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Capítulo 4

Feliz Aniversário

Jorge entrou no bar de um famoso restaurante que ficava exatamente num dos quatro cantos que formavam a Avenida Colón e a Avenida Juárez. Aquele lugar era, por assim dizer, um dos seus centros de operações, "daqueles com toalhas de mesa compridas".

A sede habitual do fim de semana invadira-o, ele procurou uma mesa e ocupou-a, depois, cumprimentou o empregado, atualizou o seu crédito e preparou-se para iniciar o seu habitual ritual de brutalização, o de quase todas as sextas-feiras.

A poucos metros da sua mesa, um grupo de amigas reunira-se para comemorar um aniversário; o de Mariana Salgado: uma mulher alta, de pele clara e cabelos escuros, que hoje faz 29 anos. Mariana tinha uma voz grossa e uma presença que imediatamente captou a atenção de Jorge, que não teve oportunidade de esconder a sua surpresa ou interesse incipiente. No entanto, aparentemente, não estava na hora de cortejar, as amigas haviam colocado imediatamente uma cerca territorial em torno de Mariana e Jorge respeitou esse limite. Ele cumprimentou as damas com um gesto galante e mórbido, e deu instruções ao empregado de mesa para servir uma rodada de bebidas no seu nome, mas sem vontade de perturbar.

- Miguel!

+ Em que posso ajudá-lo, Dr.?

- Quando tiveres oportunidade convida aquelas senhoras para uma rodada do que quer que estejam a beber, mas, assim tal como és, muito educado!

+ Claro, Dr.!

- Espera algumas rodadas e depois...

+ … Impressiono-as! Como queira, Dr.!

- Exato, mero Mike, sem piedade!

Hahahahaha! – Os dois riem.

As senhoras talvez estivessem a ser muito barulhentas. Deram dois presentes separados a Mariana e ela agradeceu em detalhes, olhando diretamente nos olhos uma da outra; em ordem e com calma; não fez movimentos bruscos e surpreendeu-se com grande naturalidade, mas sem nunca perder a postura, era uma mestra na arte sombria da comunicação não verbal e também muito boa em cultivar amizades.

- Que meninas bárbaras: Andrea, Luisa, não deviam ter-se incomodado! Esta bolsa deve ter-vos custado uma fortuna!

- Nem por isso, Marianinha! Além disso, sabemos que gostas muito delas!

+ Sim, - Luisa acrescentou - o mais difícil foi chegarmos a um acordo! Tão difícil, hein! É melhor a usares tooodos os dias, porque quase perdes duas amigas!

Hahahahaha! Desataram todas a rir às gargalhadas.

Andrea, uma das amigas de Mariana, não parava de se virar discretamente para olhar para a mesa do lado. Entre vislumbres e suspeitas, reconheceu um jovem, que no início mostrava um evidente interesse na sua mesa, talvez pela argumentação, ou quem sabe tenha reparado em alguma delas, mas das últimas duas vezes em que se virou para olhar para ele, reparou que ele tinha um olhar vago e um tanto perdido, dando a impressão de que estava distraído a pensar noutra coisa.

Já tinha passado o tempo equivalente a duas bebidas, uma cerveja no caso de Jorge, que observava que todas ou quase todas as amigas de Mariana eram casadas, menos ela. Esperou pacientemente que o empregado chegasse à mesa delas e desse a cada uma as suas bebidas. As mulheres ficaram surpresas e questionam o garçon, que indicou: "são cortesia do cavalheiro daquela mesa, que vos deseja uma noite agradável e um feliz aniversário!" Mariana corou, Miguel, o garçon, dominava perfeitamente a sua arte e a fazia muito bem como emissário.

O gelo estava quebrado, as damas brindavam à distância com as bebidas nas mãos e Jorge levantou o copo, desejou um feliz aniversário e estabeleceu contacto visual com Mariana, que no fim do seu convívio certamente iria ter com ele à sua mesa.

A celebração terminou, seguida de uma reunião familiar na casa de Mariana. Na voz de um "vamos juntas", seguiu-se uma solitária de "já vos apanho, não vou demorar". As damas sorriram maliciosamente, mas concordaram com o pedido sem hesitar, enquanto lançavam olhares desaprovadores e desconfiados a Jorge, que segurava um copo que estava sobre a mesa. Estava realmente absorvido nos seus pensamentos; naquele momento, Jorge não estava ali.

Mariana aproximou-se da mesa de Jorge, usando um vestido de cor sólida, muito conservador e um discreto conjunto de pérolas à volta do pescoço que combinavam com o seu conjunto de brincos. Ninguém personificava melhor a aparência de Diana Spencer do que ela, mas com cabelos escuros.

Ela cumprimentou com a sua voz rouca, chamando a atenção de Jorge:

- Posso sentar-me? Ela perguntou enquanto tirava a sua bolsa Halston tipo clutch de debaixo do braço direito, para pousá-la elegantemente sobre a mesa, os brilhos dos detalhes de metal entre a pele ilustravam de forma coquete a cena.

