Читать книгу Ás Mulheres Portuguêsas - Ana de Castro Osório - Страница 4
Prologo
ОглавлениеNa incerteza pelo futuro, caracteristica muito acentuada do actual momento historico, não ha ninguem, por mais ferozmente que se ensimesme ou por mais alto que se alheie em sonhos e ficções, que se não surprehenda, um dia, meditando, transido de duvidas, nalgum dos multiplos problemas que agitam a alma moderna.
São tantos e tão variados, tão dolorosos por vezes, recordam tanta lagrima, evocam tanta dôr soffrida pela mísera humanidade—que em vão lhe quer fugir e se debate e grita de desespero, ou ri de inconsciente goso, conforme é alevantada aos ares em triumfo ou mergulhada na indifferente desgraça—que o nosso espirito se detem e pergunta, no augusto silencio da propria consciencia—se vale a pena existir num mundo assim?!
Todos os sinceros têm formulado esta interrogação: uns, fortificados pelo pensamento, no desejo de remediar o mal, concebem a esperança de trazer, embora com o sacrificio proprio, alguma melhoria á sociedade; outros desanimam, a mesma dôr os mata ou anula para o trabalho paciente do futuro.
Mas o desânimo e a renuncia é uma dupla falta—pelo que deixâmos de fazer e pelo que consentimos que os egoistas e os sem escrupulos façam impunemente.
Para todos é de responsabilidade a hora presente, na qual, a par de muito crime e muita injustiça, um bello e salubre movimento se opéra por todo o mundo.
Ninguem se poderá isentar dessa tremenda responsabilidade moral, que tanto cabe ao homem como á mulher, a esta mais ainda porque nas suas mãos, com a educação da infancia, que lhe pertence, está confiado o futuro.
Á mulher, pois, ou seja pobre operaria que mal ganha para o pão de cada dia, ou opulenta dama avergada ao pêso dos seus deveres sociaes; ás mães que têm filhos a entrar na lucta pela existencia e que ansiados esperam o conselho, que os guie para a felicidade e para o bem, dos labios que lhes ensinaram as primeiras palavras e lhes deram os primeiros beijos; como ás raparigas que, mal iniciadas nos seus deveres, têm de arcar com um futuro de que nem chegam a comprehender as responsabilidades; a todas, repetimos, corre o dever de se deterem, ao menos um instante, a pensar no remedio a dar a tanto mal e a tanta iniquidade.
Por isso é ás mulheres, e principalmente ás mulheres do meu paiz—que tão insuficientemente são educadas para serem as companheiras e as mães do homem moderno—que me dirijo.
Possa este modesto trabalho corresponder dalgum modo ás necessidades espirituaes da alma feminina, que desperta emfim para uma nobre e mais util missão social.