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Capítulo 2

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Ficaram isolados do mundo e Matteo, sem ter dito nada, entrou, fechou a porta com um pé e pegou nela ao colo.

Ela introduziu os dedos entre o cabelo da sua nuca sem deixar de olhar para ele nos olhos enquanto subia as escadas e a levava para o quarto. Uma vez lá, deitou-a na cama, fechou os olhos e beijou-a nos lábios.

Esse sabor…

Quando ela afastou os lábios e ele se apoderou da sua boca com a língua, foi dominado pelo sabor doce e embriagador que não esquecera e soube que estava perdido.

Despiram-se entre beijos embriagadores e atiraram as roupas à sorte, desejavam estar nus e colar os seus corpos. Matteo esticou-lhe o cabelo com as mãos e devorou-a.

Não pensavam nem falavam, só estavam dominados por essa loucura incontrolável.

Segurou os seios pequenos e perfeitos e levou-os à boca. O gemido de prazer fez com que o sangue bulisse. Acariciou-lhe a barriga com as mãos e com a língua, deleitou-se com ela. Nunca vivera uma coisa dessas, algo tão devastador e primitivo, essa necessidade de a saborear e de a marcar.

Natasha sentia-se à deriva num mundo onde não estivera antes. Matteo era a sua âncora e agarrou-se a ele como se fosse a única coisa a que podia agarrar-se. Acariciava toda a pele que podia com as mãos ávidas.

O seu primeiro beijo, há sete anos, despertara algo nela, um calor que aumentava devagar, até a direção da sua vida o sufocar. Naquele momento, ele reacendera-o e as chamas chegavam até ao último canto do seu corpo. O desejo era tão intenso que não sabia onde o prazer acabava e a dor começava. Podia chorar de emoção, todos esses anos a viver sem aquilo…

E não era suficiente, precisava de mais, precisava de tudo.

Matteo, como se tivesse percebido, percorreu-lhe a barriga com a língua, chegou aos seios e continuou até à boca. Beijou-a com tanta paixão que a deixou com falta de ar. Afastou-lhe uma coxa com uma mão, ela afastou a outra e rodeou-o com as pernas. A ereção tocou no centro da sua feminilidade e ela susteve a respiração devido ao tamanho e à dureza. Depois, respirou fundo quando a penetrou.

Não sentiu dor, só sentiu o fogo que a queimava por dentro e um desconforto leve enquanto o corpo se adaptava a essa novidade vertiginosa. Então, Matteo ficou imóvel e foi como uma pausa no frenesim.

Com medo de que tivesse percebido algo estranho, agarrou-o pela cabeça e beijou-o com voracidade. Então, esqueceu tudo menos esse momento, a sensação de o ter dentro dela, o prazer que se apoderava dela, até as palpitações lhe rasgarem todo o seu ser.

Enquanto assimilava essas sensações maravilhosas, Matteo acelerou os movimentos, beijou-a na boca, gemeu entre os seus lábios e tremeu, antes de cair em cima dela.

Ficaram assim por um instante, sem dizer nada, ofegantes, com os corações a bater ao mesmo ritmo e abraçados com força.

Então, como se todas as sensações se tivessem apagado, algo foi ocupando o seu lugar, o espanto.

Ouviu que Matteo engolia em seco, que se afastava dela, se virava, se sentava na beira da cama e praguejava, primeiro, em italiano e, depois, em inglês.

Ficou gelada.

Alegrou-se por estar deitada, porque, se estivesse de pé, teria perdido as forças. O que tinham feito? Como acontecera?

Não conseguia explicá-lo e duvidava muito que ele conseguisse. Olhou fixamente para o teto e respirou fundo para conter uma náusea. Se conseguisse descongelar as cordas vocais, certamente, também praguejaria.

Matteo respirou fundo para se acalmar, levantou-se e começou à procura da roupa. Tinha de sair daquela casa naquele preciso instante. Encontrou a camisa por baixo do vestido dela e uma meia presa ao sutiã.

