Читать книгу O herdeiro oculto do xeque - Sharon Kendrick - Страница 5
Capítulo 1
ОглавлениеAquele era o último lugar em que a teria imaginado a viver.
Zuhal franziu o sobrolho. Jasmine? Ali? Numa casa minúscula no meio do campo inglês a que se chegava por um caminho tão estreito que a sua limusina enorme quase não coubera? Jasmine sempre adorara o bulício da cidade, não era possível que estivesse a viver num lugar tão isolado. Tinha de haver um erro.
Então, sorriu. Nunca se questionara onde viveria. Sempre que pensara na sua ex-amante exuberante, coisa que tentava evitar, recordava indevidamente a sua pele suave. Ou a tentação dos seus seios. Ou o modo como banhara o rosto dela de beijos até fazer com que o coração acelerasse.
Engoliu em seco.
E aquele, é claro, era o motivo da sua visita inesperada. O motivo por que decidira fazer-lhe uma surpresa.
Sentiu a garganta seca. Porque não? Gostava de sexo, tal como Jasmine. De todas as suas amantes, fora a que mais o excitara. Entre eles, tinham saltado faíscas desde o começo e era uma pena não desfrutar daquela química incrível. Qual era o problema de ser nostálgico? Ao fim e ao cabo, nenhum dos dois tivera outras expectativas. Não havia sonhos para destruir. Não tinham pedido nada e tinham os limites claros. Comportaram-se como adultos. Porque não viajar ao passado e desfrutar daquela felicidade sem complicações num momento da sua vida em que precisava de desligar um pouco?
Ficou sério ao interrogar-se se era sensato voltar ao passado e a uma mulher como aquela. Porque ele nunca olhava para trás. Além disso, quando as pessoas recomeçavam uma velha relação, era possível que a mulher lhe desse mais importância do que realmente tinha… e, para Zuhal al Haidar, todas as relações se limitavam ao sexo.
E, dado que Jazz era suficientemente realista para o aceitar, talvez pudesse quebrar as suas próprias regras por uma vez, porque o destino estava a levá-lo por um caminho que não desejava, um caminho que alterara todo o seu futuro. Praguejou e chorou em silêncio por causa do seu irmão insensato, sabendo que era impossível voltar ou reescrever as páginas de uma história que mudara o seu próprio destino. Preferiu não pensar mais naquilo e concentrar-se em Jasmine Jones e no seu corpo doce. Ela faria com que esquecesse tudo, exceto o desejo e a satisfação. Estava a excitar-se só de pensar nisso, pois Jasmine fora a amante mais doce que tivera.
Pisou um ladrilho gretado por onde saía uma planta de aspeto saudável. Passara-lhe pela cabeça que Jasmine podia tê-lo substituído por outro homem nos dezoito meses que tinham passado sem se ver, ainda que, no fundo, Zuhal se recusasse a pensar naquele cenário porque o seu ego não o permitia.
Mas e se fosse assim?
Naquele caso, retirar-se-ia elegantemente. Ao fim e ao cabo, era um rei do deserto, não um selvagem, ainda que Jazz tivesse sido capaz de descobrir o seu lado mais primitivo. Desejar-lhe-ia boa sorte e ir-se-ia embora dali, sem dúvida, dececionado por não poder voltar a desfrutar das suas curvas encantadoras e dos seus lábios deliciosos.
Empurrou o portão pequeno, que precisava de ser pintado, e avançou pelo caminho. Ao chegar à porta, levou a mão à aldraba, a que faltava um parafuso, e franziu o sobrolho. Pensou que teria de procurar alguém para que arranjasse tudo aquilo.
Noutro momento.
Depois de encontrar o consolo de que tanto precisava.
Bateu à porta e sentiu que o som ecoava na casa pequena.
Jasmine fez parar o zumbido da máquina de costura, levantou a cabeça ao ouvir que batiam à porta e pestanejou. Doíam-lhe os olhos porque estivera a costurar até muito tarde na noite anterior. Esfregou-os com o dorso da mão e bocejou. Quem a incomodava precisamente quando estava tão calma e tinha um instante para trabalhar? Por um momento, sentiu-se tentada a não fazer caso e a ficar ali, a costurar as cortinas de veludo que tinha de entregar a uma cliente muito exigente na quarta-feira, o mais tardar.
