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Alguém sabia da localização do relógio enterrado e se preocupou o suficiente com ele para voltar a cada poucos meses para dar corda. Tal ação tinha que ter um motivo. Sentimentalismo seria uma possibilidade, mas isso exigia muito esforço, algo que provavelmente diminuiria com o tempo. Quem poderia querer que o relógio continuasse funcionando e por quê? Quando Slim virou o relógio, sua mente estava em branco. Ornamentado, sim, mas era apenas um relógio. Claro, o mecanismo do cuco fazia um barulho agradável, mas nada que pudesse ser ouvido do subsolo. Slim pensara que estava quebrado até que o passarinho de madeira saiu de sua caixa e o surpreendeu.

Slim recolocou o relógio embaixo da cama, vestiu o paletó e saiu noite afora. Era hora de entrar na coisa mais próxima que Penleven tinha de um bar noturno em busca de mais informações — o Crown. Pessoas bêbadas gostam de falar, mas se Amos Birch ainda tivesse inimigos, Slim provavelmente os encontraria.

Ele respirou fundo e empurrou as portas. Um relógio acima do balcão marcava nove e meia. Quatro rostos se voltaram para ele. Um velho estava sentado em um banquinho, seu rosto era um pano de prato enrugado rodeado por cabelos brancos rebeldes. Dois homens jogando cartas em uma mesa perto de uma lareira crepitante: um magro e de olhos fundos, como se considerasse a comida um inimigo mortal, o outro de rosto duro e com músculos de peão de obra. Tatuagens apareciam abaixo da bainha de uma camiseta apertada contra os bíceps inchados enquanto ele olhava para um par de setes antes de empurrar um punhado de moedas sobre a mesa.

"Cerveja?"

A quarta pessoa, uma mulher que Slim gentilmente chamaria de musculosa, e menos gentilmente de gorda, o observava de trás do bar. Sua blusa desabotoada revelava um decote triangular otimista o suficiente para desviar a atenção de seu rosto, onde sobrancelhas excessivamente grandes e um par ligeiramente azedo de lábios eliminavam qualquer possibilidade de beleza.

Slim hesitou, os olhos fixos no copo inclinado em direção à torneira de cerveja mais próxima. Seria tão fácil desfazer tanto trabalho. Com um nó no estômago, ele disse: "Estou dirigindo," em uma voz tímida que não parecia a sua.

"Não ouvi barulho de carro."

Ela levantou a cabeça do balcão. Seu seio estremeceu um pouco e Slim se forçou a não olhar. Ela estava do lado errado dos quarenta, mas provavelmente menos errada do que ele próprio.

"Amanhã," murmurou ele.

Ela assentiu com a cabeça. "Na torneira é de graça. Serve? Provavelmente está perto da validade, mas tem gosto de mijo de qualquer maneira."

"Está tudo bem."

Slim sentou-se em um banco ao lado do balcão, deixando um espaço vazio entre ele e o velho. Os dois homens jogando cartas estavam atrás dele, seus contornos refletidos em uma adega de vidro atrás do bar.

"Você é o rapaz que come na sala de estar," disse o velho. "É tímido? Não tem ninguém de quem ter medo aqui."

Slim estava preparando uma resposta quando a mulher disse: "É ele quem anda perguntando sobre o velho Amos."

Antes que Slim pudesse responder, ela acrescentou: "Não temos muito do que falar em um lugar como este. Você é a maior fofoca praticamente desde que ele fugiu."

Ela bateu uma cerveja espumante no descanso de copo mais próximo dele. Slim olhou para o copo com suspeita. Sem álcool, podia ser, mas parecia muito com a de verdade.

"Não, houve o falecimento da Mary, depois teve a Celia, e depois..."

"Tá bom, Reg, foi jeito de dizer."

"Eu gosto de um bom mistério," disse Slim.

"Ouvi dizer que você era detetive particular," disse a mulher. "Tá de olho em alguém?" Ela piscou e depois caiu na gargalhada, batendo na beirada do balcão com uma das mãos.

"O marido de June a deixou," disse Reg. "Eu tomaria cuidado. Ela tá na seca."

"Pode esquecer!" disse June. Então, para Slim, adicionou, "Ignore ele. Metade do tempo, ele não faz ideia do que tá acontecendo."

