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Capítulo 1

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– Vamos, Becks. Conta– me tudo. Como é ele na cama?

Alanna Beckett quase se engasgou com o seu sumo de laranja e limão e lançou um olhar de apreensão à sua volta pelo apinhado bar de vinhos.

– Susie, por amor de Deus!, baixa a voz. Não podes perguntar essas coisas.

– Pois acabo de o fazer – ripostou Susie, imperturbável. – Tenho uma sede de informação que nem sequer este maravilhoso vinho consegue saciar. Pensa bem. Vou seis meses para os Estados Unidos e deixo-te sozinha no apartamento tão eremita como sempre. Volto a casa com medo de que tenhas adotado um gato, começado a usar camafeus ou que tenhas começado a ir a aulas noturnas de croché e, em vez disso, encontro-te praticamente noiva. Aleluia!

– Não – protestou Alanna. – Isso não é verdade. Não é nada disso. Ele só me convidou para a festa dos 80 anos da sua avó, apenas isso.

– Uma festa familiar importante na sua casa de campo. Isso é sério, Becks. Portanto, conta-me os detalhes. Chama-se Gerald, não é?

– Gerard – corrigiu Alanna. – Gerard Harrington.

– Também conhecido como Gerry?

– Que eu saiba não.

– Ah! – Susie assimilou aquilo. – Descrição física completa, verrugas incluídas?

Alanna suspirou.

– Roça o metro e oitenta, atraente, loiro, olhos azuis… e sem verrugas.

– Que tu saibas. Como se conheceram?

– Salvou-me de ser atropelada por um autocarro.

– Santo Deus! – exclamou Susie. – Onde e como?

– Perto da Bazaar Vert de King’s Road. Ia distraída e saí do passeio para a estrada. Ele agarrou-me e puxou-me para o passeio.

– Deus o abençoe – Susie olhou-a fixamente. – Isso não é próprio de ti. Pode-se saber com o que ias a sonhar?

Alanna encolheu os ombros.

– Pareceu-me ver alguém que conhecia – hesitou, pensando com rapidez. – A Lindsay Merton.

– Lindsay? – repetiu Susie, confusa. – Mas vive com o seu marido na Austrália.

– E decerto por lá continuam – replicou Alanna, amaldiçoando-se. – Portanto, quase fui atropelada por causa de um deslize.

– E que fez o Gerard depois?

– Naturalmente, eu estava algo trémula. Portanto, levou-me à Bazaar Vert e pediu à encarregada que me preparasse um chá muito doce – Alanna estremeceu. – Quase teria preferido que me atropelassem.

– Não, não é verdade – corrigiu-a Susie. – Pensa no pobre condutor do autocarro. E como é que o teu cavaleiro andante tem tanta influência sobre as senhoras pretensiosas da Bazaar Vert?

– Um primo dele é dono da cadeia. O Gerard é o diretor-executivo.

– Ena! – exclamou Susie. – Ou seja, ganha muito bem e ainda por cima é ecologista. Querida, estou impressionada. Não se diz que quando alguém nos salva a vida, ficamos a pertencer-lhe para sempre?

– Isso são tolices – retorquiu Alanna. – E aqui ninguém pertence a ninguém. Estamos apenas a conhecer-nos. E a festa é apenas mais um passo nesse processo.

– Para ver se a avó dá a sua bênção? – Susie torceu o nariz. – Acho que não gostaria disso.

– Bom, até pode gostar de mim. Além disso, é um fim de semana no campo e eu estou a pensar relaxar e deixar-me levar. E não vou para a cama com o Gerard – acrescentou. – Para o caso de teres alguma dúvida quanto a isso. Em Whitestone Abbey há quartos separados.

Susie sorriu.

– E decerto rezam juntos à tarde – disse. – Mas talvez ele saiba onde encontrar um palheiro – ergueu o seu copo. – A ti, minha orgulhosa beleza. E que o fim de semana torne realidade todos os teus sonhos.

Alanna sorriu e bebeu outro golo do seu sumo amargo de laranja e limão. Afinal, isso podia mesmo acontecer.

E talvez ela pudesse por fim começar a esquecer o seu pesadelo secreto. Começar a viver a sua vida plenamente sem se martirizar com a recordação da vergonha que a transformara numa reclusa voluntária.

Toda a gente cometia erros e era ridículo que levasse tão a sério aquele seu lapso. Embora fosse algo que nada tinha a ver com ela, não precisava de continuar a censurar-se por isso nem permitir que tal envenenasse a sua existência meses a fio.