No entanto, levantou-se e afastou-se do canto da sala em que instalara a sua zona de trabalho para ver quem batia à porta. O facto de ter decidido mudar de vida e sair da cidade não significava que quisesse começar a viver como uma ermitã. Especialmente, tendo em conta como todos tinham sido amáveis com ela desde que chegara à vila tranquila, um fator que amortecera o golpe da mudança repentina e de circunstâncias dramáticas. Era provável que se tratasse de alguém que queria vender-lhe rifas para a feira da primavera.
Abriu a porta.
Não, não era alguém a vender alguma coisa.
A sua surpresa não podia ter sido maior. Sentiu os efeitos físicos que, certamente, se pareciam muito com o desejo. O coração acelerara e corou. Tremeram-lhe os joelhos e teve de se agarrar à maçaneta.
Aquilo não podia ser verdade.
Com o coração ainda a acelerar com rapidez, olhou fixamente para o homem que tinha à sua frente como se fosse desaparecer de repente, perdido numa nuvem de fumo, se desviasse o olhar. Porém, ele continuou onde estava, como se fosse de mármore. Jasmine desejou ser imune a ele, mas soube que aquilo não seria possível, visto que, só de o ver, o coração se apertava e todo o corpo tremia.
As feições do seu rosto eram angulosas e aristocráticas, tinha o cabelo preto como o carvão e os olhos brilhantes e quase igualmente escuros, o nariz aquilino e os lábios mais sensuais que alguma vez vira. Usava um fato citadino e moderno que contradizia a sua identidade, uma camisa branca e uma gravata de seda. No entanto, Jasmine vira-o em fotografias vestido com túnicas amplas, com que parecia acabado de sair de uma história de As mil e uma noites. Túnicas de cor clara que tinham enfatizado a sua pele morena e o seu corpo forte, habituado a montar a cavalo pelo deserto.
Zuhal al Haidar, xeque e príncipe real. O segundo filho de uma antiga dinastia que reinava no país de Razrastán, rico em petróleo e em cujas montanhas se criavam puros-sangues e se extraíam diamantes. O homem a quem se entregara de corpo e alma, apesar de ele só querer o seu corpo, uma decisão que ela fingira aceitar. A alternativa teria sido rejeitá-lo e Jasmine sentira-se incapaz de o fazer. Desde que se tinham separado, não passara um só dia sem pensar nele, embora tivesse imaginado que nunca mais voltaria a vê-lo, porque a tirara da sua vida para sempre.
E era isso que tinha de recordar. Que Zuhal a desprezara como um jornal velho.
Jasmine mordeu o lábio inferior e questionou-se o que fazia ali.
Mas… o que era mais importante…
Não podia permitir que ficasse muito tempo.
Não era tola. Ou, pelo menos, não era tão ingénua como quando estivera com ele. Amadurecera desde que tinham acabado. Tivera de amadurecer. Aprendera que, às vezes, era preciso parar para pensar no que era melhor fazer a longo prazo e não fazer o que realmente queria. Portanto, resistiu ao impulso de lhe fechar a porta na cara e obrigou-se a sorrir com amabilidade.
– Meu Deus, Zuhal – disse, num tom estranhamente calmo. – Que… surpresa.
Ele franziu o sobrolho, incomodado com a situação. Não eram as boas-vindas que esperara. Como era possível que ainda não se tivesse precipitado para os seus braços? Mesmo que Jazz tivesse decidido brincar um pouco com ele, não entendia porque o seu olhar nem sequer se toldara de desejo ou porque os seus lábios rosados não se tinham afastado a modo de convite inconsciente.
Não, em vez de desejo, havia cautela nela e algo mais. Algo que Zuhal não conseguiu reconhecer, como também não reconhecia a mulher que tinha à sua frente. Recordava-a vestida como uma rainha, sempre bela, apesar de fazer a sua própria roupa porque não tinha muito dinheiro. Tinha muito estilo. Fora um dos motivos por que se sentira atraído por ela e por que, certamente, o Hotel Granchester a contratara como supervisora da sua loja de Londres.
Recordou o seu cabelo cor de mel a flutuar à altura do queixo. Naquele momento, apanhara-o numa trança prática que caía sobre uma camisola vulgar com uma mancha estranha no ombro. Também não tinha as pernas a descoberto, mas tapadas por umas calças de ganga feias, uma roupa que nunca usara na sua companhia, já que Zuhal lhe dissera que não gostava.
