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Capítulo 3

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Damon cruzou os braços e encostou-se ao barracão onde estavam guardadas as ferramentas usadas pelos cuidadores do cemitério. Havia poucos caçadores naquela área, uma vez que estava localizada mesmo no canto do cemitério gigantesco e era bastante isolada. Parecia também constituir um refúgio para muitos dos Spinnan que tinham sobrevivido até àquele momento, quase como se estivessem a tentar reagrupar-se e esconder-se.

Tinha prometido deixar Alicia praticar luta e, no final de contas… este era um lugar excelente para ela o fazer… desde que ele estivesse lá como árbitro. Estes Spinnan eram fracos, em comparação com a maior parte das coisas que corriam pela cidade no momento, mas mesmo assim Damon só permitia que Alicia combatesse contra um de cada vez.

Sempre que um Spinnan destemido tentava juntar-se a outro para lutar contra ela, Damon dizimava-os antes que se aproximassem o suficiente para a distrair daquele contra quem ela estava a combater. Destruir os monstros que se lançavam a Alicia para a atacar estava a dar-lhe satisfação e Damon estava a divertir-se bastante. Ela era boa… para um principiante.

Damon notou também um decréscimo drástico do número de criaturas desde a explosão de há algumas horas, e concluiu que alguém tinha encontrado e destruído o ninho. Pessoalmente, não se teria importado de dar uma olhada no demónio que criara aquelas criaturas medonhas, mas afastou essa ideia. Provavelmente, era tão horrendo como aquelas coisas.

Ao ouvir o som de passos e vozes vindos da orla de árvores abaixo da pequena colina onde se encontrava, Damon deu a volta pela esquina do barracão e foi investigar. Esta ponta do cemitério estava revestida de pinheiros altos e imponentes, que o separavam dos arredores suburbanos.

Estando assim tão perto das casas, Damon sentia curiosidade em relação ao porquê de ninguém ter ouvido nada durante a noite, nem ter vindo investigar. Houve algumas vezes em que pensou ter visto o brilho de uma barreira à volta da propriedade, mas descartou essa ideia, acreditando tratar-se da sua imaginação. Se uma barreira tinha sido instalada, então talvez os caçadores de demónios não fossem tão inúteis como ele pensara.

Já tinha quase chegado à linha de árvores quando dois homens surgiram de lá, estacando ao vê-lo. Vislumbrando através das árvores a silhueta branca de uma estrutura, inferiu que o edifício de manutenção principal devia estar no lado oposto ao deles, e que estes homens tinham acabado de chegar para trabalhar.

Aqueles tipos não podiam ter usado nenhuma das estradas principais para chegar ali… as estradas tinham sido bloqueadas. Além disso, o facto de Damon não ter ouvido quaisquer motores de carros aproximando-se indicou-lhe que os homens viviam a uma distância percorrível a pé.

“Bom dia”, disse Damon, aproximando-se deles, de modo a poder pô-los sob o seu domínio.

Os dois homens franziram a testa. Muitas coisas estranhas tinham ocorrido no cemitério nos últimos dois dias e isso deixou-os desconfiados de qualquer pessoa que parecesse indicar problemas… e o tipo que estava a ir na sua direção encaixava perfeitamente nessa imagem.

O homem que vestia uma t-shirt branca de manga cava por baixo da camisa desabotoada do uniforme falou de forma autoritária. “Podemos ajudá-lo? Os visitantes não devem passear perto do equipamento.”

Damon assentiu, concentrando neles os seus olhos vibrantes cor de ametista, quase esboçando um sorriso de satisfação quando as suas expressões afrouxaram, passando para um estado aturdido. “Na verdade, estou aqui para vos informar de que já terminaram o vosso trabalho de hoje. O vosso patrão disse para voltarem para o barracão da manutenção e ficarem por lá, a relaxar até ao final do vosso turno. Não se vão lembrar de me terem visto e se alguém perguntar… trabalharam intensamente durante todo o dia.”

O segundo trabalhador, que tinha a camisa do uniforme abotoada e tinha um aspeto mais profissional, olhou de relance para o colega. “Está na altura de experimentarmos aquela televisão que instalaste no barracão.”

“É isso mesmo, vamos ver o programa do Jerry Springer”, disse o segundo trabalhador, num estado de torpor.