– Mas porquê? – perguntava-lhe Susie com frequência. – Está na hora de nos divertirmos, portanto, esquece os teus autores e os seus malditos manuscritos por uma noite e vamos sair as duas. Todos gostariam muito de te ver. Estão sempre a perguntar por ti.

E Alanna utilizava invariavelmente a desculpa do trabalho, datas limite, cada vez mais responsabilidades… E a possibilidade muito real de a empresa ser comprada, o que levaria, quase inevitavelmente, a despedimentos.

Explicava, de um modo muito razoável que, para garantir o seu emprego, tinha de dedicar-se plenamente a ele, o que para ela não era nenhum sacrifício porque adorava o que fazia.

E, ainda por cima, tinha criado para si esta persona de profissional do escritório, uma mulher calada, dedicada e amavelmente distante. Prendia a sua nuvem de cabelo cor de mogno escuro com um gancho de prata na base da nuca. Tinha deixado de realçar os seus olhos verdes e as suas longas pestanas com sombra e rímel, restringindo o seu uso de maquilhagem a um toque de batom, mas tão discreto que parecia quase invisível.

E só ela sabia a razão pela qual tinha adotado aquela camuflagem deliberada. Nem sequer tinha dito a Susie. Ela era a sua melhor amiga desde os tempos da escola e agora era também a sua colega de apartamento. Tinha-lhe proporcionado alegremente o refúgio que precisava para fugir do seu estúdio, que não passava de um quarto com cozinha dentro e uma casa de banho partilhada, e agora mostrava-se completamente deliciada com o aparente renascimento de Alanna.

Embora não pensasse abandonar aquela versão atual de si mesma. Tinha-se habituado a ela e dizia-se que era melhor prevenir que remediar.

E Gerard parecia gostar dela tal como ela era, embora talvez pudesse mudar um pouco de rumo sem o surpreender demasiado.

Dependendo, claro, de como corresse tudo na festa da sua avó.

O convite tinha-a surpreendido. Gerard era inegavelmente encantador e atento, mas a sua relação até ao momento podia qualificar-se de contida. Embora ela não tivesse nada a objetar quanto a isso, muito pelo contrário.

No primeiro dia tinha aceitado jantar com ele porque se tinha posto em perigo para a salvar e teria parecido uma falta de educação recusar.

E tinha descoberto que podia relaxar-se e desfrutar de uma noite agradável na sua companhia. Só ao terceiro encontro é que ele lhe deu um beijo de boa noite, até então limitara-se a roçar-lhe os lábios.

Não tinha sido precisamente um beijo Martini, como lhe chamava Susie. Para seu alívio, Alanna não se tinha excitado. E ao mesmo tempo, dava-lhe confiança pensar que não tinha nenhuma objeção séria a ele voltar a beijá-la. E quando o fez, gostou de aperceber-se de que começava a gostar.

– Andamos a sair junto – disse-se, um pouco divertida com a sua ideia de um cortejo antiquado, mas também agradecida. – E desta vez – acrescentou com fervor, – não meterei a pata na poça.

De qualquer modo, era consciente de que o próximo fim de semana em Whitestone Abbey podia ser um ponto de inflexão na relação e que ela talvez não estivesse preparada para isso.

Por outro lado, recusar o convite podia ser um erro ainda maior.

Com essa ideia, gastara uma parte das suas poupanças num vestido azul marinho, cingido e que lhe chegava até aos tornozelos em camadas alternadas de seda e rendas, recatado o suficiente, na sua opinião, para agradar à avó mais exigente, mas que realçava ao mesmo tempo as suas estreitas curvas de um modo que Gerard poderia apreciar.

E que usaria durante o coquetel do sábado para amigos e vizinhos e no jantar formal da família que decorreria a seguir.

– Espero que não te aborreças mais que a conta – tinha-lhe dito Gerard. – Noutros tempos, a minha avó seria capaz de dançar toda a noite, mas acho que começa a sentir o peso da idade. Mas não imagines uma velhota de rendas com cheiro a lavanda. Ainda monta a cavalo todos os dias antes de tomar o pequeno-almoço, seja verão ou inverno. Tu montas a cavalo?

– Já o fiz – tinha respondido ela. – Até de ter saído de casa para ir para a universidade e dos meus pais terem decidido mudar-se para uma casinha com jardim, uma que podiam tratar em vez de cuidarem de um prado imenso e de um estábulo.