No entanto, pensou que a roupa não importava porque não queria que a usasse durante muito mais tempo. Nada importava, exceto o desejo que continuava a sentir por ela.
– Olá, Jazz – cumprimentou, num tom baixo e íntimo, um tom que usara no passado, o tom que as pessoas que tinham sido amantes usavam.
Porém, a expressão dela continuou a ser de receio. Não sorriu nem lhe abriu mais a porta para o aceitar na sua casa e nos seus braços. Não mostrou interesse, apesar de ter passado quase dois anos sem o ver. Em vez disso, assentiu e Zuhal voltou a ver, nos seus olhos, uma expressão que não conseguia reconhecer.
– Como me encontraste?
Ele arqueou as sobrancelhas. Não estava habituado a ser tratado de uma forma tão brusca e a pergunta pareceu-lhe quase insolente. Ia tratá-lo como se fosse um vendedor ambulante? Parecia-lhe aceitável deixar o futuro rei de Razrastán à espera à porta?
Quando voltou a falar, fê-lo em forma de reprimenda, usando um tom que fizera muitos homens adultos tremer.
– Não achas que devíamos ter esta conversa no calor do teu lar, Jazz? – reprovou ele. – Embora não pareça que seja um lugar muito acolhedor.
Ela recuou, mas recuperou depressa. Esboçou um sorriso, um sorriso forçado. Ele sentiu-se confuso. A sua relação não acabara mal, embora Jazz tivesse rejeitado o seu presente de despedida. Zuhal tinha o costume de oferecer uma joia às suas amantes quando acabava com elas, como lembrança, mas, para sua surpresa e aborrecimento também, Jasmine devolvera o colar de esmeraldas e diamantes com um bilhete em que dizia que não podia aceitar um presente tão generoso.
Zuhal fixou o olhar na tinta gasta da porta, cerrou os dentes e pensou que Jasmine bem que precisava de algum dinheiro.
– Receio que não possas entrar – redarguiu ela. – Lamento, Zuhal, mas… não chegas num bom momento. Devias ter-me avisado.
Entendeu o que se passava. É claro. Parecera-lhe que Jasmine aceitava o fim da relação com dignidade e uma ausência admirável de chantagem emocional. Não derramara nenhuma lágrima, pelo menos, na sua presença. No entanto, não era feita de pedra. Era a mulher mais sensual que conhecera e, entre os seus braços, descobrira o prazer da carne. Portanto, o normal era que não tivesse voltado à vida celibatária depois de o conhecer.
Embora lhe custasse acreditar, era possível que o tivesse substituído na cama por alguém mais adequado do que ele? Alguém da sua classe social, talvez disposto a casar-se com ela. Talvez tivesse razão, talvez devesse ter-lhe ligado antes de aparecer ali para que tivesse tempo para se preparar e pôr-se bonita. Contudo, desde quando é que Zuhal al Haidar tinha de ligar para avisar da sua chegada?
Tentou parecer razoável, apesar de sentir ciúmes e de ter um nó no estômago.
– Há outro homem na tua vida, Jazz? – perguntou, tentando falar pausadamente.
Aquilo pareceu surpreendê-la ainda mais.
– É claro que não!
Zuhal expirou o ar que, sem se aperceber, estivera a suster. Os ciúmes transformaram-se rapidamente numa sensação de triunfo e antecipação.
– Ainda bem. Vim até aqui só para te ver – explicou, sorrindo. – Acho recordar que, quando nos separámos, o fizemos da forma mais civilizada possível, o que faz com que me questione porque te mostras tão renitente a deixar-me entrar. Não é moderno que os amantes também sejam amigos? Que possam sentar-se a falar dos velhos tempos com carinho?
Jasmine sentiu que o corpo ficava tenso e agradeceu ter a mão esquerda semioculta atrás da porta. Olhou por cima do ombro do xeque e viu a sua limusina preta no caminho. Supôs que o motorista continuaria ali, à espera dele, tal como todos esperavam por Zuhal. Também estariam lá os guarda-costas e, provavelmente, outro carro cheio de pessoal de segurança escondido em algum lado.
«Escondido em algum lado.»
Sentiu um aperto no coração, mas tentou fingir serenidade, apesar do medo. Tivera a certeza de que fizera o correto, mas, naquele momento, com o olhar fixo no rosto perfeito de Zuhal, invadiram-na as dúvidas e a preocupação e questionou-se o que devia fazer.
