou-lhe sobre o guião do filme. Não o fez por ser um tema impessoal, realmente estava interessada, no fim de contas, ela ia trabalhar no projecto.
Mas quando aquele tema se esgotou… sobre que outra coisa poderiam conversar? Sobre o tempo?
«És uma conversadora extraordinária, querida Chessie», disse para si mesma.
– É assim tão difícil conversares comigo? – inquiriu Miles, fitando-a com os seus olhos azuis.
Chessie bebeu um gole de vinho, enquanto sentia que se ruborizava.
– Não, claro que não.
– Talvez devesse ter-te pedido que trouxesses o caderno de notas para te ditar algumas cartas enquanto jantamos – comentou ele, ironicamente. – Assim, ter-te-ias sentido melhor.
– Duvido – Chessie pousou o copo na mesa. – O que acontece é que não percebo o que é que estou a fazer aqui.
– Estás a jantar uma comida deliciosa sem teres de lavar os pratos – replicou Miles.
– E é só isso? – Chessie sentiu que lhe faltava a respiração.
– Não, mas o resto pode esperar – o rosto dele era frio e enigmático. – Queres mais vinho?
– Não, é melhor não beber mais – Chessie tapou o copo com a mão. – Qualquer coisa me diz que será melhor manter a mente lúcida.
Ele sorriu trocista.
– Se estás a pensar que te quero seduzir, enganas-te.
– Isso nem sequer me passou pela cabeça.
– Como és inocente – murmurou Miles. – Tendo em conta o tempo que passamos juntos, nunca te perguntaste, porque é que não me insinuei? Ou achas que as minhas cicatrizes tornam-me imune aos desejos?
Ela mordeu os lábios.
– Não, não acho, mas mantemos uma relação profissional e…
– E?
Chessie engoliu em seco.
– Isso não seria apropriado. As aventuras entre patrão e secretária são um cliché e tu não gostas de clichés.
– Obrigado… suponho. No entanto, é precisamente sobre a nossa situação que te queria falar.
– Decidiste vender a casa? – o último bocado de faisão engasgou-a.
De repente, ficou aterrorizada com a ideia de se ver na rua e a ter de procurar um emprego.
– Não, não é isso – Miles pareceu surpreendido. – Como é que te ocorreu essa ideia? Não me ouviste dizer que estou a pensar em dar uma festa?
– Sim… desculpa – Chessie hesitou. – Suponho que a insegurança torna-me paranóica.
– Compreendo – com o sobrolho franzido, Miles pousou o garfo e a faca no prato. – É esse precisamente o motivo pelo qual quero que penses sobre uma possível mudança na nossa relação.
– Uma mudança? – inquiriu Chessie, sem compreender. O contrato de trabalho que Miles redigira estava meticulosamente definido. – Que género de mudança?
Ele bebeu mais vinho, o seu olhar azul adquirira uma expressão de meditação.
– Ocorreu-me que poderíamos casar.
Chessie sentiu que o mundo de repente tombava. O seu corpo ficou rígido enquanto o fitava e tentava compreender o significado das palavras dele.
– Desculpa, acho que não ouvi bem – conseguiu dizer Chessie.
– É muito simples, acabei de te fazer uma proposta de casamento, pedi-te que fosses a minha esposa – replicou Miles, num tom profissional, como se estivesse a falar de negócios. – Se quiseres, podes considerá-lo como um tipo diferente de contrato.
«É doido», pensou ela. Perdera por completo a cabeça.
– O casamento… não é um negócio.
– Eu diria que isso depende das pessoas que se casam. Se considerares as nossas circunstâncias pessoais, o casamento entre nós é muito razoável.
Miles fez uma pausa.
– Tu precisas de mais estabilidade e da segurança que não tens e eu preciso de uma anfitriã para além de uma governanta. Acho que poderia ser um acordo satisfatório para os dois.
– Assim de repente? – inquiriu ela, com a voz fraca. Ainda não conseguia acreditar no que estava a ouvir.
– Não, claro que não – declarou Miles, com uma ligeira impaciência. – Não precisas de responder imediatamente, mas gostaria que considerasses racionalmente a minha proposta antes de tomares uma decisão.
«Racionalmente», interrogou-se ela. «Racionalmente… tratando-se de uma coisa dessas?».
– Pareces muito surpreendida – continuou ele.
– Sim, é verdade – Chessie engoliu em seco. – O que acontece é que quase não nos conhecemos.
– Trabalhamos juntos todos os dias e vivemos na mesma casa.
