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CAPÍTULO UM

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Dezembro de 1817, Yorkshire

Adam Brighton, visconde de Radcliffe, entrou no escritório do duque de Danby com uma sensação de aperto em seu íntimo. Seu tio-avô o convocara até o castelo de Danby havia duas semanas, deixando-o sem nenhuma escapatória. Adam fizera o possível para evitar o duque e conseguiu permanecer em Londres no ano anterior mas, nesse caso, foi inevitável. Danby prometera ir a Londres caso Adam não fosse a Yorkshire. Um risco que Adam não queria.

Adam se acomodou na cadeira que Danby indicou e então enfrentou o olhar de seu tio-avô. Ele havia envelhecido nos últimos dois anos, mas ainda mantinha uma boa saúde. E, com base na mistura de preocupação e malícia presentes em seus olhos, Danby planejava concentrar bastante atenção intrometendo-se nos assuntos de Adam naquela temporada de Natal.

– Diga-me, como tem passado? – Danby deu um sorriso jovial.

A disposição alegre de Danby não enganou Adam. Danby era um homem formidável, e ele bem sabia disso. Adam não havia sido convocado para o castelo para discutir como estava. Mesmo assim, ele retribuiu o sorriso de seu tio.

– Estou bem.

– Os rumores sobre o seu comportamento pouco desejável, como beberrão, desordeiro e mulherengo, chegaram até aqui, em Yorkshire. – Danby se inclinou para a frente, estudando Adam com nítidos olhos azuis. – Acredito que a hora de você se casar está chegando.

Ali estava. A verdadeira razão de Danby exigir a presença de Adam – e a coisa que ele mais queria evitar. Adam soltou um suspiro.

– Não estou pronto para ser algemado.

De alguma forma, Adam escaparia dos esforços de casamenteiro de Danby. Ele poderia não ter tido escolha se iria ou não até o castelo mas, com certeza, teria algo a falar sobre quem e quando se casaria. Adam não se importava em pensar sobre quem, naquele momento, porque o quando não ocorreria por mais alguns anos. Não se encontrava pronto para abandonar a sua liberdade ainda – independentemente do que o seu tio exigisse.

– Bobagem. – Danby o olhou, com expressão fechada. – Uma boa mulher é exatamente aquilo de que você precisa.

– Não serei forçado a me casar. – Adam devolveu o olhar severo.

– Você permanecerá aqui durante a temporada de Natal e participará das festividades. Além disso, exijo que passe algum tempo com lady Edith Voss.

– Tio…

Danby moveu a mão de modo autoritário, enquanto continuava dando as suas ordens.

– Ela é uma menina doce e afável. A própria imagem do decoro e exatamente o que você precisa.

Adam podia pensar em várias coisas de que precisava, nenhuma delas incluía uma dama adequada, escolhida pelo seu tio-avô. No minuto em que terminasse aquela conversa, ele procuraria uma bebida forte e a companhia de uma mulher disposta – uma que ele escolhesse. Talvez fizesse uma visita a Cristiana. Não a viu em dois anos. Será que ainda a encontraria como a viúva disposta e lasciva que era, quando a visitou pela última vez?

– Adam. – Danby dirigiu-lhe o seu perscrutador olhar azul.

– Estou ouvindo.

Danby apertou os lábios até formar uma linha apertada.

– Estou, de verdade. É seu desejo que eu passe algum tempo com lady Edith Voss, e assim farei. – O que Adam não conseguiu transmitir foi que ele não passaria mais tempo do que o necessário com a dama, e que certamente não a cortejaria.

– Ótimo. – Danby recostou-se na cadeira. —Você está dispensado.

Adam não perdeu tempo, afastando-se às pressas do escritório e das exigências do duque. Atravessou rapidamente os corredores, desceu as escadas e saiu para buscar o seu cavalo. Até mesmo um uísque poderia esperar, pois quanto menos tempo ele passasse no castelo de Danby… melhor.

Ele cavalgou sem descanso pela zona rural de Yorkshire até chegar à casa de Cristiana. Por ele, ela o receberia com a mesma paixão que lhe concedera no passado. Visões do corpo exuberante dela encheram sua mente, e ele se perguntou por que se despedira dela tão precipitadamente.

Ele e Cristiana desfrutaram de um caso tórrido. Sem fazer exigências um do outro. Ambos dispostos e selvagens. Ele passara a maior parte das noites na cama dela naquele Natal, e vários dias ao lado de seu calor. Ela ainda se mostraria uma ótima fuga para a presença de Danby? Ou muito tempo havia se passado? Fazia dois anos desde que ele a vira pela última vez. Talvez ela tivesse se casado novamente.

Havia apenas uma maneira de encontrar as respostas que procurava. Adam subiu os degraus da varanda, dois de cada vez, e depois bateu na porta. Na pior das hipóteses, ele encontraria outra mulher para se distrair.