Damon sorriu e esperou até deixar de ver os homens. Assim que os humanos desapareceram, virou-se e ia começar a subir a colina, quando viu um monte impressionante de terra voar pelo ar. Quando chegou ao topo da colina para verificar o progresso de Alicia, a sua expressão ensombreceu-se.

Ela agora lutava contra não um…, mas três Skitters ao mesmo tempo e parecia estar com dificuldades. Um rugido profundo ressoou no seu peito quando um deles derrubou Alicia com um ruído de ossos quebrando-se.

Alicia ficou ali deitada, olhando para cima. Tinha corrido tudo bem até o segundo e terceiro Spinnan terem decidido aparecer e juntar-se contra ela. Damon tinha estado a ajudá-la e quando nada aconteceu de imediato aos outros dois, ela olhou em volta, à sua procura.

Não o encontrando em lado nenhum, sentiu em simultâneo um pouco de felicidade e de frustração. Felicidade, porque pensou que ele estava a permitir-lhe lutar até ao fim… e frustração, porque ele não estava ali para vê-la a dar cabo dos três Spinnan. Erguendo a cabeça do chão, ia levantar-se, quando os Spinnan se imobilizaram subitamente. Ficaram ali durante um segundo, antes de se estilhaçarem abruptamente como vidro.

Alicia cobriu o rosto com os braços para evitar ser atingida pelos estilhaços. Felizmente, todos os fragmentos foram projetados para fora e para longe de si. Quando baixou os braços, encontrou Damon ali parado, estendendo-lhe as pernas e parecendo tão zangado como de costume. Encolheu-se quando ele estendeu a mão de repente, para a ajudar a levantar-se.

“Raios partam, Damon, eu tinha sido capaz de derrotá-los se me tivesses dado uma oportunidade”, disse, enquanto agarrava a mão dele.

Damon ajudou-a a pôr-se de pé gentilmente e encostou-a contra o peito. Alicia ia protestar, quando viu a rigidez do maxilar de Damon e a dureza nos seus olhos cor de ametista. A irritação dela desapareceu ao perceber que o assustara sem querer.

“A regra é um monstro de cada vez”, rosnou Damon, preparando-se para uma discussão que tinha intenção de ganhar. Foi apanhado de surpresa quando Alicia lhe envolveu a cabeça com a mão, lhe entrelaçou os dedos no cabelo e o puxou para um beijo arrebatador.

Quando finalmente se afastaram, Damon rosnou novamente e empurrou Alicia contra o lado do barracão onde antes estivera encostado. O rosnado teria soado ameaçador para a maioria das pessoas, mas para Alicia era verdadeiramente sexy.

“Não tens permissão para fazer isso”, instruiu Damon com brandura.

Alicia olhou para ele, com inocência fingida reluzindo-lhe nos olhos. “Não tenho permissão para fazer o quê?”

Damon roçou o rosto no dela, os lábios tocando-lhe de leve na pele, antes de se aproximarem da sua orelha. “Não tens permissão para me distraíres.”

“Oh,” sussurrou Alicia sedutoramente. “Referes-te a isto?”

Pôs-se na ponta dos pés e beijou-o novamente, desta vez as línguas entrelaçando-se intimamente. Quando Damon pressionou a sua coxa entre as dela, Alicia abriu as pernas e pressionou para baixo. Gostando da sensação, começou a balançar-se para trás e para a frente. Os seus olhos fecharam-se quando Damon levantou a perna e os pés dela se elevaram do chão.

“Esta é a primeira vez”, ofegou Alicia quando as suas bocas se separaram.

Damon sorriu. “Tu é que começaste.” O sorriso desapareceu e os olhos escureceram para um tom profundo de ametista. “Agora, vou terminar.”

Alicia soltou um queixume e enrolou as pernas à volta da cintura de Damon, friccionando a ereção que sentia crescer sob o fecho das calças dele.

Damon pressionou-a contra a parede do barracão com rudeza e abriu-lhe a camisa sem pudor. As mãos encontraram os seus seios, provocando os bicos duros sob a renda, e desapertaram-lhe as calças.

Alicia baixou as pernas e deixou que Damon lhe puxasse lentamente as calças para baixo. Libertou os tornozelos da ganga e de novo enroscou as pernas à volta da cintura dele. Damon sorriu, enquanto abria o fecho das calças e se libertava das roupas.

