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Capítulo 1

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A mulher corria.

O corredor da escola era longo, e cada passo de sua corrida ecoava alto. Sua respiração estava tensa e pesada.

Já corria há vários minutos, e a escola era enorme.

A mulher precisava encontrar um lugar para se esconder, e precisava encontrar rápido.

O laboratório de biologia estava logo à frente! Ela poderia se esconder lá!

Ela abriu a porta do laboratório, entrou e fechou-a silenciosamente. Correu os olhos pelo laboratório, mas não encontrou bancadas atrás das quais pudesse se esconder. Havia, no entanto, algumas escrivaninhas, projetadas para alunos trabalharem em duplas. Ela se escondeu atrás da que ficava mais ao fundo, em frente a um grande armário de duas portas.

À medida em que ela conseguiu acalmar sua respiração, seus batimentos cardíacos diminuíram para o ritmo normal. Tentou detectar algum barulho, mas não ouviu nada. Nenhum passo traía seu perseguidor... nenhuma respiração entregava sua posição.

A mulher soubera a respeito do Maníaco de Sardis da mesma forma que todas as outras informações circulavam naquela cidadezinha rural... por boatos e sussurros. Coisas como "A sogra da minha prima disse pra ela..." ou "Alguém na Mackie's estava falando que...". Fofocas sem sentido nenhum.

Ao menos foi o que ela pensou.

Agora ela entendia.

Eu o despistei!

Então a porta esquerda do armário se abriu, e dela saltou o perseguidor. Ele a agarrou pelos cabelos e a ergueu, fazendo-a ficar em pé. O perseguidor então puxou os cabelos dela para trás, virando seu rosto para cima, e fixou seus olhos nos dela. Seu coração parecia querer explodir em seu peito, e seu medo tinha vida própria.

Com uma voz gutural e grave, o assassino disse: "Eu sou seu bicho papão, querida, e você vai me enlouquecer!"

O Maníaco então começou a realizar seu trabalho.

***


O XERIFE DO CONDADO de Sardis, William "Billy" Napier, entrou com a viatura no estacionamento da Escola Técnica Nathaniel Sardis. Vários policiais municipais de Perry, o médico legista do condado e duas ambulâncias com paramédicos já haviam chegado. Para encontrar a cena do crime bastou seguir as luzes vermelhas e azuis.

No Condado de Sardis (Onde VOCÊ Faz a Mágica!), a sede é Perry. Das três “cidades” oficiais do condado de Sardis, Perry era a única que possuía uma força policial municipal. Por decreto dos comissários do condado, porém, o xerife era encarregado de aplicar a lei dentro de todo o condado, incluindo a cidade de Perry. Billy costumava permitir que a Polícia Municipal de Perry lidasse com a maioria das ocorrências dentro dos limites da cidade, mas um assassinato era grande demais para Godfrey Malcolm, o delegado alcoólatra.

Godfrey Malcolm era bêbado, incompetente e babaca. Costumava emitir mandados conflitantes e depois não se lembrava das ordens que havia dado. Outro costume era exigir aos presos da cidade que o chamassem de "Deus", o que seria demasiadamente pretensioso se ele não tivesse desenvolvido um ego grande o suficiente para fazer valer o apelido. Ter de dar satisfações a Napier irritava Malcolm. Napier era um policial honesto e tratava todos com justiça, inclusive os prisioneiros. Malcolm, pelo contrário, costumava passar a mão em qualquer dinheiro que os criminosos deixassem para trás, e muitas vezes pegava tudo que os detentos da cidade pudessem ter em suas carteiras, bolsos ou bolsas, depois os desafiava a contar para alguém. Havia rumores a respeito de espancamentos noturnos, mas nenhum preso jamais havia apresentado queixa ou admitido que Malcolm tivesse alguma relação com os fatos.

Alguns chegaram a contar... para Billy. Mas, como o dinheiro desaparece facilmente, Billy nunca conseguiu encontrar outra evidência além da palavra da pessoa que apresentou a queixa. Qualquer pedra que estivesse sobre o local em que Malcolm enterrara seu tesouro roubado ainda não se revelara ao mundo, mas Billy era um homem paciente. Como Malcolm era contratado pelo Município de Perry, Billy não podia demiti-lo, e isso o irritava, pois havia poucas coisas que ele odiava mais do que um policial desonesto, brutal e bêbado.

Billy não viu o carro de Malcolm estacionado no campus. Deve estar dormindo em algum lugar.

Billy saiu do carro e ajustou seu coldre. Fechou e trancou a porta da viatura. Todo cuidado é pouco. Esses ladrões malditos estão por toda parte.