A sólida porta de carvalho se abriu, revelando o mordomo de Cristiana.

– Milorde. – O homem de cabelos grisalhos fez uma reverência.

Adam assentiu enquanto estendia o cartão de visitas.

– Vim ver lady Cristiana.

– Ela não está em casa.

– Quando voltará? – Adam estudou o homem, sabendo muito bem que ele o havia reconhecido. Como não poderia, depois de Adam ter passado tanto tempo ali?

– Ela saiu neste Natal.

Adam apertou os lábios e olhou para o mordomo.

– Para onde?

– Não tenho liberdade para lhe dizer, milorde. – O mordomo recuou e começou a fechar a porta.

– Espere. – Adam estendeu a mão, colocando-a contra o batente da porta para impedir que o homem a fechasse. – Gostaria de surpreendê-la. Certamente ela não se importaria se você me apontasse na direção certa. Você está bem ciente do nosso… – ele limpou a garganta – conhecimento.

A expressão do mordomo tornou-se severa.

– Certamente não estou. Bom dia, senhor.

– Muito bem, então. – Adam largou a mão do batente da porta, virou-se e caminhou em direção ao seu cavalo. O clique do fechamento da porta chegou aos seus ouvidos antes mesmo que ele alcançasse o primeiro degrau da varanda. Adam não se ofendeu. Não foi a primeira vez em que havia sido rejeitado, e ele duvidava que seria a última. Nenhum caso durava para sempre. Um fato que lhe convinha muito bem. Pelo menos naquele momento de sua vida.

Ele virou o cavalo e olhou para a casa. A agitação de uma cortina no segundo andar chamou a sua atenção e ele olhou mais atentamente. Nada. Então, ela estava lá. Cristiana olhou para o caminho por um instante antes de a cortina voltar ao seu lugar, cobrindo a janela.

De repente, tudo estava tão estranho. Por que o serviçal de Cristiana achara tão ofensiva a menção de Adam sobre o tempo em que estivera com ela? Ainda mais estranho ela fingir estar longe quando claramente não estava. Talvez ele estivesse errado sobre o tempo que compartilhara com ela. Ele a havia deixado com o coração partido?

Não. Cristiana tinha sido mais irredutível do que ele quando dizia que eles não tinham uma ligação. Ela não tentou impedi-lo de ir embora, nunca declarou nenhum sentimento por ele. Eles concordaram em ter um caso e nada mais. Ambos conseguiram o que queriam do arranjo.

Só restava uma explicação. Cristiana seguiu em frente com a sua vida, assim como todas as suas antigas amantes. Adam iria tirá-la da mente e encontrar outra distração.

Ele cavalgou até a cidade, procurando refúgio da presença de seu tio na Sword and White Rose. Adam se sentou em uma cadeira em uma mesa de canto. A estalagem e taberna local seria o local perfeito para tomar uma bebida forte e encontrar uma mulher calorosa. Mais importante, Danby não o procuraria ali.

Não demorou muito para uma rapariga de seios grandes atravessar o seu caminho. Adam a saudou juntamente com seu segundo copo de uísque. Ela agora se contorcia em seu colo, provocando o seu desejo. Ele rodou o licor restante em seu copo e o bebeu antes de sussurrar no ouvido dela.

– Que tal continuarmos lá em cima?

Ela se virou para ele, e seus olhos de corça encontraram os dele enquanto ria.

– O prazer é meu.

Ele a levantou do colo, dando um tapinha no traseiro dela. De pé, Adam colocou o braço em volta da cintura dela e, em seguida, a conduziu para as escadas, desviando-se das mesas e dos outros clientes enquanto seguiam em seu caminho. As conversas enchiam a sala juntamente com algumas versões bêbadas de músicas favoritas, mas ele não prestou atenção em nada disso. Seu foco estava em uma coisa – deitar-se ao lado daquela coisinha doce.

Ela se agarrou ao braço dele, rindo e lançando olhares sugestivos para ele enquanto seguiam. Quando chegaram nas escadas, ele congelou. Uma conversa próxima despertou seu interesse.

– Mary me disse que o bebê é de lady Kendal – disse uma voz masculina nas proximidades.

Ele ouvira direito? Cristiana teve um bebê? Ele balançou a cabeça e, em seguida, concentrou toda a sua atenção na conversa próxima.

– Quem é Mary? – questionou uma voz mais grave.

A companhia de Adam puxou o seu braço.

– Vamos.

– Shhh… – Adam procurou os homens que conversavam enquanto continuava a escutar. Eles estavam vestidos com roupas das classes mais baixas e estavam espremidos em uma mesa próxima. Um era musculoso, com cabelos castanhos, e o outro, magro e loiro. Quem eram e do que estavam falando? Que bebê?

– Mary é uma criada que a dama empregou. Ela também é a mulher que estou cortejando – disse o homem de cabelos castanhos.

– Então, quem é o pai?