Trocando as posições, Damon exalou asperamente, empurrando as coxas para cima ao mesmo tempo que fazia Alicia descer na sua ereção. Alicia gritou e encostou a cabeça à parede de cimento atrás de si. Damon balançava as coxas a um ritmo punitivo, certificando-se de que ela percebia o que acontecia quando o distraía.

Alicia abriu os olhos e agarrou-se aos ombros de Damon, puxando-o para mais perto de si. Ele baixou a cabeça e chupou um mamilo, tomando-o na boca. Alicia arquejou com a sensação e arqueou-se contra ele. Ele investia com força e era como se o corpo dela ficasse com convulsões a cada investida.

Um som vindo de trás de Damon fê-la olhar para cima e semicerrou os olhos ao ver um Skitter correndo ao seu encontro. Aparentemente, o demónio pensou que estavam vulneráveis e procurou tirar partido da situação.

“Skitter em frente” sussurrou Alicia, sem fôlego.

Viu a criatura ser despedaçada pelo poder de Damon e gemeu ruidosamente quando ele começou a investir com mais força. Era como se estivesse possuído… duro, rápido, no limiar da dor, e ela adorava.

“À direita”, alertou Alicia.

Outro Skitter foi desta para melhor e Damon levantou a cabeça dos seios dela. Agarrando-lhe os pulsos, pressionou-os contra a parede e expôs os caninos afiados.

“Vem-te para mim”, rosnou Damon, ao sentir o sexo suave de Alicia retesar-se à sua volta no mesmo ritmo das suas investidas.

Alicia ignorou o pedido e virou a cabeça para o lado, para evitar olhá-lo nos olhos. Tentava aguentar o máximo que conseguia porque, apesar do que os outros pudessem pensar… fazer amor no meio de um cemitério era extraordinariamente sexy. A possibilidade de serem apanhados por alguém a qualquer momento tornava-o ainda melhor.

“Fá-lo”, grunhiu Damon na sua orelha, com ferocidade.

Ele estava por um fio, mas, tal como ela, queria que durasse e que terminassem ao mesmo tempo. Estavam ambos tão excitados pela ideia de serem apanhados e por matarem demónios durante o ato sexual, que nenhum dos dois conseguiu aguentar durante muito mais tempo.

Alicia gritou e finalmente entregou-se… olhando de volta para Damon e vendo o seu olhar excitado. A tensão que sentia na barriga era tão forte que tinha a certeza de que ia rebentar. Mais movimentos por detrás de Damon fizeram-na olhar, e arquejou.

“Atrás de ti”, conseguiu dizer num murmúrio áspero.

Damon sorriu e estendeu o seu poder na direção do Skitter atacante. Ao mesmo tempo que o Skitter se estilhaçava, o corpo de Alicia apertou-se à volta de Damon como uma prensa, e gritou a sua libertação para o céu. Seguiu-se Damon após algumas investidas, enchendo-a com a sua semente… uma vez mais reclamando o corpo e a alma dela.

Mantiveram-se comprimidos um contra o outro, respirando pesadamente, enquanto os batimentos cardíacos começavam a abrandar. Damon estava tão orgulhoso da sua gatinha assanhada, ela era tão louca quanto ele em relação ao sexo… e era isso que tornava as coisas tão sensuais.

Por fim, Damon recuou um pouco e sorriu-lhe gentilmente. Ambos gemeram ao sair de dentro dela e deixou as pernas de Alicia soltarem-se da sua cintura. Olhando-a de alto a baixo, teve de admitir que ela era uma visão e tanto.

Tinha a camisa rasgada à frente e as copas rendadas do sutiã puxadas para baixo, revelando os seios nus na luz matinal. Aquela foi a primeira vez que se apercebeu de que Alicia não estava a usar cuecas… e também não estavam enredadas nas calças amontoadas no chão.

“Como explicamos a camisa?”, perguntou Alicia quando viu o estado em que se encontrava.

“Não explicamos”, respondeu Damon com um sorriso.

*****

Warren e Devon andavam em torno do Skitter que tinha atravessado o caminho deles. Silvava ferozmente e lançava golpes com as garras longas. Com uma troca de olhares, os dois jaguares atacaram. Devon conseguiu agarrar um braço entre os dentes e Warren apanhou uma perna. O Skitter lançou um berro quando começaram a puxar em direções opostas.