Billy caminhou até a porta de entrada, onde dois policiais municipais faziam a guarda.

— Bom dia, rapazes — disse o xerife ao acenar para eles.

— Bom dia, Xerife — disseram os dois policiais, quase em uníssono.

Um dos policiais abriu a porta para Billy.

— Obrigado — disse o xerife ao adentrar o prédio.

Ao caminhar pelo longo corredor, Billy notou como seus passos faziam um barulho oco. Som esse que foi suprimido pelo das vozes conforme se aproximava da cena. Mais dois policiais estavam de guarda do lado de fora do laboratório de biologia.

— Bom dia, Xerife — disse um policial. O outro cumprimentou com a cabeça.

— Bom dia — respondeu Billy.

Ele interrompeu a caminhada logo antes da porta.

— Muito feio?

O policial que havia falado assentiu.

— Sim. Mais um picadinho do Maníaco de Sardis.

— Ei, parem com isso! Não quero que a imprensa comece a publicar apelidos, muito menos vindos da própria polícia! Estamos entendidos?

O policial calado assentiu, e o outro disse timidamente:

— Sim, xerife.

— Obrigado — disse Billy, e passou pela porta do laboratório de biologia.

A cena que vislumbrou era grotesca, mas de certa forma organizada. A vítima fora empalada, provavelmente pelo assassino, em uma série de ganchos de pendurar jalecos que estavam parafusados em uma parede. Suas mãos estavam estendidas e também espetadas nos ganchos, e seus pés haviam sido pregados à parede de tijolos com um pitão de escalada. Os pés da vítima estavam descalços e haviam sido pregados um por cima do outro, de modo que a cena se assemelhasse a uma crucificação. A cabeça da mulher estava presa com fita adesiva na parede, com uma tira que passava sobre a testa. Espinhos foram colados ou presos de alguma outra forma à fita adesiva, incrementando ainda mais a imagem da crucificação. Claramente foi do outro lado da sala que a sua garganta fora cortada, ao lado de um armário de duas portas, embora não houvesse tanto sangue em frente a ele. Parecia que, uma vez que a vítima havia sido empalada nos ganchos, seu abdome e peito foram abertos com um instrumento cortante. Seus órgãos foram dispostos em um padrão circular no chão, envolvidos por um coração moldado com o intestino. Escritas acima de sua cabeça, na parede branca, estavam as palavras: "Eu so seu bixo papao". As palavras com erros ortográficos foram escritas com o que parecia ser o sangue da vítima. A vítima perdera tanto sangue que seu corpo adquirira um tom cinza fantasmagórico. O coração, no entanto, estava faltando.

O fotógrafo que trabalhava para o Instituto de Criminalística do Condado de Sardis, Ted Baker, também era fotógrafo da equipe do Sentinela de Sardis. Há muito tempo, Billy o advertira sobre o conflito entre os empregos.

— Teddy, se você decidir aceitar os dois trabalhos, terá que aprender a calar a boca de vez em quando. Você tirar fotos para a polícia e para o jornal do condado não significa que você tenha exclusividades. Na maioria das vezes, não haverá problemas. De vez em quando, porém, você terá acesso a informações que não serão liberadas ao público... até que eu dê a permissão. Combinado?

— Combinado — respondeu Ted, obviamente omitindo sua disposição a quebrar esse acordo, se isso pudesse alavancar sua carreira jornalística.

Ted agora tirava fotos da cena do crime. O médico legista, Kenneth Pirtle, instruía Baker sobre quais ângulos ele queria. A equipe de perícia aguardava a aprovação de Pirtle, mas Billy não confiava muito neles. Este era o terceiro assassinato atribuído ao Maníaco, e o xerife ainda não tinha recebido nenhuma informação relevante. Nos três assassinatos, cada uma das vítimas havia sido exibida da mesma maneira, com os órgãos no centro de um coração feito a partir do intestino. A maior parte do sangue de cada vítima havia sido drenada e o coração de todas estava faltando.

E, nos três assassinatos, as mesmas palavras incorretas, escritas na parede com o sangue da vítima.

Billy se perguntava se o erro de ortografia era intencional.

Billy chamou Pirtle:

— Ei, Kenny!

Pirtle cumprimentou o xerife com um aceno enquanto passava ao fotógrafo os últimos ângulos que queria para as fotos da cena do crime. Quando terminou de explicar, Pirtle se aproximou de Billy.

— Muito macabro, Billy — disse Pirtle.

— Você não tem nada para mim ainda, por acaso?

— Claro que sim, Billy, temos um sacão cheio de porcaria nenhuma para você. Não tem DNA, nem cabelo, nem pele sob as unhas da vítima. Nada. Talvez o laboratório encontre alguma coisa, mas se for como os dois últimos... — Pirtle deu de ombros.

