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Capítulo 2

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Ele fechou atrás de si as portas do terraço com muito cuidado e avançou, com as suas longas pernas numas calças pretas e a sua camisa a condizer, aberta até ao meio, oferecendo a Alanna uma visão não desejada do seu peito cor de bronze e a recordação de que, quando tinha fugido da sua cama no encontro anterior, ele não vestia roupa alguma.

– Talvez devêssemos apresentar-nos como deve ser – disse ele com calma. – Chamo-me Zandor Varga. E você?

Ela conseguiu falar, embora com uma voz rouca muito diferente da sua habitual.

– Alanna – engoliu em seco. – Alanna Beckett.

Ele assentiu, observando-a com os seus olhos de um cinzento pálido.

– É um prazer conhecê-la, menina Beckett. O meu primo Gerard teve sempre um gosto extraordinário.

Deu meia volta e Alanna sentiu-se aliviada, mas sabia que o alívio seria apenas passageiro. Aquilo não tinha acabado. O dia que tinha começado mal acabava de piorar mil vezes.

Compreendeu então que naquele dia em Chelsea não tinha imaginado coisas. Que como dono da cadeia Bazaar Vert, ele tinha ido à sucursal de King’s Road, onde ela o tinha visto por breves instantes. E Gerard provavelmente tinha acabado de acompanhá-lo lá fora onde tinha ido em seu resgate.

A senhora Harrington, certamente, não tinha detetado nada de estranho, pois a conversa tinha voltado ao tema dos livros.

– Middlemarch – disse. – Leu esse? Um livro maravilhoso, mas que tonta a jovem Dorothea para casar com esse homem tão empertigado. E tudo para depois saltar da frigideira para o fogo com aquele outro tipo – fez uma careta de desprezo. – Um inútil. Porque é que raparigas decentes se sentem atraídas por homens assim?

Alanna conseguiu sorrir.

– Não faço ideia. Mas continua a ser uma grande novela.

«E foi o que eu disse ao seu neto, que a comprou para si há mais ou menos um ano».

– Não é altura de nos prepararmos para o jantar, mamã? – perguntou então a senhora Healey. – Sei que não vamos pôr um vestido de gala esta noite, mas estou certa de que a menina Beckett, por exemplo, gostaria de refrescar-se. A Joanney pode conduzi-la ao seu quarto.

A senhora Harrington deu uma palmadita na mão de Alanna.

– Tenho de deixar-te ir, querida rapariga – disse, – mas teremos muito tempo para conversar.

Joanne, a loira que antes estava sentada ao lado da sua avó, não só era bonita, como parecia claramente predisposta a ser amigável.

– É melhor ela falar contigo do que comigo – confessou quando subiam as escadas. – A avó tem o costume de fazer perguntas cujas respostas já conhece. Mas isso não acontecerá contigo.

Alanna confiou que assim fosse.

– E tu sabes de literatura – prosseguiu Joanne. – Eu, a única coisa que leio é as revistas de coscuvilhices no cabeleireiro e a Kate é como eu, embora ela possa usar o Mark e o bebé como desculpa para não ler porque não tem tempo.

Quando chegaram à parte de cima da impressionante escada de pedra, virou à esquerda.

– Estamos aqui, na zona das solteironas, suponho, embora tu não o sejas, porque és a namorada do Gerard.

– É um pouco cedo para chamar-me isso – disse Alanna com cautela. – Só andamos a sair há umas semanas.

– Mas trouxe-te aqui. Expôs-te a todos os Harrington – Joanne soltou um risinho certeiro. – Decerto que a avó já esteve a analisar se as tuas ancas são boas para ter filhos. O pai dela tinha uma fazenda de garanhões em Tipperary e ela afirma ser descendente de Brian Boru. Portanto, quererá saber tudo da tua família. Não pode haver ramos suspeitos na árvore familiar.

Alanna sobressaltou-se.

– Estás a brincar.

– Nem um pouco – Joanne fez uma careta. – Leva isso muito a sério – abriu uma porta. – Tu dormes aqui. Espero que fiques confortável – acrescentou, duvidando. – A casa de banho fica entre o teu quarto e o meu. É pequeno porque antes era um quarto de toucador, mas tem sempre água quente e ambas podemos fechar a porta dos quartos e não ouviremos ruídos quando uma ou a outra estiver lá dentro.

Olhou para o seu relógio.

– Venho buscar-te dentro de uns quarenta minutos. Parece-te bem?

Alanna assentiu com a cabeça.

Uma vez a sós, sentou-se na ponta de um colchão bastante duro e olhou em redor. Era um quarto antiquado, com uma janela estreita, e parecia mais escuro ainda por causa dos móveis pesados, de princípios do século anterior, e pelo papel pintado, cheio de grandes e chamativas rosas.

