Читать книгу A Noite Escura Da Alma - Aldivan Teixeira Torres, Daniele Giuffre' - Страница 9
O caminho até a montanha
ОглавлениеFinalmente o carro chega ao destino e para. Imediatamente, agarro minha mala e com convicção saio. Ao sair, começo a vislumbrar todo o aspecto do centro do lugarejo. À primeira vista, parece-me bastante tranquilo e aconchegante como da outra vez. Começo a avançar e de encontro a mim vêm alguns conhecidos, que ao se aproximarem oferecem ajuda. Agradeço e aí começa um bate-papo rápido. Depois de um breve intervalo, eu me despeço, servindo de justificativa negócios importantes e urgentes na montanha.
A caminhada recomeça e com ela carrego a pesada mala e as indesejadas preocupações. O que me espera ao galgar completamente a montanha por uma segunda vez? O segredo da noite escura seria realmente revelado? Como estaria a querida guardiã? Estas eram algumas das perguntas que povoavam o meu cérebro.
Continuo a caminhar e pela primeira vez me sinto cansado. As circunstâncias me obrigam a parar um pouco e novamente uma angústia invade completamente o meu ser. O que estava acontecendo comigo? Onde estava o espírito, a fé e as forças do aventureiro que há um ano iniciou o seu sonho? No momento, tudo me levava a crer que eu não era mais o mesmo. Antes de me desesperar por completo, resolvo analisar imparcialmente a situação: No breve e intenso período pós-gruta ocorreram situações bastante adversas que me fizeram repensar o homem que eu era. No entanto, naquele momento concluo que era necessário a volta do eu sonhador. Sem ele, certamente não seria capaz de enfrentar todos os obstáculos que porventura me separassem da completa compreensão da noite escura da alma. Pensando nisso, inspiro e expiro fortemente procurando uma força capaz de me guiar, e quando acredito que a alcancei, retomo a caminhada. Neste instante, já me sinto mais tranquilo e reconfortado, apesar de estar apenas no sopé da montanha.
Avanço um pouco além do sopé e as vozes da montanha começam a atuar. Sinto-me confuso e tonto, pois elas são bastante fortes. Como da outra vez, elas tentam me convencer a desistir do percurso. Além das vozes, meu sexto sentido é submetido a uma sequência de imagens. Nelas, vejo fogo, dor, ações desumanas, traições, o encontro das forças opostas e a noite escura da alma. Por um momento, perco a consciência e me vejo nos tempos do Brasil colônia. Eu vejo o início, meio e fim de tudo. Nesta respectiva visão, vejo o primeiro contato dos inocentes donos do Brasil, os índios, com os estrangeiros que atrás do jeito amistoso escondem segundas intenções. Eles são bem recebidos, e sem que os anfitriões desconfiem, procuram por todo lado maneiras de encontrar riquezas. Em sua primeira tentativa, não encontram o esperado e se retiram. Um tempo depois voltam e com brutalidade escravizam os índios, exploram as riquezas naturais e isto proporciona um dos maiores massacres étnicos de toda a nossa história. Isto representa o fogo da noite escura da alma, um fogo que destruiu vidas, sonhos e esperanças.
Noutro instante me vejo em campos de concentração nazistas, na segunda guerra mundial. Nesta visão, é bem claro o aspecto da noite escura dos opressores, pois eles agem com falsidade, astúcia, frieza e maldade sem limites. Sou submetido a cenas bem fortes de violação aos direitos humanos e isto me faz cair em prantos. Como há seres humanos, imagem do Criador, capazes de tantas atrocidades e com tanto ódio? Pessoas assim, nacionalistas e preconceituosas, fazem com que Satanás pareça realmente um anjo. Isto representa a dor da noite escura da alma e é um caminho sem volta.
No instante posterior, sou transportado para uma grande explosão vegetal, mais precisamente à floresta amazônica. Sobrevoo a região e em dado momento vejo um clarão na densa mata. Resolvo então descer para mais averiguações. Sem muita surpresa, encontro homens usando os mais variados tipos de instrumentos, com o objetivo de derrubar a maior quantidade de árvores possível, numa área que era para ser de preservação ambiental. A situação novamente me faz chorar e amaldiçoo a sede de poder e de riquezas que é a causa de tudo isso. Em outro local, não muito longe dali, a noite escura se completa com a matança indiscriminada da fauna. Fico irado com a situação e me pergunto: Com que direito o homem age dessa forma? Não somos os donos desse mundo, mas apenas hóspedes passageiros que deviam preservá-lo e respeitá-lo. Neste ritmo, sequer teremos um futuro para as próximas gerações. Isto representa as ações desumanas da noite escura.
O tempo passa mais um pouco e me vejo em Jerusalém, a cidade santa. Vejo um homem simples, filho de carpinteiro, ensinando, admoestando, exortando, realizando curas, milagres e abrindo as portas do céu para todos os pecadores. Ao mesmo tempo, vejo a inveja de uma minoria poderosa planejando uma cilada para o mestre. A fim de atingir seu objetivo, eles se associam ao inimigo, a Satanás, personificado em Judas. Com a sua ajuda, eles conseguem prender o mestre e se aproveitam da situação para torturá-lo, humilhá-lo até o ponto de matá-lo. No entanto, nem mesmo a morte é capaz de derrotar ou destruir aquele que junto com o seu pai criou a vida. Depois de três dias, ele ressuscita glorioso do sepulcro enquanto que o traidor já está morto e entregue aos tormentos que a noite escura proporciona. Depois de ressuscitar, Jesus aparece a seus seguidores e faz algumas recomendações. Dentre elas, ele é bastante claro em não dá margem ao preconceito, seja ele qual for. Todo, sem exceção, tem direito à vida em abundância e a salvação da noite escura da alma é possível para os que creem nele. Isto representa a traição da noite escura da alma e ai de quem trair.