Billy balançou a cabeça, com os lábios apertados.

— Kenny, você tem que encontrar algo que eu possa usar. Uma hora isso vai vazar pra imprensa, e as pessoas vão querer a minha cabeça se eu não descobrir quem é o responsável.

— E você acha que eu não sei disso? Não houve nada que a perícia pudesse nos dar, e quando digo nada, é nada mesmo. Eu já trouxe o pessoal do laboratório estadual aqui, e mesmo assim ainda não tive sorte — ele balançou a cabeça em desgosto — é quase como se assassino fosse um fantasma, ou algo assim.

Billy manteve a boca fechada. Ele sabia muito bem que poderia realmente ser algo sobrenatural ou relacionado a magia, mas ele mantinha suas opções em aberto. E sua boca fechada.

Billy tinha visto em primeira mão o que acontece quando há magia envolvida, e nem sempre é bonito. Sua enteada, Mary, e Carol Grace, enteada de Alan (seu melhor amigo), tinham algum tipo de poder místico, e Alan era casado com Katie Ballantine Montgomery. Katie era descendente da família Sardis e era uma bruxa. Sua tia-avó, Margo Sardis, era uma bruxa igualmente poderosa. Katie dissera a Alan que Margo uma vez vendera um feitiço ao velho Ricky Jackson, e esse feitiço havia conjurado um Cão do Inferno. O pentagrama que restringia o Cão havia sido acidentalmente quebrado, o soltando... e deixando aberto um portal para o Inferno. De acordo com o que Margo dissera a Katie, muitos seres do Inferno cruzaram aquele portal e agora moravam no Condado de Sardis.

E desde então ninguém viu o velho Ricky Jackson.

Billy tinha visto Mary e Carol Grace unirem seus poderes contra os gângsteres da família criminosa Giambini quando estes invadiram a Fazenda Junior Ballantine, e achou incrível que essas coisas existissem neste mundo... sem que ninguém soubesse.

Ninguém com um pingo de credibilidade, pelo menos.

Mas Billy acreditava com todas as suas forças. Não tinha escolha, afinal convivia com isso.

Phoebe insistiu para que Mary seguisse os ensinamentos de Margo Sardis sobre como controlar a magia que residia dentro dela e da amiga, e Bill teve que concordar. Mary precisava aprender como manter a magia confinada dentro de si.

Agora, era possível que ele estivesse lidando com magia novamente... desta vez, no trabalho.

E não era coisa boa. Não dessa vez. Pessoas estavam morrendo. Pessoas honestas que não mereciam tão terrível destino.

Quando seus pensamentos saltaram de um assunto para outro, Billy percebeu que ele poderia ligar para Alan e pedir que viesse até o local. Era extremamente necessário.

***


— CAROL Grace! Você vai perder o ônibus, mocinha!

— Sim, mamãe!

— Desça já aqui, mocinha!

Alan sentou-se à mesa da cozinha e sorriu diante da frustração de sua nova esposa.

— Se tivermos que levar essa garota para a escola mais uma vez este mês, eu vou colocá-la de castigo, ou não me chamo Katie Blake!

— Katie Blake. Eu definitivamente gosto do som desse nome — Alan sorriu — onde você o encontrou, Katie?

Katie sorriu ao olhar para o marido.

— Um policial me deu. Ele disse que não estava sendo usado corretamente e queria ver se eu poderia tomar conta dele.

Ela se sentou à mesa, em sua cadeira.

— Hmmm... e você está tomando conta dele direitinho?

Katie sorriu.

— Ainda não tive nenhuma reclamação.

Alan se inclinou em direção ao rosto de Katie.

— Nenhuma.

Ele começou a beijá-la. Ao tocar de suas línguas, ele sentiu uma leve nota do sabor do pedacinho de bacon que Katie comera enquanto cozinhava, e sentiu também o sabor de menta da pasta de dente. Mais do que tudo, ele sentiu o sabor de Katie, e então eles perderam a noção do tempo.

— Meu Deus, vocês dois podem parar com essa pegação na cozinha? É tão nojento!

Alan se afastou e olhou nos olhos de Katie novamente.

— Só uma, talvez...

Ele olhou para Carol Grace.