Tinham deixado a mala aos pés da cama. Tirou o vestido de noite para o dia seguinte e arrumou-o no cavernoso armário.

Decidiu que Joanne podia ser indiscreta além de simpática e que provavelmente deveria estar cautelosa com ela. Mas talvez fosse uma fonte de informação valiosa e talvez pudesse fazer-lhe algumas perguntas, como quem não quer a coisa.

Porque tinha a impressão de que o outro neto de Niamh Harrington estava algo fora do círculo familiar.

O seu primeiro instinto, uma vez mais, era fugir dali. Inventar uma urgência no trabalho e voltar para Londres. Mas isso faria Zandor Varga pensar que ela tinha medo dele e Alanna não queria dar-lhe esse prazer.

O seu dilema imediato era o que vestir nessa noite. Claro, tinha levado um vestido, um de linho, preto e até ao joelho. Não era o que levava quando conheceu Zandor, mas parecia-se demasiado para seu gosto. Por outro lado, sentia-se já pegajosa com a roupa com que tinha viajado e a saia estava muito enrugada.

Tomou um banho rápido na banheira antiquada, vestiu-se com rapidez e escovou o cabelo até este luzir. Pôs um colar de argolas de prata e acrescentou uma pulseira a condizer.

Disfarçou a palidez com um pouco de blush e disfarçou as linhas tensas da boca com um batom rosa.

Agarrou o frasquinho de perfume, mas hesitou. Usava sempre uma fragância de azáleas, da linha de Lizbeth Lane, uma jovem designer cuja loja tinha visitado com Susie ao chegar pela primeira vez a Londres. Pensou que Zandor a reconheceria se se aproximasse o suficiente e voltou a arrumá-la.

Tentava acalmar-se com respirações de ioga quando Joanne bateu à a sua porta.

– Pronta para o covil dos leões? – perguntou, animada. – Estás muito bonita. O teu cabelo tem uma cor incrível, é parecido com a mesa de mogno antiga da sala de jantar da minha outra avó, a avó Dennison.

Suspirou.

– Eras para ter ficado com outro quarto, mas Zandor chegou inesperadamente e mudaram-te. Ninguém sabia que virias. Suponho que é outra vez uma questão de dinheiro, o que significa a luta de sempre. Acho que é injusto fazer-lhe isso no fim de semana do seu aniversário. Por outro lado, suponho que devemos estar agradecidos por ele não ter trazido a Lili.

Viu o olhar inquisidor de Alanna e corou.

– Oh! Sou uma boca-aberta. Ouve, esquece que a mencionei, por favor.

– Esquecido – assegurou-lhe Alanna, que acabava de comprovar que tinha acertado em cheio quanto ao talento de Joanne para a indiscrição.

Mas era interessante que o senhor Varga precisasse de dinheiro, o que sugeria que talvez a Bazaar Vert se ressentisse também com a crise económica, como outros negócios importantes.

Gerard não tinha mencionado nada disso, mas ela também não lhe tinha contado os seus medos sobre a compra de Hawkseye. Não estavam nesses termos.

E agora já nunca o estariam, o que podia ser dececionante, mas não era o fim do mundo. Teria sido muito pior se ela e Gerard tivessem avançado mais na relação antes de descobrir a identidade do seu primo.

Em qualquer caso, tudo aquilo terminaria dentro de quarenta e oito horas e ficaria livre para seguir com a sua vida.

E não tinha necessidade de perguntar-se quem era Lili. Seria decerto a mais recente mulher a partilhar a cama de Zandor. Pois podia ficar com ele.

– Cá estás tu, querida – Gerard foi ao seu encontro assim que entraram na sala, puxou-a para si e, para surpresa dela, deu-lhe um beijo demorado na boca.

Quando levantou a cabeça, Alanna afastou-se, consciente de que tinha corado, não de prazer, mas de vergonha, e também de raiva por causa daquela segunda demonstração de um comportamento muito pouco característico nele.

Dispunha-se a perguntar-lhe o que raio estava a fazer quando viu que Zandor os olhava com os seus olhos prateados brilhantes e uma cara que parecia talhada em pedra escura.

Alanna atirou o cabelo para trás e forçou os lábios num sorriso sedutor. Zandor virou-se bruscamente e afastou-se.

Gerard pegou-lhe na mão.

– Anda cumprimentar a minha mãe.

– Está melhor? – perguntou Alanna.

O seu tom era forçado. Enquanto cruzavam a sala, era consciente dos olhares e encolhimentos de ombros que os presentes trocavam, como se a família de Gerard estivesse tão surpreendida com aquele beijo como ela.

