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… «Não conhecemos na litteratura indiana, nem talvez em litteratura alguma, episodio mais sentido e mais sublime do que aquell'outro do Râmâyana, – a «Morte de Yaginadatta». Priamo aos pés de Achilles, na «Illiada» de Homero, é admiravel de dor e de sentimento; arrebata-nos a lastimosa Dido nos cantos do cisne mantuano; Ignez deante de Affonso, no poema de Camões, abala-nos a alma e obriga-nos a lagrimas: não teme porem confronto com Priamo, Dido e Ignez o cego sublime de Valmiki deante do assassino de seu filho.

Asserções fundadas, mas que podem passar por temerarias, reclamam prova efficaz. Não nos esquivamos a ella…; tomâmo-nos até de ufania com sermos o primeiro que apresenta em linguagem nossa um dos eternos monumentos da verdadeira poesia indiana.

Não é o luxuriante e o garrido da fórma o que nos prende ao episodio de «Yaginadatta»: difficilmente se aprecia a fórma em toda a sua pureza, quando a lima dos commentarios e a crueldade, talvez, das traducções, entibiou naturalmente o colorido que brotou espontaneo da paleta do artista. Mas aquillo que é sempre bello, aquillo que a mão dos seculos não consegue carcomer nem afeiar, aquillo que o genio deixa insculpido em caracteres indeleveis – torna immortais e queridos os admiraveis «çlokas» da «Morte de Yaginadatta.»

Reproduziremos o episodio em decasillabos portuguezes. Descorado embora na traducção modesta, entrever-se-á nelle ao menos a majestosa simplicidade da narração, e conjuntamente se descortinará o ponto mais elevado a que podem sublimar-se os sentimentos do coração humano.»

CANDIDO DE FIGUEIREDO, no Instituto, vol. XVII, n.º 4.

Morte de Yaginadatta

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