– Traz botas – tinha-lhe dito ele com um sorriso. – Emprestamos-te um chapéu e vou mostrar-te toda a zona como manda a lei!

Alanna tinha-lhe retribuído o sorriso.

– Isso seria maravilhoso – comentara, cada vez mais convencida de que a quase octogenária Niamh Harrington devia ser uma mulher formidável.

Já para não falar do resto da família.

– A mãe do Gerard é viúva e o seu falecido pai era o filho mais velho da senhora Harrington e o único varão – disse-lhe Susie nessa noite enquanto jantavam no apartamento. Contou com os dedos. – Depois há a sua tia Caroline e o tio Richard, com o seu filho e a sua esposa, mais a sua tia Diana, o seu esposo Maurice e as suas duas filhas, uma casada e a outra solteira.

– Meu Deus! – murmurou Susie. – Espero, para o teu bem, que usem etiquetas com os nomes. Crianças?

Alanna espetou uma gamba com o garfo.

– Sim, mas com amas. Tenho a impressão de que a senhora Harrington não aprova os métodos modernos de educação das crianças. Também teve uma terceira filha chamada Marianne – acrescentou, – mas ela e o seu esposo morreram e não me parece que esperem que o filho assista à celebração.

– Melhor assim – retorquiu Susie. – Já são demasiados – fez uma pausa. – O filho da Marianne é o dono da Bazaar Vert?

Alanna encolheu os ombros.

– Suponho que sim. O Gerard não me falou muito dele.

– Parece-me que vai ser um fim de semana complicado – comentou Susie.

As complicações, de facto, começaram na sexta-feira de manhã, na reunião de aquisições das sextas-feiras.

Quando terminou, Alanna entrou no seu pequeno escritório, fechou a porta com o pé e praguejou.

– Oh, Hetty! – murmurou. – Onde estás quando preciso de ti? – perguntou, embora soubesse perfeitamente que estava em licença de maternidade.

De facto, era por isso que Alanna tinha sido promovida temporariamente a diretora da ficção romântica da editora Hawkseye na ausência da sua chefe.

Ao princípio tinha adorado, mas tinha acabado por dar-se conta de que estava numa zona de guerra, onde o inimigo era Louis Foster, que dirigia a lista de ficção para homens, inclinada principalmente para a escola de pensamento de «sangue e entranhas», mas que incluía também algumas celebridades literárias e outras coisas mais, como Alanna acabava de descobrir.

Tinha ido à reunião para vender uma autora nova, com um estilo fresco e uma perspetiva inovadora, que ela própria tinha descoberto.

Tinha falado com entusiasmo da sua descoberta, mas tinha chocado com a determinação de Louis, que opinara que não poderia recomendar um investimento de tão alto risco numa completa desconhecida.

– Sobretudo – tinha acrescentado, – porque o Jeffrey Winton me disse no outro dia, enquanto almoçávamos, que queria ampliar a sua linha editorial e o que sugeriu soa muito parecido ao que propõe a jovem da Alanna. E, claro, teríamos o nome de Maisie McIntyre, que se vende por si só.

Jeffrey Winton era um autor de livros de sucesso que usava um pseudónimo feminino e escrevia sagas rurais, a tal ponto adocicadas que Alanna até sentia dor de dentes só de lê-las.

Além disso, era um autor de Hetty, portanto, que raio fazia Louis a almoçar com ele e a debater projetos futuros?

Embora ela, desde então, preferisse não se aproximar dele, após o seu único encontro com o rotundo autor de Amor na fornalha e A pousada do prazer. E pior ainda, o que se tinha seguido depois.

Todo o que tinha tentado apagar da sua memória reaparecia agora de repente com todos os seus detalhes, deixando-a momentaneamente enjoada.

E Louis aproveitou-se disso para convencer os outros, enquanto a ela lhe restava a missão de dizer a uma autora em que acreditava que, afinal, não poderia oferecer-lhe um contrato.

E aquilo, além disso, serviria provavelmente para aproximar Louis um passo mais do seu objetivo de unir a ficção comercial de homens e mulheres sob a sua liderança.

E para cúmulo, umas horas depois teria o seu primeiro encontro com a família Harrington, para o que seguramente precisaria de toda a segurança em si mesma que conseguisse arranjar.

Olhou para a mala de fim de semana que estava a um canto e que continha calças de ganga e botas, juntamente com o vestido caro embrulhado em papel de seda e a moldura artesanal de prata que escolhera como presente de aniversário para sua anfitriã.