O pai de Carol Grace, Mark Montgomery, morrera alguns anos atrás por conta de um aneurisma cerebral. Ele deixara o dinheiro de um seguro de vida, e o rendimento desse dinheiro ajudou Katie a cuidar de Carol Grace. Mas, quando Katie foi demitida da empresa em que trabalhava, sua mente voltou-se à fazenda deixada para ela por sua avó, Nebbie Ballantine. Seu avô se chamava Arthur "Junior" Ballantine, e a fazenda recebera o nome dele. Ela manteve a Fazenda Junior todos esses anos e pagou todos os impostos. Era dela, e estava pronta para morar. Então, quando a demissão aconteceu, Katie empacotou suas coisas e as de Carol Grace e voltou para o Condado de Sardis.

Após sua mudança, Alan Blake, ex-capitão do time de futebol americano da antiga escola de Katie, também se mudou de volta para o Condado de Sardis. No entanto, ele não teve escolha... ele era policial na cidade grande e prendera Moses Turley, o membro da família mafiosa Giambini encarregado de organizar jogos ilegais de pôquer, e seus homens por atentarem contra a vida dele e de outro policial. Mickey Giambini não queria ser vinculado a ele no julgamento, então ordenou que Turley e seus homens encontrassem e eliminassem os dois policiais. Os capangas de Giambini encontraram o parceiro de Alan, James Winstead, e o mataram... mas não antes que o homem revelasse aos criminosos que Alan poderia ser encontrado no Condado de Sardis.

Velho amigo de Alan, o xerife Billy Napier também participara do time de futebol americano do Colégio de Perry e convencera Katie a dar a Alan um lugar para se esconder em troca de trabalho na fazenda.

Nessa mesma época, Katie conhecera a velha bruxa, Margo Sardis. Margo dissera que Katie e Carol Grace eram descendentes da família Sardis e que possuíam magia dentro delas. Katie começou então a aprender a manifestar sua magia.

Carol Grace também estava mostrando sinais de poderes mágicos crescentes, mas os poderes se multiplicavam quando estava próxima de sua colega de escola e melhor amiga, Mary Smalls. Mary aparentemente tinha magia dentro dela também... mas ninguém sabia de onde vinha. Sua mãe, ex-colega de escola de Katie, Phoebe Smalls, não tinha poderes mágicos... mas ninguém, incluindo Phoebe, tinha ideia alguma de quem poderia ser o pai de Mary. Phoebe era uma alcoólatra em reabilitação.

Katie e Alan se apaixonaram profundamente e, juntos, reacenderam o amor de Billy Napier e Phoebe Smalls.

Durante uma reunião das duas famílias, Moses Turley atacou a casa da fazenda utilizando um túnel que passava por baixo da propriedade. Carol Grace e Mary chegaram bem a tempo de impedir que os mafiosos matassem Alan e todos os outros. Elas estavam inconscientemente de mãos dadas e pareciam estar sob domínio por alguma força sobrenatural. Usaram o poder mental para expulsar os bandidos da casa. Do lado de fora da casa, uma legião de demônios esperava pronta para devorar os quatro criminosos. A terra se abriu e engoliu o carro deles. Depois disso, as duas meninas caíram no chão, talvez desmaiadas ou em profundo sono.

No dia seguinte, ocorreu um casamento duplo. Xerife Napier e Phoebe Smalls haviam se casado, assim como Katie e Alan.

Desde então, a velha Margo Sardis ensinava Katie mais e mais sobre magia, e também as duas meninas. Margo era muito cautelosa com as duas garotas, e não falava muito com Katie sobre elas... mas Katie podia dizer que algo nas duas preocupava Margo. Katie pensou em perguntar à velha tia, mas percebeu que Margo diria a ela quando fosse a hora... e nem um minuto antes.

Alan já havia entrado em contato com um advogado em Perry para registrar Carol Grace como filha adotiva. Katie aceitara com todo coração, pois Carol Grace amava muito Alan, e Alan amava Carol Grace. Parecia a coisa certa a se fazer.

A audiência de adoção seria no final do mês, dali apenas uma semana.

Katie virou-se para a filha.

— Onde fica o “ambiente de pegação aprovado por Carol Grace”? Alan e eu iremos para lá, se isso te alegrar.

— Eeeca!

Carol Grace colocou no prato uma colherada de ovos mexidos e cobriu com um pouco de manteiga e pimenta. Serviu-se também de um pedaço de torrada e duas fatias de bacon.

— Talvez lá fora, no chiqueiro?

Ela deu uma risadinha.

— Acho que não — Alan enrugou o nariz — O fedor lá é quase tão forte quanto no armário da Carol Grace.

Ele simulou ânsia de vômito.

Tiquinha, a cadela da raça Boston Terrier que Billy Napier dera a Carol Grace, desceu as escadas e entrou na cozinha. Ela deu um latido e Carol Grace jogou-lhe um pedaço de bacon.