O homem de cabelos castanhos tomou um gole e depois se inclinou para mais perto do outro. Com voz baixa, ele disse:

– Ninguém sabe ao certo, exceto a senhora. Mary me disse que é a filha bastarda de um dos parentes do duque de Danby.

O outro homem riu.

– Imagine como o duque se sentiria se soubesse?

– Ele tiraria uma daquelas licenças especiais e exigiria um casamento – riu o homem de cabelos castanhos.

Tendo ouvido mais do que o suficiente, Adam retirou a mão da mulher de seu braço. Ele encontrou o olhar confuso dela e disse:

– Outra hora.

Ela fez um beicinho com seus lábios tentadores.

– Posso não estar disponível.

Ele deu um passo em direção aos homens.

– Seja como for, há outra coisa de que devo tratar. – Ele se virou, foi até a mesa dos homens e tomou uma cadeira entre eles.

O loiro estreitou os olhos.

– Nós não o convidamos para se juntar a nós.

Adam olhou para trás, e seu próprio olhar se estreitou.

– Sua conversa me convidou. Vamos continuá-la em algum lugar privado.

– Acho que não – disse o homem de cabelos castanhos.

Adam tentou outra tática.

– Vou lhe pagar pela informação que quero.

– Quanto? – O loiro estudou Adam.

– Uma libra. – Adam enfiou a mão no bolso e jogou uma nota de uma libra sobre a mesa.

O homem loiro a agarrou, mas o seu companheiro o deteve, segurando a mão dele no ar antes de olhar para Adam.

– Uma libra para cada um, ou não lhe falamos nada.

Adam recostou-se, fingindo tédio.

– Parece muito exorbitante, já que não tenho quaisquer garantias de que a informação será relevante.

– Você é parente do duque? – perguntou o homem loiro.

– Você passou algum tempo com lady Cristiana? – acrescentou o homem de cabelos castanhos.

Adam olhou para a porta.

– Uma libra para cada um, para continuarmos esta conversa lá fora.

– Como quiser, mas nos pague primeiro. – exigiu o de cabelos castanhos.

Adam se levantou e jogou outra nota de libra sobre a mesa. Os homens apanharam avidamente as notas antes de segui-lo para fora. Adam fechou bem o casaco para se proteger do ar frio de inverno enquanto deixava que os homens passassem. Quando nenhum dos dois falou, ele lançou um olhar duro na direção deles.

– Contem-me sobre o bebê sobre o qual estavam discutindo.

– Não há muito a dizer. A senhora desapareceu durante alguns meses depois do Natal, dois anos atrás. Foi para a França por um tempo e, quando voltou, trouxe um bebê com ela – disse o homem loiro.

Adam deu um passo em direção ao homem.

– E sobre os rumores?

– Deixarei isso com ele. – O homem loiro olhou para o amigo, que deu de ombros.

– Ela alegou que foi uma criança abandonada que adotou. – O homem de cabelos castanhos olhou novamente para a entrada da pousada. – Todos pareceram acreditar na história.

Adam franziu o cenho.

– E a verdade?

– A verdade? – O homem levantou uma sobrancelha.

O sangue de Adam esquentou. Ele se adiantou, agarrando o homem pela lapela e o empurrando contra a parede da construção.

– Pare de fazer joguinhos.

– Uma das criadas dela disse que estava lá durante o nascimento. Não é uma criança abandonada, mas o próprio bebê da senhora. – O homem esperneou.

Adam o imobilizou com mais firmeza.

– E o pai da criança?

– Ela disse que pertence a um dos sobrinhos de Danby.

– Quantos anos tem a criança?

– Eu não saberia dizer.

– Dê um palpite. – Adam o sacudiu antes de pressioná-lo contra o prédio.

O homem o olhou com olhos arregalados.

– Talvez um ano… um pouco mais velha.

O sangue de Adam gelou. Cristiana teve um bebê – seu bebê. Tudo fazia sentido agora. Ela o mandou embora para esconder o seu segredo. A fúria retornou, seu coração martelava enquanto soltava o homem. Que direito ela tinha de esconder o filho dele? Ela acreditava honestamente que ele não descobriria a criança? Que ele não tinha direito ou motivos para saber que era pai?

Bom Deus! Ele era pai.

O estômago de Adam se revirou, a vertigem o deixou atordoado enquanto se voltava para o cavalo. Ele não podia ser pai. Crianças vinham após o casamento. A última coisa que Adam desejava era se algemar em um casamento. Ainda não, não agora. Mas estava ali – uma criança – seu filho ou filha.

Não podia ser.

Tinha que haver outra explicação.

Ele montou o seu cavalo e cavalgou em direção à casa de Cristiana. Ela o receberia, desejasse ou não. Ele não lhe daria um momento de paz até que ela lhe explicasse que diabos estava acontecendo. E não até que visse a criança com os seus próprios olhos.

Um Natal Terrível

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