Fazendo mais força, Devon sacudiu abruptamente a cabeça para a esquerda. O braço cedeu e Devon recuou, com o braço desmembrado na boca. Warren largou a perna e deu alguns passos quando Devon se lançou e enterrou os caninos no pescoço do demónio.

Warren sentou-se e começou a limpar-se, até que ouviu o som inconfundível de outro Skitter para lá de um grupo de árvores. Olhando de volta para o Skitter que Devon estava a liquidar, decidiu que a situação estava em boas mãos e foi investigar.

Devon viu Warren sair pelo canto do olho e matou rapidamente o Skitter, saltando-lhe depois das costas. Deixando cair a cabeça, sacudiu-se e virou-se na direção em que Warren tinha ido. Trabalhavam em equipa desde o momento em que se tinham associado e Devon estava a divertir-se imensamente.

Tinha percorrido alguns metros quando outro Skitter caiu de uma árvore mesmo à sua frente. Um rugido profundo irrompeu da garganta de Devon, que se agachou bem junto ao chão, preparando-se para atacar. Os seus olhos felinos estreitaram-se ao reparar que aquele Skitter parecia extremamente agitado.

Olharam-se nos olhos, irados, e o Skitter agachou-se, imitando o jaguar. Devon rugiu e saltou em direção ao demónio, com a intenção de o matar rapidamente. O Skitter saltou em simultâneo e os dois colidiram no ar.

As garras de Devon tentaram golpear o demónio, mas falharam. No entanto, o golpe com que o Skitter lhe atingiu a cabeça foi certeiro. O demónio aterrou de quatro, ileso, enquanto o corpo inconsciente de Devon caiu com um baque… derrotado.

O Skitter soltou um silvo de vitória, andando sobre o jaguar e agarrando-lhe uma das patas traseiras com uma mão de garras compridas. Arrastando o enorme felino atrás de si pelo cemitério, na direção oposta à do companheiro de Devon, o Skitter aproximou-se de uma cripta pequena. Abriu a porta e colocou o jaguar no interior, recuou e olhou para o animal durante uns instantes.

Inclinou a cabeça num ângulo estranho, como que a decidir qual a melhor forma de matar a sua presa… em vez disso, saiu simplesmente da cripta. A criatura regressou momentos depois, arrastando dois dos seus irmãos mortos pela erva húmida. Largando-os ao lado do jaguar inconsciente, voltou a retirar-se da cripta e fechou a porta, trancando-a com o trinco que pendia folgadamente.

Sem olhar para trás, atravessou o cemitério a toda a velocidade, evitando os caçadores de demónios espalhados pela propriedade. Chegando a uma estrada secundária, parou e pareceu respirar fundo, começando depois a mudar de forma.

Em poucos segundos, o Skitter tinha desaparecido e no seu lugar estava Trevor.

Rodando o pescoço e os ombros antes de se baixar para apanhar a roupa de que se desenvencilhara, Trevor avançou calmamente para o campo de visão de Evey. Ele tinha feito o caminho de volta para o cemitério e estacionara-a ali, voltando depois a entrar no cemitério e dizendo que ia verificar o progresso da batalha. Assim que ficou fora da vista do seu carro, transformou-se num dos Skitters e pôs o seu plano em ação. Tudo o que precisava de fazer agora era vestir-se e terminar a sua missão.

Agitado, Trevor passou os dedos pelo cabelo… não lhe agradava o que acabara de fazer, mas permitiu-se sorrir. Quando Evey lhe abriu a porta do condutor, aproximou-se. Parou ao ouvir um assobio vindo do carro.

Olhando para o corpo nu, perguntou-se o que estaria Ren a pensar quando deu a Evey uma personalidade tão humana. Era bom que o carro não fizesse a menor ideia do que ele acabara de fazer… caso contrário, estaria na merda.

“Que exemplar magnífico”, provocou Evey.

“Cala-te”, rosnou Trevor, e vestiu-se rapidamente. Sentou-se ao volante, sabendo que tinha apenas algumas horas antes de Devon acordar. Tinha de ser rápido se queria safar-se com aquilo.

Trevor estava em silêncio enquanto conduzia Evey para outro local isolado. Desligou o carro e ficou ali sentado durante alguns minutos, com os olhos fechados, perguntando-se se estava a fazer a coisa certa.