Considerou por um momento declarar-se vítima de um vírus misterioso, mas pôs isso de parte.

Depois de ter falhado à sua autora, não faria o mesmo a Gerard, principalmente porque percebia que ele também estava nervoso com o fim de semana.

Tinha de fazê-lo por ele e pela possibilidade de um futuro juntos, se é que a simpatia mútua acabaria por abrir caminho ao amor.

Um começo cauteloso para um final feliz. Como tinha de ser.

Era disso que ela precisava. Não uma queda apaixonada para a culpa e para o risco de um desastre. Isso, como todas as outras recordações más, tinha de ficar no esquecimento.

A viagem decorreu sem incidentes. Gerard conduziu com destreza o seu espampanante Mercedes enquanto falava da abadia e da sua turbulenta história.

– Diz-se que a família que a comprou na época Tudor subornou os oficiais do rei para que expulsassem os monges e que o abade os amaldiçoou – comentou. – Fosse verdade ou não, o certo é que depois houve anos difíceis, em grande parte devido aos problemas com o jogo e a bebida de uma série de filhos primogénitos, tanto que o meu tataravô, Augustus Harrington, a comprou baratíssima. E como era um homem respeitável e muito trabalhador, dedicou-se ao restauro de Whitestone.

– Ainda resta muito do edifício original? – perguntou Alanna.

– Muito pouco, tirando os claustros. Os proprietários da época Tudor derrubaram quase tudo.

– Vândalos! – Alanna sorriu-lhe. – Suponho que a manutenção não seja pera doce.

Gerard ficou em silêncio um momento.

– Não – disse. – Talvez a maldição do abade seja essa. Disse que a propriedade seria eternamente uma pedra ao pescoço dos donos.

– Eu não acredito em maldições – murmurou ela. – E até uma pedra vale a pena, quando há uma história assim.

– Eu penso da mesma maneira – disse ele. – Mas não é uma opinião universal. Em qualquer caso, terás de julgar por ti mesma – acelerou um pouco. – Já estamos quase a chegar.

Subiram mais uma colina e, ao chegarem lá em cima, Alanna viu a massa sólida de pedra esmaecida da abadia recostada pelo vale abaixo, com as suas altas chaminés a elevarem-se para o céu e as suas janelas com os seus pinázios a brilharem ao sol da tarde.

De ambos os lados da estrutura principal, sobressaíam duas alas estreitas que guardavam um grande pátio, onde se via já um bom número de veículos.

Gerard estacionou o Mercedes entre um Jaguar e um Audi, à direita dos degraus de pedra que levavam até à entrada principal. Enquanto Alanna esperava que tirasse a bagagem, deu por si a abrir a pesada porta de madeira e apareceu uma mulher de cabelo grisalho com um elegante vestido vermelho, que fez uma pala com a mão para conseguir vê-los a aproximarem-se.

– Chegaram – disse, cortante. Voltou-se para um homem alto que a tinha seguido para o exterior. – Richard, diz à mãe que o Gerard finalmente chegou.

– E boa tarde também para ti, tia Caroline – Gerard sorriu com cortesia. – Não te incomodes, tio Richard. Já lho digo eu.

– Mas esperávamos que chegassem há uma hora – a sua tia apertou os lábios enquanto entrava num impressionante átrio com painéis de madeira. – Não faço ideia de como isto irá afetar a hora do jantar.

– Imagino que o jantar será servido quando a avó quiser, como sempre – retorquiu Gerard, imperturbável. – Permite-me apresentar-vos a Alanna Beckett. Querida, estes são os meus tios, o senhor e a senhora Healey.

Alanna apertou-lhes a mão e cumprimentou-os com cortesia.

– Está toda a gente à espera no salão – disse a senhora Healey. – Deixe a mala aí, menina Beckett. A governanta vai levá-la para o seu quarto – olhou para Gerard. – Tivemos de fazer umas alterações de última hora. Portanto, a tua convidada fica agora na ala este, ao lado da Joanne – olhou para Alanna. – Receio que terão de partilhar a casa de banho.

– Estou habituada – retorquiu Alanna com um sorriso. – Divido um apartamento em Londres.

A senhora Healey assimilou a informação sem fazer comentários.

– Então vamos – disse a Gerard. – Sabes que a tua avó não gosta de esperar.

Gerard e Alanna começaram a andar atrás dela.