– Ela não tinha problema nenhum – comentou Gerard com um sorriso triste. – Ela e a avó tiveram sempre uma relação tensa. Ela costuma alegar sofrer enxaquecas quando está aqui.

– Oh! – murmurou Alanna, concluindo que a Abadia Whitestone parecia albergar muitas tensões e a diferentes níveis.

Meg Harrington estava instalada num cadeirão, esbelta e elegante com calças brancas de seda e uma camisa larga em tons de azul, ferrugem e ouro. O seu cabelo loiro ostentava um corte moderno e caro e a sua maquilhagem era impecável.

Quando Gerard as apresentou, sorriu com amabilidade a Alanna e depois agarrou um copo de pé alto da mesa que estava ao lado do seu cadeirão e estendeu-o ao seu filho.

– Enche-mo, por favor – disse. – Não sabia que o meu filho trazia uma amiga – comentou quando ele se afastou. – Já se conhecem há muito tempo, menina Beckett?

– Há apenas umas semanas.

A mulher arqueou as sobrancelhas.

– E aceitou acompanhá-lo aqui? É incrivelmente corajosa.

Alanna encolheu os ombros.

– Sou filha única. Por isso, uma reunião familiar como esta diz-me muito – fez uma pausa, esperando que a mentira não soasse tão ridícula quanto lhe parecia a ela. – A avó do Gerard foi muito simpática.

– Não duvido – retorquiu Meg Harrington, secamente.

– E a casa é incrível – acrescentou Alanna. – Tem uma história muito interessante.

– Uma ruína – respondeu a mãe de Gerard. – Na última fase da decadência. Estava a pensar sair, mas eis que chega a minha bebida.

Mas não era Gerard quem a trazia.

– Estás a afogar as tristezas, tia Meg? – perguntou Zandor, estendendo-lhe o copo.

– A anestesiá-las – respondeu a senhora. – E perguntando-me que mais surpresas nos esperam – fez uma pausa. – Presumo que tenhas vindo sozinho?

Ele apertou os lábios.

– Claro. E mais por negócios do que por prazer.

– Nada de novo, portanto. Desejo-te sorte – a mulher ergueu o seu copo. – Saúde. Porque não trazes algo de beber à amiga de Gerard? – perguntou. A sua voz soava divertida. – Parece que a pobre rapariga precisa de uma.

– Não – apressou-se Alanna a responder. – Obrigado. Estou bem. A sério.

Voltou-se e afastou-se, só para descobrir que Zandor caminhava ao seu lado.

– Andas novamente a fugir, Alanna? – perguntou calmamente.

Ela olhou em frente, consciente de que estava com a pulsação acelerada e tinha corado.

– Estou à procura do Gerard.

– E certamente esperas outro encontro amoroso – ele parecia divertido. – No entanto, convocaram-no para a biblioteca para uma conversa privada com a avó Niamh e não quererão que os interrompam – fez uma pausa. – Porque não nos servimos um copo e o tomamos no terraço enquanto conversamos um pouco? Acho que deveríamos ter uma conversa. Não achas?

Alanna respirou fundo.

– Pelo contrário, não temos nada para conversar – disse com frieza. – E já não bebo álcool. Certamente não preciso explicar-te porquê.

– Se tem algo a ver com o nosso encontro anterior, tens sim. A não ser que queiras insinuar que acabaste na cama comigo porque estavas bêbada.

– Adivinhaste – ela apertou os punhos atrás das costas. – E esse foi o meu primeiro erro. Felizmente, não foi fatal.

– Não acredito – retorquiu ele. – Após mais alguns copos de champanhe, eu ter-me-ia considerado agradavelmente relaxado.

– Certamente que sim – replicou ela. – E eu não tenho mais nada a dizer. Portanto, deixa-me em paz, por favor.

– Como tu me deixaste a mim? Mas eu deixei-te em paz quase um ano. E queres saber uma coisa? Descobri que isso já não me interessa. Muito menos agora que voltei a ver-te, e numas circunstâncias tão interessantes.

Zandor sorriu, mas o sorriso não lhe chegou aos olhos.

– E antes que te lembres de outra réplica desagradável, lembra-te que esta sala está cheia de gente que acha que nos conhecemos hoje e talvez se pergunte porque nos estamos a dar tão mal tão depressa.

– Por outro lado – disse ela, – pelo que ouvi, parece que tu tens o hábito de chatear as pessoas.

– Pois continua a ouvir mais coisas. Pode ser que algumas te surpreendam. Mas compreende que mais dia menos dia teremos essa conversa – disse ele.

Afastou-se e ela voltou-se para a porta, impulsionada pela necessidade de estar sozinha para pensar.

Mas Joanne encontrou-a.