Se se recusasse a deixá-lo entrar na casa, despertaria suspeitas. E, na verdade, ainda tinha uma hora. Podia deixá-lo entrar e descobrir o que estava a fazer ali, ouvi-lo de forma educada e, depois, pedir-lhe para se ir embora. Abriu mais a porta e apercebeu-se de que Zuhal fixava o olhar na aliança que usava.
– Pensei que tinhas dito que não havia nenhum homem na tua vida – acusou, uma vez dentro da casa, enquanto a porta se fechava atrás dele.
– E não há.
– Então, porque usas uma aliança? – perguntou ele. – Voltaste para o teu marido?
Jasmine corou.
– É claro que não. Sabes que nos divorciámos, Zuhal. Estava divorciada quando te conheci.
– E esse anel?
Jasmine pensou que Zuhal não tinha o direito de lhe fazer perguntas pessoais ou talvez tivesse. Percebeu que a observava com desejo e recordou que aquilo fora a única coisa que quisera dela.
Provavelmente, já se casara com a mulher adequada.
Tinha de se livrar dele.
– Uso a aliança como elemento de dissuasão – explicou.
Ele arqueou as sobrancelhas.
– Tens assim tantos homens a perseguir-te com intenções luxuriosas? – perguntou Zuhal.
Ignorou o seu tom irónico e abanou a cabeça.
– Não.
– É verdade que o teu aspeto é um pouco descuidado – comentou ele –, mas ambos sabemos como és bonita quando queres.
Jasmine cerrou os dentes.
– Percebi que, no passado, não tomei boas decisões a respeito dos homens, portanto, decidi estar uma temporada sozinha – explicou ela. – Uma temporada que estou a aproveitar para desenvolver a minha carreira.
– Que carreira? – perguntou ele. – Porque paraste de trabalhar na loja do Hotel Granchester? Pensei que te pagavam razoavelmente bem.
Jasmine encolheu os ombros. Não ia falar-lhe do seu negócio de roupa para a casa, que ainda estava no começo, mas que cada vez se tornava mais popular. Nem dos seus planos de desenhar roupa para bebés, com que, algum dia, esperava poder ganhar a vida. Porque nada daquilo lhe dizia respeito.
– A vida em Londres era cada vez mais cara e queria uma mudança – acrescentou. – Tu ainda não me disseste o que fazes aqui.
Zuhal teve de admitir que talvez se tivesse enganado ao pensar que continuaria disposta a ir para a cama com ele. Recordou a paz que lhe dera no passado, o entusiasmo com que sempre o recebera e, apesar da sua falta de interesse, sentiu-se tentado a confiar nela. Suspirou enquanto se aproximava da janela da sala pequena e estudava os narcisos amarelos que se destacavam na relva demasiado crescida do jardim minúsculo.
– Sabes que o meu irmão desapareceu? – perguntou, sem mais preâmbulos. – Pensam que está morto.
Jasmine deu um grito abafado e ele virou-se e viu que levava a mão à garganta como se não conseguisse respirar.
– Morto? – repetiu. – Não, não sabia. Lamento muito, Zuhal. Embora não tenha chegado a conhecê-lo… Lembro-me de que era o teu único irmão.
– Mantivemo-lo em segredo durante o máximo de tempo possível, mas já se descobriu. Não sabias?
Ela abanou a cabeça.
– Não… não tenho tempo para ler o jornal ultimamente. A atualidade internacional é demasiado deprimente… e a minha televisão não funciona – replicou, antes de morder o lábio inferior e olhar fixamente para ele, com cautela. – O que se passou? Ou preferes não falar do assunto?
Pensou que o que queria era abraçá-la para que o reconfortasse, sentir o calor de outro corpo, que a suavidade da sua pele lhe recordasse que continuava vivo, mas Jasmine não se aproximou, continuou na outra ponta da sala com os seus olhos verdes a observá-lo com aflição e o corpo tenso, como se se sentisse incomodada na sua presença.
No entanto, Zuhal continuou a falar como não teria feito com outra pessoa, em voz muito baixa, quase inaudível.
– Apesar de o Kamal ser o rei de Razrastán, com todas as responsabilidades que isso traz, o meu irmão nunca perdeu o interesse nas atividades temerárias.
– Lembro-me de que me contaste que era bastante imprudente – replicou, num tom precavido.
Zuhal suspirou e assentiu.