“Está tudo bem, Trevor?”, perguntou Evey brandamente.

“Estou bem, Evey”, disse Trevor. “Preciso que faças uma coisa muito importante por mim. Tenho uma missão secreta que preciso de levar a cabo. Mais ninguém no PIT pode saber disto… é segredo absoluto.” Encolheu-se, incomodado com aquilo que estava prestes a dizer. “O Storm não quer quaisquer relatórios sobre isto e não podes contar a ninguém.”

Evey ficou calada durante alguns instantes. “Quanto tempo vais demorar?”, perguntou ela.

“Apenas algumas horas”, respondeu Trevor. “Não vai ser preciso muito tempo.”

“Tem cuidado”, disse Evey, e de seguida as luzes do painel apagaram-se.

Trevor saiu do carro e começou a descer a rua. Quando ficou fora da vista de Evey, mudou novamente de forma… transformando-se desta vez em Devon Santos, e percorreu a correr o resto do caminho até à casa de Chad. Entrando na casa com a chave sobresselente que Envy se esquecera de lhe pedir de volta, avançou pelo apartamento silencioso.

Sabia que Chad estava a dormir e contornou o quarto do amigo, dirigindo-se à porta fechada do quarto de Envy. Empurrou a porta, entrou e ficou a olhar para Envy dormindo. As suas sobrancelhas enrugaram-se numa expressão triste quando sentiu o cheiro de sal no quarto. Sentiu-se mal por tê-la feito chorar, mas estava a lidar com os ciúmes da melhor forma que conseguia.

Antes, no cemitério… tinha havido um breve momento em que considerara matar Devon. Com Devon morto, será que Envy se teria virado para si na sua dor? Trevor afastara o pensamento tentador. Alarmou-o a rapidez com que a tentação malévola tinha surgido.

Ele jamais magoaria Envy dessa forma e assustou-o o facto de ter ponderado em tal coisa, mesmo que vagamente. Além disso… vê-la chorar pela morte de outro homem seria tão mau quanto vê-la amar outro homem. E por mais que lhe causasse sofrimento, Trevor sabia que Envy os amava aos dois. Não estivera a mentir quando, horas antes, salientou a Envy essa realidade incómoda.

Movimentando-se silenciosamente, despiu-se devagar e deslizou para dentro da cama, por trás de Envy. Se era necessário recorrer a este meio para que pudesse ter uns momentos a sós com ela… então ele não se importava com quem ela pensava que ele era. Aceitava a ideia de que não existiam regras no amor nem na guerra… e, naquele momento, sentia que estava no meio de ambas as coisas.

Envy sentiu o colchão afundar atrás de si e virou-se instantaneamente para Devon, abraçando-o firmemente e escondendo o rosto no seu peito. Durante a última hora, a sua mente estivera repleta de pensamentos sobre Trevor e isso fê-la sentir-se extremamente culpada.

Agora que tinha visto o PIT em ação, Envy percebeu que Trevor escondera segredos dela por não ter outra alternativa. Fora insensível ao ponto de terminar o seu relacionamento com ele por algo que ele não conseguia controlar… até o eletrocutara por isso, injustamente. Como pôde ser tão cruel?

O desgosto de Trevor era culpa sua e ela não ia puni-lo por isso… quando muito, tinha de tentar tornar-se sua amiga novamente, e talvez assim o coração dele sarasse. Roçou a cabeça na mão de Devon, que lhe acariciava o cabelo carinhosamente.

“Voltaste”, sussurrou ela, desejando que o peso que sentia no peito diminuísse.

“O que se passa, Envy?”, perguntou ele delicadamente.

“Nada”, mentiu Envy, e afrouxou o abraço, de forma a poder afastar-se e sorrir para ele.

“Então por que tens estado a chorar?” Viu-a a franzir a testa, confusa. Antes que Envy pudesse negar, relembrou-lhe: “Consigo sentir o cheiro do sal das tuas lágrimas. Não consegues esconder os teus sentimentos de mim.” Tinha de saber se ela ia incitar Devon a atacá-lo mais tarde, devido ao que sucedera quando a trouxera para aqui.

Envy arregalou os olhos. Trevor tinha-lhe dito a mesma coisa. Será que ambos sabiam o que sentia melhor do que ela própria? Saber que ambos conseguiam lê-la tão bem fazia-a sentir um pouco exposta.