– O Zandor fez-se a ti? – perguntou, nervosa. – Meu Deus! É o cúmulo. Deve ter mulheres a caírem-lhe aos pés por todo mundo. Portanto, não precisa de andar por aí a chatear – acrescentou com paixão. – Sinceramente, Alanna, não acredites em nada do que ele diga.

– Não te preocupes, não o farei.

– Além disso, – acrescentou Joanne, mais alegremente, – és a rapariga de Gerard, não és?

«Mentira», pensou Alanna. «A verdade é que neste momento não sei quem sou nem o que faço aqui».

Ergueu o queixo.

– Claro que sim – retorquiu.

– E os meus pais morrem de vontade de conhecer-te – Joanne levou-a até ao outro lado da sala. – Mas não te preocupes. A tia Caroline e a minha mãe não são nada parecidas. Ninguém diria que são irmãs.

A senhora Dennison era uma mulher alta e forte, cujo cumprimento foi tão caloroso quanto o seu sorriso.

– Lançaram-te às feras – disse, bem-humorada. Fez-lhe um sinal para que se sentasse ao seu lado. – Receio que não nos encontres no nosso melhor momento, mas não culpes o Gerard. Ele não podia saber o que ia acontecer – voltou-se para o seu esposo. – E agora parece que a minha mãe convidou o Tom Bradham para amanhã à noite. Mais problemas.

Maurice Dennison encolheu os ombros.

– Ela ressuscita com isso, querida. Relaxa-te e deixa que seja a Caroline a preocupar-se com o pormenor de onde sentará as pessoas – olhou para o seu relógio. – É quase hora de jantar. Vou buscar Kate e Mark à zona infantil e trazê-los cá para baixo.

– A minha mãe – disse Diana Dennison quando o seu marido se afastou – deve ser a única bisavó do mundo que continua a pensar que às crianças o melhor é vê-las pouco e nunca as ouvir. Portanto, elas só descem uma vez por dia, à hora do chá. E os seus pais, por seu lado, escolhem passar grande parte do tempo lá em cima com eles.

Suspirou.

– Os pais do Mark ficariam encantados por poderem ficar com eles, e eles iriam divertir-se muito na quinta, mas a minha mãe insiste sempre em que os tragam quando convoca a família – abanou a cabeça. – Não consigo perceber porquê. Nunca gostou de crianças. Nem sequer das suas, se a memória não me falha – acrescentou, secamente.

Sorriu de novo para Alanna.

– Escandalizei-te, não foi? Mas o Gerard não se importará que saibas como é a nossa vida aqui.

– Acho que deveria deixar claro que conheço o Gerard há muito pouco tempo – retorquiu Alanna.

A senhora Dennison encolheu os ombros.

– Certamente, isso não o incomoda, ou não te teria convidado. E fico contente. Vou dizer ao meu sobrinho que será um tonto se te deixar escapar.

– Senhora Dennison, por favor… – murmurou Alanna com ansiedade.

A mulher suspirou.

– Desculpa-me, mas gosto do Gerard e quero voltar a vê-lo feliz. No entanto, se não queres, não direi nem uma palavra – sorriu com malícia. – Deixemos a natureza seguir o seu curso. Aí vem a minha irmã. Presumo que esteja na hora de passarmos à sala de jantar.

O jantar foi longo e lento, mas esteve muito longe do pesadelo que Alanna temia. Por um lado, porque a comida era excelente e, por outro, porque deu por si sentada num extremo da mesa, longe de Gerard e, por sorte, mais longe ainda de Zandor.

Os seus vizinhos mais próximos eram Desmond Healey, uma cópia calma e humorística do seu pai, e a sua bela esposa, ambos entusiastas do teatro, e divertiu-se a conversar com eles.

Quando acabou o jantar, era já tarde o suficiente para permitir-lhe desculpar-se e retirar-se para o seu quarto, após se assegurar de que Zandor não estava à vista.

Tinha reparado que Niamh Harrington também faltava e Gerard tinha desaparecido, provavelmente para continuar a sua reunião anterior. Portanto, podia fugir para o seu quarto sem mais demonstrações de afeto por parte dele e fechar a sua porta à chave.

Quando se preparava para se deitar, pensou no comentário da senhora Dennison sobre como desejava que Gerard «voltasse a ser feliz». Nunca tinha reparado que ele fosse infeliz.

Abriu as cortinas para deixar entrar o luar e tentou acomodar-se num colchão que era duro e tinha altos e baixos.

Estava quase a dormir quando ouviu baterem calmamente à porta. Ergueu-se sobre um cotovelo e viu a maçaneta a girar lentamente.

Permaneceu em silêncio e imóvel até voltar à sua posição inicial, quando ouviu uns passos a afastaram-se pelo corredor.

Tinha-se ido embora. Alanna nem precisava de perguntar-se a identidade do visitante.

Confissões de amor

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