– Não te preocupes com a tia Caroline – sussurrou o primeiro. – Desde que a minha mãe foi viver para Suffolk, leva demasiado a sério o seu papel de anfitriã da casa.

Pouco depois entraram numa grande sala de teto baixo, com uma lareira de pedra numa ponta, grande o suficiente para assar um boi.

Os móveis, principalmente sofás longos e macios e cadeirões fundos, todos com estofo num cretone já desbotado, não eram propositadamente envelhecidos de um modo elegante. Tal como os tapetes gastos pelo chão de madeira escura e as cortinas verdes de damasco que emolduravam umas amplas portas de vidro, eram simplesmente velhos.

A sala estava cheia de gente que ficou em silêncio quando eles entraram. Alanna sentiu-se incomodada. Teria preferido que conversassem, nem que fosse só para apagar do ruído dos seus saltos no chão de madeira e dissimular o facto de que todos olhavam fixamente para ela quando Gerard a levava em direção à avó.

Niamh Harrington era uma mulher baixinha e gordinha, com olhos azuis brilhantes, bochechas coradas e muito cabelo branco, cor de neve, que usava apanhado em cima da cabeça e que dava a impressão que poderia cair a qualquer momento.

Estava sentada no meio do sofá mais longo, à frente das janelas abertas. Falava animadamente com a rapariga loira que tinha ao lado, mas interrompeu-se quando Gerard se aproximou.

– Querido rapaz – ergueu a cara para que ele a beijasse. – Portanto, esta é a tua encantadora rapariga.

Examinou Alanna com atenção e esta teve, por um momento, o impulso absurdo de retroceder. A senhora Harrington sorriu.

– Isto é maravilhoso. Bem-vinda a Whitestone, querida.

Alanna não esperava que a sua anfitriã tivesse aquela pronúncia irlandesa, embora imaginasse que o nome «Niamh» deveria ter-lhe dado uma pista.

– Obrigada por ter-me convidado, senhora Harrington – disse. – Tem uma casa linda.

A mulher fez um gesto de desagrado com uma mão cheia de anéis.

– Já conheceu melhores dias – voltou-se para a rapariga que tinha ao lado. – Mexe-te um pouco, Joanne, querida, e deixa a Alanna sentar-se ao meu lado e falar-me de si mesma.

Gerard olhava em redor.

– Não vejo a minha mãe – disse.

– A pobre Meg está lá em cima a descansar. Suponho que a viagem desde Suffolk a tenha deixado esgotada – a senhora Harrington suspirou. – Deixa-a por agora. Tenho a certeza de que já estará boa à hora do jantar.

Alanna viu que Gerard apertava os lábios, mas não disse nada.

– Bom – comentou a senhora Harrington. – O meu neto disse-me que és editora.

– Edito ficção comercial para mulheres – comentou Alanna.

– Esse é um trabalho que invejo. Não há nada que eu goste mais do que um livro. Uma boa história sumarenta e não demasiado sentimental. Talvez possas recomendar-me alguns livros que gostes.

«Pode recomendar-me um livro para uma idosa que gosta de ler?»

Era quase o mesmo pedido que tinha ouvido numa livraria de Londres um ano atrás, mas dessa vez fora com uma voz profunda de homem. E o começo do pesadelo que tanto precisava esquecer. Tentou reprimir um calafrio instintivo.

– Tens frio, e não me admira, agora que se levantou a brisa da tarde – Niamh Harrington falou mais alto: – Queres entrar já, Zandor? E fecha essas portas atrás de ti. Há uma corrente de ar e não podemos permitir que a convidada do Gerard morra de frio só porque tu queres andar pelo terraço.

Alanna teve a sensação de que estava mesmo gelada. Olhou para as suas mãos, que apertava tanto no colo que tinha os nós brancos.

– Zandor – repetiu com incredulidade. Zandor?

Não, não era possível. Estava tão nervosa que tinha ouvido mal. Devia ser isso.

– Peço-te desculpa, avó. A ti e à bela amiga do meu primo. Temos de esforçar-nos para que não lhe aconteça nada de mal.

Alanna obrigou-se a levantar os olhos e olhar para a figura alta e escura, em contraluz, que estava enquadrada pelas portas de vidro.

Era o homem de cujo quarto tinha fugido há tantos meses atrás e que lhe tinha deixado recordações que a atormentavam desde então.

E pelas piores razões possíveis.

Confissões de amor

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