- Claro! - Jorge respondeu, encarando-a como se tentasse reconhecer uma estranha.

Um pouco envergonhada, Mariana perguntou: lembra-se de mim? Sou a aniversariante, estava sentada ali ainda agora. E apontou com um sorriso para a mesa na direção em que esta estava localizada.

+ Ah! Claro, desculpe-me, ele levantou-se para recebê-la: Jorge Ledezma às suas ordens, estendeu a mão para cumprimentá-la, apanhou-me um pouco distraído, dando voltas a um assunto...

- Mariana Salgado - muito prazer - ela correspondeu ao gesto do protocolo, se estiver ocupado, deixamos para outra ocasião, voltou-se.

- Não... não, peço desculpa. Não tem grande importância e julgo que já lhe dediquei tempo suficiente e, na verdade, não cheguei a nenhuma conclusão.

Ambos ocuparam as suas respetivas cadeiras, as poltronas características daquele bar.

+ Está a usar um anel muito bonito. É um presente do seu pai? Jorge atirou um dardo venenoso sem pretender.

A sua intenção nunca foi a de incomodar ou desequilibrar a dama. Nem sequer pensou nisso, mas se tivesse pensado, seria muito semelhante ao som do golpe que um taco de madeira faz quando um “hit” maciço é conectado diretamente ao defesa central.

Mariana corou de repente e foi remetida à sua adolescência: ao dia em que recebeu o anel de presente. Agora era ela quem estava ausente...

- Sim, o meu pai deu-mo quando acabei o secundário, era dele e ajustou-o para que ficasse comigo.

Mariana retirou o anel e colocou-o nas mãos de Jorge, que o observou com cuidado e em detalhes autênticos. Era uma peça de ouro de 14 quilates, com gravuras nos ombros, num deles, o escudo da loja maçónica do rito escocês de El Paso Texas, no outro um "X" formado por dois pergaminhos enrolados numa folha de oliveira, distintivo do grupo ao qual o ex-proprietário pertencia como tutor da biblioteca e secretário de acordos; na armação, a bússola clássica e o esquadrão, emblema da Maçonaria e, abaixo dela, dois rubis e as iniciais G11.

Mariana nunca tirou a peça do dedo para a mostrar a alguém. De repente apercebeu-se, mas não se sentiu desconfortável, pelo contrário, a sua reação foi tão natural e confortável que até sentiu alguma familiaridade.

- É maçónico? - Perguntou Mariana. - Como soube?

+ Jorge mentiu: não, mas sempre trabalhei com muitos deles! - Mariana sabia que a primeira parte da resposta era uma mentira:

- Ai sim? E o que faz?

+ Sou funcionário do governo, "legionário" de profissão.

- Como?

+ Advogado, mas não um litigante!

- Ah não, então é de quais?

+ Daqueles que apenas prestam aconselhamento… E o que se segue como parte da celebração?

Mariana voltou a ficar desconfortável, não estava acostumada a tantas perguntas e, em apenas um instante, Jorge já sabia mais sobre ela do que muitas pessoas que a conheciam há anos.

- Bem, vamos encontrar-nos na minha casa, será algo familiar... ela sentiu que a sua resposta necessitava de cortesia e recuou, depois pensou em voz alta. "A verdade é que não sei se seria uma boa ideia convidá-lo, não quero ser arrogante, mas as minhas amigas e a minha família... ah, que azar!" - Ela sentiu-se entre a espada e a parede.

+ Não se preocupe, não se sinta desconfortável, eu entendo. Haverá outra oportunidade, costumo vir cá com frequência. O grande Mike pode testemunhar isso, certo Mike? Agora era o empregado que corava. Apesar de estar a uma distância prudente, nunca pensou que Jorge o incluiria na conversa. Muito contente, acenou à menção da sua pessoa com um gesto silencioso de aprovação. Jorge ergueu levemente o copo para o cumprimentar e depois tomar um gole final da sua segunda cerveja.

- Olhe Jorge, já aqui estamos e, se deixarmos à sorte, será difícil coincidir. Deixe-me dar-lhe os meus dados, dê-me só o tempo de chegar a casa primeiro; a minha mãe já deve estar louca; espero por si, não me deixe ficar mal!

+ “Nunca faria isso!” Ele pegou no cartão de visita e colocou-o no bolso interno do casaco.

Jorge não costumava aceitar aquele tipo de convites, presumia que já representavam um compromisso e era o que menos queria. Bebeu mais umas duas cervejas e estava decidido a ficar lá, mas havia algo de extraordinário naquela ocasião e, de repente, quis investigar aquele impulso. Não eram apenas as pernas longas de Mariana, era algo que ela precisava enfrentar - um escrutínio académico estrito -, dizia para si próprio a sorrir, como se estivesse a justificar a decisão de atender ao convite de Mariana.

Minotauro

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