Читать книгу O herdeiro oculto do xeque - Sharon Kendrick - Страница 6
Capítulo 2
ОглавлениеEntão, como por arte de magia, Darius voltou a adormecer. Jasmine ouviu-o através do monitor. Gemeu pela última vez e a sua respiração voltou a compassar-se devagar.
E ela pensou que, apesar de tudo, sempre quisera que Zuhal soubesse.
– O meu filho? – repetiu ele, com incredulidade.
Jasmine assentiu.
– Sim.
– Não digas mais nada. Leva-me a vê-lo! – ordenou ele, num tom gélido.
– Vais vê-lo, prometo, mas não agora. Deixa-o dormir, Zuhal. Por favor – pediu ela.
Depois de nove meses a criar o filho sozinha, sabia que, se o acordassem antes de tempo, o menino ficaria incomodado durante o resto do dia.
– Não vou acordá-lo, mas quero vê-lo – disse ele. – Agora.
Jasmine assentiu. Tinha a boca seca. Como pudera pensar que poderia opor-se aos seus desejos? Se não conseguira no passado, como ia fazê-lo naquele momento? Zuhal deixara-a sem prévio aviso e, apesar de ser verdade que a avisara desde o começo de que a sua relação não podia ter futuro, o fim repentino surpreendera-a. No entanto, mantivera-se serena então e também ia fazê-lo naquele momento.
– Acompanha-me – pediu, em voz baixa.
Sentindo-se como num sonho estranho, Zuhal seguiu Jazz pela escada estreita, para o andar de cima e, ao chegar lá, ela apontou para a porta aberta de um quarto infantil pintado em tons amarelos. Entrou e, ao ver o menino que estava no berço, por baixo da janela, soube, sem lugar para dúvidas, que era o seu filho. Não foi apenas por causa do cabelo castanho ou da sua pele azeitonada, embora menos do que a dele. Foi um instinto quase primitivo que o corroborou. Apercebeu-se de que Jazz ficava tensa quando esticou a mão para lhe acariciar a face. Então, afastou-a e virou-se. Ficou em silêncio até chegarem ao andar de baixo, onde ainda demorou uns segundos a recuperar a fala.
– Percebes o significado constitucional do que fizeste? – inquiriu.
Jasmine sentiu vontade de chorar, mas soube que devia manter-se forte. «Significado constitucional?» Aquilo era a única coisa que importava a Zuhal? É claro que sim. Era o motivo por que acabara a sua relação e por que estava ali naquele momento, para usar o seu corpo como teria usado um jarro de água para saciar a sede. Porque a única coisa que importava a Zuhal era saciar as suas necessidades e cumprir as exigências do seu país. Tudo o resto era secundário.
– Porque não me contaste antes, Jazz? – voltou a perguntar. – Porque não me contaste que as minhas sementes tinham dado o seu fruto?
Jasmine tremeu, mas obrigou-se a manter a calma.
– Tentei.
– Quando?
– Depois de… acabarmos.
Quando a informara de que era perfeita como amante, mas de que nunca poderiam casar-se.
– É verdade que demorei a aperceber-me de que estava grávida.
– E como é possível? – inquiriu ele. – Porque, embora fosses virgem quando nos conhecemos, não consegues fazer-me acreditar que és assim tão ingénua, Jazz. O que queres dizer de teres demorado a perceber que estavas grávida? Não estarias à espera de ver a cegonha a chegar pela janela?
Falou de forma cruel e sarcástica e Jasmine tentou convencer-se de que era compreensível que estivesse zangado. Ela também teria ficado se tivesse descoberto uma coisa dessas.
– Sentia-me perdida – admitiu. – Atordoada, sem energia e desorientada. Custou-me a habituar-me a viver sem ti.
Zuhal cerrou os dentes, ainda que, no fundo, a compreendesse, pois ele também se sentira perturbado ao descobrir que Jazz deixara um vazio na sua vida. Tentara convencer-se de que sentia falta do sexo, o melhor sexo da sua vida.
