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UNIÃO

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Quando acordei descobri que já era de manhã.

Olhei ao redor e veio-me imediatamente à cabeça a minha nova situação.

Levantei-me e desci ao piso inferior.

Enquanto descia as escadas, decidi que aquele ia ser um dia decisivo. Queria saber o que o Blake queria fazer de mim.

Tinha que saber. Estava farta de brincar ao gato e ao rato.

Tentei chamá-lo, mas não obtive resposta.

Estava um silêncio sepulcral naquela casa.

Talvez estivesse realmente sozinha.

Provavelmente o Blake tinha saído.

Haveria momento mais oportuno para deixar o caminho livre?

Era o meu momento.

Sem fazer barulho, aproximei-me da porta de entrada e posei a mão na maçaneta.

«Chamaste-me?» exclamou o Blake atrás de mim, fazendo-me voltar num clique.

Dei por mim em frente ao corpo seminu de Blake. Estava completamente molhado, com uma toalha azul à volta da cintura.

«Eu...Sim. Pensava que estava sozinha» gaguejei cruzando-me com os seus lindíssimos olhos, rodeados por alguns tufos de cabelo negros rebeldes, que lhe caíam sobre o rosto, enquanto algumas gotas de água escorriam-lhe sobre o peito, seguindo a linha dos seus peitorais e da sua barriga lisa e musculada.

Era ainda mais lindo do que imaginava.

De repente, senti o coração bater-me forte no peito e a garganta a arder. Vê-lo daquela maneira tinha-me afetado e não era pouco.

«Com que então querias dar uma volta?» perguntou-me ironicamente, trazendo-me de volta à realidade.

«Não, queria apenas assegurar-me que a porta estava bem fechada. Sabes, temia que algum mal-intencionado...» menti descaradamente.

«Tomas-me por estúpido?».

Não consegui responder diante daqueles olhos em brecha que se tinham tornado de novo ameaçadores.

Sem perder mais tempo, arrastou-me para longe da porta, em direção à cozinha.

«Prepara o teu pequeno-almoço e ai de ti se tentas de novo enganar-me» ordenou-me com um tom de voz autoritário.

Não ousei contradizê-lo. Abri o frigorífico e tirei o sumo de frutas que o Peter tinha comprado no dia anterior.

Bebi apenas um copo. Não tinha fome, por isso não comi nada.

Entretanto o Blake tinha começado a vestir-se. Usava umas calças de ganga azuis, enquanto o tronco continuava nu e parecia estar mais sereno.

Tinha que enfrentá-lo absolutamente!

«Blake, preciso de saber» comecei com calma e decidida.

«O quê?».

Ganhei coragem.

«O que queres fazer de mim?».

Blake olhou-me por um instante, depois soltou uma risada amarga.

«Vejamos... Usaste escapar mais que uma vez, apesar das minhas ameaças. Ontem à noite esbofeteaste-me e não pareces querer te submeter a mim.... Superaste todos os limites, fazendo-me perder a paciência mais que uma vez. Asseguro-te que por muito menos, teria desfeito qualquer outro» confessou-me.

Estava decidida.

«Logo?» pressionei-o.

«Não sei. Existe em ti algo que quero descobrir, mas primeiro preciso de falar com uma pessoa» respondeu-me com um ar sério.

«Será que eu poderia voltar a estar com a minha tia, até que tu contates essa pessoa?» tentei.

«Não».

«Porque não?» lamentei-me.

«Porque decidi assim».

Perdi novamente a paciência.

«Mas quem és tu para decidires acerca da vida dos outros?» gritei irritada.

«Será possível que nunca consigas aceitar uma decisão minha sem levantar discussões?».

«Obviamente não, uma vez que isto diz respeito a mim e só a mim!».

«Devia consultar-te?» perguntou sarcástico Blake.

«Exato e dir-te-ia que sou absolutamente contra a ideia de permanecer presa nesta gaiola dourada. Não te apercebes do sacrifício que me estás a pedir».

Sabia que estava novamente a testar a sua paciência.

«Sacrifício? Eu sacrifico-me, não tu. Se fosse por mim, eu ter-te-ia devorado viva, pelo menos ias parar de chatear-me com as tuas queixinhas e fazer-me perder a calma com o teu odor tão irresistível. Contigo nas proximidades, tenho que estar sempre a controlar os meus instintos. Agradece que tenho um ótimo autocontrolo, em vez de ser como o Will! E como se não chegasse, às vezes o teu odor torna-se ainda mais doce e atraente, como há instantes atrás. Não sei o que aconteceu, mas tu, minha querida, és seguramente uma arma contra mim, uma vez que, mais cedo ou mais tarde, vais fazer-me enlouquecer. Desculpa incomodar-te, mas és tu a mais perigosa entre nós. Bem que o cardeal Montagnard alertou-me acerca de ti, avisando-me para não me deixar tentar ou haveria consequências. Quero descobrir o motivo deste teu cheiro tão hipnótico e depois decidirei se matar-te imediatamente ou transformar-te em vampira» explicou-me enfurecido.