– Era. Durante a sua juventude, praticou os desportos mais perigosos sem que pudessem impedi-lo. O meu pai tentou sempre enquanto a minha mãe o encorajava a ser audaz. Por esse motivo, pilotava o seu próprio avião e fazia esqui fora da pista sempre que tinha a oportunidade. Também fazia mergulho e escalava os picos mais complicados do mundo e ninguém pode negar que se destacava em tudo o que fazia.
Zuhal fez uma pausa.
– Quando foi coroado rei, teve de limitar indevidamente a maioria dessas atividades, mas saía para montar a cavalo com frequência e sozinho. Dizia que, assim, conseguia pensar, longe do alvoroço da vida do palácio. E foi o que aconteceu no ano passado…
– O quê?
Zuhal sentiu que a dor crescia de uma forma inevitável no seu interior e a amargura também. Porque os atos de Kamal tinham afetado muitas pessoas, sobretudo, ele. Uma manhã, Kamal saíra montado no seu cavalo, um Akhal-Teke, e dirigira-se para o deserto ao amanhecer ou, pelo menos, fora o que os empregados das cavalariças lhes tinham contado depois. E, então, começara uma tempestade terrível.
Tremeu-lhe a voz enquanto continuava a falar.
– Dizem que não é possível fugir do manto de areia que cobre tudo quando há essas tempestades no deserto. Não é possível ver, ouvir ou respirar. Não conseguimos encontrar o Kamal ou o cavalo, apesar de nunca se ter feito uma busca tão exaustiva em todo o país. Não havia rasto deles. Portanto, é impossível ter sobrevivido – concluiu, torcendo o nariz. – E o deserto é muito eficaz a eliminar corpos.
– Oh, Zuhal, isso é terrível. Lamento muito – murmurou Jasmine.
Ele assentiu bruscamente, não estava ali para aquilo.
– Todos lamentamos muito – admitiu.
– E o que vai acontecer agora?
– Oficialmente, só pode declarar-se morto depois de sete anos, mas, de acordo com as nossas leis, o país também não pode estar sem rei durante esse tempo – explicou ele, cerrando os punhos com força. – Portanto, acedi a reinar na sua ausência.
– E o que significa isso?
– Significa que, dentro de sete anos, se o Kamal não voltar, vão coroar-me rei, dado que sou o único herdeiro vivo. Até então, governarei e serei conhecido como o xeque regente.
Foi ao ouvir a palavra «herdeiro» que Jasmine sentiu medo. Sentiu que uma gota de suor deslizava pelas suas costas até chegar à cintura das calças de ganga. Questionou-se se Zuhal sabia. Se era por isso que estava ali.
Não, é claro que não. Não estaria a falar daquilo se tivesse alguma ideia do que lhe acontecera.
– E a tua esposa… está contente com a sua nova posição?
– A minha esposa? – repetiu ele, franzindo o sobrolho. – Não tenho esposa, Jazz.
– Eu pensava que, quando deixámos de nos ver, tinhas começado a ter uma relação com a princesa de uma região vizinha. Penso recordar que se chamava Zara.
Zuhal assentiu.
– Sim, a Zara tem uma linhagem quase como a minha – comentou ele –, mas não suportava a sua forma de se rir e não me imaginava a partilhar uma vida com ela. Além disso, naquela época, não tinha pressa. Agora, é diferente, é claro. Agora, tenho de governar o meu país e, para isso, precisarei de uma esposa ao meu lado.
O coração de Jasmine acelerou e não pôde evitar sentir-se esperançada, embora depressa se apercebesse da sua estupidez.
– Continuo sem entender o que fazes aqui – disse, com cautela.
Ele levantou ambas as mãos em sinal de rendição.
– Vou contar-te o que faço aqui, Jazz – admitiu, sorrindo. – A minha vida vai mudar inexoravelmente no mês que vem, quando assinar os documentos que me tornarão xeque regente. Apesar das celebrações que terão lugar, o meu povo continua a sofrer uma incerteza inevitável causada pelo desaparecimento do meu irmão. O meu país precisa de estabilidade e espera que eu a procure. Preciso de uma esposa, mas, desta vez, não posso ser exigente. Tenho de me casar com a mulher adequada e o quanto antes.
Jasmine engoliu em seco.
– Como por exemplo?
– Alguém da realeza, é claro – redarguiu ele. – Receio, Jazz, que não possa casar-me com uma rapariga divorciada de Inglaterra, portanto, não tenhas ilusões.