Contra todo o prognóstico, Jasmine cativara-o. Fora a primeira vez que Zuhal estivera com alguém de classe tão baixa. Ela trabalhava na loja do Hotel Granchester, onde ele se alojara, e a primeira coisa em que Zuhal reparara fora nos seus seios e nas suas ancas, o movimento do seu cabelo loiro e o seu sorriso doce quando atendia os clientes. No entanto, Zuhal não era um homem que cedesse sempre aos desejos da carne, exatamente o contrário. Às vezes, desfrutava de se negar a satisfação sexual porque sabia que isso era bom para a alma e que o que chegava de forma fácil se perdia com a mesma facilidade. Além disso, gostava de desafios e fora o que vira nela quando, ao falar com ela, Jasmine corara e baixara o olhar.
Desejara-a e alegrara-se ao saber que estava divorciada porque as mulheres divorciadas costumavam adotar uma atitude cínica em relação ao casamento. Além disso, também possuíam uma experiência que as transformava nas melhores amantes.
Embora Jazz não tivesse essa experiência.
Zuhal ainda recordava a surpresa e a satisfação que sentira ao descobrir a sua inocência. E o orgasmo que tivera depois e depois e depois…
Tentou voltar ao presente porque nada daquilo importava naquele momento. Sobretudo, tendo em conta que acabara de descobrir que era uma manipuladora.
– Conta-me o que aconteceu, Jazz – pediu.
Ela esfregou os braços como se tivesse frio e engoliu em seco.
– Quando voltaste a Razrastán, segui em frente com a minha vida normal, mas com medo de que alguém descobrisse que tinha tido relações íntimas com um cliente do hotel.
– Mas ninguém descobriu? – perguntou ele.
Jasmine abanou a cabeça.
– Não. Ninguém. Mas fomos muito discretos, Zuhal. Certificaste-te disso. Nunca me deixaste ir às tuas águas-furtadas e só nos encontrávamos em casa dos teus amigos e à noite.
– Sempre tentei gerir todas as minhas relações com discrição. A imprensa teria enlouquecido se tivesse descoberto que ia para a cama com alguém como tu – admitiu ele, num tom frio.
– Alguém como eu? – repetiu ela.
– Sabes o que quero dizer. Parece um filme, o príncipe e a vendedora. Só queria proteger-te.
Jasmine mordeu o lábio inferior e pensou que Zuhal quisera proteger a sua própria reputação. Questionou-se se devia contar-lhe como fora difícil continuar a trabalhar atrás do balcão, a sorrir, enquanto tinha tantas saudades dele. Tivera de fazer semelhante esforço que talvez aquele tivesse sido o motivo por que não se apercebera de que não tinha o período naquele primeiro mês. Porque, além disso, não tivera em quem confiar. Os seus pais tinham falecido e não quisera contar os seus segredos a alguém conhecido, pois tivera medo de que alguém fosse falar com a imprensa sobre a história. Tinha a prima Emily, mas vivia longe de Londres. Jasmine nunca se sentira tão sozinha.
Naquele momento, recordou a sensação aterradora de solidão que tivera ao perceber que teria de criar o filho sem ajuda.
– Tentei ligar-te, mas o número de telemóvel que tinha não funcionava.
– Mudo-o de vez em quando – informou ele, num tom frio. – A minha equipa de segurança diz que é o mais seguro.
– E, assim, as tuas ex-namoradas não te incomodam?
Zuhal encolheu os ombros.
– Mais ou menos – admitiu. – Quando tentaste entrar em contacto comigo?
– No fim, consegui falar com um dos teus assistentes, o Adham, acho recordar que se chamava assim. Disse-lhe que precisava de falar contigo urgentemente e prometeu-me que te transmitiria a mensagem.
– Não foi assim.
– Nesse caso, podes culpá-lo.