«Não me agrada nenhuma das duas perspetivas» ripostei, fazendo-lhe perder completamente as estribeiras.

Com um passo firme, veio para cima de mim e prendeu-me pela garganta.

As suas mãos estavam geladas. Era a primeira vez que ele me tocava com a sua pele nua e foi eletrizante como sensação.

Não sabia explicá-lo, mas não conseguia assustar-me.

O meu coração começou novamente a bater cada vez mais forte, mas não de medo, mas por uma emoção indefinida muito mais profunda e impetuosa.

«Não tens medo». A sua não era uma pergunta, mas uma simples constatação. Era a verdade.

«Este perfume novamente» prosseguiu, percorrendo as mãos ao longo do meu pescoço com movimentos delicados.

Aproximou o seu nariz à cavidade da minha garganta.

Estava tão agitada pela sua proximidade, que não pensei na possibilidade que pudesse morder-me.

Sentia a ponta fria do seu nariz percorrer o meu pescoço até à face esquerda.

Parecia que tinha recebido um choque elétrico.

Os nossos rostos tocavam-se, podia sentir a sua respiração gelada sobre a minha pele, enquanto os seus olhos enfeitiçavam os meus, embalados naquele vértice de sensações nunca antes experimentadas.

Desta vez parecia ser ele a estar enfeitiçado por mim, enquanto o seu corpo encostou-se completamente ao meu. Através da camisola podia sentir os seus músculos contraírem-se contra mim, empurrando-me contra o balcão da cozinha.

Sem querer coloquei as mãos sobre a sua pele nua e ainda molhada. Era terrivelmente excitante sentir a sua pele macia e fresca.

Entretanto o seu olhar tornou-se ainda mais intenso, mas continuou impenetrável.

Queria perguntar-lhe o que estava a acontecer, mas não saiu nenhuma palavra da minha boca.

Dei-me conta de não ter nenhum autocontrolo.

Parecia que era vítima de uma força que agia sobre mim e sobre a minha mente.

Por uma fração de segundos os nossos lábios se tocaram, pegando-me fogo nas veias.

Fiz escorregar delicadamente as mãos pelo seu dorso até o seu peito, quando de repente tocou o telemóvel.

Foi como um banho de água gelada, que nos fez voltar bruscamente à realidade.

Afastamo-nos num átimo como se o contato com o outro nos tivesse escaldado.

Tinha o coração aos saltos e notei que o Blake estava ligeiramente abalado.

Pegou com demasiada força o telemóvel, enquanto lia o nome sobre o ecrã, de forma a que eu não me conseguisse aperceber.

«Marley, és tu? Finalmente! Onde estás?» responde aliviado, dirigindo-se à casa de banho.

Não consegui ouvir o resto da conversa, mas sabia que aquele homem era quem o Blake queria consultar para saber que riscos corria ao me transformar em vampira ou outra coisa qualquer.

Estava absolutamente decidida a descobrir como magoá-lo. Abatida, voltei ao quarto. A minha vida previa-se muito breve.

Mal cheguei às escadas para subir ao sótão, vi Blake vestido de negro sair a toda a velocidade do banho, pegar no impermeável e ir-se embora.

«Quando voltar, quero que estejas aqui» ordenou-me com um ar severo, antes de fechar a porta atrás de si.

A minha esperança de poder escapar desapareceu imediatamente, mal ouvi a chave girar na fechadura. Resignei-me a estar ali, a esperá-lo.

De certeza foi encontrar-se com o Marley nalgum lado.

Acendi a televisão e joguei-me no sofá, mas não tinha nenhuma vontade de ver televisão, assim depois de nem sequer meia hora, desliguei-a e fui para o quarto.

Estava preocupada com o que Blake descobriria naquele encontro, mas não queria pensar nisso.

Revistei no meio das suas coisas, mas não encontrei nada de interessante. Por fim, joguei-me na cama macia e deixei os pensamentos divagarem livres na mente, tentando esquecer onde estava.

Estava a relaxar-me, quando ouvi abrir a porta.

Seria que Blake já tinha voltado?

Debrucei-me sobre o corrimão e surge Will.

Estava sozinho e da agitação que mostrava parecia estar à procura de alguma coisa.

«Onde estás?» Sei que estás aqui.... Sinto o teu odor! Sai ou encontro-te eu!» gritou esfomeado.

Senti o sangue gelar-me nas veias.

Estava à minha procura.

Estava condenada.

O Blake não estava e de certeza que desta vez conseguiria saltar-me em cima e matar-me.

Estava a morrer de medo.

Apertei-me contra a cama na esperança que não me visse.

Da minha posição podia ver que o vampiro, cada vez mais impaciente, continuava a procurar-me por toda a casa, da cozinha à casa de banho.