– Sim, mas… sabes perfeitamente ao que me refiro.
– Sim – a expressão de Miles adquirira um tom de troça. – Continuas sem perceber porque é que ainda não me insinuei, não é?
– Não é só isso – Chessie empurrou o seu copo de vinho na direcção dele. – Por favor, serve-me mais um pouco, acho que estou a precisar.
Chessie observou Miles enquanto ele a servia. Estava completamente calmo e inclusive distante. Como podia ser?
– Até agora não tem havido nada pessoal entre os dois – declarou ela. – E, embora trabalhemos juntos todos os dias, da única coisa que falamos é do trabalho e da casa.
– A minha proposta traumatizou-te? Não era a minha intenção causar-te nenhum trauma – comentou Miles, com ironia.
– Não, mas isto é tão repentino.
– Se esperavas algo mais… convencional, peço-te que me desculpes. Mas mantivemos sempre uma relação laboral muito racional e o nosso casamento só seria uma prolongação dessa relação. O pragmatismo pareceu-me preferível aos bombons e às flores.
– Não te importas com o facto de não estarmos apaixonados? – inquiriu Chessie, com dificuldade.
– Esqueceste que já passei por isso. Claro que não posso falar por ti – declarou, com uma expressão ilegível. – Há alguém na tua vida?
Chessie abanou a cabeça.
– Não, já não – olhou para a mesa. – Então, queres dizer que seria uma espécie de negócio e não um casamento a sério?
– Sim, é isso – replicou Miles. – Pelo menos, no início.
Chessie sentiu que o seu coração dava um salto.
– E depois…?
Miles encolheu os ombros.
– Quem sabe – os olhos azuis fitaram os dela. – Pode ser que reconsideremos a nossa relação, mas qualquer mudança seria sempre de mútuo acordo.
– Eu… não sei o que dizer.
– Nesse caso, não digas nada. Ainda não. Pensa nisso, toma todo o tempo de que precisares. Prometo que não te pressionarei.
Chessie humedeceu os lábios.
– E se a resposta for negativa, ficarei sem emprego?
– Dou-te a impressão de ser vingativo?
Chessie ruborizou-se.
– Não, claro que não – respirou fundo. – Está bem, vou pensar no assunto.
– Bom – desta vez não havia troça no olhar de Miles. – E agora, queres que peça a sobremesa?
– Não, obrigada – Chessie não tinha estômago para mais nada. – Só café, por favor. E desculpa-me, volto já.
A casa de banho das senhoras, por sorte, estava vazia. Chessie deitou água nas mãos e na face para se descontrair.
Ao olhar-se no espelho, viu que tinha os olhos maiores do que habitualmente e o rosto vermelho. No entanto, não tinha o aspecto de ser a futura senhora Hunter.
De repente, começou a tremer.
– Não o posso fazer, não posso – murmurou Chessie, ao espelho. – Vou dizer-lhe já que o que me propôs é impossível.
Mas prometera-lhe considerar a proposta racional e detidamente, pelo menos, teria de fingir que o iria fazer.
No entanto, não se podia casar com ele. Nem sequer no caso de Alastair não voltar…
Chessie suspirou. Por fim, atrevera-se a enfrentar o assunto. Permitira-se albergar um sonho, uma esperança que se reavivara com as notícias de Jenny.
Era irónico que Miles tivesse escolhido aquele dia para lhe expressar os seus planos para o futuro.
Chessie resmungou para si própria, assim que comunicasse a Miles a sua decisão, seria impossível para ela continuar em casa. Apesar do que ele dissera, a sua relação tornar-se-ia difícil.
Na povoação vizinha havia uma agência de emprego. Teria que ir falar com eles. Depois, teria que ir a uma agência imobiliária para alugar um andar.
«Porque é que Miles fez isso?», perguntou, desesperada. A sua vida começava a desfazer-se.
E ele nem sequer a desejava.
Durante um segundo, com perplexidade, imaginou-se nos braços de Miles, respirando o seu aroma, sentindo a sua boca na dela. O corpo esbelto dele colado ao dela num abraço apaixonado…
Chessie, ofegante, voltou à realidade. Tinha os mamilos duros e o seu corpo queimava-a.
Não podia voltar para a mesa naquele estado. Ele daria pelo que tinha acontecido e então estaria perdida.
«Meu Deus! O que é que tenho? O que é que me estou a fazer a mim mesma?».
Mas não encontrou uma resposta que fizesse sentido.