– O Adham é um trabalhador leal que agiria sempre a favor dos meus interesses. O palácio estava chocado com o desaparecimento do meu irmão. Além disso, sabes a quantidade de mulheres que querem falar comigo e tentam contactar-me através do telefone do palácio?
– Não, não sei – replicou ela, corando.
– Podias ter-lhe dito que estavas grávida! – acusou-a Zuhal. – Assim, terias a certeza de que a mensagem chegava. Porque não o fizeste, Jazz?
Ela humedeceu os lábios. Porque estivera assustada. Tivera medo de enfrentar o poder de Zuhal. Porque o seu assistente falara com desprezo. E porque tivera medo de que Zuhal pedisse a custódia do bebé.
– Tinhas-me dito que ias casar-te com uma princesa – recordou-lhe ela. – Pensei que era o motivo por que o teu assistente tinha sido tão brusco comigo. Também li, nos jornais, que iam unir os dois reinos através do casamento e não quis pôr tudo isso em perigo com a notícia da minha gravidez.
Zuhal obrigou-se a pensar. Aquela troca de acusações não fazia sentido.
Tinha um filho.
«Um herdeiro.»
Talvez o destino estivesse a ser benévolo com ele por uma vez.
Olhou para a mulher que estava à sua frente. Beijara-a há alguns minutos e, se não fosse pelo choro do bebé, naquele momento, estaria no seu interior.
– Como consegues ganhar dinheiro? – perguntou.
– Sobrevivo – disse ela, sem mais explicações.
– Como, Jazz?
Ela encolheu os ombros.
– Coso.
– Coses?
– Sim. Não sei se te lembras de que sempre gostei de costura. Queria estudar moda e confeção, mas a minha mãe adoeceu e tive de ficar a tomar conta dela.
Questionou-se se Jasmine lhe contara aquilo. Em qualquer caso, não retivera a informação. Não tivera interesse no seu passado nem no seu futuro, porque sabia que não podia ter um futuro com ela. Só tivera interesse, até se obcecara, na química que houvera entre ambos.
– Certo – respondeu. – Querias ser estilista. É o que estás a fazer agora?
– Oxalá – respondeu ela. – Não nos tornamos estilistas de um dia para o outro, Zuhal, especialmente, sem ter formação. Vês aquela máquina de costura?
Jasmine apontou para ela com um dedo trémulo.
– Era o que estava a fazer quando chegaste. Especializei-me em roupa de casa, almofadas, cortinas e essas coisas. Há sempre alguém que precisa e Oxford é bastante perto. Há muitas pessoas com dinheiro que querem mudar a decoração das suas casas de vez em quando. Suponho que sejam ricos, estejam aborrecidos e não tenham algo melhor para fazer.
Parecia querer distraí-lo com as suas palavras, mas serviram para que Zuhal considerasse pela primeira vez quais eram os seus ganhos e o seu modo de vida. Reparou nos móveis baratos, no tapete gasto e na tinta velha da janela. Só as cortinas e as almofadas davam cor e calor à sala pequena.
Aquilo zangou-o. Como podia estar a criar o seu filho num lugar assim! O herdeiro da dinastia Al Haidar estava a crescer num barracão nos subúrbios de Oxford, sem segurança e sem aquecimento. Desejou repreendê-la, dizer-lhe que o seu filho não podia viver assim, mas algo fez com que se contivesse. Pensou que a hostilidade não o beneficiaria. Voltou a estudar as calças de ganga desgastadas e a camisola manchada de Jazz e pensou que o mais sensato seria oferecer-lhe uma saída. Deixar que vivesse a vida que decidira viver antes de os seus caminhos se encontrarem num hotel luxuoso de Londres.
– Temos de falar do futuro – disse.
Jasmine olhou para ele com cautela.
– O que queres dizer?
Ele aproximou-se um passo e desejou não o ter feito, pois conseguiu inalar o seu cheiro a sabonete, o que o deixou louco de desejo.