Sentiu uma náusea.

O que fizera? Porque saíra do maldito carro? Porque não se fora embora?

Vestiu as calças pretas, sem se incomodar em abotoá-las, e também vestiu a camisa sem se importar que estivesse ao contrário.

A outra meia caíra por baixo do pequeno toucador com uma jarra com flores secas. O facto de, evidentemente, ser um quarto de hóspedes, era o único consolo que conseguia encontrar.

Pôs as meias nos bolsos do casaco, calçou os sapatos e foi até à porta. Então, quando ia sair a correr, pensou em algo que foi como uma martelada no cérebro. Cerrou os punhos enquanto se insultava pela sua estupidez total e absoluta. Virou-se e observou-a.

Ela não se mexera. Agarrava os lençóis e tinha o olhar fixo no teto. Então, como se tivesse sentido o peso do seu olhar, virou a cara para ele com os olhos esbugalhados de espanto.

Essa expressão confirmava tudo e não era preciso dizer nada.

Natasha sabia tão bem como ele que a loucura que se apoderara deles fora incontrolável e que não tinham usado um preservativo.

Ele também sabia que Natasha não tomava a pílula. Pietro contara-lhe que estavam a tentar ter um bebé.

Matteo, embargado por mil sentimentos, foi-se embora sem falar, atravessou a rua com quatro passadas e entrou no carro.

Uma vez lá dentro, deu rédea solta a toda a raiva que acumulara, bateu no volante com todas as forças e, depois, agarrou a cabeça.

Passaram vinte minutos até se sentir suficientemente tranquilo para conseguir conduzir e nem sequer voltou a olhar para a casa.

Duas semanas depois

Natasha tinha de fazer um esforço sobre-humano para não roer as unhas, mas ainda lhe custava mais não abrir uma das garrafas de vinho branco que tinha no frigorífico desde o enterro de Pietro. Não bebia desde o velório e, se começasse, tinha medo de não parar.

Francesca, a qualquer momento, ia falar-lhe dos planos para o hospital que iam construir em honra de Pietro. Como seria de esperar, a cunhada demorara apenas uma semana a comprar o terreno e a conseguir todas as licenças necessárias. Certamente, a cunhada era uma das mulheres mais decididas que conhecera. Gostaria de ter metade da sua energia e tenacidade.

Parecia-lhe que perdera toda a energia que tivera. Sentia-se muito cansada, como se pudesse dormir para sempre.

Não sabia de onde saíra essa letargia e tinha de presumir que era uma daquelas fases do luto de que lhe tinham falado. Aparentemente, todos eram peritos em luto, todos a observavam e todos esperavam que se desmoronasse.

Além disso, e apesar de tudo, estava magoada, mas não pelo motivo que todos pensavam. A dor não era por causa do futuro que perdera, mas pelos sete anos que Matteo e ela tinham desperdiçado… E também se misturavam as náuseas que sentia cada vez que se lembrava de como a noite do funeral acabara. Não queria pensar nisso, mas fazia-o, por muito que tentasse bloquear as lembranças.

A campainha tocou.

Soprou e tentou recompor-se antes de a empregada abrir a porta a Francesca. Ouviu os passos no chão da casa enorme onde vivera com Pietro e Francesca entrou no escritório, acompanhada pelo irmão Daniele. No entanto, a figura que apareceu atrás do cunhado deixou-a em choque.

Como era costume entre a família italiana, beijaram-se e abraçaram-se efusivamente entre palavras de consolo sussurradas… Até ter de cumprimentar Matteo.

Preparou-se, pôs-lhe uma mão no ombro enquanto lhe punha outra na anca e representaram um gesto inevitável se não quisessem levantar suspeitas.