Trevor sentiu-a tensa, mas, antes que pudesse ver-lhe a expressão, Envy pressionou novamente o rosto contra o seu peito. “O Trevor disse ou fez alguma coisa que te transtornou no caminho para cá? Porque se o fez, juro que…”

Envy afastou-se rapidamente e olhou para Devon, quase zangada. “Não, prometeste-me que nunca o irias magoar, independentemente de tudo.” O coração dela batia forte no peito, não querendo nunca mais voltar a vê-los lutar. Se algum deles ficasse ferido… ia sentir ódio pelo outro, não importava quem fosse. Sabia-o agora.

Trevor quase deixou de respirar ao vê-la defendendo-o. Envy fizera Devon prometer-lhe que jamais o magoaria… e Devon concordara pela mesma razão que Trevor não o matara nessa noite.

“Quanto às lágrimas”, Envy baixou a voz, dominando as emoções que estavam à flor da pele, “sonhei que um daqueles monstros do cemitério te tinha apanhado e estava a chorar quando acordei.” Bem… isso também era verdade.

“Foi só um sonho”, sussurrou ele, e abraçou-a. Trevor fechou os olhos, pensando se a ligação que ela tinha consigo e com Devon teria sido a causa do sonho tão certeiro. Não querendo pensar sobre isso, deitou Envy de costas e fitou-a, baixando-se depois lentamente e beijando-a.

Envy gemeu suavemente e arqueou as costas, empurrando os seios contra o peito de Devon. Pôs os braços à volta do pescoço dele, que lhe agarrou os pulsos e os pressionou delicadamente contra o colchão.

As suas bocas separaram-se e Envy inclinou a cabeça para trás quando os lábios de Devon deram início ao percurso longo e tortuoso pelo pescoço dela, até à clavícula. Sorrindo com a sensação, abriu as pernas e enrolou-as à volta da cintura dele para puxá-lo para mais perto, até sentir a dureza de Devon pressionando dentro de si.

Trevor parou e olhou para ela, ficando ali a pairar durante alguns instantes, antes de investir. Não queria saber com quem se parecia… este corpo era seu e era exatamente ali que queria estar. Pairando sobre Envy, fez amor com ela como se fosse um homem determinado que tivesse ficado perdido na sua própria insanidade.

Envy mordeu o lábio para não gritar e acordar o irmão. Agarrou Devon para tentar igualar o seu ritmo, mas depressa percebeu que não ia conseguir acompanhá-lo naquela noite. Tudo o que podia fazer era simplesmente aguentar, enquanto ele a levava ao orgasmo tantas vezes que a deixava embriagada.

Trevor reclamou rapidamente os seus lábios quando ela se esqueceu de que não estavam sozinhos em casa, mas ele não ia dar-lhe hipótese de recuperar tão cedo. Manteve-se a si mesmo sob um controlo rigoroso, não cedendo à mesma embriaguez até se ter passado mais de uma hora.

Ficou durante alguns minutos a vê-la dormindo, e depois deu-lhe um beijo suave e deslizou para fora da cama.

*****

Warren começava a ficar preocupado. Estivera em busca do cheiro de Devon pelo cemitério durante uma hora. Quando se afastou do irmão momentos antes, pensou que ele estaria mesmo atrás de si, pronto para o combate. Warren tinha matado mais três Skitters até se aperceber de que Devon não estava em lugar nenhum.

Emitiu até um grito felino estridente, que era essencialmente a forma de comunicação entre jaguares. Não houve resposta. Examinando o último lugar onde vira Devon, encontrou os vestígios do confronto, mas não viu nenhum Skitter nem sinais do irmão. Demorou alguns minutos, mas quando finalmente captou o cheiro de Devon, foi conduzido até uma cripta antiga.

Aproximando-se cuidadosamente da cripta, cheirou o perímetro e tateou a porta trancada com a pata. Rugiu para o trinco e duas soluções surgiram na sua mente. Ou Devon tinha sido colocado ali, ou a porta fechara-se, trancando-o lá dentro durante um confronto.

Revertendo à forma humana, Warren arrancou a porta, separando-a das dobradiças com um estrépito de metal velho contra madeira maciça. Arregalou os olhos quando viu Devon deitado no chão, com dois Skitters amontoados ao pé dele.