Noutro momento me vejo na luta que foi o encontro das forças opostas e o surgimento das dúvidas com relação à noite escura da alma. A batalha final do livro anterior me mostrou o quanto o bem é poderoso e pode transformar vidas. A única condição para que isso aconteça é que devemos nos libertar de todo e qualquer sentimento ruim como o ódio, a inveja, a mesquinhez, a intriga, o egoísmo, o auto-ego entre outros. Depois de ver todas essas situações, o turbilhão de imagens na minha mente começa gradativamente a desaparecer. Instantes depois retomo a consciência e já me sinto bem. Decido então retomar imediatamente a caminhada, pois o topo ainda está longe.
As vozes da montanha param e com isso começo a subir a montanha mais tranquilo. O medo, a vergonha e a inquietação foram deixados para trás. Penso nas imagens que fui submetido e isto me deixa com a vontade da descoberta. O que me esperava? Sinceramente não sabia. Seja o que fosse eu já me sentia preparado para enfrentar e superar desafios. Afinal, eu era o vidente, um ser superdotado de dons que foi o único homem a enfrentar a gruta do desespero e vencer.
Com o objetivo de buscar respostas para os meus anseios mais profundos, avanço ainda mais e logo consigo concluir um terço do trajeto total. Nesse exato momento, eu novamente paro para descansar. Aproveito para reidratar o meu corpo e mente. No segundo posterior, vêm à mente os esforços da subida anterior e como eu me sentia sozinho e inexperiente naquele fim de mundo. Eu era apenas um sonhador que buscava o último fio de esperança para realizar os meus sonhos através duma gruta milagrosa e que conseguiu o grande feito de sobreviver a uma subida íngreme. Depois da subida, relembro os momentos que passei lá, incluindo a guardiã, o fantasma, o jovem, o menino Renato, os desafios e a entrada na gruta mais perigosa do mundo. Realizei parcialmente os meus sonhos com a vitória que alcancei, mas a situação atual é totalmente diferente: Eu agora sou o vidente em busca da segunda etapa de evolução. A primeira tinha sido cumprida, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Estava na segunda que era descobrir a noite escura da alma, essa mesma noite que a guardiã citou no nosso último encontro. Uma noite que era capaz de salvar ou condenar o indivíduo.
Retomo a caminhada vagarosamente, com o intuito de poupar forças, pois ainda era manhã e eu ainda tinha todo o tempo do mundo para me preparar para o reencontro com a guardiã, essa estranha senhora que eu ainda não conhecia direito. Quem era ela? Nem eu mesmo sabia, apesar de ter convivido por mais de sete dias com ela. O que eu tinha certeza é que ela tinha sido de grande ajuda para entender minhas forças opostas e reuni-las como eu fiz. Agora, eu não acreditava que fosse diferente e me sentia pronto para novos desafios e revelações, mesmo que para isso eu tivesse que me sacrificar. Afinal, o conhecimento tem seu preço e estava disposto a pagá-lo integralmente.
Continuo a caminhar a ritmo lento, mas, constante, ultrapassando a metade do percurso. De relance, olho para baixo e lá está meu querido arruado chamado Mimoso. Ao observá-lo e analisá-lo concluo que ele é muito importante para mim, pois foi exatamente nesse local que tive a minha primeira aventura: Viajando no tempo, corrigi injustiças, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Os momentos que passei lá foram momentos de crescimento crítico, humano e espiritual que nunca vou esquecer. Lembrando-me de todos os fatos passados, penso que eu era justamente mais preparado agora por conta disso.
Passado algum tempo de êxtase, volto a me concentrar no meu objetivo, olhando fixamente o caminho que dá acesso ao topo da montanha. Neste momento, as pedras se mexem parecendo querer dizer alguma coisa. Será que eu estava indo para a perdição? Será que essa noite escura não seria demasiadamente perigosa? Bem, era o que eu ia tentar descobrir e já estava bem próximo disso, pois já ultrapassava 3/4 do trajeto. Este fato me trazia felicidade e isto era uma conquista da minha última aventura, pois exatamente na gruta me deparei com três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Pensando nisso, relembro que minha sabedoria foi decisiva para que eu escolhesse a porta da felicidade e desprezasse as demais. Desta feita, tomara que eu tenha a mesma inspiração.
Volto a caminhar e depois de mais alguns passos já me encontro bem próximo do topo, este mesmo topo acolhedor que da última vez realizei desafios. Foram três no total, e avaliaram a minha capacidade e competência. Só depois de passar nos testes da vida é que pude entrar na bendita gruta e iniciar uma aventura que culminou na reunião das forças opostas. Desta vez, acredito que não deve ser diferente, mas não tenho ideia do que me aguarda. Afinal, conheço bem pouco o tema em questão.
Reúno minhas forças restantes para continuar caminhando e tentar descobrir o inimaginável. Mais alguns passos e finalmente consigo chegar ao topo. Ao chegar, sinto o sol brilhar mais forte, uma brisa suave passa ao redor, e posso escutar claramente vozes alteradas. O que elas revelam é totalmente secreto e não posso revelar. Para ter acesso ao seu entendimento e conteúdo é necessário subir a montanha sagrada como eu fiz.
O novo desafio está lançado. Continuemos juntos, leitor.