Quando sentiu a barba incipiente na face, teve de fechar os olhos com todas as forças para tentar não ver a lembrança dessa mesma barba a tocar-lhe no interior da coxa, algo que tinha de esquecer. No entanto, conseguia cheirar a pele e o perfume dele, conseguia sentir a força do corpo, conseguia sentir os caracóis morenos por baixo dos dedos…

Fora um erro enorme, algo que não tinham de expressar com palavras.

Não sabia se era possível odiar-se tanto como ela se odiava. Não devia nada a Pietro, mas…

Simplesmente, não conseguia acreditar que acontecera, não conseguia acreditar que perdera o domínio sobre si própria, não conseguia entender como ou porque acontecera.

Era como se uma espécie de loucura se tivesse apoderado dos dois.

Durante uma hora, deixara de ser a menina que fizera algo para agradar aos pais, que renunciara à vida que desejara e mostrara a mulher que nunca deixara que existisse.

A última coisa em que pensara fora a… proteção, tinham sido néscios e irrefletidos.

Francesca não lhe dissera que viria com o irmão e o primo e não pensara em perguntar-lhe. Daniele e Matteo geriam umas empresas incrivelmente prósperas que os levavam por todo o mundo e pensara que a sua contribuição para o hospital, sobretudo a de Matteo, chegaria mais tarde.

Então, olhou melhor para Francesca e compreendeu porque Daniele, pelo menos, ficara em Pisa. A cunhada parecia mais consumida do que no funeral, melhor dizendo, parecia que se apagara a luz que sempre a iluminara por dentro. Daniele nunca abandonaria a irmã nesse estado.

Francesca também olhou para ela com atenção.

– Como estás? Estás pálida.

– Só estou cansada.

– Seguras as costas, doem-te?

– Um pouco.

A empregada chegou com uma bandeja de café com biscotti e pararam de falar da saúde de Natasha. Sentaram-se ao redor da mesa de sala de jantar onde Francesca deixara os documentos. Natasha já nem sequer se lembrava deles. Estar com Matteo sob o mesmo teto fazia com que o seu cérebro parasse.

Porque viera? Para a torturar?

Aceitara essa tortura cada vez que o vira durante os últimos sete anos. Deixara que a beijasse e depois, algumas horas mais tarde, aceitara casar-se com outro homem e fizera-o à frente dele e de todos. E fora com o primo e melhor amigo. Naquele momento, deveria ter-lhe dito que ia casar-se com Pietro, mas esquecera tudo com o beijo.

As coisas teriam mudado se lhe tivesse dito, tanto nesse momento como semanas antes, quando as intenções de Pietro se tinham tornado claras ou o resultado teria sido o mesmo?

Ligara-lhe e deixara dúzias de mensagens, mas Matteo não atendera nem reagira. Tirara-a da sua vida.

No entanto, se as coisas tivessem sido de outra forma, teria sido mais feliz? Há muito tempo que não pensava assim. Matteo não era o homem que ela pensara que era, nenhuma mulher com a mínima prudência quereria passar a vida com esse homem, a não ser que fosse masoquista. Não só se transformara num homem que adorava o dinheiro desde que achara ter estado apaixonada por ele, como também se tornara lascivo. Nenhum homem que tinha uma mulher diferente todas as semanas quereria assentar com apenas uma.

Daniele tomou as rédeas da reunião e explicou como estava o projeto e que Matteo e ele tencionavam viajar para Caballeros durante as próximas duas semanas. Esperava-se que a construção começasse pouco depois.

– Tão cedo? – conseguiu perguntar ela.

– É Caballeros, não a Europa – respondeu Daniele. – A burocracia não é como aqui.

– Tiveste alguma ideia para a publicidade? – perguntou Francesca.

– Lamento muito, mas não. Vou começar a pensar e envio-vos algumas ideias um dia destes.

Esfregou a cabeça com a esperança de não estar a prometer algo que não ia conseguir cumprir. Quanto mais publicidade tivessem, mais doações receberiam e, quantas mais doações recebessem, mais pessoal poderiam contratar.