A menina devorou o café da manhã e limpou a boca com o guardanapo. Pulou bruscamente e anunciou:

— Tenho que correr. O ônibus vai chegar em um minuto.

Ela deu um beijo na bochecha da mãe e um no topo da cabeça de Alan.

— Tchau! Amo vocês!

Quando chegou na porta dos fundos, ela gritou:

— Tchau, Tiquinha! Fique boazinha!

Tiquinha latiu como se reconhecesse o comando.

A porta de tela da varanda dos fundos bateu com força e Alan estremeceu.

— Após realizar seus pronunciamentos, o arauto real parte.

Katie riu.

Alan tinha acabado de encher a boca com ovos mexidos e torradas quando o celular tocou. Ele olhou para o identificador de chamadas e disse:

— É o Billy.

Atendeu à ligação:

— Oi, Bill! Espero que Phoebe tenha preparado um café da manhã tão bom quanto o que a Katie fez para mim!

— Não acho que eu conseguiria tomar café da manhã agora, Alan. Escute, preciso que você venha me encontrar.

Alan captou o tom sério na voz de seu amigo e entendeu no mesmo instante.

— Mais um?

— Sim.

— Onde?

— Na Escola Técnica.

— Logo estarei aí.

— Obrigado, velho amigo.

Alan desligou o telefone.

Pelo que ouviu da conversa, Katie percebeu que Alan precisava ir.

— É outro daqueles assassinatos?

Alan fitou os olhos de sua esposa.

— Sim. Deve estar muito feio. Billy parecia consternado.

Katie assentiu, mas sentiu um calafrio.

— Tudo bem. Vá. Mas tenha cuidado, Alan.

Alan começou a pegar mais uma colherada de ovos, mas mudou de ideia. Melhor não. Se revira o estômago do Bill, provavelmente também revirará o meu. Levantou-se para subir e vestir seu uniforme. Quando ele se virou para sair da mesa, viu uma mulher muito velha atrás dele. Ele deu um pulo de susto e disse:

— Uooou!

Katie começou a rir. Com gosto.

Alan colocou a mão no peito. A outra mão estava no encosto da cadeira.

— Caramba, Tia Margo, você precisava entrar tão sorrateira assim?

A mulher velha, também conhecida como Margo Sardis, riu. Sua risada soou como uma gargalhada.

— Não fui sorrateira, Alan. Acabei de entrar pela porta dos fundos, mas talvez não tenha feito barulho suficiente.

Katie, ainda rindo, disse:

— Ela fez sim, Alan. Eu a vi entrar.

Alan, balançando a cabeça em reprovação a si mesmo e a seu nervosismo, estendeu os braços e abraçou a velha bruxa.

— Bom dia para você também, Tia Margo — Então a soltou — Agora, se as duas maravilhosas senhoras bruxas me dão licença, eu tenho que ajudar Billy a pegar um assassino.

— Assassino? — Margo falou abruptamente — Mais uma vítima?

Alan assentiu.

— Sim, Senhora.

Os olhos de Margo se estreitaram.

— Tenha cuidado, Alan Blake. Este assassino pode não ser humano.

Alan parou na porta que dava para a sala e as escadas.

— Você tem certeza disso, Tia Margo?

A idosa balançou a cabeça.

— Não. Mas minha incerteza não é por falta de investigação. Se eu descobrir alguma coisa, aviso você imediatamente.

Alan concordou com a cabeça.

— Por favor. Precisamos acabar logo com isso.

Ele começou a subir as escadas, mas parou e se inclinou de volta em direção à cozinha.

— Margo?

A velha senhora olhou para ele.

— Você tem sequer alguma ideia de quantas criaturas do Inferno entraram pelo portal sobre o qual você nos falou?

O rosto de Margo amoleceu e Alan pensou ter visto uma pequena pitada de medo ali. Ela balançou a cabeça e disse:

— Deus me ajude, Alan, eu não sei. Podem ter sido algumas, ou algumas centenas. Infelizmente não sei dizer.

Alan compartilhou um olhar com Katie, e então olhou de volta para Margo.

— Eu me sentiria melhor se você ficasse aqui conosco, Tia Margo. É melhor do que estar sozinha na floresta, mesmo que sua casa esteja camuflada com espelhos. Pelo menos, eu teria a ilusão de que estaria mais segura.

Margo abriu a boca para recusar educadamente a oferta, mas parou. Finalmente, ela disse:

— Vou pensar no caso, sobrinho, se a oferta for de coração.

Alan encontrou os olhos da anciã.

— Sim, ela é. Fique, por favor — então mudou o assunto — Ok, eu tenho que ir.

Eu Sou Seu Bicho Papão

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