– O que achas, Jazz? – inquiriu. – Não pensarás que vou conformar-me com ver o meu filho e que me vou embora sem mais nem menos?
– É claro que não.
– Não pareces muito convencida!
– Aconteceu tudo demasiado depressa! Não esperava que aparecesses assim, Zuhal. Está a custar-me pensar.
– Nisso, estamos de acordo – admitiu ele. – Embora pense que, dos dois, fui eu que tive uma surpresa maior. Preciso de um pouco de tempo para avaliar a situação e decidir o que vamos fazer. Não é bom tomar decisões sem pensar, sobretudo, no que diz respeito ao meu filho.
– Então…? – perguntou ela, esperançada. – Vais voltar para Razrastán e ligas-me depois de teres a oportunidade de pensar?
Zuhal deixou escapar uma gargalhada.
– Voltar para Razrastán? És mesmo assim tão ingénua, Jazz? Pensas que vou sair assim da vida do meu filho?
Ela mordeu o lábio inferior.
– Voltarei dentro de um instante para te levar a jantar. Iremos a um lugar neutro, onde possamos considerar as diferentes opções. Farei com que reservem mesa em algum lugar adequado.
– Não, não posso. Isto não vai funcionar! – protestou ela. – Não posso deixar o Darius sozinho para ir jantar contigo.
– Porquê? – perguntou ele. – Pensas que vou fazer com que o raptem enquanto não estás em casa?
– Não me surpreenderia.
– Tens razão. Não deves subestimar-me – admitiu ele –, mas ainda não me explicaste porque te recusas a jantar comigo.
– Porque não tenho com quem deixar o menino – respondeu Jasmine. – E não vou deixá-lo com uma desconhecida.
– Eu também não o faria, Jazz. É o príncipe de Razrastán e terá os melhores cuidados que o dinheiro possa comprar.
– Não.
– Não? – repetiu ele, com incredulidade.
– Não tenciono deixá-lo com um desconhecido – repetiu ela.
Aquilo zangou-o.
– Não queres que jante aqui, pois não? – perguntou Zuhal, olhando à volta.
– Tanto faz se jantas ou não, porque jantar é a última coisa que me preocupa neste momento – disse ela –, mas, dado que estás tão empenhado em encontrar-te comigo mais tarde, tenho a certeza de que posso fazer alguma coisa para o jantar.
Houve um momento de silêncio tenso e, então, Zuhal assentiu.
– Está bem. Voltarei às oito. Enquanto isso, deixarei o meu guarda-costas lá fora, para o caso de tentares ir-te embora.
Jasmine olhou para ele com incredulidade. Sentia-se encurralada.
– Guarda-costas? – repetiu. – Perdeste a cabeça? Vivemos aqui há seis meses e não tivemos nenhum problema. Estamos numa zona rural de Oxfordshire. Não precisamos de guarda-costas.
– Exatamente o contrário. Talvez tenhas vivido assim até agora, Jazz, mas isso já faz parte do passado. Esse menino tem sangue Al Haidar nas suas veias e será tratado como merece. Até mais tarde. Certifica-te de que estás pronta para me receber.
Aquele último pedido foi como um regresso ao passado e Jasmine questionou-se como ia fazer aquilo. Zuhal não estaria a sugerir que queria que esperasse por ele em lingerie de seda e cetim, tal como fizera nos velhos tempos, mostrando o máximo de pele possível, mas sem estar completamente nua?
Olhou fixamente para ele. Naquele momento, a expressão de Zuhal era de desprezo. Virou-se e saiu pela porta, fechando-a com cuidado atrás dele. Jasmine ouviu o barulho do motor do carro e começou a tremer.
Os olhos encheram-se de lágrimas, mas limpou-as e tentou pensar no que acabara de acontecer.
Ouviu que Darius voltava a acordar e pensou que tinha de agir com sensatez com um homem tão poderoso como Zuhal.
Mas, sobretudo, tinha de ser forte.