Ela, como familiar mais próxima de Pietro, era a responsável. Tudo o que dizia respeito à fundação do marido recaía sobre os seus ombros e, até à data, evitara qualquer responsabilidade… e evitaria todas as responsabilidades, se dependesse dela.

Em algum momento, em breve, teria de pensar nas coisas com clareza, mas, naquele momento, tinha a cabeça tão cheia e dispersa ao mesmo tempo que não conseguiria decidir o que queria comer ao pequeno-almoço.

Não podia continuar assim. Não sabia se era por causa do choque da morte de Pietro ou por causa do que acontecera com Matteo, mas tinha de recuperar a integridade.

Tinha um futuro pela frente e, mais cedo ou mais tarde, teria de decidir o que queria fazer com ele. Até ao momento, e que ela soubesse, passá-lo-ia sozinha. Não voltaria a casar-se, não voltaria a permitir que alguém, nem um homem nem os pais, tivesse o controlo da sua vida.

– Não há pressa. – Francesca fez um ar de cansaço. – No fim da semana que vem, seria bom.

O suplício acabou finalmente. A família levantou-se e ela também tentou, mas enjoou-se tanto que teve de se agarrar à beira da mesa.

Francesca, que estivera sentada ao seu lado, foi a primeira a perceber e agarrou-a pelo pulso.

– Passa-se alguma coisa?

Natasha abanou a cabeça.

– Só estou cansada. Certamente, deveria comer alguma coisa.

Francesca observou-a antes de ceder.

– Sabes onde estou se precisares de alguma coisa.

Era uma oferta risível se se tivesse em conta que Francesca tinha tão mau aspeto como devia ter, mas a cunhada fizera-a de coração e não se riria, mesmo que tivesse as forças necessárias.

Sentiu que ardia com o olhar, igualmente penetrante, de Matteo e só pôde respirar com tranquilidade quando todos se foram embora.

Mandou a empregada fazer uns recados. Precisava de estar sozinha e agradeceu a Pietro por ter acedido a deixar que o resto dos empregados fossem externos, como ela pedira. Era triste que tivesse tido de pedir essas coisas…

Fora tudo triste no seu casamento e a sua duração fora a menor das tristezas. Não tivera nenhuma autonomia.

Já passara o enjoo e percebeu que tinha fome. Tivera náuseas ao acordar e saltara o pequeno-almoço, o que evitara ter de tomar a decisão do que comer e, além disso, conseguira esquecer-se de almoçar.

Abriu o frigorífico e tentou pensar no que lhe apetecia comer. A empregada deixara-o bem sortido e podia escolher demasiadas coisas. Depois de deliberar, pegou num pedaço de queijo e procurou umas bolachas para o acompanhar.

O estômago queixava-se quando finalmente desembrulhou o queijo, mas sentiu um vómito ao cheirá-lo. Atirou o pedaço de queijo para o lixo. Levou uma mão à barriga, tapou a boca com a outra e respirou fundo com a esperança de que as náuseas passassem.

Tinham acabado de passar quando a campainha da porta tocou.

Ficou imóvel e pensou se devia abri-la ou não. A casa estivera cheia durante as últimas duas semanas e só queria estar sozinha.

Voltou a tocar.

Podia ser a sogra… Vanessa, a mãe de Pietro, visitara-a muitas vezes desde que se tinham casado e visitara-a ou ligara-lhe todos os dias desde que o filho morrera. O que estava a sentir não podia comparar-se com o que Vanessa sentia.

Mesmo assim, embora continuasse a tentar convencer-se de que ia encontrar a sogra adorável à porta, não pôde surpreender-se quando viu Matteo.

– O que queres? – perguntou Natasha, agarrando-se à ombreira da porta.

– Quero dar-te isto.

Deu-lhe uma caixa comprida e estreita, um teste de gravidez.

Poder e desejo

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