Devon abriu um pouco os olhos quando a porta se abriu com um estrondo, mas fechou-os imediatamente no momento em que a luz da manhã entrou, queimando-lhe as retinas. Sentiu-se como se tivesse acabado de beber o stock inteiro de Heat de Kat, e ainda se tivesse metido no meio de uma briga fracassada.

“O que raio se passou aqui?”, inquiriu Warren com suavidade.

Devon soltou um rosnado baixo e reverteu à forma humana. Levando uma mão à cabeça, sentou-se lentamente com a ajuda de Warren e inspecionou o lugar.

“A última coisa de que me lembro é de me envolver numa luta com outro Skitter depois de te teres ido embora”, respondeu Devon. “Devo tê-lo encurralado ali e matado…” Olhou para os Skitters empilhados e franziu a testa. “…tê-los matado. Um deles deve ter-me desferido um golpe certeiro na cabeça antes de ser derrotado.”

“Penso que já chega de lutar”, disse Warren após uma longa pausa. “Ambos estamos a precisar de dormir um pouco.”

Devon assentiu e deixou que o irmão o ajudasse a pôr-se de pé. “Fantástico, estamos nus”, resmungou.

“Digamos apenas que somos corredores expostos”, sorriu Warren. “Queres caminhar daqui para fora sem pressa e ver quantos piropos recebemos, ou preferes fazer uma corrida?”

“À contagem de três”, respondeu Devon, com uma sobrancelha erguida.

Quando regressaram ao carro, vestiram a muda de roupa que guardavam ali em caso de necessidade.

“Deixa-me em casa do Chad. A Envy está lá, e vou simplesmente dormir na cama dela”, disse Devon, recostando-se no assento. “E faz-me também um favor.”

Warren olhou para ele enquanto conduzia. “Não vou contar a ninguém, assim a informação não chegará à Envy.”

Devon sorriu para a habilidade desconcertante do irmão mais velho de saber sempre o que os outros estavam a pensar. Isso às vezes tornava as coisas tão constrangedoras.

“Obrigado”, disse Devon. “Detesto quando ela fica preocupada.”

Alguns minutos depois, Warren parou o carro em frente ao apartamento de Chad e olhou para Devon. “Dorme um bocado e liga-me quando estiveres pronto para regressar.”

Devon anuiu. “Não te preocupes com isso, ou o Chad nos leva, ou chamo um táxi.”

Antes de partir, Warren esperou até Devon abrir a porta da frente e entrar em casa. Não queria dizer-lhe nada, mas encontrá-lo assim lançou um sinal de alerta. A forma como a porta tinha sido trancada a partir do exterior parecia demasiado bem planeada, fazendo-o perguntar-se se alguém, ou alguma coisa, o tinha trancado ali de propósito.

Abanando a cabeça, Warren decidiu não pensar mais naquilo durante o resto do dia… estava exausto.

Devon movimentou-se silenciosamente pelo apartamento em direção ao quarto de Envy. Abrindo a porta, sorriu perante a visão do seu rosto angelical descontraído no sono. Despindo-se, entrou na cama e enroscou-se atrás de Envy, pondo-lhe um braço à volta da cintura.

Ela aninhou-se mais, relaxando depois contra o peito dele, e inclinou a cabeça para trás. Voltou a respirar longamente, num estado de sono profundo, e Devon descontraiu. Decidiu deixá-la dormir, em vez de a acordar para lhe dizer que estava ali… tinha de se lembrar de cuidar mais dos hábitos de sono dela a partir de agora.

*****

O sétimo andar do hospital estava tranquilo e silencioso. Tinha sido um turno longo e aborrecido, com os enfermeiros fazendo a ronda pelos pacientes. As cadências suaves das máquinas de suporte de vida apitavam continuamente, criando som de fundo suficiente para fazer com que o andar escuro não parecesse sinistro.

“Umas dez longas horas, hã?”, perguntou o agente de segurança a uma enfermeira no posto.

“E ainda mais”, disse a enfermeira, sorrindo. “Vais almoçar à loja de especialidade ali ao lado?”

“Sim”, respondeu o guarda. “Queres alguma coisa?”

A enfermeira assentiu. “Estivemos a falar disso antes. Vou receber uma resposta de todos e informar-te antes de saíres.”