Não demoraria muito a subir as escadas e a encontrar-me.

De facto, pouco tempo depois, ouvi-o subir as escadas dando risadas.

«Aqui estás!» disse, aproximando-se rapidamente com um olhar pouco tranquilizador.

Podia ver nos seus olhos a fome que tinha e o desejo de encontrar-me que lhe incendiava o corpo.

Não consegui dizer uma palavra. Estava paralisada.

Mais alguns passos e...

«Will, pára!».

Ouvi a voz sonante de Blake. Não conseguia vê-lo, porque tinha medo de desviar o olhar do Will, mas podia sentir a sua força.

Entretanto Will atirou-se sobre a cama e eu evitei-o por pouco, mas logo a seguir conseguiu segurar-me pela camisola e arrastar-me para debaixo dele.

Vi o seu rosto deformado pela ânsia e os dentes caninos que se alongavam, enquanto se aproximava cada vez mais de mim.

Gritei aterrorizada.

Já estava prestes a morder-me, quando Blake alcançou-nos no piso superior e bateu-lhe violentamente atirando-o para fora da cama, para longe de mim.

Recomeçaram a lutar de forma violenta.

Pareciam dois animais enlouquecidos, até que Blake empurrou o Will do corrimão abaixo, fazendo-o cair no piso inferior.

Debrucei-me para ver o seu cadáver esmagado lá em baixo, mas pelo contrário, vi Will levantar-se como se não fosse nada. Tinha uma força sobrenatural.

Ao meu lado, Blake atirou-se para baixo, onde recomeçou a bater-lhe ferozmente.

Só mais tarde notei a chegada de Peter, que com um salto felino lançou-se sobre as costas de Will.

«Blake, agarra a prata!».

Mesmo a tempo, Blake libertou-se de Will e correu para o sofá, levantou uma almofada branca e pegou numa grande moeda de prata.

Entretanto, desci ao piso inferior, tentando desviar-me da luta iminente. Estava terrivelmente preocupada que o Will pudesse fazer mal ao Blake.

Novamente, teria sido por minha culpa...

Entretanto Blake aproximou-se do vampiro e premiu-lhe a moeda na testa, fazendo-o gritar de dor. Após alguns segundos, vi o Will desmaiado por terra.

«Por algumas horas não nos dará mais problemas» murmurou Peter exausto.

«Obrigado, Peter. Se não me tivesses avisado, nunca chegaria a tempo».

«De nada. Não era preciso muito para perceber onde tinha intenções de ir, quando me chamou para dizer-me que não podia ir ao encontro com o Marley. Ao invés, tu surpreendeste-me! Pensava que o Will mentia quando me disse que o contato com a prata não tinha efeito sobre ti» exclamou o vampiro maravilhado.

«Pois».

«Compreendes que isto te torna único no nosso género e... Invencível!» admirou-o Peter.

«Não exageres... O que vamos fazer com ele?» Blake mudou de discurso, indicando o corpo desmaiado de Blake.

Estava por intervir e agradecer-lhes a ajuda, quando senti um frio terrível nas costas.

Voltei-me e percebi que estava mesmo em frente à porta de entrada escancarada.

Bastou-me apenas três passos e atravessei a porta. Dei por mim na estrada debaixo do céu coberto de nuvens.

Parecia que ia nevar.

Voltei a virar-me para os três vampiros em casa.

O Blake e o Peter estavam demasiado ocupados a mudar o Will de lugar para aperceberem-se de mim.

Aquela era a minha oportunidade. Tinha que fugir e procurar a minha tia.

Comecei a correr. Primeiro lentamente, pouco confiante, mas depois acelerei o passo.

Voltei-me. Ninguém me seguia.

Continuei a correr sem parar, até estar bem longe, numa estrada no centro de Dublin.

Fazia muito frio e muitas pessoas olhavam-me espantadas por eu usar apenas uma camisola.

Comecei a vaguear pela cidade sem destino. Não sabia o que fazer, nem quem podia contatar, uma vez que não tinha nenhum endereço, à exceção daquele da minha casa, agora abandonada.

Como poderia contatar alguém e fazê-los saber que estava livre e que podiam vir-me buscar?

Nem sabia onde ficava o Hotel Jolly e a cidade era enorme.

Por fim, tive uma ideia.

Dirigi-me a uma igreja qualquer.

De certeza que todos os padres conheciam o cardeal Siringer, pensei confiante.

Entrei na primeira igreja que encontrei.

Uma vez lá dentro, vi apenas uma velhota que acendia algumas velas.

«Desculpe-me, podia dizer-me onde posso encontrar o pároco da igreja» perguntei gentilmente à senhora.

«Está doente. Lamento. Se quiser falar com ele terá que esperar pela próxima semana» respondeu-me com cortesia.

Agradeci-lhe e saí da igreja desiludida.

Caminhei durante muito tempo pelas ruas.

Atração De Sangue

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