Читать книгу Minotauro - Sergio Ochoa Meraz - Страница 8
ОглавлениеCapítulo 6
Fantasmas
O trabalho de Velarde era antes de tudo rotineiro, monótono. Há muitos anos que deixara de ser entediante; poderia ter sido, quando se preocupava em perder tempo com outras coisas, mas não agora.
Há algum tempo que decidiu deixar as ruas para se refugiar na área dos arquivos. Os seus joelhos já não funcionavam como deviam; o subsolo do prédio que abrigava os escritórios da Polícia Judiciária Federal haviam-se tornado o seu refúgio, o seu santuário. As centenas de caixas empilhadas e bolorentas eram a sua melhor companhia.
Embora Velarde já não fizesse patrulha, mantinha a sua arma de ataque, tinha-a sempre consigo, carregada. Estava longe de ser nova, mas sempre a mantivera em boas condições. Tê-la recebido das mãos do próprio Gustavo Díaz Ordaz, concedeu-lhe, no mínimo, uma permissão vitalícia de posse de arma.
Velarde preocupava-se em permanecer confinado, embora pudesse admitir que a princípio era confortável ter uma participação inativa na força policial, mas ultimamente desesperava-se por se sentir enferrujado. As ocasiões em que era considerado participante de uma operação eram raras, sem falar de uma invasão. Ele não tinha a confiança expressa dos seus chefes; mantinha a sua posição devido aos seus contactos no Distrito Federal (que eram cada vez menos) e por ser o único elemento que cobria férias, ausências e horas extras sem dizer uma palavra.
Estava há tanto tempo naquele exílio na área de arquivos, que isso o deixou inadvertidamente maluco. Os ruídos que conseguiam filtrar do exterior foram gradualmente transformados numa voz interior desconfortável que o incomodava, que zombava da sua velhice prematura, da sua falta de mérito, da sua solidão; atormentando-o.
Os murmúrios, o barulho do escritório, os olhares que não eram acompanhados por nenhum som; tudo era suspeito para ele.
O que antes era o refúgio perfeito agora causava-lhe ansiedade, confundia as suas ideias, alterava-o ao ponto de ter fortes confrontos verbais com os seus colegas. Todos injustificados. Andava irritado; irascível.
A gota d'água: um talão no para-choques do seu carro.
Roberto entrou na esquadra a gritar, cheio de raiva, porque precisava encontrar o autor daquela canalhice e fazê-lo pagar por aquilo.
A explosão de Velarde aumentou de tom até que ele passou de gritar a pontapear o bebedouro, o jarro de vidro caiu e estilhaçou-se no chão.
A confusão chegou aos ouvidos do comandante que saiu do seu escritório para ver o que acontecia e, quando confrontou a cena, impôs ordem aos gritos, pediu que o local fosse limpo e ordenou que Velarde o acompanhasse.
- Velarde…Velarde… Capitão Velarde!
+ Sim, Senhor! (Velarde saiu do seu transe e bloqueou).
- Venha comigo! (gritou).
Cheio de vergonha e tentando recapitular o que aconteceu, Velarde olhou para o rosto dos seus colegas que não acreditavam no que tinha acontecido: o polícia mais experiente e reservado tinha explodido como um caldeirão, expressando-se de uma maneira que ninguém conhecia, cheio de raiva. Agora, era invadido por um sentimento quase infantil de vergonha, podia-se até dizer que sentia vontade de chorar, como uma criança depois da mais terrível birra.
No seu interior, ouviu uma voz que celebrava o sucedido - Sim, foi bom! Que fiquem a saber que não estás para brincadeiras!... Estiveste bem! És o Capitão Roberto Velarde! Até o comandante bateu continência, viste?... Idiotas!
Velarde não ficou surpreso com o aparecimento daquela nova voz interior... não podia deixar de sorrir sadicamente enquanto se dirigia para o escritório do comandante, para receber o seu pedido de atenção.