– Não tenho – defendeu-se, furiosa com Zuhal, mas ainda mais furiosa com ela própria por se ter permitido sonhar. – E é por isso que estás aqui? Vieste para me contar os teus planos de casamento? O que queres? Que te aconselhe? Que te ajude a encontrar a tua futura esposa?
– Não, não foi por isso que vim. Queres que te demonstre o motivo da minha visita, Jazz? – perguntou, avançando para ela e abraçando-a de repente. – Estou aqui porque me sinto vazio e desesperado e sei que consegues acalmar essa dor.
Jasmine soube que devia dizer-lhe o que pensava, que não era um lenço de papel, que podia usar e deitar fora. Então, porque não o fez? Os seus braços enlouqueciam-na ou o desejo continuava a existir no seu interior? Devia ter-se apercebido de que, com a palavra «acalmar», Zuhal se referia ao sexo, mas não pôde evitar pensar que estava a falar do seu coração. Portanto, permitiu que lhe levantasse o queixo e a beijasse. Teve de fazer um esforço para não se pôr em bicos dos pés, mas conseguiu. Embora não conseguisse conter o gemido que escapou dos seus lábios.
Então, esqueceu tudo. Esqueceu o motivo por que Zuhal não devia estar ali, por que ela também não devia abraçá-lo. Por que não devia permitir que pusesse as mãos por baixo da sua camisola e lhe acariciasse os seios com tanta naturalidade. Sentiu-se melhor do que em muito tempo e percebeu que o seu sangue ardia nas veias.
Aquilo era como estar no céu. Zuhal apertou-se contra o seu corpo e pôs um dedo por dentro da cintura das suas calças para sentir a sua pele quente. Jasmine encolheu a barriga com a esperança de que continuasse a acariciá-la mais abaixo, entre as coxas, onde estava mais húmida e quente. Porque não havia nada que pudesse desejar mais. Sentiu a ereção de Zuhal e afastou as pernas instintivamente.
Ele afastou os lábios dos seus.
– O teu corpo mudou – murmurou, num tom trémulo.
– Sim.
Quase lhe perguntou se não gostava e, então, sentiu que era como um balde de água fria e teve medo. Respirou fundo, olhou para ele nos olhos e perguntou:
– Só vieste para ter sexo comigo, Zuhal?
Ele pareceu momentaneamente surpreendido com a pergunta. Então, encolheu os ombros e Jasmine soube que estava certa.
– O que queres é… aliviar-te fisicamente, não é? – continuou, num tom trémulo. – Queres sexo fácil, sem complicações, antes de voltares a casa para procurares a tua futura esposa.
– E o que esperavas, Jazz? – perguntou ele. – Não pensavas que ia apresentar uma estrangeira divorciada ao meu povo, que é muito conservador? Ambos sempre soubemos que isso não era possível. Como também soubemos que a química que há entre nós estará sempre presente. Isso não mudou. Continuo a desejar-te como sempre e tu, a mim. Ardes assim que toco em ti, como sempre. Porque não haverias de desfrutar disso? Porque não haveríamos de desfrutar do que ambos queremos e fazer amor pela última vez?
Ouviu-o, atordoada. Pensou em dizer-lhe que aquilo não era fazer amor e, então, ouviu algo ao longe que mudou tudo. Afastou-se dele, embora com cuidado, para não despertar as suas suspeitas, e rezou para que Darius continuasse a dormir.
Contudo, as suas preces não foram ouvidas. O choro tornou-se cada vez mais forte, transformou-se em gritos e, então, viu que a expressão de Zuhal mudava. Jasmine baixou o olhar para que ele não visse que os seus olhos se tinham enchido de lágrimas.
E pensou que podia dizer que era um animal, ao fim e ao cabo, os grasnidos dos perus pareciam-se muito com o choro de um bebé.
– O que foi isso, Jazz? – perguntou Zuhal.
E ela soube que o jogo acabara. Podia dizer-lhe que tomava conta do filho de alguém, mas não pôde. Não pôde porque soube que o tempo faria com que a verdade fosse descoberta. Não, tinha de lhe dizer a verdade.
– O que foi isso, Jazz? – repetiu ele, num tom urgente e perigoso.
Ela levantou o olhar para os seus olhos pretos e preparou-se para que a sua vida mudasse com uma só frase.
– É o meu filho. Ou, melhor dizendo, o nosso filho – admitiu. – Tens um filho, Zuhal, e chama-se Darius.