O sistema de monitorização de pacientes iluminou-se subitamente e a enfermeira pôs-se de pé num salto. Luzes azuis piscavam esporadicamente, e a enfermeira agarrou no telefone ao pé de si.

“Doutor Gordon e Doutor Harris ao sétimo andar imediatamente”, anunciou, desligando depois o telefone e saindo a correr de trás da escrivaninha.

Mais enfermeiros vieram dos postos mais pequenos em cada ponta do andar extenso, cada um deles tentando cobrir grupos de quartos, de modo a conseguirem ver um número maior de pacientes num período de tempo mais curto. O agente de segurança pegou no rádio e ligou à segurança do andar principal. Não demorou muito até dois médicos que estavam de serviço, juntamente com um pequeno exército de mais dez enfermeiros, se lançarem para o andar para prestar auxílio.

Pânico e caos cresceram entre o pessoal, ao mesmo tempo que os pacientes caíam como moscas. Ficavam com cada paciente o máximo de tempo que conseguiam, antes de se dirigirem para o próximo, quase sem terem um momento para tomarem nota da hora da morte de cada um.

Enquanto desciam pelo átrio, aperceberam-se de que, o que quer que estivesse a provocar a morte dos pacientes, parecia aproximar-se da Unidade de Cuidados Intensivos, que também estava localizada naquele andar. Embora estivessem a pensar exatamente no mesmo, nenhum deles manifestou esse receio… afinal de contas, era apenas uma coincidência.

O agente de segurança esperava junto ao elevador quando a polícia chegou. Estava desiludido por apenas dois agentes terem respondido ao apelo, mas era melhor do que nada. Com o sismo de há cerca de uma semana, juntamente com a questão de todas as pessoas que apareceram mortas e desmembradas, conseguia compreender a falta de agentes disponíveis.

Gritos explodiram do fundo do átrio e os agentes da polícia pegaram nas armas, enquanto corriam na direção do ruído. Duas enfermeiras deslizaram pelo átrio, batendo na parede com força suficiente para partir ossos. Caíram ao chão, deixando longas manchas de sangue na tinta branca imaculada.

“Que raio?”, murmurou o agente de segurança.

Os oficiais da polícia agarraram com força as armas laterais e dirigiram-se lentamente através do átrio, em direção aos corpos. Mais funcionários voavam através das portas, enquanto outros tentavam fugir.

O agente de segurança assistia com os olhos arregalados enquanto uma figura negra emergia de dentro do último quarto, ao pé da entrada da Unidade de Cuidados Intensivos. A figura surgia e desvanecia, ao se mover. Não era possível ver o seu rosto sob o manto negro rasgado, mas podia-se vislumbrar claramente uma foice de lâmina longa numa das mãos de dedos absurdamente compridos.

Moveu-se pelo átrio na direção deles, agarrando em enfermeiros e atirando-os como se fossem bonecas de trapos. Os agentes da polícia dispararam, ao mesmo tempo que recuavam para longe do espectro. A foice desceu num arco longo, cortando um dos agentes ao meio. Sangue espirrou pelo chão enquanto o agente caía, mas a criatura continuou a avançar para o outro polícia, que ainda disparava a sua arma.

Sangue espirrou novamente, desta vez para o rosto do agente de segurança, enquanto o segundo polícia era abatido. O segurança captou vagamente o tinido do elevador, indicando que alguém se aproximava, mas estava paralisado de medo e não conseguia mover-se.

Viu um homem surgir pelo canto do olho… jovem, vestindo uma gabardine comprida e com cabelo escuro em estilo punk. Levantou uma mão na direção da criatura, que foi arremessada pelo átrio. A criatura gritou, servindo-se da foice para suspender o voo, e pareceu fitar o recém-chegado, desaparecendo depois através do chão.

“O senhor está bem?”, perguntou Ren ao homem traumatizado.

O agente de segurança perdeu os sentidos repentinamente. Ren soltou um suspiro pesado e pegou no telemóvel. Era bom o facto de este hospital estar localizado suficientemente perto de alguns paranormais da cidade, ou não teria conseguido espantar a coisa e evitar que o atacasse a si também.

“Precisamos de uma grande equipa de limpeza e do melhor exterminador de demónios disponível.”

Sangue Contaminado (Laços De Sangue Livro 7)

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