Slim sorriu enquanto deixava o papo correr por um tempo. Logo ficou nítido que Reg era um cliente regular, do tipo sempre presente que mantinha um pub aberto durante o inverno longo e escuro. Depois de meia hora, um casal de meia-idade entrou, ocupou uma mesa na outra extremidade do bar e fez um pedido que manteve June ocupada por um tempo. Slim tomou um gole de sua água que parecia cerveja e tinha gosto de metal, assentindo enquanto Reg contava histórias da vida no campo tão facilmente esquecíveis que, quando Reg começou a falar sobre um trator quebrado, Slim tinha certeza de já tê-lo ouvido antes.

Eventualmente, como ele esperava, a conversa chegou em Amos Birch.

"Sabe, eu era um pouco mais novo, mas nós fomos para o mesmo primário. Tinha um em Boswinnick, mas hoje não existe mais. Eu fui ao ginásio em Liskeard mas Birch nunca foi lá. Alguns diziam que ele era meio estranho, sabe, mas nessa época você não tinha que ir para a escola por tanto tempo. Seu pai administrava a fazenda Worth, precisava da ajuda dele. Quando o velho morreu, a fazenda era dele. Muita gente estranhou quando Celia a vendeu. Dizem que você pode encontrar Birches na fazenda Worth até no livro de Domesday. Vendeu um legado, foi o que essa menina fez."

"Porque?"

Reg suspirou. "Ah, quem sabe? Não gostavam muita da menina por aqui, por um motivo ou por outro. Não se encaixava no lugar, como vocês da cidade dizem."

Slim tinha mais perguntas, mas Reg tomou o último gole de sua bebida e se levantou.

"Bem, para mim já deu. Boa noite para você."

Slim viu ele sair. Atrás dele, os dois homens continuavam seu carteado. June voltou depois de servir a comida e pareceu surpresa ao ver que Reg tinha ido embora.

"Ele acabou de sair," disse Slim.

June franziu a testa. Ela ia dizer alguma coisa quando uma cadeira foi arrastada e o homem tatuado se levantou. Slim escutou seus passos conforme ele andou até o balcão. O sexto sentido militar de Slim detectava tensão, uma ameaça.

Ele não se moveu quando o homem se inclinou perto dele. Um hálito morno de cerveja soprou em sua orelha.

"É melhor tomar cuidado para não fazer perguntas demais," disse o homem. "Alguns pessoas podem gostar de falar, mas outros podem preferir que o passado fique onde está."

"Michael, já chega," June disse em voz baixa.

Slim ficou tenso. Seus músculos do exército tinham amolecido nos dezoito anos desde sua despensa desonrosa, mas conhecia ainda um truque ou outro se viesse a uma luta. Esperou para ver o que aconteceria. Michael manteve sua pose ameaçadora por mais alguns instantes, então se virou e voltou para sua mesa.

Slim bebeu o resto de sua cerveja e se levantou. "Acho que eu vou indo," disse ele.

June lançou-lhe um olhar triste e, em seguida, desejou-lhe boa noite.

Do lado de fora, um vendaval havia começado, sacudindo as sebes, lançando rajadas de chuva do escuro que atingiam o rosto de Slim antes de recuar como um animal predador. Slim levantou o paletó ao redor do pescoço e se abaixou, se perguntando o que ele havia ganhado, se alguma coisa, de sua visita ao pub.

As luzes da hospedaria apareceram por entre as árvores quando Slim fez uma pausa. Um som constante de batida vinha mais alto que o vento.

Pés correndo.

Slim amaldiçoou suas próprias reações lentas. O recém-chegado estava perto demais para ele se esconder; sua silhueta seria visível contra o céu cinza para alguém com olhos acostumados ao escuro.

Ele se virou, erguendo os punhos, esperando o ataque de Michael, esperando que o homem não tivesse tido tempo de encontrar uma arma.

O grito baixo de uma mulher veio de uma forma feminina que parou tropeçando atrás dele.

"Slim?"

"June?"

A mão dela tocou seu ombro. "Slim, não posso demorar. Tenho que voltar logo. Eles acham que eu estou na cozinha. Eu só queria pedir desculpas pelo Michael."

"Já passei por coisa pior."

"Ele normalmente não é assim. É só que... ele e Celia estavam juntos. Você sabe, naquela época."

"Que época?"

"Quando Amos desapareceu. Michael era namorado de Celia na época."

"E o que isso importa?"

"O desaparecimento de Amos... eles estavam noivos na época, mas depois ela rompeu com ele e ele nunca se recuperou."

O Segredo Do Relojoeiro

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